sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Organização criminosa de Bolsonaro foi "essencial" para 8 de janeiro, diz PGR

Pela primeira vez, a Procuradoria-Geral da República (PGR), comandada por Paulo Gonet, implicou a organização criminosa comandada por Jair Bolsonaro (PL) nos atos de destruição do Congresso, Palácio do Planalto e edifício-sede do Supremo Tribunal Federal (STF) desencadeados por apoiadores extremistas do ex-presidente em 8 de janeiro de 2023.

"Os elementos de convicção até então colhidos indicam que a atuação da organização criminosa investigada foi essencial para a eclosão dos atos depredatórios ocorridos em 8.1.2023", diz Gonet em manifestação sigilosa à Polícia Federal (PF) revelada nesta quinta-feira (17) por Aguirre Talento no portal Uol.

No documento, o PGR ainda deu aval ao Supremo para que se cobre de Bolsonaro e da cúpula golpista os prejuízos, de cerca de R$ 26 milhões, causados pela destruição dos extremistas.

O parecer é parte da investigação da Polícia Federal, que deve ser remetida à mesma PGR até dezembro. Caberá, então, a Gonet oferecer denúncia ou não contra os membros da organização criminosa.

A manifestação ocorreu após advogados de Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, pedir a devolução de R$ 53 mil e três relógios de luxo apreendidos pela PF durante mandate de busca e apreensão na cada dele.

Gonet afirmou que "não parece recomendável, também, a restituição dos bens" já que "o requerente é investigado por crimes que resultaram em expressivos prejuízos à Fazenda Pública".

"O Decreto-Lei n. 3.240/41 autoriza a constrição de patrimônio lícito, justamente a fim de garantir o ressarcimento do dano, como efeito da condenação (art. 91, inciso I, CP). Há tratamento mais rigoroso para os autores de crimes que importam dano à Fazenda Pública, como forma de tutelar, de modo mais efetivo, o patrimônio público e, assim, o interesse da coletividade atingida por tais práticas delituosas", afirmou o PGR.

•        "Bolsonaro é 'o sistema' e viveu às custas do Estado", detona Lula

Em entrevista à rádio Metrópole, em Salvador (BA), na manhã desta quinta-feira (17), o presidente Lula detonou o discurso "antissistema" de Jair Bolsonaro (PL), que vem sendo adotado pelos candidatos da ultradireita neofascista apoiados pelo ex-presidente nas eleições municipais.

Sem dizer exatamente o que é "o sistema", Bolsonaro foi eleito em 2018 com esse discurso, que é propagado pelos aliados extremistas, mesmo sem ter recebido um centavo de trabalho na iniciativa privada.

Ao falar da relação "civilizada" com Arthur Lira (PP-AL) e o Congresso nacional após Bolsonaro ter entregue boa parte do orçamento da União ao parlamento por meio das emendas de relator - o chamado orçamento secreto -, Lula ponderou o que mudou após a passagem do "capitão" pela presidência.

"O que houve de desvio? O que houve de desvio é que Bolsonaro, como é muito incompetente, nunca governou nada nesse país, porque ele é um homem do mal. Saiu do Exército falando mal do Exército. Quase foi condenado", disse, lembrando a trajetória do adversário, que planejou colocar bombas e quartéis e foi preso por “transgressão grave”, acusado de “ter ferido a ética, gerando clima de inquietação no âmbito da organização militar” e também “por ter sido indiscreto na abordagem de assuntos de caráter oficial”.

"Depois ele se meteu na politica e diz que é contra o sistema, mas viveu 28 anos de mandato de deputado federal, mais dois da Câmara de vereadores. É o cara que viveu da política o tempo inteiro, o tempo inteiro viveu às custas do Estado como tenente do Exército, viveu às custas do Estado como deputado e vereador e diz que é antissistema. Ele é o sistema!", detonou Lula, de forma exaltado.

Segundo o presidente, Bolsonaro representa "o sistema das coisas que não prestam no país, que causam prejuízo ao povo".

Antes, Lula falou da Caixa de Pandora - mito grego que conta que, ao ser aberta, a caixa deu origem aos males da humanidade - aberta pelo ex-presidente, que se traveste de candidatos da ultradireita neofacista nas eleições municipais.

"O demônio foi solto. As pessoas não tem mais vergonha de dizer que defende a tortura, que não gosta de pobre, de negro, de sindicalista", afirmou.

Como exemplo, sem citar os nomes, o presidente falou da postura de Pablo Marçal (PRTB) no primeiro turno em São Paulo e de André Fernandes (PL), que disputa o segundo turno em Fortaleza e virou celebridade após divulgar um vídeo em suas redes, quando atuava como influenciador digital, depilando o ânus.

"Se você souber, aquele candidato de São Paulo a prefeito [Marçal]... o candidato de Fortaleza [André Fernandes] eu nem vou dizer porque ele virou famoso. Você deve saber a história. Essa gente que acha que é engraçado e pode ofender todo mundo. Eles são contra o sistema. O sistema são eles. Eles são [o sistema] porque são filhos da elite. E fica aquela teoria da prosperidade, como se fosse mantra religioso, que pudesse ficar rico", disparou, em mais uma estratégia levada à campanha pela ultradireita para conquistar votos de evangélicos.

