terça-feira, 22 de outubro de 2024

Depressão altera região do cérebro ligada à atenção

A depressão altera a comunicação interna do cérebro antes do aparecimento dos sintomas da doença, revelou um estudo divulgado recentemente. Usando um exame de imagem cerebral chamado fMRI, os pesquisadores descobriram que a depressão reorganiza uma importante área do cérebro ligada à motivação e atenção.

As mudanças foram detectadas antes do desenvolvimento dos sintomas da depressão, o que significa que os pesquisadores puderam prever quem iria desenvolver a doença e quem provavelmente não.

"A principal descoberta é que existe uma expansão da área do córtex ocupada por uma rede cerebral chamada de rede de saliência. Antes não se sabia que condições clínicas da depressão pudessem expandir as redes cerebrais", afirmou Jonathan Roiser, neurocientista e especialista em depressão da University College London, no Reino Unido, que não participou do estudo.

O estudo, publicado na revista científica Nature no início de setembro, analisou a atividade cerebral de 141 pacientes com depressão e 37 sem a doença. O objetivo era encontrar como a doença altera a forma como as regiões do cérebro se comunicam entre elas.

"Nós geralmente observamos o cérebro a partir de como suas regiões se comunicam umas com as outras – como se todas elas entrassem em uma chamada telefônica em equipe. A questão é saber com quais outras regiões se está conversando e de qual rede se faz parte ", disse Miriam Klein-Flügge, neurocientista cognitiva da Universidade de Oxford, Reino Unido, que não participou do estudo.

Os pesquisadores descobriram que a chamada "rede de saliência frontoestriatal" foi expandida em participantes com depressão, em comparação com o grupo sem a doença. Essa rede é importante por orientar a atenção, focar nos estímulos relevantes que entram no cérebro e regular as respostas emocionais a eles.

"Ainda não se sabe exatamente o que essa rede faz, porém já se sabe que ela é importante para os sintomas de saúde mental, incluindo depressão e ansiedade", disse Roiser.

<><> Expansão da rede de saliência prevê depressão

A evidência do aumento da rede de saliência descoberta no estudo foi considerada um robusto indicador que poderia prever se as pessoas desenvolveriam depressão mais adiante na vida. Os pesquisadores descobriram que essa rede já estava ampliada em um grupo de crianças de 10 a 12 anos de idade que desenvolveram posteriormente depressão na adolescência.

Klein-Flügge disse que a descoberta era "empolgante e muito rara". Para o estudo, os pesquisadores mediram a atividade cerebral dos participantes por um longo tempo, quando eles estavam bem e também doentes.

O estudo também mostrou que a força da rede de saliência está correlacionada com alguns sintomas da depressão, especialmente aqueles relacionados com a perda de prazer e motivação.

Mas ainda não é possível inferir a partir dos dados do estudo se as mudanças na rede de saliência estão relacionadas a alguma experiência psicológica particular ou a pensamentos depressivos, de acordo com Emily Hird, neurocientista da University College London.

O estudo não comparou a atividade cerebral com os sintomas ou pensamentos dos participantes – apenas analisou o "estado de repouso".

Em vez disso, o remapeamento da rede de saliência pode ser visto como "um tipo de característica, um marcador de risco para ajudar a identificar pessoas vulneráveis a desenvolver depressão no futuro", disse Hird.

<><> Redes cerebrais são remapeadas na depressão

Mas se a rede de saliência se expandiu em pessoas com depressão, como ela se expande exatamente? Segundo Roiser, a rede é remapeada para incluir regiões do cérebro que normalmente não estão envolvidas na rede de saliência, incluindo regiões importantes para a depressão.

"Eles mostram que a rede de saliência se intromete em outras regiões cerebrais, inclusive em uma região que sabemos que desempenha um papel fundamental na decisão de se esforçar ", disse Roiser. "Isso é muito interessante porque sabemos que há uma relutância das pessoas com depressão em se envolver em tarefas que exigem esforço."

Roiser e Hird acreditam que a pesquisa em andamento indica que os conhecidos efeitos antidepressivos do exercício podem estar relacionados à alteração da atividade nessa rede de esforço. "O exercício é bastante eficaz na depressão, pelo menos tão eficaz quanto os medicamentos antidepressivos ou a psicoterapia", pontua Roiser.

