Testagem genética pode ser aliada contra
câncer de mama, apontam especialistas
Os testes genéticos
são exames que podem indicar os riscos de uma mulher desenvolver câncer de mama
ao longo da vida. Tais testes são feitos por meio do mapeamento do DNA. O
câncer hereditário deriva de mutações
genéticas que podem ser transmitidas de antecedentes a descendentes. Na
prática, significa que se uma pessoa apresenta um gene com determinadas
predisposição para uma doença, os filhos também terão maior probabilidade de
estarem sujeitos aos riscos.
Os genes BCA1 e BCA2
são os responsáveis por proteger e combater ações de tumores cancerígenos nas
células. Com as mutações, esses genes ficam enfraquecidos, causando uma
vulnerabilidade e permitindo o aparecimento de tumores malignos no corpo. De
acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), a cada dez casos de
câncer de mama, ao menos um está relacionado com os genes herdados de gerações
passadas.
Em outubro de 2023, o
governador do Goiás, Ronaldo Caiado, implantou o projeto “Goiás todo rosa” que
tem como base a lei estadual (20.707/2020) que visa oferecer testes genéticos
gratuitos às mulheres com chances de câncer de mama e de ovários hereditários.
O estado é pioneiro em acatar a lei que garante às mulheres o direito ao teste.
A Secretaria de Estado da Saúde do estado (SES-GO), em parceria com a
Universidade Federal do Goiás (UFG), vem utilizando os laboratórios da
universidade para analisar as amostras de DNA das pacientes.
Neste mês de outubro,
ocorre uma movimentação das unidades de saúde do estado em prol da
conscientização do câncer de mama. Rasível Santos, secretário de Estado da
Saúde de Goiás alerta sobre a importância do diagnóstico precoce. “Quanto mais
cedo a mulher descobre a doença, mais chances de tratamento e cura ela tem. Por
isso, a campanha intensifica essa necessidade de fazer o autoexame nas mamas e
a mamografia”, explica.
Ao Correio, a
Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama
(Femama) esclareceu algumas dúvidas sobre a testagem genética. Veja abaixo:
<><> A
importância da testagem genética
De acordo com a Dra.
Maira Caleffi, mastologista e presidente fundadora da Femama, os testes
genéticos germinativos destinam-se a identi¬ficar mutações em genes
especí¬ficos, a exemplo dos genes BRCA1 e BRCA2. “O risco de câncer de mama na
população sem as mutações BRCA é de pouco mais de 12%. A mutação no gene BRCA1
aumenta em 85% a predisposição ao câncer de mama e em 39% ao câncer de ovário”.
Segundo a doutora, o rastreamento por meio dos testes genéticos é importante
porque quando a mutação é identificada, o médico pode adotar medidas
pro¬filáticas, como a quimioprevenção, a retirada das mamas e dos ovários ou,
então, o monitoramento mais frequente para detecção precoce da doença. No
Brasil, desde 2014, os planos de saúde são obrigados a realizar testes
genéticos, seguindo critérios técnicos, para prevenção, diagnóstico e
tratamento dos cânceres de mama e de ovário.
<><>
Testes genéticos disponíveis atualmente e como eles funcionam
O Dr. Ricardo
Caponero, oncologista e presidente do conselho técnico científico da Femama,
afirma que existem dois tipos de testes: o somático, que busca alterações
genômicas no tecido tumoral e tenta encontrar alterações que possam dar
informações de prognóstico, e o germinativo, que busca as alterações nas
células saudáveis. “Os testes germinativos nos ajudam a identificar os
indivíduos com predisposição a determinados tipos de neoplasias, enquanto os
testes somáticos nos fornecem uma melhor subclassificação dos tumores”.
<><>
Acesso e a aceitação das testagens genéticas pelo Brasil
Alexandre Ben,
coordenador de relações institucionais da Femama, afirma que estudos já
demonstraram que a testagem é custo-efetiva para o SUS. “De acordo com a
realidade de cada região, devem ser definidos os critérios de elegibilidade, a
organização da linha de cuidado, a destinação de recursos e a estruturação do
centro de testagem genética e logística de amostras para os exames”, ressalta o
especialista. O estado de Goiás foi pioneiro no país em questão da
implementação da legislação que determina o acesso ao rastreamento genético
para mulheres com probabilidade aumentada de desenvolvimento de câncer de mama
e de ovário primário em razão do histórico familiar.
• Excesso de gordura na menopausa aumenta
alerta para câncer de mama
Pelo menos 40% dos
casos de câncer de mama com receptor hormonal positivo em mulheres, que estão
na menopausa, podem estar relacionados ao excesso de gordura corporal. É o que
aponta um novo estudo, publicado no Journal of Epidemiology & Community Health.
