A fome está recuando no Brasil, mas e o que
vem depois?
Em seu primeiro ato
oficial de campanha, em agosto de 2022, o então candidato à Presidência Luiz
Inácio Lula da Silva afirmou que o problema da fome era resultado da ausência
de políticas públicas. “O Brasil é o primeiro produtor de proteína animal do mundo.
Portanto, não justifica uma mulher ficar na fila do açougue para pegar um osso
ou uma carcaça de frango. Não justifica uma criança ir dormir sem ter um copo
de leite ou acordar e não ter um pão com manteiga para comer. Eu vou voltar
para que a gente recupere esse país, recupere o emprego e faça as pessoas serem
respeitadas”, disse Lula.
“Não é por falta de
dinheiro, é por falta de vergonha das pessoas que governam”, completou o hoje
presidente. Estava pactuado, então, como em sua primeira corrida à presidência
da República, em 2002, o combate à fome como carro-chefe da campanha, aliado ao
acesso a emprego e renda.
Segundo o Relatório
das Nações Unidas sobre o Estado da Insegurança Alimentar Mundial (SOFI 2024),
a fome diminuiu no Brasil no triênio 2021-2023, já considerando o primeiro ano
de governo. O país saiu de um patamar de 32,8% da população em insegurança alimentar
moderada ou grave entre 2020 e 2022 para 18,4% em 2023. Isso representa uma
redução quase pela metade, tirando 30,6 milhões de brasileiros do quadro de
fome.
Pesquisadores e
representantes da sociedade civil ouvidos pelo Joio apontam o acesso à renda, a
recuperação do salário mínimo e a diminuição da taxa de desemprego como
fatores-chave para a redução dos índices de fome no Brasil. A exemplo do que
havia se dado durante os dois primeiros mandatos de Lula, o governo fixou uma
regra de valorização do salário mínimo pela qual o reajuste se dá com a soma da
inflação e do crescimento do PIB. Para 2025, o governo prevê um aumento de R$
97, acima da inflação, chegando a R$ 1.509.
Esses fatores, todos,
também haviam sido centrais nos oito primeiros anos de Lula na Presidência, e
tiveram sequência durante o primeiro mandato de Dilma Rousseff.
A recomposição do
programa Bolsa Família e as reaberturas do Conselho Nacional de Segurança
Alimentar e Nutricional (Consea) e do Ministério do Desenvolvimento Agrário e
Agricultura Familiar (MDA), dissolvidos no governo Bolsonaro, são outros
exemplos de ações do Executivo para tirar o país do Mapa da Fome da ONU. Mas
falta imprimir vontade política na cooperação entre setores públicos,
ministérios, estados e municípios, e dedicar fatias mais expressivas do
orçamento federal para tirar as propostas do papel.Uma das alternativas em
andamento para engajar prefeituras é vincular o repasse de alguns programas
federais, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), à inscrição no
Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN). Apenas 20% dos municípios
já aderiram ao sistema, que pode ser uma importante ferramenta para o
diagnóstico da fome no país.
<><> O que
é o SISAN?
• O Sistema Nacional
de Segurança Alimentar Nutricional (SISAN) foi criado em 2006 e regulamenta
políticas, programas e ações de combate à fome e de garantia do Direito Humano
à Alimentação Adequada.
• Estados e municípios
devem aderir voluntariamente ao SISAN para acessar programas e recursos do
governo federal, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa
Nacional de Cozinhas Solidárias.
• Todos os estados
brasileiros já aderiram ao SISAN, mas apenas 20% dos municípios estão inscritos
no sistema. A adesão municipal deve ser feita por meio da Câmara
Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (Caisan) estadual.
• O governo federal
desenvolveu a plataforma online AdeSAN para facilitar o processo de adesão dos
municípios ao SISAN. É possível encaminhar as documentações necessárias e fazer
análises e pareceres técnicos na plataforma. A expectativa é trazer mais rapidez
aos processos encabeçados pelas Caisans e Conseas estaduais.