Klein-Flügge ficou surpresa com o fato de o estudo não ter discutido uma região do cérebro chamada amígdala, que é importante para o processamento de emoções. "Essa área do cérebro tem estado no centro das pesquisas sobre depressão há décadas. Pode parecer que ela não é importante, mas sabemos, por meio de trabalhos anteriores, que ela é muito importante na depressão".

<><> Um novo "biomarcador" para a depressão?

Como a ampliação da rede de saliência foi tão estável e previsível em pessoas com depressão, Klein-Flügge sugeriu que ela poderia ser usada como um novo "biomarcador" potencial para a doença no futuro.

Um biomarcador é uma forma mensurável de os médicos detectarem uma doença ou distúrbio em pacientes – como o teste de antígeno para a covid. Nesse caso, o tamanho ou a "expansão" da rede de saliência medida em exames cerebrais poderia, um dia, ser um biomarcador para a depressão.

"Para saber se isso pode ser usado de forma confiável para prever a probabilidade de um indivíduo desenvolver depressão, são necessários ampliar as amostras e replicar esse trabalho", disse Klein-Flügge.

Contudo, Roiser é mais cético. Ele não acredita que os cientistas encontrarão algum dia um biomarcador para a depressão. "Não acredito que a depressão seja uma entidade homogênea do ponto de vista neurobiológico, portanto, não haverá um biomarcador único para ela".

Em vez disso, Roiser pensa nos sintomas depressivos como manifestações de muitos estados cerebrais diferentes. "É como os médicos costumavam pensar em hidropisia, que era o inchaço das pernas. Agora sabemos que a hidropisia não é uma doença, mas uma manifestação de muitas doenças diferentes", explica.

Roiser acredita que a depressão é semelhante. "Os sintomas depressivos provavelmente surgem de uma interação complexa entre diferentes circuitos cerebrais que governam a forma como pensamos, sentimos e nos comportamos, com diferentes circuitos gerando sintomas em diferentes indivíduos".

 

•        Como e por que os idosos estão ficando mais inteligentes do que antes

À medida que as taxas de mortalidade em todo o mundo diminuem, o número de pessoas idosas (com 65 anos ou mais) está aumentando significativamente. Historicamente, o aumento da expectativa de vida era principalmente impulsionado pela redução da mortalidade infantil.

No entanto, atualmente, a redução da mortalidade entre os adultos mais velhos é o principal impulsionador desse aumento na longevidade. Essa mudança levanta questões interessantes sobre as habilidades cognitivas da população idosa e como elas mudam ao longo do tempo.

<><> Maior capacidade cognitiva

Uma análise recente conduzida por Stephen P. Badham, da Nottingham Trent University, e publicada na Developmental Review, traz evidências convincentes de que os adultos mais velhos de hoje têm uma maior capacidade cognitiva em comparação com seus predecessores.

A pesquisa pode ser desmembrada em três partes. O primeiro estudo utilizou dados longitudinais para comparar as habilidades cognitivas de diferentes grupos de idosos ao longo do tempo.

Descobriu-se que os grupos mais recentes de idosos apresentaram desempenho cognitivo superior aos grupos recrutados anteriormente. Essa melhoria foi observada em várias medidas cognitivas, como memória, fluência verbal e velocidade cognitiva.

O segundo estudo concentrou-se nas diferenças cognitivas relacionadas à idade entre adultos jovens e mais velhos, revelando uma diminuição nos déficits cognitivos tradicionalmente associados ao envelhecimento.

Em outras palavras, a superioridade cognitiva dos jovens sobre os adultos mais velhos não é tão acentuada como costumava ser, sugerindo que os adultos mais velhos não estão apenas mantendo, mas também melhorando suas funções cognitivas.

O terceiro estudo analisou dados de um único laboratório e constatou que as melhorias nas capacidades cognitivas dos adultos mais velhos foram impulsionadas principalmente por melhorias ao longo do tempo nos grupos mais velhos, enquanto o desempenho cognitivo dos adultos jovens permaneceu relativamente estável.

Stephen Badham, Professor Associado, comentou: “Muitas pesquisas já existentes indicam que o QI tem melhorado globalmente ao longo do século XX. Isso significa que as gerações nascidas mais tarde têm uma capacidade cognitiva superior às gerações anteriores.”

<><> Educação, alimentação, estímulos cognitivos e cuidados com a saúde

Os pesquisadores identificam diversas razões para essa mudança. Desse modo, a educação desponta como um dos principais fatores. Nas últimas décadas, as oportunidades educacionais se expandiram consideravelmente, fornecendo aos adultos mais velhos uma base cognitiva mais robusta.

