sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Brasil e suas Forças Armadas se beneficiariam com entrada da Turquia nos BRICS, diz analista

Presidente da Turquia, Erdogan confirma participação na Cúpula do BRICS em busca de adesão permanente ao bloco. Ao integrar membro da OTAN, BRICS se fortalece geopoliticamente e amplia oportunidades para países-membros como o Brasil, acreditam analistas.

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, confirmou sua presença na Cúpula dos Chefes de Estado do BRICS em Kazan, reforçando a candidatura de seu país para aderir ao grupo. Durante o evento, o líder turco ainda se reunirá com seu homólogo russo Vladimir Putin, para avançar projetos bilaterais.

A candidatura turca conta com o apoio de grupos políticos domésticos, interessados em diversificar as parcerias político-econômicas de Ancara. O porta-voz do parlamento turco, Numan Kurtulmus, confirmou apoio à candidatura em recente reunião com a presidente do Conselho da Federação da Rússia (câmara alta do parlamento), Valentina Matvienko, reportou a agência Anadolu.

"Esperamos que a adesão da Turquia ao BRICS se concretize o mais rápido possível", disse Kurtulmus. "Gostaria de expressar mais uma vez a intenção clara e sincera da Turquia de fazer parte de novas alianças que serão eficazes no desenvolvimento de um mundo multipolar, como sua participação no BRICS."

Membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e candidata de longa data para integrar a União Europeia, a Turquia envia recado para o Ocidente ao solicitar a entrada em grupo que contesta a ordem global baseada no dólar, acredita o pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre o Oriente Médio da PUC-Rio, Luis Felipe Herdy.

"A candidatura da Turquia para entrar na União Europeia vem se arrastando desde o final da década de 80 [...], o que gera ressentimento no país", declarou Herdy à Sputnik Brasil. "Existem duas hipóteses, que não me parecem excludentes: ou a de que a Turquia se volta ao BRICS para compensar essa frustração, ou que a Turquia use a adesão ao BRICS para acelerar sua entrada na União Europeia."

O ministro das Relações Exteriores turco, Hakan Fidan, declarou recentemente que "caso a nossa integração econômica com a União Europeia tivesse sido coroada com a adesão, talvez não precisássemos estar em uma situação tão difícil em muitas questões", reportou a Anadolu.

"Essa declaração revela um processo mais amplo de frustração turca com a ordem internacional estabelecida [...] e com o sistema ocidental liberal", declarou Herdy. "A Turquia, assim como o Brasil, a Índia, a Rússia e outros países do BRICS, tem um alto grau de busca pela revisão desse sistema."

A entrada no BRICS, no entanto, não deve significar uma retirada turca de instituições ocidentais como a OTAN, acredita o doutor em ciência política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e presidente do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE), Fabrício Ávila.

"A existência de um membro da OTAN representa uma demonstração de força do BRICS ao conseguir absorver um componente de uma aliança militar que está atualmente se dirigindo a um movimento oposto no apoio ao conflito na Ucrânia e a crescente hostilidade em relação à China", disse Ávila à Sputnik Brasil. "Mas sabemos que a Turquia age como um insulador entre o Oriente e o Ocidente e possui a expertise necessária para administrar esse posicionamento no sistema internacional."

Segundo o especialista, "o paradoxo da Europa é que eles precisam mais da Turquia na OTAN que o contrário", uma vez que "as forças militares turcas são a segunda maior força da OTAN" e "defendem os europeus de instabilidades que partem do Oriente Médio".

A entrada da Turquia em um BRICS ampliado, com ampla participação de países-chave do Oriente Médio, como Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, auxiliará o presidente Erdogan a promover sua agenda regional, lembra Herdy.

"Além disso, temos que lembrar que a China já é a principal parceira comercial da Turquia, que está envolvida no projeto Nova Rota da Seda. Ancara também tem fortes relações político-comerciais com a Rússia, e quer buscar novos parceiros no BRICS", declarou Herdy. "O alinhamento de política externa da Turquia já é bastante distante da Europa e do Ocidente."

O acesso ao BRICS poderá acelerar projetos relevantes para a Turquia, como o de se tornar a ponte logística para exportação de gás advindos da Rússia e da Ásia Central para a União Europeia. Para viabilizar o projeto, a Turquia ainda poderá contar com o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), também conhecido como "Banco do BRICS".

"A Turquia tem uma relação difícil com o Fundo Monetário Internacional [FMI] e com o Banco Mundial, por isso enxerga o Banco do BRICS como uma alternativa", disse Herdy. "Ancara adere à agenda da desdolarização do comércio internacional, que também é importante para o Brasil."

