segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Nunca é tarde para abandonar o tabagismo e agora existem dados que comprovam isso

Fumar faz mal à saúde (e isso não é novidade para ninguém). Esse hábito pode causar uma série de malefícios, afetando a sua produtividade e até mesmo o bem-estar das pessoas ao seu redor. Por isso, há muito tempo os esforços têm se concentrado em reduzir o número de pessoas que pensam em começar a fumar. No entanto, para os fumantes que têm grande dificuldade em parar, um estudo traz boas notícias quanto a isso.

Uma nova pesquisa da Escola de Saúde Pública da Universidade de Michigan descobriu algo relevante sobre as pessoas que permaneceram com o hábito de fumar por décadas. A conclusão foi clara: você pode viver mais, independentemente da idade em que parar de fumar. Em outras palavras, nunca é tarde demais para largar o cigarro, seja aos 20 ou aos 75 anos.

•        Como o fumo afeta a expectativa de vida ao longo dos anos

A ideia que norteou a equipe de pesquisa foi desmistificar muitas das campanhas e abordagens dos últimos anos. A associação do tabagismo, por exemplo, com o câncer e suas variantes, ou com doenças cardíacas e pulmonares, fez com que os responsáveis pela conscientização focassem em um público relativamente jovem.

A chave, como eles apontam, está na frase tão repetida: "antes que seja tarde demais". Mas, considerando o foco do estudo, será que realmente existe um momento em que é tarde demais para parar de fumar?

Como explica a pesquisadora principal e autora Thuy Le: “Observamos um declínio acentuado no tabagismo entre jovens adultos na última década. No entanto, as taxas de tabagismo entre adultos mais velhos permaneceram estagnadas e, até onde sabemos, nenhuma pesquisa havia estabelecido os benefícios de parar de fumar em idades mais avançadas. Queríamos mostrar que parar de fumar é benéfico em qualquer idade e oferecer um incentivo para que os fumantes mais velhos abandonem o cigarro.”

•        Até quando é possível ganhar mais anos de vida ao parar de fumar?

A primeira ação da equipe foi calcular as taxas de mortalidade específicas por idade, de acordo com o status de fumante. Para isso, usaram os riscos relativos de mortalidade por todas as causas, com base em dados de várias fontes nacionais dos Estados Unidos.

Assim, os grupos consistiam em pessoas que nunca fumaram, pessoas que fumam atualmente e pessoas que já fumaram, mas pararam. Com essas informações, criaram o que chamaram de "tabelas de vida", que mostravam a expectativa de vida das pessoas em intervalos de 10 anos, entre as idades de 35 e 75 anos.

Eles descobriram que, em comparação com aqueles que nunca fumaram, os fumantes que continuaram até as idades de 35, 45, 55, 65 ou 75 anos perderiam, em média, 9,1; 8,3; 7,3; 5,9 e 4,4 anos de vida, respectivamente.

No entanto, se parassem de fumar nessas idades, evitariam uma perda média de 8,0; 5,6; 3,4; 1,7 e 0,7 anos, respectivamente. Entre aqueles que pararam de fumar aos 65 anos, a probabilidade de ganhar pelo menos um ano de vida foi de 23,4%, e, para aqueles que pararam aos 75 anos, a probabilidade foi de 14,2%. Em outras palavras, parar de fumar é extremamente benéfico, mesmo aos 75 anos.

Conforme destacado no estudo, os dados mostraram que quase 10% das pessoas que pararam de fumar aos 65 anos ganharam pelo menos oito anos de vida em comparação com aquelas que continuaram fumando, e 8% das pessoas que pararam aos 75 anos ganharam pelo menos quatro anos.

Sendo assim, o benefício de parar de fumar não se limita a jovens adultos e pessoas de meia-idade. "Este estudo demonstra sua aplicabilidade também a pessoas mais velhas. Embora os benefícios de parar de fumar em idades mais avançadas possam parecer pequenos em termos absolutos, eles representam uma grande proporção da expectativa de vida restante de uma pessoa", concluem os pesquisadores.

 

•        Como deixar o cigarro naturalmente

Em geral, a parada abrupta é mais recomendada pelos especialistas do que a parada gradual, mas as evidências científicas se dividem sobre o potencial de cada um deles para ajudar o indivíduo a parar de fumar.

Inclusive, uma revisão de estudos realizada pela Biblioteca Cochrane, que reuniu 10 pesquisas com 3760 participantes no total, mostrou que ambos os métodos (parada gradual e gradual) têm resultados parecidos ao ajudar os fumantes a pararem, mesmo quando acompanhados da terapia de reposição de nicotina, suporte comportamental ou suporte de autoajuda.

