terça-feira, 15 de outubro de 2024

Desinformação pode aumentar risco de nova pandemia, diz relatório

Um relatório desenvolvido pelo Quadro Global de Monitoramento de Preparação (GPMB), uma iniciativa apoiada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Banco Mundial, rastreou os principais fatores de risco para uma nova pandemia. Segundo o documento, a desinformação é um dos aspectos que podem aumentar a ameaça de um novo surto global causada por um vírus ou bactéria.

De acordo com o relatório, lançado na 15ª Cúpula Mundial da Saúde, em Berlim, na Alemanha, a comunicação eficaz pode ser vital durante pandemias para informar o público e orientar o comportamento para mitigar a propagação de doenças.

No entanto, a rápida disseminação de desinformação e fake news, potencializadas pelas redes sociais, principalmente, podem levar à “infodemia“, um fenômeno caracterizado pela grande quantidade de informações, tanto precisas quanto imprecisas, podendo causar confusão na população.

“Durante a pandemia de Covid-19, a desinformação se espalhou globalmente, dificultando a adoção de comportamentos de proteção e minando a adesão às medidas de saúde pública. Ela alimentou pânico, angústia mental e polarização social, exacerbada por algoritmos de mídias sociais que amplificaram câmaras de eco e a estigmatização”, diz o documento.

“As estratégias para mitigar os danos causados pela infodemia ainda estão em seus estágios iniciais, mas certamente exigirão esforços de longo prazo para construir e manter a confiança nas autoridades de saúde e na ciência, bem como estruturas regulatórias claras que deem prioridade à saúde pública e à preservação da coesão social. Essas medidas são necessárias muito antes de futuras crises”, acrescenta.

<><> Aspectos sociais, econômicos, políticos, climáticos e tecnológicos estão entre os fatores de risco

No total, o relatório descreve 15 principais impulsionadores do risco de uma nova pandemia, caracterizados em cinco grupos distintos: social, tecnológico, ambiental, econômico e político.

Falta de confiança entre e dentro dos países, desigualdade social, agricultura intensiva e a mobilidade global, incluindo a movimentação de seres humanos e animais para diferentes regiões do globo, estão entre as principais ameaças descritas no relatório.

O documento também identifica novos riscos fora dos fatores de saúde tradicionais. A conectividade digital, por exemplo, permitiu que cientistas sequenciassem e compartilhassem rapidamente dados de patógenos e adaptassem respostas cada vez mais rápido, segundo o relatório.

No entanto, essa pegada digital deixa os sistemas de saúde e as sociedades expostos. Ataques cibernéticos, ameaças maiores à biossegurança e a rápida disseminação de desinformação aumentam o risco de uma pandemia, na visão dos autores.

“A próxima pandemia não vai esperar que aperfeiçoemos nossos sistemas”, afirma Joy Phumaphi, copresidente do GPMB e ex-Ministra da Saúde de Botsuana, em comunicado. “Devemos investir agora em sistemas de saúde primários resilientes e equitativos para enfrentar os desafios de amanhã.”

<><> Preparação para pandemias futuras devem abranger saúde humana, animal e ambiental

O relatório também lista e enfatiza estratégias de preparação para futuras pandemias que devem ser realizadas pelas diferentes nações. De acordo com o documento, “a disposição de criar flexibilidade na resposta, proteger a sociedade proativamente e investir em esforços colaborativos pode reduzir significativamente o risco e aumentar a preparação”.

Os autores do relatório afirmam que todas as nações devem fortalecer seus sistemas de saúde, priorizar a proteção social e garantir que serviços essenciais de saúde estejam disponíveis para todas as comunidades, particularmente as mais vulneráveis e desfavorecidas.

Além disso, a preparação deve incorporar estratégias que abranjam as interfaces de saúde humana, animal e ambiental. O relatório pede maior colaboração entre setores para mitigar riscos associados a pandemias, reconhecendo que a saúde de um setor está intrinsecamente ligada à saúde de outros.

“Temos uma estreita janela de oportunidade para repensar a preparação global: avaliar riscos que se estendem muito além do setor de saúde e abordar alguns deles de forma muito mais proativa, de uma forma que seja adaptada a cada contexto”, afirma Kolinda Grabar-Kitarović, copresidente do GPMB e ex-presidente da Croácia, no comunicado.

“Vigilância, adaptabilidade e colaboração devem definir nossa preparação agora, para que isso seja incorporado à resposta”.

 

•        XEC: tudo o que já se sabe sobre nova variante da Covid-19

Uma nova linhagem do vírus da Covid-19 foi detectada em três estados brasileiros: Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. Chamada de XEC, a linhagem pertence à variante Ômicron e foi identificada pela primeira vez no Brasil pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), em amostras de dois pacientes diagnosticados com Covid-19 em setembro.

