sexta-feira, 18 de outubro de 2024

CONTRA A MERCANTILIZAÇÃO DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS

A educação superior, enquanto pilar fundamental para a construção de uma sociedade democrática e igualitária, enfrenta desafios sem precedentes em um mundo cada vez mais marcado pela mercantilização e pela ideologia neoliberal. As universidades, que deveriam ser espaços de promoção de diálogo crítico, reflexão e ação social, estão se transformando em arenas dominadas por interesses corporativos, onde o conhecimento é tratado como uma mercadoria. Neste cenário, torna-se urgente investir na formação política de professores e estudantes das universidades públicas, capacitando-os a confrontar e questionar as narrativas que buscam silenciar a dissidência e a crítica. Ao conectar a educação à responsabilidade social e à luta histórica por justiça e igualdade, podemos atualizar as ideias criticas para o século XXI e redefinir o papel das instituições de ensino, garantindo que cumpram sua função primordial: formar cidadãos críticos, conscientes e engajados na construção de um futuro mais justo.

Entretanto, ao invés de conter o crescimento da ideologia autoritária neoliberal, as instituições de ensino estão fazendo exatamente o contrário, agindo de forma conivente com a destruição da democracia e dentro da lógica de mercantilização do ensino superior. Como observa Chris Hedges, as universidades se tornaram “um playground para administradores corporativos”. A liderança universitária, guiada por uma ideologia gerencialista, acredita que produtividade e eficiência são as respostas para os problemas do ensino superior. Essa pedagogia neoliberal reduz a educação a um conjunto de competências técnicas, ofuscando sua dimensão ética e política. Em todo o mundo proliferam pedagogias de conformidade, silenciamento e abandono ético. As universidades são vistas como empresas, os alunos como clientes, e os professores como uma força de trabalho a ser explorada ou substituída para maximizar os lucros.

Pedagogias de repressão são justificadas por cortes financeiros, políticas de precariedade e apelos vazios à eficiência. Exemplos disso incluem a repressão às manifestações estudantis contra a guerra de Israel que vem ocorrendo nos Estados Unidos, no Canadá e na Europa. Financiados pelo mercado de capitais, os gestores universitários se alinham com figuras políticas de extrema direita e a grande mídia, desviando a narrativa do sofrimento e da morte infligidos aos palestinos em Gaza e justificando a repressão aos protestos dos estudantes com discurso de antissemitismo. Ao mesmo tempo, silenciam os próprios manifestantes judeus que defendem a paz na palestina. Quanto estão recebendo as universidades de financiamento ou doações da indústria bélica que lucra com a guerra?

Ao restringir a liberdade de expressão no campus universitário e acionar a polícia para controlar e promover a repressão de estudantes e professores que se manifestam exercendo seu direito à liberdade de expressão, se forja uma cultura de silenciamento e medo, alimentada pela violência. Sobre esses episódios recentes, Will Bunch denuncia que “enquanto uma nova geração de jovens protesta contra os ataques a mulheres e crianças em Gaza, administradores universitários, de Boston a Los Angeles, acionam a polícia militarizada para dispersar acampamentos de protesto nas universidades.”

Representantes das forças de extrema direita, como Donald Trump, ecoam essa visão autoritária, indicando sua disposição de usar força militar para reprimir a dissidência estudantil se for eleito nas eleições desse ano de 2024. Trump se referiu aos manifestantes que montam acampamentos em campi universitários como “lunáticos radicais de esquerda que devem ser derrotados, e precisam ser detidos agora”. Ironicamente, Trump descreveu as prisões em massa de estudantes da Universidade de Columbia pela polícia de Nova York como “uma coisa linda de assistir”, evidenciando uma visão mais ampla do policiamento como ferramenta de repressão. A democracia é desprezada e alguns líderes políticos clamam por regimes autoritários, em uma sociedade em que a diferença é temida e a igualdade é desvalorizada.

