terça-feira, 15 de outubro de 2024

Quem é o ‘Movimento Invasão Zero’ em Pernambuco que foi derrotado pela LCP em Barro Branco?

Acostumados a realizar ataques arbitrários e ilegais como o que resultou no brutal assassinato da Nega Pataxó na Bahia e tantos outros episódios infames de violência contra os povos em luta pela terra no Brasil, essa foi, entretanto, a primeira vez que eles foram escorraçados e colocados para fora pera ira do povo, e saíram com o saldo de 5 feridos, sendo um deles o presidente do movimento em Pernambuco, José Antônio Fonseca de Mello, que foi baleado no confronto.

No dia 28 de Setembro, 50 pistoleiros e latifundiários armados e com 3 retroescavadeiras invadiram as terras dos posseiros de Barro Branco, Jaqueira (PE). Essa ação do grupo paramilitar de extrema direita intitulado “Movimento Invasão Zero”, tinha como objetivo destruir as moradias, lavouras e a sede da associação, expulsar os posseiros de suas terras e completar o processo de grilagem iniciado em 2015 e levado a cabo pelo latifundiário Guilherme Maranhão, dono da Agropecuária Mata Sul S/A, mas foram expulsos contundentemente pela resistência dos camponeses organizados pela Liga dos Camponeses Pobres (LCP) e estudantes apoiadores, que, por detrás de barricadas, barraram o avanço dos pistoleiros e não recuaram com seus tiros, mas pelo contrário, forçaram o seu recuo e retirada das hordas fascistas, tendo como armas apenas pedras, “balinhadeiras” e ferramentas de trabalho, como foices e facões, num episódio batizado pelos camponeses de Batalha Feroz de Barro Branco.

Acostumados a realizar ataques arbitrários e ilegais como o que resultou no brutal assassinato da Nega Pataxó na Bahia e tantos outros episódios infames de violência contra os povos em luta pela terra no Brasil, essa foi, entretanto, a primeira vez que eles foram escorraçados e colocados para fora pera ira do povo, e saíram com o saldo de 5 feridos, sendo um deles o presidente do movimento em Pernambuco, José Antônio Fonseca de Mello, que foi baleado no confronto.

<><> Fundação do Invasão Zero em Pernambuco

A Frente Parlamentar Invasão Zero, que conta no Congresso Nacional com 200 deputados e senadores, que surgiu da famigerada “CPI do MST” foi formalmente oficializado em abril de 2023 na Assembleia Legislativa da Bahia, estado com um dos maiores índices de violência policial e de atuação de paramilitares na repressão da luta camponesa, sendo o estado com maior número de conflitos agrários no país em 2023, de acordo com dados do Brasil de Fato. A Bahia também foi palco, no ano passado, de uma grande luta camponesa no Acampamento Mãe Bernadete, dirigida pela Liga dos Camponeses Pobres, e nomeada em homenagem à liderança quilombola assassinada no mesmo ano também pelo latifúndio armado da região. Não à toa foi nesse estado que o “movimento” fez um de seus mais sanguinários ataques, que resultou no assassinato da líderança indígena Nega Pataxó, com apoio e cobertura da Polícia Militar, que abriu o caminho para as hordas atirarem contra os indigenas nesse epísódio.

Já em pernambuco, o Movimento Invasão Zero em Pernambuco foi fundado em 30 de novembro de 2023, e tem desde já como um de seus sócios principais o latifundiário Ricardo Frederico Kuhni Fernandes, então presidente da Associação dos Criadores de Nelore do Nordeste (ACNN), que havia sido reativada em 2021, um ano após o momento em que a luta pela terra em Jaqueira começou a agudizar-se.

A base do Movimento Invasão Zero em Pernambuco veio a se solidificar em meados de abril de 2024, quando foi feita uma reunião pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) com o objetivo de eleger lideranças para o grupo paramilitar bolsonarista em Pernambuco. Nesta reunião, foram eleitos o Deputado Coronel Meira (PL) para Coordenador de Pernambuco, e o ex-defensor público José Antônio Fonseca de Mello como presidente do movimento. Além dos líderes, os deputados pernambucanos Coronel Feitosa e Fernando Rodolfo (PL), Augusto Coutinho e Fernando Monteiro de Albuquerque (Republicanos), Eduardo e Lula da Fonte (Progressistas), Fernando Coelho Filho (União Brasil), Armando Monteiro (Podemos) e Eriberto Medeiros e Felipe Carreras (PSB) são ligados ao Movimento Invasão Zero.

Arthur Lira, Presidente da Câmara dos Deputados e José Múcio, Ministro da Defesa do Governo Luiz Inácio, também são fortemente vinculados ao Movimento Invasão Zero em Pernambuco, porque ambos têm relações profundas com o latifúndio da região.

