sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Tropas norte-coreanas estão se juntando aos russos na guerra na Ucrânia?

O exército russo estaria formando uma unidade com cerca de 3 mil soldados norte-coreanos, segundo afirmou uma fonte de inteligência militar ucraniana à BBC. A informação sugere que a Coreia do Norte está formando uma aliança militar próxima com o Kremlin.

Até agora, a BBC ainda não viu sinais de que uma unidade tão grande esteja sendo formada no extremo oriente russo, e o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, descartou o envolvimento norte-coreano.

“Não é só a inteligência britânica, é também a inteligência americana. Eles relatam isso o tempo todo, mas não fornecem nenhuma evidência”, disse ele.

Não há dúvidas de que Moscou e Pyongyang aprofundaram sua relação nos últimos meses. O líder norte-coreano Kim Jong Un enviou a Vladimir Putin uma mensagem de aniversário apenas na semana passada, chamando-o de seu “camarada mais próximo”.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, falou sobre a possibilidade de a Coreia do Norte entrar na guerra. O ministro da Defesa da Coreia do Sul disse este mês que a chance de um destacamento norte-coreano na Ucrânia era “altamente provável”.

A maior dúvida é sobre os números envolvidos.

Uma fonte militar no etremo oriente russo confirmou ao serviço russo da BBC que “um certo número de norte-coreanos chegou” e estavam estacionados em uma das bases militares perto de Ussuriysk, ao norte de Vladivostok. No entanto, a fonte se recusou a fornecer um número exato, apenas afirmando que eles estavam “longe de serem 3 mil”.

Especialistas militares disseram à BBC que duvidam que as unidades do exército russo consigam incorporar com sucesso milhares de soldados norte-coreanos.

“Não foi nem tão fácil incluir centenas de prisioneiros russos no início — e todos eles falavam russo”, disse um analista (que está na Rússia e, por isso, preferiu não ser identificado) à BBC.

Mesmo que fossem 3 mil, não seria um número significativo em termos de campo de batalha, mas os EUA estão tão preocupados quanto a Ucrânia.

“Seria um aumento significativo no relacionamento deles”, disse o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller. Ele classificou o movimento como “um novo nível de desespero da Rússia” em meio às perdas no campo de batalha.

Foi em junho que Vladimir Putin brindou um pacto “pacífico e defensivo” com Kim Jong Un.

Há cada vez mais evidências de que a Coreia do Norte estaria fornecendo munição à Rússia, como demonstra a recuperação de um míssil na região de Poltava, na Ucrânia, recentemente.

Na verdade, relatos sobre minas e projéteis fornecidos pelos norte-coranos remontam a dezembro de 2023, em chats no Telegram envolvendo comunidades militares da Rússia.

Soldados russos que estão na Ucrânia frequentemente se queixam da qualidade da munição e do fato de que dezenas de soldados foram feridos.

O governo ucraniano suspeita que uma unidade de soldados norte-coreanos esteja se preparando na região de Ulan-Ude, perto da fronteira com a Mongólia, antes de ser enviada para a província russa de Kursk, onde as forças ucranianas lançaram uma incursão em agosto.

“Eles poderiam proteger algumas seções da fronteira russo-ucraniana, o que liberaria unidades russas para lutar em outros lugares”, disse Valeriy Ryabykh, editor da publicação ucraniana Defence Express.

“Eu descartaria a possibilidade de que essas unidades apareçam imediatamente na linha de frente.”

Ryabykh não está sozinho nesse pensamento.

A Coreia do Norte pode ter cerca de 1,28 milhão de soldados ativos, mas seu exército não tem experiência recente em operações de combate, ao contrário das forças militares da Rússia.

O país seguiu o antigo modelo soviético em suas forças armadas, mas não está claro como sua principal força de infantaria se encaixaria na guerra na Ucrânia.

