sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Qual o limite do lobby israelense nos EUA para impunidade de ataques no Oriente Médio?

Com um rastro de cerca de 50 mil mortes em pouco mais de um ano somente na Faixa de Gaza e no Líbano, os ataques israelenses em países do Oriente Médio não cessam. Nem o aumento da pressão de organizações internacionais e potências ocidentais tem surtido efeito.

Somente nesta quarta-feira (16), o Exército de Israel bombardeou uma cidade ao sul do Líbano 11 vezes em minutos, matando dezenas de pessoas, inclusive o prefeito. Além disso, o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu tem feito ameaças constantes de ataques ao Irã.

Os ataques israelenses já deixaram mais de 43 mil mortos na Faixa de Gaza, entre eles 17 mil menores de idade, em pouco mais de um ano de ofensiva militar. Segundo o governo libanês, o saldo de mortes no país causadas por Israel em 2024 passa de 3 mil.

O apoio "incondicional" dos Estados Unidos às investidas israelenses no Oriente Médio, inclusive barrando reações mais fortes dentro da Organização das Nações Unidas (ONU), tem entre suas justificativas o forte lobby israelense que existe no país.

A Sputnik Brasil conversou com estudiosos em Oriente Médio e EUA para esmiuçar essa influência sionista no governo estadunidense e avaliar seus efeitos no contexto atual.

Coordenador do Núcleo de Estudos do Oriente Médio (NEOM), da Universidade Federal Fluminense (UFF), o professor Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto ressaltou que as instituições que exercem influência na política dos EUA para defender interesses de Israel são diversas e diluídas:

"Trata-se de uma espécie de nebulosa política, em que você vai ter o núcleo duro, em que você vai ter, aí sim, as instituições voltadas para avançar os interesses de Israel, e nas margens você vai ter pessoas na imprensa, na indústria social, cinematográfica, que procuram apresentar visões positivas de Israel", explicou.

Regularizada nos Estados Unidos desde 1946, a profissão de lobista, que exerce pressão política para defender interesses de determinados grupos, empresas e causas, mobiliza cerca de 11 mil pessoas no país, explicou Andrew Traumann, professor de relações internacionais no Centro Universitário Curitiba (UniCuritiba) e coordenador da pós-graduação em geopolítica da Ásia na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

O especialista destacou que um dos principais lobbies sionistas no país é o Comitê Americano-Israelense de Assuntos Públicos, mais conhecido como AIPAC, em inglês. Historicamente, frisou, os presidentes norte-americanos têm sido bastante receptivos a esse lobby tanto financeira quanto politicamente.

"Alguém que faça um comentário mais crítico a Israel já é tachado automaticamente de antissemita e basicamente tem sua carreira política destruída. Então o medo de ser chamado de antissemita e suas implicações faz com que muita gente acabe se calando", comentou ele.

James Onnig, analista internacional e professor de geopolítica do Laboratório de Pesquisa em Relações Internacionais das Faculdades de Campinas (Facamp), destacou que vivem nos EUA aproximadamente 6,5 milhões de judeus.

Onnig lembrou que o AIPAC foi criado depois que o governo dos EUA cortou a ajuda a Israel nos anos 1950 em razão de um ataque na Jordânia que matou dezenas de inocentes em uma vila. A entidade buscou então reverter a má impressão causada na opinião pública.

Atualmente a entidade é formada por advogados e especialistas em várias áreas, com orçamento anual de milhões de dólares para esse fim:

"Eles sabem influenciar os deputados, prometem votos, prometem apoio financeiro, apoio institucional, tudo que for necessário para transformar esse lobby em realidade."

Onnig citou ainda a organização Cristãos Unidos por Israel (CUFI, na sigla em inglês), que atua a favor do povo judeu baseando-se nas escrituras do Antigo Testamento que abordam a volta dos judeus à terra original.

Professor de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Bruno Huberman pontuou que o lobby tem funcionado nas últimas décadas para a construção de uma unanimidade entre os partidos Democrata e Republicano em torno dos objetivos israelenses de aprofundar a colonização dos territórios palestinos e enfrentar os seus inimigos na região, como o Irã.

Entretanto, há limitações para essa influência, defendeu ele:

"A política externa dos Estados Unidos é orientada por razões próprias, como energia, acesso a outros recursos naturais e uma hegemonia no Oriente Médio, que vai para além do que almeja o lobby israelense".

O comportamento de Benjamin Netanyahu está sendo um "turning point nessa história", frisou o professor da PUCPR:

"Está sendo realmente um momento no qual temos uma divisão, digamos assim, desse apoio a Israel, como há muito tempo nós não víamos nos Estados Unidos", disse ele, ao destacar que o apoio a Israel tem diminuído especialmente entre os mais jovens, pró-Palestina, nas universidades dos EUA.

