quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Testagem genética pode ser aliada contra câncer de mama, apontam especialistas

Os testes genéticos são exames que podem indicar os riscos de uma mulher desenvolver câncer de mama ao longo da vida. Tais testes são feitos por meio do mapeamento do DNA. O câncer hereditário deriva de  mutações genéticas que podem ser transmitidas de antecedentes a descendentes. Na prática, significa que se uma pessoa apresenta um gene com determinadas predisposição para uma doença, os filhos também terão maior probabilidade de estarem sujeitos aos riscos.

Os genes BCA1 e BCA2 são os responsáveis por proteger e combater ações de tumores cancerígenos nas células. Com as mutações, esses genes ficam enfraquecidos, causando uma vulnerabilidade e permitindo o aparecimento de tumores malignos no corpo. De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), a cada dez casos de câncer de mama, ao menos um está relacionado com os genes herdados de gerações passadas.

Em outubro de 2023, o governador do Goiás, Ronaldo Caiado, implantou o projeto “Goiás todo rosa” que tem como base a lei estadual (20.707/2020) que visa oferecer testes genéticos gratuitos às mulheres com chances de câncer de mama e de ovários hereditários. O estado é pioneiro em acatar a lei que garante às mulheres o direito ao teste. A Secretaria de Estado da Saúde do estado (SES-GO), em parceria com a Universidade Federal do Goiás (UFG), vem utilizando os laboratórios da universidade para analisar as amostras de DNA das pacientes.

Neste mês de outubro, ocorre uma movimentação das unidades de saúde do estado em prol da conscientização do câncer de mama. Rasível Santos, secretário de Estado da Saúde de Goiás alerta sobre a importância do diagnóstico precoce. “Quanto mais cedo a mulher descobre a doença, mais chances de tratamento e cura ela tem. Por isso, a campanha intensifica essa necessidade de fazer o autoexame nas mamas e a mamografia”, explica.

Ao Correio, a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama) esclareceu algumas dúvidas sobre a testagem genética. Veja abaixo:

<><> A importância da testagem genética

De acordo com a Dra. Maira Caleffi, mastologista e presidente fundadora da Femama, os testes genéticos germinativos destinam-se a identi¬ficar mutações em genes especí¬ficos, a exemplo dos genes BRCA1 e BRCA2. “O risco de câncer de mama na população sem as mutações BRCA é de pouco mais de 12%. A mutação no gene BRCA1 aumenta em 85% a predisposição ao câncer de mama e em 39% ao câncer de ovário”. Segundo a doutora, o rastreamento por meio dos testes genéticos é importante porque quando a mutação é identificada, o médico pode adotar medidas pro¬filáticas, como a quimioprevenção, a retirada das mamas e dos ovários ou, então, o monitoramento mais frequente para detecção precoce da doença. No Brasil, desde 2014, os planos de saúde são obrigados a realizar testes genéticos, seguindo critérios técnicos, para prevenção, diagnóstico e tratamento dos cânceres de mama e de ovário.

<><> Testes genéticos disponíveis atualmente e como eles funcionam

O Dr. Ricardo Caponero, oncologista e presidente do conselho técnico científico da Femama, afirma que existem dois tipos de testes: o somático, que busca alterações genômicas no tecido tumoral e tenta encontrar alterações que possam dar informações de prognóstico, e o germinativo, que busca as alterações nas células saudáveis. “Os testes germinativos nos ajudam a identificar os indivíduos com predisposição a determinados tipos de neoplasias, enquanto os testes somáticos nos fornecem uma melhor subclassificação dos tumores”.

<><> Acesso e a aceitação das testagens genéticas pelo Brasil

Alexandre Ben, coordenador de relações institucionais da Femama, afirma que estudos já demonstraram que a testagem é custo-efetiva para o SUS. “De acordo com a realidade de cada região, devem ser definidos os critérios de elegibilidade, a organização da linha de cuidado, a destinação de recursos e a estruturação do centro de testagem genética e logística de amostras para os exames”, ressalta o especialista. O estado de Goiás foi pioneiro no país em questão da implementação da legislação que determina o acesso ao rastreamento genético para mulheres com probabilidade aumentada de desenvolvimento de câncer de mama e de ovário primário em razão do histórico familiar.