De acordo com a Agência Brasil, a identificação foi realizada pelo Laboratório de Vírus Respiratórios, Exantemáticos, Enterovírus e Emergências Virais do IOC, que atua como referência para Sars-CoV-2 junto ao Ministério da Saúde e à Organização Mundial da Saúde (OMS).

A XEC foi classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no dia 24 de setembro como uma variante sob monitoramento. Isso ocorre quando uma linhagem apresenta mutações no genoma que são suspeitas de afetar o comportamento do vírus e observam-se os primeiros sinais de “vantagem de crescimento” em relação a outras variantes em circulação.

<><> O que é a linhagem XEC e como ela surgiu?

Segundo a Fiocruz, análises indicam que a XEC surgiu pela recombinação genética entre cepas que circulavam anteriormente. Isso pode acontecer quando um indivíduo é infectado por duas linhagens virais diferentes simultaneamente, o que pode levar à mistura dos genomas dos dois patógenos durante o processo de replicação viral.

Ainda segundo a Fundação, o genoma da XEC apresenta trechos dos genomas das linhagens KS.1.1 e KP.3.3. “Os vírus, continuamente, sofrem mutações, alguns com maior velocidade, outros mais lentamente. Essa linhagem é um híbrido dessas subvariantes anteriores da Ômicron”, explica Emy Gouveia, infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein.

<><> Além do Brasil, em quais locais a XEC já foi detectada?

Segundo dados da Gisaid, pelo menos 35 países identificaram a cepa, que soma mais de 2,4 mil sequências genéticas depositadas na plataforma até o dia 10 de outubro desse ano.

A variante começou a chamar atenção em junho e julho de 2024, devido ao aumento de detecções na Alemanha. Em pouco tempo, espalhou-se pela Europa, Américas, Ásia e Oceania. Ainda de acordo com a Gisaid, a variante é prevalente na Europa, onde pelo menos 13 nações a detectaram.

No Brasil, a detecção foi feita a partir de uma estratégia de vigilância que ampliou o sequenciamento de genomas do Sars-CoV-2 na capital fluminense entre agosto e setembro, conforme explica a Fiocruz. A ação contou com a parceria da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro.

Durante três semanas, foi realizada a coleta de amostra de swab nasal para envio ao Laboratório de Referência do IOC/Fiocruz em casos positivos para Sars-CoV-2 diagnosticados por testes rápidos em unidades básicas de saúde. Embora tenha apontado a presença da XEC, o monitoramento confirmou o predomínio da linhagem JN.1, majoritária no Brasil desde o final do ano passado.

<><> Quais são os sintomas causados pela variante XEC?

Ainda não há dados que indiquem que a variante XEC cause sintomas mais graves ou diferentes das variantes anteriores. Portanto, é provável que ela tenha manifestações semelhantes a outras linhagens, incluindo febre alta, dor de garganta, tosse, dor de cabeça e dor no corpo, além de fadiga.

<><> A variante XEC é mais transmissível?

Segundo a virologista Paola Resende, pesquisadora do Laboratório de Vírus Respiratórios, Exantemáticos, Enterovírus e Emergências Virais do IOC, dados do exterior indicam que a XEC pode ser mais transmissível do que outras linhagens. No entanto, é importante avaliar seu comportamento no Brasil.

“Em outros países, essa variante tem apresentado sinais de maior transmissibilidade, aumentando a circulação do vírus. É importante observar o que vai acontecer no Brasil.  O impacto da chegada dessa variante pode não ser o mesmo aqui porque a memória imunológica da população é diferente em cada país, devido às linhagens que já circularam no passado”, explica Resende, que também atua na Rede Genômica Fiocruz, em comunicado divulgado pela Fiocruz.

<><> A variante XEC é mais grave?

A OMS não classificou a nova linhagem como uma variante preocupante. No entanto, ainda é muito cedo para fazer uma avaliação completa da gravidade da variante.

“A forma como uma nova variante vai impactar uma população depende de uma série de fatores, como a taxa de vacinação da população, quais vacinas foram aplicadas e em qual período”, afirma Gouveia.

<><> Vacinas atuais funcionam contra a XEC?

As vacinas atuais contra a Covid-19 oferecem proteção contra as subvariantes da Ômicron e, por isso, devem proteger contra a linhagem XEC. O infectologista William Schaffner, da Vanderbilt University Medical Center, no Tennessee, EUA, disse ao portal NewScientist que é esperado que os imunizantes mais atualizados contra o coronavírus protejam contra a nova variante.

Gouveia também reforça que toda a população deve manter sua carteira vacinal atualizada, independentemente das variantes circulantes.

A versão mais atualizada da vacina contra Covid-19, a SpikeVax, do laboratório Moderna, está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). Essa é uma vacina monovalente que protege contra a variante XBB 1.5, um subtipo da Ômicron.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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