Além disso, uma nutrição aprimorada e estilos de vida mais saudáveis também desempenham papéis cruciais. Uma dieta rica em nutrientes essenciais, combinada com atividade física regular, promove a saúde cerebral e a função cognitiva.

Outro fator determinante é a estimulação cognitiva. O acesso crescente a estímulos cognitivos por meio de diversas fontes, como interações sociais, tecnologia e oportunidades de aprendizado ao longo da vida, tem auxiliado os idosos a manter e até aprimorar suas habilidades cognitivas.

Por fim, os avanços nos cuidados de saúde também têm sido fundamentais. Tratamentos médicos mais eficazes, cuidados preventivos e uma gestão aprimorada de doenças crônicas têm impactado positivamente a saúde cognitiva. Esses serviços oferecem suporte individualizado, incluindo cuidados de saúde mental, treinamento cognitivo e atividades sociais destinadas a manter a mente ativa e engajada.

<><> O que precisa ser revisto

“Como os adultos mais velhos têm um desempenho geral melhor do que as gerações anteriores, pode ser necessário rever as definições de demência que dependem do nível de capacidade esperado de um indivíduo. Isto ocorre porque a demência é definida como uma capacidade cognitiva abaixo do normal e os resultados atuais sugerem que, à medida que os idosos saudáveis se tornam mais capazes cognitivamente, poderemos precisar de rever a nossa definição de normal ao diagnosticar a demência”, diz Badham.

Diante do exposto, é plausível considerar que essas mudanças possam servir como um incentivo adicional para impulsionar programas de saúde entre os idosos. Programas focados em educação, saúde, alimentação e estímulo mental representam uma oportunidade valiosa para fortalecer e expandir as habilidades cognitivas dos idosos, resultando em vantagens palpáveis.

 

•        Pessoas mais inteligentes levam mais tempo para resolver problemas difíceis, revela estudo

A crença comum de que pessoas mais inteligentes pensam mais rápido foi desafiada por uma recente pesquisa conduzida por cientistas. O estudo, publicado na revista Nature Communications, revelou que indivíduos com pontuações de inteligência mais altas eram mais rápidos apenas ao lidar com tarefas simples, enquanto levavam mais tempo para resolver problemas complexos em comparação com sujeitos com pontuações de QI mais baixas.

A pesquisa envolveu a simulação personalizada do cérebro de 650 participantes. Os cientistas descobriram que cérebros com menor sincronia entre as áreas cerebrais tendem a “pular para conclusões” ao tomar decisões, em vez de esperar que as regiões cerebrais superiores completem os passos de processamento necessários para resolver o problema. Curiosamente, os modelos cerebrais dos participantes com pontuações mais altas também precisavam de mais tempo para resolver tarefas desafiadoras, mas cometiam menos erros.

A equipe de pesquisa, liderada pela Prof. Petra Ritter, chefe da Seção de Simulação Cerebral do BIH, usou dados digitais de exames cerebrais, como imagens de ressonância magnética (MRI), e modelos matemáticos baseados em conhecimento teórico sobre processos biológicos para simular o funcionamento do cérebro humano. Esses modelos cerebrais personalizados foram refinados com dados de indivíduos específicos, permitindo uma representação mais precisa do cérebro de cada participante.

Os resultados mostraram que os cérebros “mais lentos”, tanto nos humanos quanto nos modelos, eram mais sincronizados, ou seja, estavam em sintonia uns com os outros. Essa maior sincronia permitia que os circuitos neurais no lobo frontal adiassem as decisões por mais tempo do que os cérebros que estavam menos coordenados. Em termos práticos, uma tarefa fácil seria frear rapidamente em um sinal vermelho, enquanto uma tarefa difícil exigiria a elaboração metódica da melhor rota em um mapa rodoviário.

Os resultados deste estudo têm implicações significativas para o planejamento do tratamento de doenças neurodegenerativas, como demência e doença de Parkinson. A tecnologia de simulação utilizada neste estudo pode ser usada para melhorar o planejamento personalizado in silico de intervenções cirúrgicas e medicamentosas, bem como a estimulação cerebral terapêutica. Por exemplo, um médico já pode usar uma simulação de computador para avaliar qual intervenção ou medicamento pode funcionar melhor para um paciente específico e teria menos efeitos colaterais.

 

Fonte: DW Brasil/Só Cientifica

 

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