É importante ressaltar
que a realidade do país era diferente no primeiro governo Lula. O retrato da
fome, inclusive, era outro, com uma expressiva concentração no campo. De acordo
com a Pnad Contínua 2023, a proporção de domicílios em insegurança alimentar em
áreas rurais foi de 12,7%, contra 8,9% nas áreas urbanas. Em 2004, 27,6% dos
domicílios rurais apresentavam insegurança alimentar moderada ou grave, frente
a 17,9% daqueles em áreas urbanas.
De 2004 a 2023, houve
uma redução de 14,9% na fome no campo, contra 9% nas cidades. Uma interpretação
possível é de que a fome está se urbanizando, escancarada em pessoas em
situação de rua, o que reitera sua relação com outros problemas sociais, como
moradia, acesso à renda, emprego e educação.
Para ilustração dessas
diferenças, em 2003, era possível comprar uma cesta básica com uma nota de R$
50, a mais alta disponível na época – motivo pelo qual esse foi o valor
escolhido pelo governo para o Bolsa Família. Diante de um salário mínimo de R$
240, a cesta básica representava 20% do rendimento do trabalhador. Segundo o
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o
custo da cesta básica em São Paulo chegou a R$ 786 em agosto deste ano, a mais
cara do país, equivalente a 55% do valor do salário mínimo.
Passadas duas décadas,
em que inflação, crise econômica, desmonte de programas sociais e uma invasão
de ultraprocessados transformaram a alimentação brasileira, é preciso repensar
os mecanismos para criar políticas alimentares perenes. “Temos três desafios em
curso. O primeiro é a elaboração de uma política nacional de abastecimento
alimentar, uma antiga demanda do Consea e que finalmente começa a sair do
papel. Mas é demorada porque envolve uma construção intersetorial, o que é
sempre difícil”, avalia Renato Maluf, professor da Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro (UFRRJ), membro da Rede Penssan e ex-presidente do
Consea.
“O segundo desafio,
que está começando a ser enfrentado, é a elaboração do terceiro Plano Nacional
de Segurança Alimentar e Nutricional, interrompida com a eleição do governo
anterior, em 2018. E o terceiro é incorporar a alimentação nas discussões climáticas,
uma questão fundamental.”
<><> Fome,
um problema sistêmico
Em 2003, quando Lula
assumiu seu primeiro mandato, não havia um programa de combate à fome no país e
o cadastro para mapear famílias em insegurança alimentar era ineficiente. “Um
programa sistemático, mesmo, só passou a ter no governo Lula. Os anteriores
eram basicamente de distribuição de alimentos, a cesta básica. Mas eram
obsoletos já para a época, porque o custo de transportar e distribuir alimentos
era bastante alto”, explica José Graziano da Silva, ex-ministro extraordinário
de Segurança Alimentar e Combate à Fome, no primeiro governo Lula, e um dos
fundadores do Instituto Fome Zero (IFZ).
Graziano coordenou o
desenvolvimento do programa Fome Zero, um dos pontos centrais da campanha de
2002, e foi chamado ao cargo de ministro para implementá-lo. “Eu costumava
dizer que cesta básica só fazia bem para quem ganhava. Para todo o resto, em
termos de impacto na economia local, era altamente prejudicial.”
O Fome Zero
estabeleceu-se como um programa bem-sucedido de transferência de renda que
retirou o Brasil do Mapa da Fome. A partir desses aprendizados, no mandato
atual, o governo Lula lançou o programa Brasil Sem Fome. São três eixos
temáticos: acesso à renda, redução da pobreza e promoção da cidadania;
alimentação adequada e saudável, da produção ao consumo; e mobilização para o
combate à fome.
No primeiro, entram
políticas de acesso à renda e ao emprego, além do Programa Nacional de
Alimentação no Sistema Único de Assistência Social (SUAS) – ainda em fase de
propostas. O segundo compreende programas como PAA e Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE), Plano Safra da Agricultura Familiar e a Política
Nacional de Abastecimento. Já no terceiro, está a integração dos estados e
municípios no combate à fome, especialmente por meio da adesão ao Sisan.