 

•        Preparem-se para a temporada de frustrações. Por Moisés Mendes

Quem esperou, com paciência e fé, pela etapa das denúncias do Ministério Público contra todos os que têm algum protagonismo ou figuração nos crimes do bolsonarismo e das facções conexas, incluindo o lavajatismo, precisa estar preparado para o que vem aí.

O que virá, é previsível, não atenderá a todas as demandas e expectativas contra todos os investigados. E o que teremos depois das denúncias, com as chicanas das defesas, pode ser exaustivo e frustrante. Será difícil enquadrar dezenas de manezões envolvidos em todo tipo de crime.

O certo é que começa a contar daqui a pouco, no começo de novembro, o tempo da Justiça, que será retomado depois de cumprida a obediência obsequiosa ao tempo da política.

Mas não esperem milagres, porque o tempo dos acusadores e dos julgadores estará contaminado pelo tempo dos que serão denunciados e julgados, principalmente os mais poderosos.

Os que estão nos inquéritos sem desfecho e podem finalmente virar réus não são manés. Manés já foram presos e condenados em menos de um ano. Esses outros, e que outros, são o que todo mundo sabe o que sempre foram.

Bolsonaro e os golpistas fardados e civis, os contrabandistas de joias, os vampiros das vacinas e os soldados e comandantes das milícias digitais são os mais conhecidos entre os que esperam alguma deliberação do Ministério Público, a partir da conclusão das investigações pela Polícia Federal.

Há mais gente, de dentro e de fora das pastas desses delitos mais famosos, que estão com inquéritos ainda dentro de gavetas. É uma lista com dezenas de nomes, de Carla Zambelli a Deltan Dallagnol, de Luciano Hang a Fabio Wajngarten, de Ricardo Salles a Filipe Martins, de Braga Netto a Anderson Torres.

Se fossem colocados um ao lado do outro, de mãos dadas, eles abraçariam um quarteirão. A maioria sob os cuidados de Alexandre de Moraes. Mas muitos outros, que também dependem de decisão do MP, mas não da PGR, que terão seus casos encaminhados à Justiça Comum.

Hibernam em gavetas os inquéritos dos bloqueadores de estradas, dos vampiros das vacinas, dos disseminadores dos milagres da cloroquina, dos sabotadores de torres de transmissão de energia.

É uma turma que não tem mais a predominância de patriotas anônimos, mesmo que alguns sejam coadjuvantes. Tem grandes financiadores, tem gente com o poder do dinheiro e que perdeu poder parte do político, mas mantém intacto o poderio econômico.

Os casos de todos eles, idealizadores e planejadores golpistas, membros e patrocinadores do gabinete do ódio, cloroquinistas e muambeiros, nos mantêm na expectativa de que podem dar em nada, ou podem, no máximo, resultar em alguma coisa só para os mais fracos.

Poderemos estar, daqui a alguns anos, nos espantando não mais com o fato de que Bolsonaro ainda não foi preso, mas com a possibilidade de ver a família e os amigos deles pedindo reparação pelas acusações que sofreram.

Enquanto isso, informam que a Polícia Federal deve concluir em novembro as investigações sobre a participação de Bolsonaro na tentativa de golpe. Logo depois, teremos recesso do Judiciário, posse dos prefeitos eleitos e avaliações sobre quem ganhou e perdeu mais na eleição.

Vai sair desse balanço a medida da força política de personagens que ainda estão vivos, meio moribundos ou já viraram zumbis políticos. Quem tiver provas categóricas de que ainda está forte pode se safar.

Como estão hoje e como estarão no ano que vem as imunidades de Braga Netto, de Augusto Heleno e dos subalternos sob investigação? Vai sobrar só para Anderson Torres e Silvinei Vasques? Qual será o primeiro lote de denunciados?

A travessia até a punição pode empurrar julgamentos para as vésperas da eleição de 2026, e aí tudo vai parar de novo, sob o pretexto de que nada na Justiça se decide nessas circunstâncias.

Com tantos vacilos e com o tempo correndo como aliado dos criminosos, é possível pensar que dificilmente um réu desses grupos ficará preso por 580 dias, como aconteceu com Lula. Se é que, além dos manés, alguém será preso.

 

•        Oposição teria que contar com a sorte para abrir impeachment de Moraes

O senador Rogério Marinho, do PL do Rio Grande do Norte, afirmou à coluna já ter os votos suficientes para instaurar um processo de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Marinho disse que hoje há 36 senadores favoráveis à abertura — o que não necessariamente significa ter os votos necessários.

A admissão do pedido de impeachment depende de maioria simples dos senadores presentes. Ou seja, para que o pedido fosse aceito, a oposição teria que contar com apenas 71 senadores presentes. Num cenário improvável, dez senadores teriam que se ausentar de uma votação dessa importância. Se, por alguma sorte, a oposição conseguisse isso, e esses 36 senadores se mantivessem dispostos a votar dessa maneira, Alexandre de Moraes seria afastado.

Moraes teria que responder ao processo fora do cargo e recebendo apenas dois terços do salário. Nesse período, teria espaço para aprofundar sua defesa. A sessão de julgamento seria presidida pelo presidente do Supremo Tribunal Federal.

 

Fonte: Fórum/Brasil 247/Metrópoles

 

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