<><> Eleições presidenciais norte-americanas

Os entrevistados são unânimes ao afirmar que o resultado das eleições para presidente dos EUA em novembro não deve alterar o atual apoio às ofensivas israelenses, uma vez que tanto a candidata Kamala Harris como Donald Trump já declararam não se opor aos interesses de Israel.

"A força do lobby pró-israelense é enorme, tanto que a gente vê na eleição presidencial agora os dois candidatos, tanto a Kamala Harris quanto o Donald Trump, cortejando o lobby pró-Israel, procurando mostrar qual seria o maior defensor dos interesses de Israel, o que é bastante interessante. O presidente dos Estados Unidos se compromete a defender o futuro, os interesses de outro país", disse o professor da UFF.

Os especialistas ouvidos também consideram que se Trump vencer, o apoio a Israel deve aumentar:

"Se Trump ganhar a eleição, teoricamente, ele é o candidato que menos vai mudar esse quadro, porque ele tem uma fidelidade canina a Israel. Os deputados do grupo trumpista são, todos eles, muito ligados ao lobby israelense", destacou Onnig.

Entretanto, Traumann defendeu que apenas a interrupção de venda de armas para Israel pode deter o apetite bélico de Netanyahu.

"Regionalmente, Israel aproveita este momento político de um certo vácuo ainda antes das eleições americanas para tentar limpar a região, segundo a visão israelense, das organizações que eles julgam como terroristas, que são basicamente o Hamas, ligado aos sunitas, e o Hezbollah, ligado aos xiitas", salientou Onnig.

Escalada de ataques pode acarretar em guerra generalizada

A expansão da guerra israelense para dentro do Líbano aumenta a possibilidade de uma guerra regional, de acordo com os entrevistados.

Traumman chamou a atenção para o fato de que Arábia Saudita, Emirados Árabes e Qatar já solicitaram aos EUA que detenham as investidas de Netanyahu contra o Irã.

A situação vivenciada na região não é inédita, ponderou Pinto, mas o aumento da capacidade bélica, tanto de Israel como dos outros países sinaliza um patamar mais perigoso que em conflitos anteriores:

"Você tem uma deterioração absurda da situação das populações civis, um genocídio sendo cometido em Gaza, crise humanitária absurda no Líbano, então a situação é muito mais letal e perigosa do que já foi anteriormente, principalmente para as populações civis que estão sofrendo a violência desenfreada militar por parte de Israel", opinou o especialista.

Pinto, no entanto, considerou pouco provável uma guerra direta entre Irã e Israel devido a uma suposta superioridade militar israelense, que possuiria bombas atômicas.

Já para o especialista da Facamp, o avanço sobre a Síria por Israel, que é uma área de influência russo-iraniana, e sobre o Irã pode ter consequências devastadoras:

"Infelizmente, estamos caminhando para uma guerra maior, se não for feito nada nas próximas semanas".

Para Onnig, os conflitos entre Israel e países da região, que ocorrem desde 1949, culminaram na atual tragédia graças à incorporação de vários territórios por Israel com apoio e aval da comunidade ocidental.

"Na segunda metade do século XX, o mundo virou as costas aos palestinos. E agora estamos assistindo toda essa situação fruto desse descaso [...] Acho que é um repeteco com uma intensidade um pouco mais grave do ponto de vista da inação. Do ponto de vista da paralisia do sistema ONU e das tantas dificuldades que nós teremos pela frente nos próximos anos", concluiu ele.

 

¨      Diante da guerra na Ucrânia e no Oriente Médio, os Estados Unidos parecem fracos ou não? Por Adam Tooze

“Nos três âmbitos – ChinaUcrânia e Oriente Médio –, os Estados Unidos argumentam que estão respondendo à agressão. Mas em vez de trabalhar constantemente para voltar ao status quo, estão, de fato, aumentando as apostas. Embora insistam em que apoiam a ordem baseada em regras, o que presenciamos é algo mais próximo de um renascimento da ruinosa ambição neoconservadora dos anos 1990 e 2000”, avalia Adam Tooze, professor de história e diretor do Instituto Europeu da Universidade Columbia.

·        Eis o artigo.

Escrever a história quando ela está acontecendo sempre traz riscos. No entanto, esta é uma exigência da urgência da situação. Precisamos de alguma explicação sobre o porquê os Estados Unidos não estão fazendo mais para acalmar a situação no Oriente Médio e pressionar em favor de negociações entre a Ucrânia e a Rússia.

Há uma escola de pensamento que diz que a administração Biden está fazendo o que pode. Não possui um grande plano. Falta-lhe a vontade e os meios para disciplinar ou dirigir os ucranianos e os israelenses. Como resultado, concentra-se antes de tudo em evitar uma terceira guerra mundial.