Benefícios para o Brasil

A entrada de uma potência regional como a Turquia no BRICS não só beneficiaria o Brasil do ponto de vista político e estratégico, mas ainda abriria portas para o fortalecimento das relações bilaterais, acreditam os analistas ouvidos pela Sputnik Brasil.

"A entrada da Turquia no BRICS seria benéfica para o Brasil porque ofereceria um interlocutor entre a Europa e o Oriente Médio e ajudaria a equilibrar o poder na Eurásia ao contrabalançar a Índia", disse o presidente do ISAPE, Fabrício Ávila. "Na futura reforma do Conselho de Segurança da ONU, a Turquia seria um aliado importante aos brasileiros."

A aproximação entre as partes ainda permitiria maior acesso das Forças Armadas brasileiras a equipamentos militares turcos, como veículos blindados leves e na realização de parcerias para desenvolvimento de tecnologia de drones, acredita o especialista.

A diplomacia brasileira deve receber bem a candidatura turca para entrar no BRICS, dado o histórico de aproximação das políticas externas dos países, em especial durante as gestões Lula-Amorim, notou Herdy.

"As relações entre Brasil e Turquia são bastante estáveis, mas vimos momentos de maior aproximação durante os mandatos de Lula, em particular durante as negociações em relação ao acordo nuclear iraniano [em 2010]", disse Herdy. "Ainda no ano passado, durante a Cúpula do BRICS de Joanesburgo, Lula declarou apoio à candidatura da Turquia para entrar no grupo."

Para ele, "ainda que Lula e Erdogan possam ter abordagens bem diferentes em relação à política doméstica, há uma clara identificação e experiências comuns quando o assunto é política externa".

"Parece-me natural que países como Brasil e Turquia estejam juntos para integrar o projeto notável na arena internacional que é o BRICS, consolidado atualmente como um grupo impossível de ser ignorado", concluiu o especialista.

Entre os dias 22 e 23 de outubro, líderes de 32 países estarão reunidos para a Cúpula de Chefes de Estados do BRICS, na cidade russa de Kazan. A presença do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva já foi confirmada, e de líderes como o presidente da China, Xi Jinping, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e o presidente iraniano Masoud Pezeshkian. A Sputnik Brasil estará presente no evento e realizará cobertura completa dos acontecimentos.

¨      Estados do BRICS superam países do G7 em muitos indicadores, diz sociólogo

O BRICS supera os países do Grupo dos Sete (G7) em muitos indicadores, inclusive território, população, PIB e produção científica e industrial, disse Gleb Kuznetsov, chefe do Conselho de Especialistas do Instituto de Especialistas de Pesquisa Social (EISI, na sigla em russo).

A mesa redonda do EISI chamada "Cúpula do BRICS: uma plataforma para a formação de uma nova ordem mundial" está sendo realizada no centro de imprensa do grupo midiático Rossiya Segodnya, do qual a Sputnik faz parte.

"O BRICS já está superando o desempenho em vários indicadores, bastante significativos, [...] o G7. O primeiro é o território, ambas as organizações juntas ocupam metade do território de todos os países do mundo, mas o BRICS é duas vezes maior que o G7, pelo menos", disse Kuznetsov.

Ele observou que os países do BRICS cobrem 33,9% da área terrestre do mundo, principalmente às custas da Rússia, enquanto o G7 cobre 16,1%, inclusive todo o território da América do Norte.

Em termos de população, a situação nas organizações é ainda mais impressionante: o BRICS excede o G7 em 4,5 vezes (45,2% contra 9,7%), o que é alcançado às custas da Índia e da China, cuja população ultrapassa a marca de um bilhão.

"O BRICS [em termos de] PIB em paridade de poder de compra excede o G7 em oito pontos percentuais. Depósitos de petróleo, aqui a situação é ainda mais total, aqui o BRICS supera [o G7] em 12 vezes", disse Kuznetsov.

Ele também observou que o BRICS desenvolveu seriamente a produção industrial, superando o G7 em mais de 8%, e a produção científica: somente em 2023, o número de pedidos de patentes internacionais registrados no BRICS foi de mais de 893.000, quase 300.000 a mais do que nos países do G7.

Além disso, as taxas de aprovação dos líderes do G7 são baixas em seus países, enquanto os líderes do BRICS têm apoio popular, inclusive no Brasil (41%).

Ele observou que em nenhum país do G7 a taxa de aprovação do líder excedem sua taxa de desaprovação.