O trabalho, liderado pela Universidade de Las Palmas de Gran Canaria, na
Espanha, revelou dados que desafiam as avaliações atuais sobre o impacto da
obesidade nesse tipo de tumor, reforçando que a relação pode ser maior do que
as estimativas que usam o índice de massa corporal (IMC).
Os pesquisadores
observam que a proporção tradicionalmente aceita — que estima que apenas 10%
dos casos de câncer de mama são atribuídos ao excesso de peso — pode subestimar
o verdadeiro impacto da obesidade. O IMC, que é amplamente utilizado para medir
a gordura corporal, pode não ser uma ferramenta precisa, especialmente em
mulheres mais velhas.
O estudo envolveu
1.033 mulheres na pós-menopausa diagnosticadas com câncer de mama e 1.143
outras da mesma faixa etária, sem a doença. Todas participaram do estudo
conhecido como MCC-Espanha, que investiga fatores ambientais e genéticos
associados a diferentes tipos de câncer, incluindo mama, intestino e próstata.
Os pesquisadores
coletaram dados sobre estilo de vida e histórico médico, além de informações
alimentares por meio de um questionário. A ingestão habitual de álcool entre as
idades de 30 e 40 anos também foi registrada.
O estudo comparou o
IMC ao CUN-BAE, uma medida mais precisa da gordura corporal que considera idade
e sexo — categoriza a gordura corporal em faixas, enquanto o IMC classifica o
peso em diferentes níveis.
Os resultados
mostraram que o IMC médio das mulheres sem câncer era ligeiramente superior a
26, enquanto no grupo com tumor de mama, esse número subia para pouco mais de
27. No CUN-BAE, a média foi de quase 40% no grupo de controle e 40,5% entre as
pacientes oncológicas.
<><> Dados
A análise revelou
ainda que 45% das mulheres, sem tumor, apresentaram IMC abaixo de 25, o que é
considerado saudável, enquanto apenas 37% das participantes com câncer de mama
se enquadraram nessa categoria. Além disso, 20% do grupo controle e 24% do grupo
oncológico apresentavam IMC igual ou superior a 30, indicando obesidade.
Os dados indicam que
um CUN-BAE de 45% ou mais estava associado a um risco mais que dobrado de
câncer de mama pós-menopausa em comparação com valores abaixo de 35%. Em nota,
os pesquisadores afirmam que: "Os resultados do nosso estudo indicam que o
excesso de gordura corporal é um fator de risco significativo para câncer de
mama com receptor hormonal positivo em mulheres na pós-menopausa".
Em seguida, os
cientistas acrescentam que: "Nossas descobertas sugerem que o impacto
populacional pode ser subestimado ao usar estimativas tradicionais de IMC, e
que medidas mais precisas de gordura corporal, como CUN-BAE, devem ser
consideradas ao estimar a carga de câncer atribuível à obesidade no câncer de
mama pós-menopausa".
No entanto, os
pesquisadores ressaltam que não é possível estabelecer causalidade a partir
desse estudo e que novos trabalhos devem ser realizados.
Karimi Amaral,
mastologista, em Brasília, destaca que estudos como esse reforçam o conceito já
estabelecido de que a obesidade e a gordura abdominal estão diretamente
relacionadas ao aumento do risco de câncer de mama. "A gordura corporal,
especialmente a gordura visceral, pode elevar os níveis de estrogênio no corpo.
Esse hormônio, em níveis elevados, está associado a mais desenvolvimento do
câncer de mama, especialmente em mulheres na pós-menopausa."
Amaral frisa que a
obesidade está ligada à inflamação crônica e à resistência à insulina, que
podem contribuir para o crescimento de células cancerígenas. "A redução do
peso e a manutenção de um estilo de vida saudável, que inclui uma dieta
equilibrada e atividade física regular, são essenciais para diminuir esse
risco."
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Exercício é a chave
Cada vez mais
focaremos em atividade física regular e alimentação equilibrada e seus
benefícios na totalidade, inclusive na prevenção ao câncer de mama. Para o
futuro, é interessante sabermos se a incidência de câncer de mama e outros
tumores em pessoas obesas sedentárias e em obesas que fazem atividade física se
comporta da mesma maneira. Em pacientes com câncer de mama, já diagnosticados,
temos evidências que o exercício físico regular diminui o risco de recidiva da
doença e minimiza os efeitos colaterais do tratamento. - Anderson Silvestrini,
oncologista da Oncologia D'Or, em Brasília
Fonte: Correio
Braziliense
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