terça-feira, 15 de outubro de 2024

'Renda-se ou morra de fome': O plano militar defendido por generais de Israel na guerra contra Gaza

Na manhã deste sábado (12/10), uma mensagem foi publicada nas redes sociais por um porta-voz dos militares israelenses. Ela alertava a população de uma área conhecida como 'D5', ao norte de Gaza, para fugir para o sul.

D5 é um quadrado na grade sobreposta aos mapas de Gaza pelas Forças de Defesa de Israel (FDI). É um bloco dividido em várias dezenas de áreas menores.

A mensagem, a mais recente divulgada, afirmava: "As FDI estão operando com grande força contra as organizações terroristas e continuarão a fazê-lo por muito tempo. A área designada, incluindo os abrigos ali localizados, é considerada uma zona de combate perigosa. A área deve ser evacuada imediatamente através da estrada Salah al-Din para a área (de ajuda) humanitária."

Um mapa está anexado com uma grande seta amarela apontando do bloco D5 para o sul de Gaza. A estrada Salah al-Din é a principal rota norte-sul.

A mensagem não promete um regresso rápido aos locais onde as pessoas viviam, uma área que foi pulverizada por um ano de repetidos ataques de Israel. O cerne da mensagem é que as FDI usarão "grande força por muito tempo". Em outras palavras, não espere voltar tão cedo.

O ponto de ajuda humanitária designado por Israel na mensagem é al-Mawasi, anteriormente uma área agrícola na costa perto de Rafah. Ele está superlotado e não é mais seguro do que muitas outras partes de Gaza. A BBC registrou pelo menos 18 ataques aéreos na área.

Hamas enviou suas próprias mensagens às 400 mil pessoas que restam no norte de Gaza, uma área que já foi o coração urbano da Faixa, com uma população de 1,4 milhões de habitantes.

O Hamas pede que a população não abandone a região. O sul, aponta o grupo, é "igualmente perigoso". Além disso, o Hamas avisou os moradores de que será permitido regressar.

Muitas pessoas querem permanecer, apesar dos ataques aéreos e dos bombardeios de artilharia israelense. Quando desci para uma área com vista para o norte de Gaza, pude ouvir explosões e ver colunas de fumaça subindo. A intensidade me lembrou dos primeiros meses da guerra.

Até agora, quase 42 mil palestinos foram mortos pela forças de Israel, segundo o ministério da Saúde de Gaza, gerido pelo Hamas.

Algumas das pessoas que permaneceram no norte de Gaza, quando tantas outras já fugiram para o sul, fizeram isso para ficar com familiares vulneráveis. Outros são de famílias com ligações com o Hamas. Sob as leis da guerra, isso não os torna automaticamente beligerantes.

Uma tática que tem sido utilizada no último ano por civis que querem evitar as operações das FDI sem correr riscos no superlotado e perigoso sul de Gaza é fugir para outro local no norte. De Beit Hanoun para a Cidade de Gaza, por exemplo, enquanto os militares israelense operam perto de suas casas ou abrigos. Quando o exército avança, eles retornam.

As FDI estão tentando impedir que isso aconteça, de acordo com colegas da BBC que mantêm contato diário com os palestinos em Gaza. Os militares estão canalizando famílias que se deslocam em uma única direção, por Salah al-Din, a estrada principal para o sul.

Israel não permite que jornalistas entrem em Gaza para reportar a guerra, exceto em viagens breves, raras e supervisionadas de perto pelas FDI.

Os jornalistas palestinos continuam a fazer um trabalho corajoso. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas afirma que pelo menos 128 trabalhadores palestinos da área de comunicação social foram mortos em Gaza desde o início da guerra.

No norte de Gaza, desde que Israel voltou à ofensiva, repórteres estão filmando famílias fugindo em pânico, muitas vezes com crianças pequenas ajudando e carregando mochilas enormes.

Um deles enviou uma breve entrevista com uma mulher chamada Manar al-Bayar, que corria pela rua carregando uma criança.

Ela afirmou, enquanto caminhava e corria ao sair do campo de refugiados de Jabalia, que "eles nos disseram que tínhamos cinco minutos para deixar a escola de Fallujah. Para onde vamos? No sul de Gaza há assassinatos. No oeste de Gaza eles estão bombardeando as pessoas. Para onde vamos, Deus?"

