Medicina e história são os cursos que mais
e menos empregam, respectivamente, no Brasil
O Instituto Semesp,
entidade que representa mantenedoras de ensino superior no Brasil, lançou a 4ª
edição da pesquisa de empregabilidade, em parceria com a Workalove, plataforma
engajada em conectar empregadores e profissionais, mostrando a lista dos cursos
com maior número de pessoas sem emprego no país. O levantamento foi feito entre
9 de agosto e 1º de setembro, e visa acompanhar indicadores relacionados a
trabalho, renda e planejamento de carreira dos egressos do ensino superior
brasileiro.
De acordo com a
pesquisa, os 10 cursos com maior número de desempregados são história (31,6%),
relações internacionais (29,4%); serviço social (28,6%); radiologia (27,8%);
enfermagem (24,5%); química (22,2%); nutrição 22%; logística (18,9%); agronomia
(18,2%); e estética e cosmética (17,5%). Os outros cursos com maior número de
pessoas sem emprego são gestão de pessoas/RH (16,7%); análise e desenvolvimento
de sistemas (15,6%); pedagogia (15,1%); direito (15%); psicologia (14,6%);
odontologia (14,2%); biologia (14%); fisioterapia (13,9%); administração
(13,5%); e biomedicina (13,4%).
Em contrapartida, os
cursos com maior número de empregados são medicina (92%); farmácia (80,4%);
odontologia (78,8%); gestão da tecnologia da informação (78,4%); ciência da
computação (76,7%); medicina veterinária (76,6%); design (75%); relações
públicas (75%); arquitetura e urbanismo (74,6%) e publicidade e propaganda
(73,5%). Em seguida, estão letras (73,2%); fisioterapia (71,5%); sistemas de
informação (71,3%); contabilidade (68,2%); economia (68%); engenharia civil
(67,8%); psicologia (67,3%); gestão da qualidade (66,7%); redes de computadores
(65,2%) e agronomia (63,6%).
Ao analisar as listas,
Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Semesp, acredita que o fato de medicina
ser o curso que mais tem empregados se deve ao fato de que existe um número
maior de vagas voltadas para saúde e tecnologia, em que a oferta é superior a
demanda. "Existem muitas vagas de trabalho para poucos profissionais
qualificados, sobretudo para medicina, porque há poucas vagas no ensino
superior e, portanto, poucos médicos formados, além da escassez de
profissionais", explica.
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Perfil
Conforme os dados, a
maioria dos egressos (55,9%) concluíram a graduação há menos de três anos e se
autodeclaram brancos (54,6%); seguido de pardos (31,6%) e pretos (10%). Além
disso, 68,2% dos respondentes possuem a graduação como o nível mais alto de escolaridade
já concluído, enquanto 4,8% possuem mestrado, doutorado ou pós-doutorado.
Quanto à idade, 68,3%
dos participantes têm até 34 anos; 35,7% deles têm entre 25 e 29 anos e 21,6%,
de 30 até 34 anos. Considerando modalidade de ensino e idade, 70,8% dos
egressos de cursos presenciais têm até 34 anos, enquanto, no ensino a distância
(EaD), 70,1% têm 30 anos ou mais.
Em relação à
identidade de gênero, 53,3% se identificam como mulheres cisgênero e 38,3% como
homens cisgênero. Sobre isso, a coautora da pesquisa Fernanda Verdolin,
fundadora e CEO da Workalove, afirma que, nos últimos anos, o número de
mulheres graduadas no ensino superior por ano é maior que o número de homens.
"As mulheres
ainda representam a maioria dos respondentes que não exercem atividades
remuneradas, e a porcentagem de mulheres que trabalham é menor do que a
porcentagem de homens inseridos no mercado de trabalho, segundo dados da
pesquisa. Apesar dos avanços, ainda podemos enxergar aspectos de desigualdade
quando observamos esses dados de uma forma mais aprofundada", observa.
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Impasses
Em relação aos cursos
com maior número de desempregados, Fernanda observa lacunas entre o índice de
formação de egressos de alguns cursos, como administração, direito e
enfermagem, e o mercado de trabalho. "Isso levanta uma questão importante:
há uma possível desproporção entre o número de graduados nessas áreas e a
oferta de vagas específicas para suas qualificações", explica.