Além disso, há a óbvia barreira linguística e a falta de familiaridade com os sistemas russos, o que complicaria qualquer papel nas batalhas.

Isso, no entanto, não exclui a possibilidade de a Coreia do Norte participar da guerra em grande escala da Rússia na Ucrânia, mas os especialistas a reconhecem mais por suas habilidades de engenharia e construção do que pelo combate.

O que ambos os países compartilham são incentivos comuns.

A Coreia do Norte precisa de dinheiro e tecnologia, enquanto a Rússia precisa de soldados e munição.

“Tropas norte-coreanas seriam bem pagam e talvez tivessem acesso à tecnologia militar russa, que os russos, de outra forma, teriam relutância em transferir para a Coreia do Norte”, diz Andrei Lankov, diretor do Korea Risk Group.

“Também daria aos soldados norte-coreanos experiência real de combate, mas há o risco de expor os norte-coreanos à vida no Ocidente, um lugar consideravelmente mais próspero.”

Para Putin, há uma necessidade urgente de compensar as perdas significativas após mais de dois anos e meio de guerra.

Valeriy Akimenko, do Conflict Studies Research Centre do Reino Unido, acredita que o envio de norte-coreanos ajudaria o líder russo a lidar com a rodada anterior de mobilização obrigatória, que não foi bem-sucedida.

“Então ele pensa: como as fileiras russas estão se esvaziando por causa da Ucrânia, por que não deixar que os norte-coreanos façam parte da luta?”

Zelensky está claramente preocupado com o rumo que essa aliança hostil pode tomar.

Não houve tropas ocidentais no terreno na Ucrânia por medo de uma escalada.

No entanto, se os relatos sobre centenas de norte-coreanos se preparando para serem enviados forem confirmados, a ideia de tropas estrangeiras no solo nesta guerra parece ser menos preocupante para Vladimir Putin.

 

¨      Os países que fornecem armas para a Rússia

Rússia está enviando milhões de projéteis por ano para a linha de frente de combate na Ucrânia, e lançando constantemente ataques aéreos contra alvos civis — muitas vezes, com munições supostamente fornecidas por aliados estrangeiros.

Enquanto as nações ocidentais tentam limitar a capacidade da Rússia de fabricar armas impondo sanções, a China, o Irã e a Coreia do Norte estão supostamente ajudando a manter sua máquina de guerra em operação.

·        Drones e mísseis do Irã

O Irã foi acusado recentemente de ter fechado um acordo com a Rússia para fornecer 200 ou mais mísseis balísticos de curto alcance. Chamados de Fath-360, eles têm um alcance de 120 km e carregam 150 kg de explosivos.

A inteligência dos EUA diz que dezenas de membros das Forças Armadas da Rússia foram treinados no Irã para dispará-los. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou que os mísseis poderiam ser lançados contra a Ucrânia no final do outono no hemisfério norte.

Os mísseis Fath-360 permitiriam à Rússia atingir alvos como cidades e usinas de energia ucranianas que estão próximas das suas fronteiras, deixando seus mísseis de longo alcance para atingir alvos mais profundos no interior do país.

"O Fath-360 é bom para atingir alvos relativamente próximos", explica Marina Miron, do Departamento de Estudos da Guerra da Universidade King's College London, no Reino Unido.

"A Rússia não possui um míssil semelhante próprio."

Segundo ela, a Rússia pode fornecer ao Irã tecnologia militar em troca, incluindo possivelmente tecnologia nuclear.

Os EUA, o Reino Unido, a França e a Alemanha impuseram novas sanções ao Irã por fornecer mísseis à Rússia.

Entre elas, está a restrição de voos da companhia Iran Air para o Reino Unido e a Europa, assim como proibições de viagens e congelamento de ativos de iranianos que acredita-se estarem envolvidos no acordo.

O Irã negou repetidamente o fornecimento de armas autoguiadas, como o Fath-360, para a Rússia.