<><> Tratamentos aliados

A terapia de reposição de nicotina (adesivo de nicotina) pode ser um aliado depois que o paciente conseguir zerar seus cigarros. Entretanto, a reposição de nicotina não é indicada enquanto o paciente ainda fuma. O ideal é que o fumante consulte um médico, que orientará se ele precisa desse tipo de método e como ele pode usá-lo com a técnica de parada.

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Parar de fumar não é simples e pode necessitar de outros tratamento pareados à parada gradual.

<><> Como parar de fumar

Decidir parar de fumar é um gesto essencial contra o tabagismo. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), há duas formas para uma pessoa que fuma deixar o cigarro de lado: a parada gradual e a parada imediata (ou abrupta).

Quando for tentar parar de fumar, o ideal é sempre ter a orientação de um especialista para ajudar a escolher as melhores estratégias e tratamentos - indicando, inclusive remédios parar de fumar.

Além disso, comorbidades clínica ou psiquiátricas podem representar fator de risco para recaídas ao tabagismo, por isso o acompanhamento médico é importante para tratá-las de imediato.

<><> Dicas para parar de fumar

Algumas práticas podem ser adotadas durante o processo de parar de fumar e podem ajudar a deixar a dependência do cigarro para trás. São elas:

•        Concentrar-se em outras atividades;

•        Quebrar a rotina;

•        Buscar apoio de amigos e familiares;

•        Não desenvolver outro vício;

•        Desenvolver autocontrole;

•        Continuar tentando;

•        Evitar locais com outros tabagistas.

<><> Parar de fumar com a parada gradual

A parada gradual é uma estratégia para parar de fumar. A ideia é que a pessoa deixe o cigarro aos poucos. Como na parada abrupta, a pessoa pode marcar um "dia D", em que ela deixará de fumar. Porém, até essa data chegar, ela vai reduzindo o número de cigarros gradualmente, até chegar no dia marcado sem fumar nenhum.

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 O ideal é que a parada gradual ocorra em duas semanas, pois um período mais longo do que esse não motiva uma mudança e pode fazer com que o paciente desista ou fique protelando a parada.

A ideia é contar quantos cigarros são fumados ao dia e calcular quantos podem ser tirados por dia, para chegar à data final sem fumar nenhum.

A parada gradual exige um planejamento, afinal o indicado pelos especialistas é que ela dure no máximo duas semanas. Normalmente a técnica mais indicada é a parada abrupta, interrompendo o contato com o cigarro de uma vez, mas tudo varia de acordo com o paciente.

<><> Para quem é a parada gradual é indicada

A parada gradual é indicada para fumantes que se sentem muito ansiosos com a parada e acham que não conseguirão parar abruptamente. Também é bem indicada a quem tem sintomas intensos da síndrome de abstinência.

No geral, a parada gradual lhes dá mais confiança, pois ao ficarem maiores períodos de tempo sem fumar ou diminuírem o número de cigarros, os fumantes se sentem mais certos de que conseguirão.

Vale ressaltar que pessoas que estão altamente motivadas a parar de fumar ou que nunca tentaram deixar o cigarro antes devem tentar diretamente a parada abrupta.

Quem já tentou essa técnica anteriormente e acabou por adiar a decisão de largar o cigarro, talvez possa tentar a parada abrupta como alternativa.

<><> Vantagens e desvantagens da parada gradual

As vantagens desse tipo de parada estão na maior motivação que ela traz ao fumante: ele se sente vitorioso a cada cigarro a menos que fuma em seu dia e por ficar maiores períodos sem fumar.

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O lado negativo da parada gradual é que o fumante estará ainda em contato com os objetos ligados ao fumo, como os cinzeiros e o isqueiro, além do cheiro do cigarro continuar presente nos ambientes e em suas roupas, o que pode atrapalhar, fazendo com que ele adie a decisão de parar.

Além disso, a crise de abstinência fica mais longa, já que ainda haverá exposição diária à nicotina, mesmo que menor. Por fim, por mais que a quantidade de cigarro seja reduzida, ele continuará fazendo mal à saúde, ou seja, o paciente é exposto a esses prejuízos por mais tempo, do que se ele tivesse parado de uma vez.

 

•        Identifique e aprenda a driblar os gatilhos para acender um cigarro

Parar de fumar não é fácil, a nicotina é uma substância extremamente viciante e a principal responsável pela dependência. Além disso, fumar muitas vezes é um hábito, e diversas situações podem servir como impulso para você fumar, são os chamados gatilhos! "Uma situação representa um gatilho para a pessoa por fazê-la lembrar da substância, como quando o fumante vê outra pessoa com o cigarro", descreve o psiquiatra Hewdy Lobo do ProMulher, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP e diretor do Vida Mental Serviços Médicos.