<><> José Múcio, agente do latifúndio no governo

José Múcio, natural de Pernambuco, é, além de Ministro da Defesa, primo de Armando Monteiro, deputado citado anteriormente, que foi Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior pelo PSB durante o Governo Dilma Rousseff e é um dos donos do Grupo Eduardo Queiroz Monteiro (Grupo EQM), cujo uma das propriedades é a Usina Cucaú, em Rio Formoso. O próprio José Múcio foi supervisor da Usina nos anos de 1970, e deixou o cargo apenas para virar Vice-Prefeito de Rio Formoso. Mais recentemente, esteve presente no aniversário de 130 anos da Usina Cucaú, com o prefeito de Recife João Campos.

Em 2006, segundo o observatório De Olho Nos Ruralistas, foi cogitada uma proposta de transformar as áreas das usinas do Grupo EQM em uma Reserva Extrativista, funcionalmente impedindo a ação usineira na região. Quando assumiu o cargo de Ministro-Chefe da Secretaria de Relações Institucionais, no Governo Luiz Inácio, José Múcio barrou imediatamente a decisão e salvou então os negócios familiares.

A própria família Monteiro, da qual José Múcio faz parte, tem relação com as famílias oligárquicas Brennand e Petribu, explicitadas após o casamento de Patrícia Brennand Monteiro, filha de Ricardo Brennand, com Jorge Petribu, dono de oitava geração da Usina Petribu em Lagoa do Itaenga – PE. Guilherme Cavalcante de Petribu de Albuquerque Maranhão, latifundiário dono da Agropecuária Mata Sul S/A, é membro da mesma família. O próprio José Múcio é casado com Vera Brennand, da família Brennand, casamento este que segue os costumes feudais das oligarquias familiares para concentração de poder.

Guilherme Cavalcanti de Petribu de Albuquerque Maranhão, conhecido em Barro Branco apenas como Guilherme Maranhão, é o latifundiário grileiro das terras da antiga Usina Frei Caneca, onde fica o Engenho Barro Branco. Antes da Agropecuária Mata Sul S/A, a usina havia celebrado contratos com a Agropecuária Javari LTDA, que também é a rendeira do Engenho Roncadorzinho em Barreiros (PE), local que em 2021 foi assassinado o menino jonatas, de apenas nove anos, filho do então presidente da associação daquele local. Após a Javari, as terras foram arrendadas no ano de 2013 para Luís de Sá Monteiro, advogado da própria Usina, pelo período cinco anos, para logo após celebrar uma cessão de arrendamento (ou subarrendamento) para a Agropecuária Mata Sul, pelo período de 60 anos, e com cláusulas muito suspeitas, como o valor do arrendamento sendo de cerca de R$40.000,00 reais ao ano (numa terra de extensão de mais de 5000 hec) e a dispensa de pagamento pelos primeiros 20 anos.

Todos esses contratos têm como objetivos fraudar o pagamento dos credores da Usina falida, que acumula uma dívida bilionária com os ex-trabalhadores e com os cofres públicos. Todas essas terras já foram objeto de penhora em processos de execução fiscal movido pelo Estado de Pernambuco, e são alvo de uma investigação da Polícia Federal, intitulada “Operação Fogo Morto” que investiga justamente fraudes em arrendamento e leilões de mais de 20 usinas na região da Mata Sul de pernambuco.

O próprio Guilherme Maranhão, é irmão do prefeito de Ribeirão pelo PSB, Marcello Maranhão. A ligação com o partido do prefeito de Recife João Campos, porém, vai além. Segundo De Olho nos Ruralistas: “Em abril, Marcello Maranhão formou uma comitiva com diretores da [Usina] Estrelliana (Usina da família Petribu) para reativação da empresa de sua família. Essa usina tem um histórico de violência que precede o próprio golpe de 1964. Em julho de 2019, o deputado e Guilherme Maranhão, representando a Estreliana, estiveram com o governador Paulo Câmara (PSB), um aliado do prefeito Marcello, durante pedido de reabertura da usina em Ribeirão. Como resultado, Clóvis Paiva anunciou um investimento de R$ 6,5 milhões na usina”.

<><> Arthur Lira, patrono maior do ‘Invasão Zero’

Arthur Lira é dono do Engenho Proteção, dentro da Usina Água Branca, em Quipapá, há 33 km e com um cenário extremamente parecido com o de Barro Branco. Segundo investigação também feita pelo De Olho Nos Ruralistas, a Usina Água Branca faliu no final dos anos 90, e para contornar as dívidas trabalhistas e sem declarar oficialmente o procedimento jurídico de falência, celebrou contratos fraudulentos de arrendamento do Engenho Proteção para a família Lira, que depois o comprou em 2008. O próprio Arthur Lira não declarou posse destas terras, prática costumeira da família Lira. Em 2014, o pai de Arthur Lira, o latifundiário e então Senador Benedito de Lira, utilizou de sua influência com o Partido dos Trabalhadores (PT), no qual era base no Senado Federal durante o Governo Dilma, para impedir o INCRA de desapropriar a Usina Água Branca quando o instituto investigava essa possibilidade. Sob as mesmas bases que Guilherme Maranhão usa para atacar covardemente os posseiros de Barro Branco, Arthur Lira travou guerra contra os posseiros do Engenho Proteção, e moveu inúmeras ações de reintegração de posse contra os moradores.