Mas como esses espaços de ensino sempre foram valorizados como locais de liberdade de expressão e pensamento crítico, onde aconteceram manifestações históricas que muitas vezes mudaram o mundo, provoca-se uma crise de identidade que leva à destruição da própria universidade. Essa postura repressiva sinaliza a morte da esfera pública democrática. Estamos, portanto, diante de uma nova forma de ditadura, disfarçada pela retórica financeira. As universidades de elite, mais preocupadas em satisfazer aos doadores extremamente ricos do que em servir à sociedade, não hesitam em reprimir a liberdade de expressão para garantir os interesses da indústria de guerra e lobistas sionistas. É assim que a extrema direita se une aos bilionários que defendem o silenciamento de protestos nos campi e efetivamente transformam o ensino superior em mais um dispositivo do Estado policial.

A intensificação de uma pedagogia de vigilância e punição tem se manifestado de muitos outros modos como já nos ensinou Foucault. A disciplina neoliberal transforma as escolas públicas em ambientes militarizados, muitas vezes similares às prisões, expandindo a ideologia elitista de criminalização da pobreza. O Estado carcerário se estende também à educação. Embora tenha havido considerável cobertura sobre os apelos dos estudantes por uma Palestina livre, houve pouca cobertura da situação de perseguição aos acadêmicos dissidentes. Como aponta Natasha Lennard, professores e pesquisadores em áreas como política, sociologia, literatura, saúde pública, estudos latino-americanos, estudos do Oriente Médio e África, foram demitidos, suspensos ou removidos da sala por expressar opinião contrária à guerra.

Enquanto nos Estados Unidos e Canadá testemunhamos uma repressão crescente nas universidades e uma adesão crescente ao autoritarismo neoliberal, no Brasil, a situação também apresenta desafios complexos. Embora a Constituição Federal estabeleça que a educação é um direito social e dever do Estado – com o objetivo de promover a formação humana, técnica e cidadã – observa-se uma tendência de reduzir essa concepção, limitando a educação ao componente da qualificação para o trabalho, negligenciando o objetivo de formar cidadãos conscientes e participativos que exerçam sua cidadania. Nesse sentido, é essencial resgatar os ensinamentos de Paulo Freire, que defende uma educação que promova a elevação do nível de consciência (da ingenuidade alienada à conscientização crítica) por meio do diálogo e da problematização da realidade social. Sua visão contrasta profundamente com a pedagogia neoliberal, que tende a reduzir a educação a um conjunto de competências técnicas de formação para o trabalho e a produtividade, negligenciando a dimensão ética e política da educação.

·        Políticas de inclusão e as transformações nas universidades públicas brasileiras

A mudança no perfil dos estudantes, promovida pelas políticas de cotas, reflete transformações sociais mais amplas e enriquece a experiência acadêmica.  As políticas de cotas implementadas nas universidades públicas brasileiras têm transformado significativamente o perfil do corpo discente. Antes das cotas, o acesso às universidades públicas era dominado por estudantes das classes sociais mais altas, resultando em um ambiente acadêmico elitista. Com a introdução dessas políticas de inclusão social, as universidades passaram a acolher um número maior de estudantes provenientes de grupos historicamente marginalizados, como pretos, pobres, indígenas e pessoas com deficiência. A chegada desse novo perfil de estudantes impactou profundamente a universidade com profunda transformação nas relações em sala de aula e no processo pedagógico. Essas transformações desafiam o status quo das universidades brasileiras, introduzindo uma nova dinâmica nas relações entre professores e alunos. O ambiente acadêmico se torna um espaço de maior diversidade e diálogo, onde o conhecimento precisa ser validado frente às demandas e necessidades sociais. Embora essa adaptação possa provocar desconforto, ela também representa uma oportunidade para enriquecer o processo educacional e tornar a universidade um verdadeiro espaço de inclusão e justiça social.