Se for isto, é um triste testemunho do declínio da ambição hegemônica estadunidense. Não causa estranheza que haja apelos nos Estados Unidos para que Washington desenvolva uma política externa “independente”, ou seja, independente da Ucrânia e de Israel.

No entanto, e se essa interpretação estiver sendo muito benigna? O que acontece caso se subestime a intencionalidade de Washington? O que acontece se figuras centrais da administração, na realidade, veem isto como um dos momentos que definem a história e uma oportunidade para remodelar o equilíbrio do poder mundial? O que acontece se o que estamos presenciando é uma guinada dos Estados Unidos para um revisionismo deliberado e global, por meio de uma estratégia de tensão?

Os poderes revisionistas são aqueles que querem anular o estado atual das coisas. Em um sentido amplo, também podem significar um desejo de alterar o fluxo dos acontecimentos. Por exemplo, redirecionar ou deter o processo de globalização. O revisionismo, muitas vezes, associa-se ao ressentimento ou à nostalgia de uma época passada e melhor.

O que nos separa desta interpretação da política externa de Joe Biden é a pura agressão da Rússia, desde fevereiro de 2022, e do Hamas, em 7 de outubro. O Ocidente, liderado pelos Estados Unidos, é geralmente visto como reativo, não proativo. Mas quando se coloca o foco não no processo, mas nos resultados da política estadunidense, uma interpretação diferente parece plausível.

Afinal, com Donald Trump, a exigência de fazer com que os Estados Unidos voltem a ser grande era literalmente revisionista. Não tinha interesse nas regras existentes do jogo. Jogou os acordos comerciais pela janela. Bofeteou a China com tarifas. “Os Estados Unidos primeiro” foi o mantra.

Em comparação com Trump, a equipe de Biden se orgulha de seu compromisso com uma ordem baseada em regras. Contudo, quando se trata da economia mundial e da ascensão da China, Biden tem sido tão agressivo, ou talvez mais, do que o seu antecessor.

Com Biden, Washington se comprometeu a reverter anos de declínio aparentemente provocados pelo excessivo tratamento favorável conferido à China. Os Estados Unidos tentaram deter o desenvolvimento tecnológico da China. Para isso, têm aliados fortemente armados, como os holandeses e os sul-coreanos. Quando a Organização Mundial do Comércio se atreveu a protestar contra as tarifas do aço dos Estados Unidos, a reação da Casa Branca foi de desprezo. Bidenomics é Maga para as pessoas pensantes.

Na região que agora é chamada de Indo-Pacífico, os Estados Unidos não se limitam a defender o status quo. A própria definição do cenário estratégico é nova. No Quad (Diálogo Quadrilateral de Segurança), Washington está efetivando uma nova rede de alianças que une a Índia, o Japão e a Austrália com os Estados Unidos. Se nada mais tivesse acontecido nos últimos dois anos, a conclusão seria óbvia. A política geoeconômica dos Estados Unidos em relação à China, sob Biden, é uma continuação do revisionismo esgrimido pela primeira vez sob Trump.

Por ter priorizado enfrentar a China, a Casa Branca buscou a distensão com a Rússia em 2021. Dois erros de cálculo de Vladimir Putin tornaram isto impossível. O primeiro foi presumir que o seu ataque à Ucrânia era uma bagatela. O segundo foi subestimar a vontade do Ocidente de usar indiretamente a Ucrânia contra a Rússia. Após dois anos de guerra, a posição do Ocidente endureceu a ponto de gerar o seu próprio revisionismo. Tanto em relação à Ucrânia quanto à Rússia, o status quo anterior não é mais aceitável.

No Oriente Médio, a situação é ainda mais clara. Lá também a administração Biden não buscava uma escalada. Os Acordos de Abraão de Trump entre os Emirados Árabes Unidos e Israel tinham aberto uma perspectiva promissora. Contudo, os laços crescentes da Rússia com o Irã e o envolvimento da China na região obscureceram o panorama. Uma vez que o Hamas lançou o seu ataque, em 7 de outubro, e uma vez que a determinação do governo israelense em colocar fim ao modus vivendi do Hamas e do Hezbollah se tornou patente, Washington deu sinal verde.

Os Estados Unidos estão pagando mais de 25% do ataque de Israel no qual aniquila fisicamente Gaza, vitimiza a Cisjordânia e se propõe destruir o Hezbollah. Alinharam com sua posição aliados como a Alemanha e o Reino Unido. Estão protegendo Netanyahu contra o alcance da justiça internacional.

É claro, diferente da Ucrânia, os Estados Unidos continuaram a sua diplomacia. Mas com que efeito? Em primeiro lugar, manter o Irã cercado e os poderosos estados do Golfo à margem. Enquanto isso, Israel está destruindo a rede de influência do Irã e aniquilando a visão dos anos 1990 de uma solução de dois estados.