Mas por que isso é importante? Ao saber o que te dá vontade de fumar, é mais fácil prevenir recaídas! "Quando identificamos os gatilhos podemos evitá-los quando possível, ou aprendemos a lidar com eles quando são inevitáveis", considera a psicóloga Ana Carolina Schmidt, do Vida Mental Serviços Médicos e especialista em dependência química.

O problema, um gatilho para uma pessoa, nem sempre o é para outra. "Os gatilhos podem variar de pessoa para pessoa e isso faz com que cada fumante se posicione de formas diferenciadas diante desses impulsos", considera a psicóloga Juliana Bilachi, especialista em tabagismo. Mesmo assim, por questões psicológicas ou mesmo físicas, alguns deles são clássicos. Listamos esses para você entender melhor porque a vontade de fumar aparece nesses momentos e ter algumas ideias de como driblar essas tentações no meio do caminho de parar de fumar:

<><> Falando ao telefone

Não é tão comum, mas algumas pessoas têm mania de fumar ao conversar, mesmo que por telefone. "Quando estão entediados, ou desagradados pelo conteúdo da conversa, muitos tem o hábito de ter o cigarro à mão para manuseá-lo, ou fumar para sentir prazer, ou simplesmente por ser automático", ensina Ana Carolina. Para se livrar do hábito, mantenha-se distraído, seja rabiscando com uma caneta, chupando uma balinha ou brincando com um elástico.

 

•        Cardiologista orienta “fumar de castigo" para largar o hábito

O uso de medicamentos e o aconselhamento em consultório fazem parte do tratamento padrão do tabagismo. Porém, aliada a isso, uma receita inusitada pode ser essencial para quem quer parar com o hábito: fumar em pé, em um local isolado, olhando para uma parede lisa.

Essa é a sugestão da cardiologista Jaqueline Scholz, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e diretora do Programa de Tratamento do Tabagismo do Instituto do Coração (InCor). A técnica, chamada de “fumar de castigo”, nasceu em 2015 e foi tema de um artigo científico publicado no ano passado, sendo reportada pela BBC News Brasil em julho deste ano.

O artigo em questão foi escrito em parceria com colegas da USP e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e contou, também, com a participação de uma representante do Departamento de Cardiologia Preventiva do Hospital Universitário de Oslo, na Noruega.

Para o estudo, foram comparados dois grupos de pacientes que passaram por tratamentos diferentes para o tabagismo. O primeiro, composto por 324 fumantes, foi instruído a seguir o método padrão, com o uso do medicamento vareniclina (que reduz a abstinência), aconselhamento no consultório e a definição de uma data para abandonar o cigarro.

Já o segundo grupo, composto por 281 pacientes, também fez uso do medicamento e do aconselhamento, mas não foi orientado a largar o vício repentinamente. Eles poderiam fumar quando quisessem, desde que seguissem a técnica de “fumar de castigo”.

Os resultados mostram que a alternativa sugerida pela cardiologista pode ser mais eficaz do que somente o método padrão para cessar o tabagismo: 65% do segundo grupo (fumar de castigo) largaram completamente o cigarro em comparação a 34% do primeiro grupo (tratamento convencional).

<><> Como funciona a técnica?

O tratamento à base de vareniclina, que vem acompanhado de aconselhamento no consultório e, em alguns casos, de uso de adesivo de nicotina e de outros recursos farmacêuticos, pode não trazer resultados efetivos em alguns pacientes. Isso acontece porque o cigarro segue sendo uma fonte importante de prazer para essas pessoas.

"Nós sabemos que o prazer de fumar tem uma associação com as memórias hedônicas [relacionadas ao prazer], e não há remédios que atuam nesses aspectos", apontou Scholz em entrevista à BBC News Brasil. "Para elas, o cigarro representa a repetição de uma experiência prazerosa e agradável, mesmo que os receptores de nicotina estejam bloqueados", complementa.

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Ou seja, para alguns pacientes, o tabagismo está vinculado a uma série de eventos prazerosos, como uma conversa com os amigos, um happy hour, uma pausa no trabalho, entre outros.

Por isso, ao fumar de castigo, sem ninguém por perto e olhando para uma parede, os estímulos prazerosos vinculados ao hábito de fumar acabam sendo perdidos. Embora a técnica seja promissora, ainda é necessário submetê-la a mais estudos rigorosos para comprovar a sua eficácia.

 

Fonte: Minha Vida

 

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