José Graziano avalia
que o governo está sendo capaz de trazer inovações, mas que ainda é preciso
criar uma “porta de entrada” nos serviços públicos para quem tem fome. A
Triagem de Risco de Insegurança Alimentar (Tria), que faz parte do Brasil sem
Fome e está sendo implementada pelo governo por meio do SUS, é uma das ações
propostas.
Cátia Grisa,
pesquisadora na área de desenvolvimento rural e estruturas produtivas e
professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), reforça que
sanar a deficiência de equipamentos públicos dedicados a apoiar a população em
situação de insegurança alimentar é fundamental. Isso poderia ser feito com
base no que já acontece com a saúde, que tem as Unidades Básicas, e com o SUAS,
que opera na prevenção de riscos sociais e pessoais e no combate à violação de
direitos.
“Falta esse tipo de
equipamento para a área de segurança alimentar. Se uma pessoa quer reivindicar
o direito à alimentação, desde o acesso até melhorar a qualidade de sua
alimentação, ou discutir ações de educação alimentar, em que porta ela bate no
município? Não existe essa estrutura”, avalia Cátia.
Além da assistência
emergencial, ter espaços públicos dedicados à Segurança Alimentar e Nutricional
(SAN) é também uma forma de educar a população sobre seus direitos. De modo
geral, as pessoas sabem que o direito à saúde é universal, tanto que a população
recorre às UBS quando precisa de atendimento. No entanto, há pouco foco no
Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) enquanto uma garantia
constitucional no Brasil, estampada na falta das “portas” nas quais bater para
exigir esse direito.
“A alimentação é uma
responsabilidade dos três entes federativos mas, ao mesmo tempo, pode não ser
responsabilidade de ninguém. Recai muito sobre o governo federal porque se tem
expectativas de que ele responda a isso. E os municípios, principalmente os pequenos,
têm muita fragilidade financeira, de recursos humanos, de tudo”, continua a
pesquisadora. “Temos que propor processos não só voluntários, mas incitativos
ou, até mesmo, obrigatórios. O MDS vem pensando uma pactuação financeira entre
os entes federativos, como a gente tem no SUAS e no SUS e ainda não tem no
Sisan.”
O Ministério do
Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) tem a
intenção de construir bases de dados junto aos municípios para identificar as
pessoas em insegurança alimentar e auxiliar as prefeituras no combate à fome em
seu território. Na avaliação de Cátia Grisa, o equipamento de entrada poderia
ser implementado junto aos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) –
uma discussão que já estaria sendo feita pelo MDS e pela Câmara
Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (Caisan).
“O Programa Nacional
de Alimentação no SUAS já foi desenhado, mas ainda não conseguimos
implementar”, afirma Valéria Burity, secretária extraordinária de Combate à
Pobreza e à Fome do MDS. “A dificuldade é que, quando o governo assumiu, tinha
uma questão orçamentária que tivemos que recompor. Estamos aprimorando a
proposta dele, que é muito encabeçado pela Secretaria de Assistência Social,
mas faz parte do Programa Brasil Sem Fome.”
A estratégia Alimenta
Cidades, lançada em maio, pretende atacar o problema da urbanização da fome,
agravado pelo aumento da população em situação de rua e impresso nos desertos e
pântanos alimentares nas periferias. Desertos alimentares são locais em que o
acesso a alimentos in natura ou minimamente processados é escasso ou
inexistente. Já nos pântanos, predomina a venda de ultraprocessados, como no
caso de lanchonetes e lojas de conveniência. Ambos os cenários obrigam os
moradores a se locomover para outras regiões em busca de alimentos saudáveis.
A implementação da
Alimenta Cidades será feita em parceria com o Instituto Comida do Amanhã, que
mantém o Laboratório Urbano de Políticas Públicas Alimentares (LUPPA), em 60
cidades prioritárias. Estão incluídas as capitais brasileiras, todos os
municípios das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste com 300 mil habitantes ou
mais e municípios das regiões Sul e Sudeste com população acima de 300 mil
habitantes e que estejam entre as cidades com a maior quantidade de população
em situação de rua. Há ainda outros recortes que precisam ser considerados no
combate à fome nas cidades, como gênero e raça. Segundo o I Inquérito sobre a
Situação Alimentar no Município de São Paulo, os domicílios chefiados por
mulheres passam 1,8 vezes mais fome do que aqueles em que o homem é a pessoa de
referência. Entre os domicílios em que os moradores enfrentam a fome
diariamente, 66,3% tinham como referência uma pessoa negra (preta e parda) e
32,3% uma pessoa branca. A situação é ainda mais complicada quando os
indicadores se cruzam: domicílios chefiados por mulheres negras passam 2,1
vezes mais fome do que os chefiados por homens brancos.