Nos três âmbitos – China, Ucrânia e Oriente Médio –, os Estados Unidos argumentam que estão respondendo à agressão. Mas em vez de trabalhar constantemente para voltar ao status quo, estão, de fato, aumentando as apostas. Embora insistam em que apoiam a ordem baseada em regras, o que presenciamos é algo mais próximo de um renascimento da ruinosa ambição neoconservadora dos anos 1990 e 2000.

Em relação à China, a estratégia revisionista foi clara desde o início. Na Ucrânia e no Oriente Médio, Washington reagiu aos acontecimentos. Contudo, isso não é uma prova contra a sua intenção estratégica. Usar a agressão de seu inimigo, o desespero de seus amigos e a crueldade de seus aliados em seu próprio benefício é simplesmente uma política inteligente. Washington não foi totalmente imprudente. Biden resistiu aos chamados mais radicais de compromisso na Ucrânia. Retirou-se do Afeganistão e se recusou a colocar as botas estadunidenses no terreno. Em algum momento, a Casa Branca pode decidir que o cessar-fogo é necessário.

Acontecem mais coisas do que apenas um mero fazer o que se pode. Primeiro a presidência de Trump e depois a de Biden foram contribuições voluntárias para a demolição controlada da ordem global posterior à Guerra Fria dos anos 1990.

 

¨      Chanceler de Israel chama ataques do seu Exército a soldados da paz da ONU de erro

O bombardeio do Exército israelense às posições da Força Interina da ONU no Líbano (UNIFIL, na sigla em inglês) foi um "erro", e as Forças de Defesa de Israel (FDI) e o Ministério das Relações Exteriores do país estão negociando para evitar incidentes semelhantes, disse o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz.

O ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, afirmou durante uma entrevista que atacar a UNIFIL não era parte da política israelense.

"Foi um erro. Não é nossa política atacar a UNIFIL. Estamos atualmente trabalhando em uma solução para esse problema. As FDI estão negociando com a UNIFIL, e o Ministério das Relações Exteriores também está negociando uma solução para esse problema", disse Katz em uma entrevista na quarta-feira (16).

Katz observou que o principal problema é que o movimento libanês Hezbollah opera próximo às bases da UNIFIL.

"Eles estão fazendo isso porque querem que Israel aja contra a UNIFIL. No entanto, como a UNIFIL não quer deixar esses lugares, estamos trabalhando em uma solução para o problema", acrescentou Katz.

O ministro acredita que as ações militares no sul do Líbano vão continuar por mais algumas semanas.

"Nossos interesses não estão em uma solução política no Líbano, mas em nossa segurança e no retorno de nossos cidadãos a uma vida segura", disse ele.

A UNIFIL relatou repetidamente ataques às suas posições pelas FDI no sul do Líbano. Os militares israelenses supostamente atacaram os redutos da missão, incluindo duas bases italianas e a sede, e violaram a linha azul.

¨      Borrell: segurança na UE estará em risco se Israel atacar produção nuclear ou petrolífera do Irã

A situação da segurança europeia estará em perigo real se os ataques de retaliação entre Israel e o Irã afetarem as instalações nucleares e de produção de petróleo, disse nesta quarta-feira (16) o chefe da política externa da União Europeia (UE), Josep Borrell.

"A guerra começou com o ataque terrorista do Hamas seguido pelo ataque das FDI [Forças de Defesa de Israel], forças israelenses, contra Gaza e depois o Líbano. Agora retaliações […] entre o Irã e Israel poderiam atingir um certo nível envolvendo instalações nucleares, instalações de produção de petróleo talvez implantando tropas no terreno na guerra no Líbano. Em seguida a situação de segurança na Europa será realmente muito perigosa", disse Borrell durante um discurso na 4ª Conferência Europeia de Defesa e Segurança em Bruxelas.

Na quarta-feira (16), a mídia dos EUA informou, citando fontes, que Washington esperava que Israel realizasse um ataque de retaliação contra o Irã antes do dia da eleição nos EUA.

O Irã, em 1º de outubro, pela segunda vez na história, conduziu um ataque massivo de mísseis contra Israel, chamando-o de ato de autodefesa. Os militares israelenses afirmaram que foram disparados cerca de 180 mísseis balísticos, a maioria dos quais foi interceptada.

Os iranianos dizem que os mísseis atingiram alvos militares israelenses, já Israel afirma que o dano foi "mínimo". Tel Aviv prometeu retaliar e os EUA afirmaram que viriam em auxílio de seu principal aliado no Oriente Médio.

 

Fonte: Sputnik Brasil/Sin Permiso – Tradução do Cepat

 

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