A jornada é difícil. Às vezes, dizem os palestinos em Gaza, as pessoas em deslocamento são alvejadas pelas FDI. Eles insistem que os soldados israelenses sigam regras de combate estritas que respeitem o direito humanitário internacional.

Mas a chefe de proteção da Assistência Médica aos Palestinos, Liz Allcock, afirma que as provas apresentadas pelos civis feridos sugerem o contrário.

"Quando recebemos pacientes em hospitais, um grande número de mulheres, crianças e adolescentes recebem tiros diretos na cabeça, na coluna, nos membros. Isso indica um ataque direcionado."

Mais uma vez, a ONU e as agências de ajuda humanitária que atuam em Gaza afirmam que a pressão militar israelensa está piorando o que já é uma catástrofe humanitária.

Mensagens de pessoas desesperadas estão sendo enviadas dos poucos hospitais que ainda estão de pé no norte de Gaza.

Elas informam que os postos de atendimento estão ficando sem combustível para alimentar os geradores que mantêm vivos pacientes gravemente feridos. Alguns hospitais relatam que os seus edifícios foram atacados pelos israelenses.

A suspeita entre os palestinos, a ONU e as agências de ajuda humanitária é que as FDI estão gradualmente adotando parte ou a totalidade de uma nova tática para "limpar" o norte de Gaza, conhecida como o "Plano dos Generais".

Essa tática foi proposta por um grupo de oficiais superiores reformados liderados pelo major-general (aposentado) Giora Eiland, ex-conselheiro de segurança nacional.

Tal como a maioria dos israelenses, os generais estão frustrados e zangados porque, um ano após o início da guerra, Israel ainda não alcançou seu objetivo de "destruir o Hamas e libertar os reféns" capturados em 7 de outubro de 2023.

O "Plano dos Generais" é uma ideia nova que os seus instigadores acreditam poder, da perspectiva de Israel, quebrar o impasse.

No seu cerne está a ideia de que Israel pode forçar a rendição do Hamas e do seu líder, Yahya Sinwar, aumentando a pressão sobre toda a população do norte.

O primeiro passo é ordenar aos civis que fujam para o sul de Wadi Gaza, uma corrente leste-oeste que se tornou a linha divisória em Gaza desde a invasão de Israel, em outubro do ano passado.

O general aposentado Giora Eiland acredita que Israel deveria ter feito um acordo imediato para recuperar os reféns, mesmo que isso significasse a retirada total de Gaza. Um ano depois, "outros métodos são necessários", diz ele.

Em seu escritório no centro de Israel, ele expôs a essência do plano.

"Como já cercamos a parte norte de Gaza nos últimos nove ou 10 meses, o que deveríamos fazer é dizer a todos os 300 mil residentes (a ONU estima em 400 mil) que ainda vivem na parte norte de Gaza que eles têm de deixar esta área en 10 dias para sair através de corredores seguros que Israel fornecerá", afirma Eiland.

"E depois desse tempo, toda esta área se tornará uma zona militar. E todo o povo do Hamas ainda terá, no entanto, sejam alguns deles combatentes, sejam eles civis… Eles terão duas opções: se render ou morrer de fome."

Eiland quer que Israel feche as áreas assim que os corredores de evacuação forem bloqueados.

Qualquer um que ficar para trás seria tratado como um combatente inimigo, avalia Eiland.

A área ficaria sob cerco, com o exército bloqueando a entrada de todos os suprimentos de alimentos, água ou outras necessidades básicas. Ele acredita que a pressão se tornaria insuportável e o que o "restante do Hamas desmoronaria rapidamente", libertando os reféns sobreviventes e dando a Israel a vitória que almeja.

O Programa Mundial de Alimentos (PMA), da ONU, aponta afirma que a atual ofensiva de Israel em Gaza teve um “impacto desastroso na segurança alimentar de milhares de famílias palestinas”.

As principais passagens para o norte de Gaza, diz, foram fechadas e nenhuma ajuda alimentar entrou na região desde 1 de outubro.

As cozinhas móveis e as padarias foram forçadas a parar de funcionar devido aos ataques aéreos. A única padaria em funcionamento no norte, apoiada pelo PMA, pegou fogo depois de ser atingida por uma munição explosiva. A situação no sul é quase igualmente terrível.