<><> Mauro Vieira e Lavrov conversam sobre preparativos para a cúpula do BRICS em Kazan

O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira, e seu homólogo russo, Sergei Lavrov, conversaram nesta quarta-feira (16), via ligação telefônica, sobre os preparativos para a cúpula do BRICS que acontecerá na próxima semana na cidade russa de Kazan.

"Durante a conversa foram discutidos detalhes dos preparativos para a próxima cúpula do BRICS, que acontecerá de 22 a 24 de outubro, em Kazan, bem como alguns aspectos das atividades do bloco", afirmou o Ministério das Relações Exteriores da Rússia.

Além disso, Lavrov e Vieira discutiram a crise ucraniana.

Líderes de mais de 30 países confirmaram presença na cúpula do BRICS, segundo o vice-ministro da chancelaria russa, Sergei Ryabkov.

A Rússia assumiu, em 2024, a presidência rotativa do BRICS, ano que marcou a entrada de novos membros no bloco.

Além de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, aos quais o grupo deve a sigla, inclui agora também Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita.

¨      Washington sanciona entidades russas e chinesas por produção de drones, diz Tesouro dos EUA

Os Estados Unidos estão impondo sanções a entidades russas e chinesas e a um indivíduo em conexão com seu envolvimento na produção de drones, disse o Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC, na sigla em inglês) do Departamento do Tesouro dos EUA nesta quinta-feira (17).

As restrições têm como alvo o cidadão russo Artyom Yamschikov e a Limited Liability Company Trading House Vector, bem como a Redlepus Vector Industry Shenzhen e a Xiamen Limbach Aircraft Engine da China.

Os alvos das sanções estão supostamente envolvidos no desenvolvimento e produção de veículos aéreos não tripulados (VANT) de ataque de longo alcance da série Garpiya da Rússia, disse o Departamento de Estado em uma declaração separada.

O Garpiya é projetado e produzido na China em colaboração com empresas de defesa russas e é supostamente usado pelos militares russos na Ucrânia, de acordo com a declaração.

As restrições são a primeira vez que os EUA impõem sanções a entidades chinesas "desenvolvendo e produzindo diretamente sistemas de armas completos em parceria com empresas russas", disse o Departamento de Estado.

Na quarta-feira (16), a Embaixada chinesa nos Estados Unidos acusou Washington de hipocrisia depois que a enviada dos EUA à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Julianne Smith, afirmou que Pequim "colocou o polegar na balança" para ajudar a Rússia na Ucrânia.

Em uma declaração à Sputnik, a missão destacou que os EUA fazem acusações contra a China sobre seu comércio normal com a Rússia, enquanto continuam a fornecer ajuda militar sem precedentes à Ucrânia.

A China sempre foi "razoável e responsável sobre suas exportações militares" e tem controles rígidos em vigor sobre exportações de bens de uso duplo, incluindo drones de uso civil, disse a embaixada.

<><> Empresa produtora de sistemas Patriot dos EUA é multada em quase US$ 1 bilhão

A empresa de defesa estadunidense Raytheon pagará mais de 950 milhões de dólares de multa em relação a preços distorcidos, suborno transnacional e esquemas de controle de exportação, disse o Departamento de Justiça dos EUA nesta quarta-feira (16).

A Justiça acrescentou que a empresa defraudou o governo dos EUA e se envolveu em esquemas criminosos.

"A Raytheon Company [Raytheon] – uma subsidiária da RTX, empresa de defesa sediada em Arlington, Virgínia [anteriormente conhecida como Raytheon Technologies Corporation] – pagará mais de US$ 950 milhões [R$ 5,3 bilhões] para encerrar as investigações do Departamento de Justiça", diz o comunicado.

As investigações estão relacionadas a um grande esquema de fraude do governo envolvendo preços distorcidos em certos contratos governamentais, bem como violações da Lei de Práticas de Corrupção no Exterior (FCPA), a Lei do Controle de Exportação de Armas (AECA) e o Regulamento sobre Tráfico Internacional de Armas (ITAR), acrescenta a nota.

"Raytheon se envolveu em esquemas criminosos para defraudar o governo dos EUA em conexão com contratos para sistemas militares críticos e para ganhar negócios no Catar através de suborno", disse o procurador-geral adjunto Kevin Driscoll, da Divisão Criminal do Departamento de Justiça, citado na declaração.

A empresa norte-americana também admitiu ter se envolvido em dois esquemas separados para defraudar o Departamento de Defesa em conexão com o fornecimento de artigos e serviços de defesa, "incluindo sistemas de mísseis Patriot e um sistema de radar", revela o documento do Departamento de Justiça.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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