O governo da Ucrânia e as agências de inteligência ocidentais também dizem que o Irã tem fornecido à Rússia drones Shahed-136 desde o segundo semestre de 2022.

O Shahed tem uma ogiva na parte dianteira, conhecida como nariz, e foi projetado para pairar sobre um alvo até receber um sinal para atacar.

As forças russas geralmente enviam dezenas deles em "enxames" para tentar sobrecarregar as defesas aéreas da Ucrânia. Muitas vezes, os enxames de drones são usados como uma distração para impedir que as defesas aéreas ucranianas interceptem mísseis de cruzeiro e balísticos, que carregam mais explosivos e causam mais danos.

O governo do Irã afirma ter fornecido à Rússia apenas "um pequeno número" de drones antes da guerra.

No entanto, os EUA e a União Europeia acusam o Irã de enviar remessas regulares para a Rússia, e o bloco europeu impôs sanções às pessoas e empresas envolvidas.

·        Projéteis e mísseis da Coreia do Norte

A Agência de Inteligência de Defesa (DIA, na sigla em inglês) dos EUA disse em um relatório de maio deste ano que a Coreia do Norte forneceu à Rússia três milhões de projéteis de artilharia.

A artilharia é a principal arma usada por ambos os lados na linha de frente de combate na Ucrânia. Ela impede que os blindados e a infantaria do inimigo manobrem e avancem.

O Royal United Services Institute (Rusi), um think tank com sede no Reino Unido, afirma que nos últimos meses as forças russas tiveram uma vantagem de 5:1 sobre as ucranianas, no que se refere ao número de projéteis disponíveis para disparo.

De acordo com o Rusi, este foi um dos principais motivos pelos quais a Rússia conquistou grandes extensões de território no leste da Ucrânia desde o inverno de 2023.

Em janeiro de 2024, oficiais da inteligência ucraniana disseram ter encontrado os destroços de dois tipos de mísseis balísticos de curto alcance fabricados pela Coreia do Norte — e que foram disparados contra Kharkiv em um grande ataque aéreo.

As autoridades ucranianas afirmam que um deles era um Hwasong-11, também conhecido como KN-23.

Trata-se de um míssil balístico de curto alcance, entre 400 km e 690 km, que pode transportar ogivas pesando até 500 kg.

A Organização das Nações Unidas (ONU) impôs sanções ao comércio com a Coreia do Norte relacionado a mísseis balísticos desde 2006.

A inteligência ucraniana afirmou que a Coreia do Norte enviou 50 mísseis à Rússia e, durante uma reunião do Conselho de Segurança da ONU em fevereiro deste ano, os EUA acusaram a Rússia de ter utilizado mísseis norte-coreanos em pelo menos nove ataques aéreos à Ucrânia.

A DIA afirma que a Rússia e a Coreia do Norte começaram a negociar a venda de armas no segundo semestre de 2022, e os primeiros mísseis foram enviados da Coreia do Norte para a Rússia no segundo semestre de 2023 para testes.

A agência americana diz que a Rússia começou a dispará-los contra a Ucrânia em janeiro deste ano, do outro lado da fronteira.

"Os mísseis Hwasong-11 são mais baratos para a Rússia usar do que seus próprios mísseis de curto alcance, como o Iskander", observa Miron.

"É um cálculo do custo."

"Além disso, fazer acordos de armas com países como o Irã e a Coreia do Norte mostra ao Ocidente que a Rússia tem aliados, e não está isolada."

Mísseis balísticos como o Hwasong-11 são difíceis de interceptar devido às velocidades supersônicas com que descem em direção ao alvo. No entanto, autoridades da inteligência ucraniana teriam dito que muitos dos mísseis da Coreia do Norte não atingem seus alvos devido a falhas eletrônicas que fazem com que eles percam suas trajetórias programadas.

A Coreia do Norte negou ter enviado armas à Rússia, e a Rússia negou ter recebido qualquer arma.