Além da baixa oferta
de vagas nas respectivas áreas, a CEO acredita que a divergência entre o
mercado de trabalho com a graduação é uma das causas por trás desse cenário:
"Isso revela um desalinhamento entre formação e mercado, em que, embora
empregados, muitos profissionais não atuam em funções compatíveis com suas
qualificações".
Para Capelato, existem
algumas razões por trás dos cursos com maior número de desempregados, como a
existência de profissões historicamente desvalorizadas pela sociedade em geral,
como a de professor de história. "Existem vagas disponíveis, mas a carreira
está tão desvalorizada tanto por causa da remuneração quanto pelas condições de
trabalho precárias, como a violência nas escolas, o que leva as pessoas a não
procurarem oportunidades na área".
Além disso, existem
carreiras que passam por fase de recessão e restrição no mercado de trabalho,
por motivos socioeconômicos, como é o caso das engenharias. "Essas
profissões sofreram muito durante a crise econômica e o Brasil vem de um
período longo sem crescimento econômico desde a crise de 2015, isso impacta
muitas áreas, como a de infraestrutura, com poucos investimentos em
projetos", exemplifica.
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Instabilidade
Isadora (nome fictício
a pedido da fonte), 26 anos, formou-se em direito no Centro Universitário de
Brasília (Ceub) em 2022 e, pouco depois, chegou a trabalhar como secretária em
um escritório de advocacia por um tempo, mas percebeu que não se identificava
com a área. "Estar no ambiente de advocacia é um ambiente hostil, porque
tem que lidar com clientes, juiz, além de brigas com colega de profissão",
descreve.
Além do ambiente
tóxico, ela diz que o mercado de trabalho para direito é
"frustrante", porque tem muita demanda e retorno financeiro
insuficiente, com salário para profissional iniciante entre R$ 2.000 e R$
3.000.
Com a falta de emprego
na área, a jovem sente incerteza e insegurança, e até questiona "se estou
no caminho certo ou se estou me perdendo". No entanto, ela tem estudado
para concurso público, com pretensão de trabalhar como analista jurídica. "Tenho
como exemplo a minha mãe, que é servidora pública, mas além de não me
identificar com a advocacia, o concurso é uma maneira de ter estabilidade
financeira e profissional", conta.
Nesse contexto, ela vê
um cenário diverso, mas também desanimador em relação aos profissionais da
área: enquanto alguns estão se dedicando aos estudos para o concurso público,
como ela; outros seguem na carreira de advogado, mas com condições de trabalho
insuficientes, como o baixo salário. "Vejo que todos estão tentando",
diz.
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Transição de carreira
Natural de Pelotas,
Rio Garnde do Sul, Joaquim (nome fictício a pedido da fonte), 33 anos, estudou
licenciatura em história na Universidade Cruzeiro do Sul; no entanto, ele
decidiu seguir uma carreira diferente, de sargento no Exército. A profissão tem
as seguintes vantagens: plano de saúde para os dependentes, como os filhos e
cônjuge; e um imóvel funcional bem localizado em Brasília, cidade que ele mora
atualmente.
"Prestei concurso
para o exército quanto tinha 22 anos, escolhi essa profissão pela relativa
afinidade já que, anos antes, havia passado pelo serviço militar obrigatório.
Na época, eu já tinha interesse em cursar licenciatura em história, mas eu tinha
certa pressa quanto à busca por estabilidade", conta.
Na época, Joaquim
trabalhava com estoque, como auxiliar em uma loja de auto-peças, em horário de
comércio, então, o emprego de sargento pôde ajudá-lo a ter melhores condições
financeiras, e também a se especializar na área de história com cursos de pós-graduação.
"Foi por meio de minha profissão atual que consegui bancar algumas
capacitações em história, de valores mais acessíveis. Então, há ônus e
bônus", explica.
Hoje, com essas
especializações, ele pretende trocar de profissão para a área do ensino em
história, mas vê dificuldades para a transição de carreira. "Isso nem
sempre foi um problema, mas à medida que fui me aprofundando em estudos na área
de história, por satisfação pessoal, minha profissão foi se tornando cada vez
mais desgastante e deslocada do que eu realmente gostaria de fazer".
Mesmo tentando por
meios formais, como transferência para um colégio militar para aplicar esse
conhecimento, a carreira na área militar impossibilitou essa mudança. "Fui
impedido pela burocracia", lamenta.
Fonte: Correio
Braziliense
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