Não é claro se as FDI adotaram o Plano dos Generais de maneira parcial ou total, mas as provas circunstanciais do que está sendo feito em Gaza sugerem que o plano é, no mínimo, uma forte influência nas táticas utilizadas contra a população. A BBC apresentou uma lista de perguntas às FDI, mas não recebeu resposta.

Os extremistas ultranacionalistas do gabinete do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, querem substituir os palestinos no norte de Gaza por colonos judeus.

Entre muitas declarações que fez sobre o assunto, o ministro das finanças, Bezalel Smotrich, afirmou: "Os nossos heroicos combatentes e soldados estão destruindo o mal do Hamas, e ocuparemos a Faixa de Gaza… para dizer a verdade, onde não há acordo, não há segurança."

 

¨      “Crianças baleadas na cabeça”: médicos dos EUA trazem relatos de Gaza

Médicos norte-americanos revelaram ao New York Times relatos horríveis de crianças palestinas sendo baleadas na cabeça pelas forças de ocupação israelenses em Gaza após visitas à Faixa de Gaza sitiada, destacando um padrão que testemunharam ao operar essas crianças, informou a Al-Mayadeen.

O cirurgião geral e de trauma, Dr. Feroze Sidhwa, foi um desses médicos que deram seus relatos. Sidhwa, que esteve em Khan Yunis por duas semanas em março e abril, disse que ficou surpreso ao descobrir que outros médicos foram testemunhas de crianças sendo baleadas na cabeça ou no peito pela maquinaria de guerra de Israel.

Sidhwa, ao retornar aos EUA, lembra-se de ter falado com outro médico e dito a ele: “Eu não conseguia acreditar na quantidade de crianças que vi levando tiros na cabeça”.

Para sua surpresa, o médico com quem ele falou confirmou o assunto dizendo: “Sim, eu também, todos os dias”.

O médico estadunidense coletou os depoimentos de outros 65 profissionais de saúde sobre suas experiências em Gaza, 44 dos quais relataram ter testemunhado casos de crianças baleadas na cabeça ou no peito, e 57 dos 65 médicos com quem ele falou decidiram registrar o caso, disse Al-Mayadeen.

Em sua própria experiência, Sidhwa revelou que “quase todos os dias em que estive lá, vi uma nova criança que tinha levado um tiro na cabeça ou no peito, virtualmente todas as quais morreram. Treze no total”.

Ele atribuiu isso ao fato de várias forças de ocupação israelenses estarem estacionadas perto de onde ele trabalhava em Gaza.

<><> Mais relatos horripilantes

O cirurgião bariátrico e do intestino anterior, Dr. Mohamad Rassoul Abu-Nuwar, estava entre aqueles que registraram o caso.

Ele revelou que, em quatro horas passadas no departamento de emergência, ele testemunhou “seis crianças entre 5 e 12 anos, todas com ferimentos de bala no crânio”, afirmou Al-Mayadeen.

O cirurgião plástico e reconstrutivo Dr. Irfan Galaria também deu seu depoimento ao New York Times (NYT).

“Nossa equipe cuidou de cerca de quatro ou cinco crianças, de 5 a 8 anos de idade, que foram todas baleadas com tiros únicos na cabeça. Todas elas foram apresentadas ao pronto-socorro ao mesmo tempo. Todas morreram”, Galaria disse ao NYT.

O Dr. Ndal Farah, um anestesista, revelou que muitas das crianças baleadas tinham “danos cerebrais permanentes e incuráveis”, enfatizando que isso era “uma ocorrência quase diária”, disse Al-Mayadeen.

<><> Nascido para morrer

De acordo com a reportagem do NYT, mais de 20 profissionais de saúde relataram “ter visto bebês saudáveis nascerem apenas para morrer no hospital devido à desidratação, fome ou doença”, disse Al-Mayadeen.

Quase todos os relatos dos profissionais de saúde enfatizaram que os palestinos em Gaza estavam desnutridos.

A enfermeira Merril Tydings foi citada dizendo que “essas pessoas estavam morrendo de fome”.

Tydings revelou que se abstiveram de comer ou beber na frente de profissionais de saúde palestinos que ficaram dias privados de comida ou bebida.