Oficiais de inteligência ucranianos teriam avistado soldados norte-coreanos ao lado das forças russas no país. Os jornais ucranianos informaram que, em 3 de outubro deste ano, seis oficiais norte-coreanos foram mortos e outros três ficaram feridos em um ataque com mísseis a uma base de treinamento militar russa no leste do país.

Alegações anteriores de que soldados norte-coreanos estavam lutando na Ucrânia foram feitas em 2023. Na ocasião, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, negou, classificando como um "total absurdo".

·        A China e os componentes de uso duplo

Os líderes dos países membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) acusaram conjuntamente a China de ser um "facilitador decisivo" da Rússia, fornecendo "apoio em larga escala à [sua] base industrial de defesa".

Eles afirmaram que os chineses fornecem componentes de "uso duplo", como chips de computador que têm aplicações civis, mas que também podem ser usados ​​para fabricar armas.

O Carnegie Endowment for International Peace (CEIP), um think tank com sede nos EUA, afirma que todos os meses a China tem enviado à Rússia US$ 300 milhões em produtos de uso duplo de "alta prioridade", que podem ser usados para fabricar armas como drones, mísseis e tanques.

A organização diz que a China vende à Rússia 70% de todas as suas máquinas-ferramentas (que podem ser usadas para fabricar cartuchos de armas) e 90% de seu suprimento de produtos microeletrônicos, como chips e semicondutores (que podem ser usados para sistemas de orientação em mísseis, por exemplo).

O CEIP afirma ainda que, em 2023, a Rússia importou da China 89% de todos os seus bens de uso duplo de alta prioridade. E diz que, antes da guerra, a Alemanha e a Holanda forneciam a maior parte deles. Quando suas exportações para a Rússia foram barradas por sanções, a China preencheu essa lacuna.

A China negou que esteja ajudando a Rússia a construir armas, dizendo que tem sido uma parte neutra na guerra da Ucrânia. O país afirmou que não forneceu equipamentos letais à Rússia, e que tem sido prudente em relação aos componentes que vende para ela.

A agência de notícias Reuters afirmou que a Rússia montou uma fábrica na China para produzir um novo tipo de drone de longo alcance chamado Garpiya-3.

O governo chinês disse que não tinha conhecimento de tal projeto, e que possui controles rígidos sobre a exportação de drones, segundo a Reuters.

•        Rostec revela míssil guiado russo invulnerável aos meios da guerra eletrônica no conflito ucraniano

Míssil leve guiado multipropósito (LMUR, na sigla em russo) Izdelie 305, usado por helicópteros Mi-28NM, é invulnerável aos meios de guerra eletrônica do adversário na zona de operação militar especial na Ucrânia, relatou a corporação estatal Rostec.

A empresa observou que os mísseis "fornecem alta precisão de ataque dos alvos do adversário, independentemente da sua distância de sua posição no raio de ação do míssil". Além disso, o LMUR pode ser usado no modo "dispara e esquece", ou seja, não requer orientação após o disparo por iluminação do alvo ou guia por cabo, e pode atingir o alvo sem necessidade do lançador permanecer em linha visual com o alvo e nos modos de controle remoto e inercial.

"Até a data, em condições de combate não houve casos de supressão do canal de controle de LMUR no decorrer da operação militar especial. Ele sempre alcança exatamente [o local] para onde a tripulação do helicóptero o lançou", detalha a corporação estatal.

No início do ano, o consórcio Vysokotochnye Kompleksy (Sistemas de Alta Precisão, em português), informou que o novos Izdelie 305 demonstram boa precisão na área da operação militar especial. A precisão do míssil não depende da distância da sua aplicação.

A potência da carga de combate do míssil permite atingir veículos blindados, posições de fogo, edifícios, sistemas de defesa antiaérea e sistemas de artilharia.

 

Fonte: BBC News

 

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