Professores que antes lidavam com uma composição mais homogênea de alunos agora enfrentam o desafio de adaptar suas práticas para atender às variadas necessidades dos estudantes. Esses alunos, muitas vezes provenientes de classes trabalhadoras, enfrentam dificuldades adicionais, como a falta de tempo para estudos devido ao trabalho e a carência de recursos acadêmicos e apoio emocional. Também questões interseccionais, como a luta pelo reconhecimento do nome social por estudantes trans, e a necessidade de um ensino que respeite a diversidade de gênero, classe, raça e etnia tornam-se cada vez mais urgentes. Adaptar as práticas pedagógicas para responder a essas novas necessidades é um desafio crucial, mas também uma chance de promover um ambiente universitário mais inclusivo e respeitoso.

Ao refletirmos sobre as transformações nas universidades públicas brasileiras, impulsionadas por políticas de inclusão, como as cotas, e pelo esforço contínuo em promover uma educação crítica e inclusiva, é inevitável reconhecer as profundas mudanças na dinâmica entre professores e estudantes. Nesse sentido, é vital entender os processos de governança, as estruturas disciplinares e a biopolítica que moldam as subjetividades dentro das universidades. A escolha de princípios éticos, estéticos e filosóficos claros é fundamental para uma formação humana integral. A utopia surge, então, como uma possibilidade de criar algo novo e viável, com a esperança servindo como um poderoso instrumento de luta e transformação. Essas mudanças revelam desafios estruturais e pedagógicos que afetam tanto os docentes quanto os alunos, exigindo uma constante adaptação das práticas educacionais e a valorização de uma formação integral. Nesse contexto, a prática docente é confrontada não apenas com a necessidade de abraçar novas metodologias e tecnologias, mas também de repensar sua função política no complexo ambiente universitário.

·        Educação como uma esfera pública democrática

Ao refletir sobre essas mudanças nas universidades brasileiras, e fazendo um paralelo com a crítica mais ampla às instituições de ensino superior no contexto global, especialmente nos Estados Unidos, é possível observar que há um desafio comum que é restaurar a educação como uma esfera pública democrática. Tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, as universidades estão sob pressão para ceder aos interesses corporativos e à pedagogia da conformidade, afastando-se de seu papel original de promover a cidadania crítica e o engajamento social.

A luta por um ensino superior que valorize a diversidade, a liberdade de expressão e o pensamento crítico é, portanto, uma questão global. Trata-se de uma resistência contra a transformação das universidades em instrumentos de autoritarismo e espaços que priorizam a conformidade e a obediência, em vez da dissidência e da reflexão crítica. Seja nas ruas de Gaza, nas salas de aula do Brasil, ou nos campi reprimidos dos Estados Unidos, os estudantes continuam a se levantar, defendendo uma visão de educação que inspire e energize a imaginação pública para construir uma sociedade mais justa e democrática.

Conforme artigo recente sobre a mercantilização como marca na formação dos pedagogos no Brasil,    as instituições privadas respondem por 78% das matrículas do ensino superior no Brasil.  De acordo com as autoras, o país tem testemunhado, desde a década de 1990, um crescimento substancial no número de matrículas no ensino superior público. As instituições públicas experimentaram um aumento de 259% nas matrículas, passando de 578.414 em 1990 para pouco mais de dois milhões em 2022. Ainda assim, somente cerca de 20% dos estudantes universitários tem acesso à educação pública. Embora haja um crescimento do setor público ele é insuficiente frente à importância da valorização da educação pública e da resistência frente às pressões neoliberais, fundamentais para assegurar que as universidades continuem a ser centros de conhecimento e de transformação social.

As universidades se posicionam como espaços essenciais para a formação crítica e a promoção de uma cidadania engajada. Mesmo diante de grandes desafios, essas instituições resistem, continuando a ser locais de construção de saberes que não se limitam à formação técnica, mas que promovem uma visão ampla e integrada de cidadania. A luta pela valorização das universidades públicas é crucial para garantir um futuro mais justo e inclusivo. Um dos principais desafios é implementar uma pedagogia crítica que integre aspectos técnicos e políticos, preparando cidadãos críticos e socialmente engajados. Essa pedagogia precisa promover a formação integral dos estudantes, assegurando que a educação pública continue a desempenhar seu papel transformador na sociedade.