<><> Quais
são os níveis de insegurança alimentar?
• Insegurança alimentar grave: quando há uma
quebra no acesso à comida e um comprometimento na quantidade e qualidade dos
alimentos ingeridos pelas pessoas, inclusive crianças.
• Insegurança
alimentar moderada: é caracterizada por uma mudança nos tipos de alimentos
consumidos, passando dos in natura ou processados para os ultraprocessados, por
exemplo, além da restrição na quantidade de alimentos entre os adultos.
• Insegurança
alimentar leve: ocorre um comprometimento da qualidade da alimentação para que
seja mantida a quantidade de alimentos considerada como adequada.
Vale lembrar: tomar
apenas a insegurança alimentar grave como sinônimo de fome é um erro, porque na
insegurança alimentar moderada há a supressão de uma das três refeições básicas
do dia e a substituição de alimentos, como proteína animal, por ultraprocessados,
como a salsicha, causando empobrecimento nutricional da dieta e possível
desnutrição.
*Definições baseadas
nos conceitos da Escala Brasileira de Medida Domiciliar de Insegurança
Alimentar (Ebia). O Sistema Nacional de
Segurança Alimentar Nutricional (SISAN) foi criado em 2006 e regulamenta
políticas, programas e ações de combate à fome e de garantia do Direito Humano
à Alimentação Adequada.
<><>
Agricultura familiar à espera de políticas
Se voltarmos o olhar
para movimentos populares como os de trabalhadores rurais e da agricultura
familiar, encontraremos mais demandas ligadas ao combate à fome e à produção de
alimentos que não foram endereçadas pelo governo. Como esses movimentos tiveram
participação ativa para que Lula subisse mais uma vez a rampa do Palácio do
Planalto e sofreram consequências severas do desmonte institucional do governo
anterior, há uma expectativa ainda maior pelos ventos da mudança.
“O orçamento pequeno
para o PAA não deu conta de atender as demandas no primeiro ano do governo.
Isso deixa os agricultores e as agricultoras inseguros em relação à produção. O
grande ponto do PAA é que os agricultores se sentem estimulados à produção, já
que têm um mercado, de certa forma, garantido”, diz Cidinha Moura,
representante da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) no Consea. Em 2023,
o orçamento federal destinou cerca de R$ 900 milhões para o PAA.
Segundo ela, o
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) também não
chegou como o prometido. “O Pronaf não veio como um programa agroecológico,
inclusive com juros menores para a produção de alimentos saudáveis. Aliás, a
gente até dizia que não deveria nem ter taxa, para estimular a produção”,
comenta. Dados do governo federal apontam que o Plano Safra concedeu R$ 36,4
bilhões em crédito para agricultores familiares entre janeiro e agosto, por
meio do Pronaf. No mesmo período, R$ 184,08 bilhões foram concedidos ao
agronegócio.
Há eixos temáticos no
Plano Nacional de Abastecimento que devem trazer a agricultura familiar e
agroecológica para o centro do debate, e as expectativas são altas para o que
será proposto pelo governo. O lançamento do plano está previsto para 16 de
outubro, Dia Mundial da Alimentação.
Para a secretária de
abastecimento do MDA, Ana Terra Reis, a mudança de chave para avançar com o
plano, uma demanda que surgiu em 2005, foi trazer a pauta do abastecimento para
o ministério quando a pasta foi recomposta. Antes, era uma atribuição do Ministério
da Agricultura e Pecuária (Mapa).
“Estão previstos 40
programas e ações no Plano, que vão desde uma estratégia que temos chamado de
‘Abastece e Alimenta Territórios’, para identificar os potenciais da
agricultura familiar e fazer um encurtamento dos circuitos de comercialização,
até a criação de um observatório para regular os preços da cesta básica”,
explica Ana Terra Reis.