<><> Angústia Psiquiátrica

De acordo com os relatos coletados, o genocídio de um ano em Gaza e as terríveis condições de vida no enclave durante esta guerra resultaram em “sofrimento psiquiátrico” entre as crianças palestinas.

Cinquenta e dois profissionais de saúde que deram seus depoimentos “observaram sofrimento psiquiátrico quase universal em crianças pequenas e viram algumas que eram suicidas ou disseram que gostariam de ter morrido”, relatou Al-Mayadeen.

A médica de cuidados intensivos pediátricos Tanya Haj-Hassan falou sobre uma criança que perdeu toda a família, dizendo: “Todos que eu amo estão no céu. Não quero mais ficar aqui”.

<><> Parem de Armar Israel

Sidhwa insistiu que os Estados Unidos deveriam parar de armar Israel, acusando ambos de “transformar Gaza em um deserto uivante”. Sidhwa escreveu: “O horror deve acabar. Os Estados Unidos devem parar de armar Israel”. Ele acrescentou que, enquanto isso acontece, “nós, americanos, precisamos fazer uma longa e profunda análise de nós mesmos”.

<><> O Genocídio em Gaza continua

Desrespeitando uma resolução do Conselho de Segurança da ONU exigindo um cessar-fogo imediato, Israel enfrentou condenação internacional em meio à sua contínua ofensiva brutal em Gaza.

Atualmente sendo julgado pelo Tribunal Internacional de Justiça por genocídio contra palestinos, Israel vem travando uma guerra devastadora em Gaza desde 7 de outubro.

De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, 42.010 palestinos foram mortos e 97.720 ficaram feridos no genocídio israelense em Gaza, que começou em 7 de outubro de 2023.

Além disso, pelo menos 11.000 pessoas estão desaparecidas, presumivelmente mortas sob os escombros de suas casas em toda a Faixa.

Israel diz que 1.200 soldados e civis foram mortos durante a Operação Inundação de Al-Aqsa em 7 de outubro. A mídia israelense publicou reportagens sugerindo que muitos israelenses foram mortos naquele dia por "fogo amigo".

Organizações palestinas e internacionais dizem que a maioria dos mortos e feridos são mulheres e crianças.

A guerra israelense resultou em uma fome aguda, principalmente no norte de Gaza, resultando na morte de muitos palestinos, principalmente crianças.

A agressão israelense também resultou no deslocamento forçado de quase dois milhões de pessoas de toda a Faixa de Gaza, com a grande maioria dos deslocados forçada a se mudar para a cidade densamente povoada de Rafah, no sul, perto da fronteira com o Egito — no que se tornou o maior êxodo em massa da Palestina desde a Nakba de 1948.

Mais tarde na guerra, centenas de milhares de palestinos começaram a se mudar do sul para o centro de Gaza em uma busca constante por segurança.

 

¨      Não temos 'linhas vermelhas' quando se trata de nos defender, diz MRE do Irã em recado para Israel

O ministro das Relações Exteriores do Irã disse neste domingo (13) que o país não tem "linhas vermelhas" para salvaguardar a proteção do povo iraniano e a soberania do país.

Os comentários do chanceler Abbas Araqchi pareciam ter a intenção de dissipar sugestões de que o Irã absorveria um ataque israelense sem uma resposta adicional, como Teerã fez no início deste ano, quando Israel atacou o Irã pela última vez após uma saraivada de mísseis iranianos.

"Embora tenhamos feito enormes esforços nos últimos dias para conter uma guerra total em nossa região, digo claramente que não temos limites na defesa de nosso povo e interesses", disse Araqchi em uma postagem no X (antigo Twitter).

O chanceler também chamou atenção para o fato de que os Estados Unidos têm entregue uma quantidade recorde de armas a Tel Aviv. "Agora, também estão colocando as vidas de suas tropas em risco ao posicioná-las para operar sistemas de mísseis dos EUA em Israel", afirmou.

A declaração da chancelaria iraniana acontece enquanto o Oriente Médio se prepara "ansiosamente" para a resposta de Israel aos ataques de mísseis de Teerã duas semanas atrás e ao mesmo tempo em que as Forças de Defesa de Israel (FDI) invadiram neste domingo (13) os portões de uma base da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL, na sigla em inglês), conforme noticiado.

 

Fonte: BBC News/Palestine Chronicle/Sputnik Brasil

 

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