 

•        Excesso de gordura na menopausa aumenta alerta para câncer de mama

Pelo menos 40% dos casos de câncer de mama com receptor hormonal positivo em mulheres, que estão na menopausa, podem estar relacionados ao excesso de gordura corporal. É o que aponta um novo estudo, publicado no Journal of Epidemiology & Community Health. O trabalho, liderado pela Universidade de Las Palmas de Gran Canaria, na Espanha, revelou dados que desafiam as avaliações atuais sobre o impacto da obesidade nesse tipo de tumor, reforçando que a relação pode ser maior do que as estimativas que usam o índice de massa corporal (IMC).

Os pesquisadores observam que a proporção tradicionalmente aceita — que estima que apenas 10% dos casos de câncer de mama são atribuídos ao excesso de peso — pode subestimar o verdadeiro impacto da obesidade. O IMC, que é amplamente utilizado para medir a gordura corporal, pode não ser uma ferramenta precisa, especialmente em mulheres mais velhas.

O estudo envolveu 1.033 mulheres na pós-menopausa diagnosticadas com câncer de mama e 1.143 outras da mesma faixa etária, sem a doença. Todas participaram do estudo conhecido como MCC-Espanha, que investiga fatores ambientais e genéticos associados a diferentes tipos de câncer, incluindo mama, intestino e próstata.

Os pesquisadores coletaram dados sobre estilo de vida e histórico médico, além de informações alimentares por meio de um questionário. A ingestão habitual de álcool entre as idades de 30 e 40 anos também foi registrada.

O estudo comparou o IMC ao CUN-BAE, uma medida mais precisa da gordura corporal que considera idade e sexo — categoriza a gordura corporal em faixas, enquanto o IMC classifica o peso em diferentes níveis.

Os resultados mostraram que o IMC médio das mulheres sem câncer era ligeiramente superior a 26, enquanto no grupo com tumor de mama, esse número subia para pouco mais de 27. No CUN-BAE, a média foi de quase 40% no grupo de controle e 40,5% entre as pacientes oncológicas.

<><> Dados

A análise revelou ainda que 45% das mulheres, sem tumor, apresentaram IMC abaixo de 25, o que é considerado saudável, enquanto apenas 37% das participantes com câncer de mama se enquadraram nessa categoria. Além disso, 20% do grupo controle e 24% do grupo oncológico apresentavam IMC igual ou superior a 30, indicando obesidade.

Os dados indicam que um CUN-BAE de 45% ou mais estava associado a um risco mais que dobrado de câncer de mama pós-menopausa em comparação com valores abaixo de 35%. Em nota, os pesquisadores afirmam que: "Os resultados do nosso estudo indicam que o excesso de gordura corporal é um fator de risco significativo para câncer de mama com receptor hormonal positivo em mulheres na pós-menopausa".

Em seguida, os cientistas acrescentam que: "Nossas descobertas sugerem que o impacto populacional pode ser subestimado ao usar estimativas tradicionais de IMC, e que medidas mais precisas de gordura corporal, como CUN-BAE, devem ser consideradas ao estimar a carga de câncer atribuível à obesidade no câncer de mama pós-menopausa".

No entanto, os pesquisadores ressaltam que não é possível estabelecer causalidade a partir desse estudo e que novos trabalhos devem ser realizados.

Karimi Amaral, mastologista, em Brasília, destaca que estudos como esse reforçam o conceito já estabelecido de que a obesidade e a gordura abdominal estão diretamente relacionadas ao aumento do risco de câncer de mama. "A gordura corporal, especialmente a gordura visceral, pode elevar os níveis de estrogênio no corpo. Esse hormônio, em níveis elevados, está associado a mais desenvolvimento do câncer de mama, especialmente em mulheres na pós-menopausa."

Amaral frisa que a obesidade está ligada à inflamação crônica e à resistência à insulina, que podem contribuir para o crescimento de células cancerígenas. "A redução do peso e a manutenção de um estilo de vida saudável, que inclui uma dieta equilibrada e atividade física regular, são essenciais para diminuir esse risco."

<><> Exercício é a chave

Cada vez mais focaremos em atividade física regular e alimentação equilibrada e seus benefícios na totalidade, inclusive na prevenção ao câncer de mama. Para o futuro, é interessante sabermos se a incidência de câncer de mama e outros tumores em pessoas obesas sedentárias e em obesas que fazem atividade física se comporta da mesma maneira. Em pacientes com câncer de mama, já diagnosticados, temos evidências que o exercício físico regular diminui o risco de recidiva da doença e minimiza os efeitos colaterais do tratamento. - Anderson Silvestrini, oncologista da Oncologia D'Or, em Brasília

 

Fonte: Correio Braziliense

 

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