De outro lado, as
negociações para a criação do Plano Nacional de Agroecologia e Produção
Orgânica (Planapo) e a instituição do Programa Nacional de Redução de
Agrotóxicos (Pronara) ainda patinam. “A gente sabe da dificuldade com o
Congresso e de que ainda há um estímulo ao agronegócio. O mais recente é o não
lançamento do Planapo por conta do Ministério da Agricultura não concordar que
tenha um programa de redução de agrotóxicos. Já é a quarta vez que ele é
abortado”, diz a representante da ANA. “Mesmo sabendo que tem pouco recurso, o
fato de ter o plano já possibilita que a gente lute para que ele seja
executado, pensando em ações de produção, comercialização, beneficiamento e
programas de formação.”
As Comissões da
Produção Orgânica (CPOrgs) estaduais relatam ter tentado avançar na relação com
o Mapa e que chegaram a conseguir uma reunião inicial com a pasta para discutir
o fortalecimento da produção orgânica. Pouco depois, o Mapa teria nomeado pessoas
sem ligação com a pauta de orgânicos para posições estratégicas. Em carta
protocolada em setembro junto ao governo federal, as CPOrgs reclamaram que “a
falta de clareza no processo de tomada de decisões demonstra uma má gestão que
prejudica diretamente os produtores orgânicos e as iniciativas de
fortalecimento desse segmento”.
O descompasso de
interesses dos setores públicos afeta também as discussões da reforma agrária,
que se arrastam há décadas. “Temos continuado a fazer pressão para que o
governo retome efetivamente as políticas da agricultura familiar, que é quem
produz alimentos nesse país. A realização da reforma agrária foi uma demanda
apresentada durante a transição e tem caminhado a passos bastante curtos”,
afirma Débora Nunes, da coordenação nacional do MST e integrante do setor de
Produção, Cooperação e Meio Ambiente do movimento. Segundo dados divulgados
pelo governo, 60 mil famílias foram incluídas no Programa Nacional de Reforma
Agrária desde janeiro de 2023 e 44 novos assentamentos foram criados.
Em 2023, o MST tinha
cerca de 65 mil famílias acampadas, sendo que a maior parte já vive nos
acampamentos há dez anos ou mais. “Demandar a terra é sobre ter a terra para
produzir alimentos. Uma ação que contribui também no enfrentamento à fome.
Ainda tem muita coisa que precisa avançar e que passa pela destinação e
priorização do orçamento para esse setor”, completa Débora. O problema cresce
porque a destinação orçamentária depende também da boa vontade do Congresso,
uma conta difícil de fechar, já que a bancada ruralista tem maioria dos votos.
<><>
Combate às intempéries políticas
Há um consenso de que
é crucial criar políticas públicas bem amarradas, e não apenas ações de governo
que possam cair por terra na passagem de bastão após uma derrota nas urnas. “A
intersetorialidade sempre vai ser um desafio, porque temos uma dimensão política
e uma dimensão técnica. Estamos falando de um governo de coalizão, que envolve
diferentes partidos, forças políticas e grupos sociais expressos nos
ministérios e nas secretarias. E o desafio técnico é construir instrumentos que
permitam essa operacionalização em conjunto, como cruzar bases de dados entre
ministérios”, afirma Cátia Grisa.
O país caminhou de
volta para o contexto de fome a partir de 2017, em uma conjuntura de crise
econômica e de falta de vontade política de fortalecer programas como o PAA. “É
uma decisão política escolher colocar zero em uma linha do orçamento, como foi
o corte no PAA. Esse desmonte em um contexto de crise foi fatal, depois
agravado pela pandemia”, diz José Graziano da Silva.
“O caminho para frente
é mais difícil, porque não se trata apenas de seguir a estrada batida, o
caminho já trilhado. É preciso olhar para essas coisas novas, como a obesidade
infantil, para dizer o mínimo”, ressalta Graziano.
Fonte: Por Lorena
Tabosa em O Joio e O Trigo
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