É por ser dono de latifúndios não só em Pernambuco, mas em outros estados, e ser o mais legítimo representante do latifúndio na Câmara dos Deputados, que o Arthur Lira indicou os deputados Pedro Lupion (PP), Lucio Mosquini (MDB) e Bia Kicis (PL), conhecidos apoiadores do “Movimento Invasão Zero”, para nova comissão do Marco Temporal, com o objetivo declarado de “conciliar” as posições do Marco Temporal com as das lideranças indígenas -ou seja, tomar ampla posição a favor do latifúndio, com aval do Governo Federal e da Ministra dos Povos Indígenas Sônia Guajajara (PSOL)-, em agosto deste ano. Também é por isso que o deputado abre caminho para a “PL Invasão Zero”, que tem como objetivo legalizar grupos paramilitares para combater a luta pela terra no Brasil, sem necessidade de ordem judicial ou de comprovar a propriedade da terra.

Nesta questão, é muito acertada a análise da Liga dos Camponeses Pobres em nota de maio deste ano: “Ao atacar os camponeses pobres e conseguir que se realize grande operação de despejo no próprio estado, o latifundiário Arthur Lira busca ‘mostrar serviço’ para cair ainda mais nas graças da extrema-direita a nível nacional (de quem foi muito amigo durante o governo militar genocida de Bolsonaro) com quem espera contar para emplacar escolhido seu para a substituí-lo no posto de presidente da Câmara Federal no próximo ano, cargo decisivo para controlar os bilhões de reais em emendas e a influência decisiva no Legislativo e Executivo do país, bem como preparar terreno para lucrar com o próximo pleito presidencial”. Sem dúvidas, Arthur Lira representa o que há de mais atrasado no Brasil, e seu apoio indiscriminado ao “Invasão Zero” é prova cabal disso.

Ao dar cargos para reacionários como José Múcio, e dar a Arthur Lira o poder de mandar e desmandar o Governo, como Presidente de fato do país, como tentativa de se manter no poder, Luiz Inácio e todo seu governo é cúmplice com a ascensão da extrema-direita bolsonarista. Não é atoa que a Força Nacional, tão usada contra a luta pela terra, foi fundada em 2004 por Luiz Inácio, e que os assassinatos de Nega Pataxó e Mãe Bernadete aconteceram na Bahia, governada pelo PT. Vez e vez, provam que são cumplices do latifúndio, e apoiam, mesmo disfarçadamente, o extermínio do movimento camponês combativo. 

<><> A Batalha Feroz de Barro Branco frustrou os planos do latifúndio

Com o histórico de resistência dos posseiros de Barro Branco, hoje maior conflito agrário do Estado de Pernambuco, além da sua proximidade com o latifúndio de Arthur Lira, o “Movimento Invasão Zero” viu a destruição das terras dos camponeses de Jaqueira, além de seu extermínio, como promissor início para seu plano de destruição da revolta camponesa e de sua liderança, a Liga dos Camponeses Pobres, em Pernambuco.

José Antônio Fonseca de Mello, líder do “Movimento Invasão Zero” em Pernambuco e organizador da tentativa de massacre dos posseiros de Barro Branco, foi pessoalmente à cidade de Jaqueira para ver seus planos em ação, e comandou os 50 pistoleiros contratados no dia 28 de Setembro. Durante a Batalha, como já relatado pelo AND, José Antônio covardemente ordenou os pistoleiros a atirarem contra os camponeses e estudantes, mesmo comentando a forte presença de mulheres e crianças por entre as barricadas. Ferido e desmoralizado tanto politicamente quanto moralmente, foi obrigado a ver as hordas reacionárias recuarem frente à bravura do povo.

<><> Os camponeses de Barro Branco mostram o caminho para acabar com o ‘Invasão Zero’

Como foi visto na Feroz Batalha de Barro Branco, apenas o avanço da Revolução Agrária é capaz de parar o projeto de extermínio feito pelo latifúndio. A ação decidida dos camponeses, somada à defesa inegociável por estudantes e trabalhadores na cidade, dão um exemplo de como a luta contra o latifúndio deve ser feita, de modo que 50 pistoleiros e latifundiários fortemente armados foram expulsos pela ira camponesa, e da juventude combatente.

Como exemplificado na matéria, as faces do “Invasão Zero” em Pernambuco são várias, e seus cúmplices vão desde o INCRA até a Presidência da República. A vitória dos camponeses na Batalha Feroz de Barro Branco, e consequentemente a primeira de várias derrotas da primeira operação do “Movimento Invasão Zero” em Pernambuco comprovam ainda mais que nunca que nada nem ninguém poderá deter a luta pela terra.

 

Fonte: A Nova Democracia

 

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