·        Desafios no ambiente acadêmico

Entretanto, o ambiente institucional das universidades é marcado por dinâmicas e desafios complexos. Além das relações interpessoais com colegas e alunos, os professores enfrentam as fragilidades e potencialidades do trabalho docente. Esse trabalho exige um compromisso político, responsabilidade e credibilidade, que muitas vezes se confronta com a lógica de produtividade e gerencialismo característico do setor privado. Além disso, os campi universitários enfrentam problemas adicionais, como infraestrutura inadequada, falta de recursos tecnológicos e violência estrutural. Os docentes, muitas vezes, são pressionados a produzir mais, publicar e orientar mais, enfrentando uma sobrecarga de atividades com infraestrutura insuficiente e vínculos frágeis. Durante o governo Bolsonaro, práticas autoritárias reduziram a participação democrática nas instituições e intensificaram as dificuldades para o ensino superior público.

A precarização das condições de trabalho dos docentes é outro fator que merece atenção. As condições de trabalho dos professores, como infraestrutura inadequada e a sobrecarga de atividades, impactam diretamente a qualidade do ensino. Baixos salários, vínculos temporários e a falta de infraestrutura básica, como salas de aula adequadas e equipamentos tecnológicos, são problemas recorrentes nas universidades públicas brasileiras. Essa precarização afeta não apenas os professores, mas também os alunos, que frequentemente se deparam com um ambiente de ensino sem condições mínimas para uma formação de qualidade. Além disso, a violência nos campi universitários, especialmente aqueles localizados em áreas vulneráveis, é um desafio constante, contribuindo para a deterioração do ambiente acadêmico.

A docência universitária envolve muito mais do que simplesmente transmitir conteúdo; é necessário criar condições para que os alunos participem ativamente do processo de aprendizagem. Isso implica repensar a organização da sala de aula, as dinâmicas de trabalho e as relações entre professores e alunos. Não se trata apenas de adotar metodologias contemporâneas, mas de reavaliar o funcionamento da própria universidade, que muitas vezes ainda opera sob modelos antiquados e hierárquicos de ensino. Diante desses desafios, torna-se essencial promover um intercâmbio maior de experiências entre os professores e uma reflexão constante sobre o papel da educação na sociedade contemporânea. A universidade precisa renovar seus métodos e repensar suas práticas, sem perder de vista a necessária crítica política e a sua intencionalidade pedagógica.

Mesmo apesar das dificuldades estruturais, muitos professores têm conseguido criar espaços de troca e diálogo, nos quais os alunos participam ativamente do processo de aprendizagem. Essas experiências mostram que é possível construir uma educação mais dialógica e menos “bancária”, como propôs Paulo Freire, mesmo diante de muitos desafios. O professor pode atuar como um intelectual capaz de reproduzir ou reinventar a cultura dentro e fora da sala de aula. Embora muitos setores dentro das universidades desenvolvam práticas pedagógicas dinâmicas e ativas, essas iniciativas são minoria e acabam sendo invisibilizadas ou isoladas.

É, portanto, necessário criar espaços de intercâmbio entre os docentes, para que essas experiências possam ser compartilhadas e ampliadas. As transformações na educação não virão apenas de políticas governamentais ou de projetos externos, mas também de dentro das próprias instituições, através do diálogo entre professores e da valorização de suas experiências. O futuro da universidade pública depende de uma ação coletiva que integre ensino, pesquisa e extensão como partes indissociáveis de uma formação integral e crítica, alinhada às demandas sociais. Isso passa pela valorização do diálogo, da colaboração e da resistência frente às pressões neoliberais, que buscam transformar a educação em mais uma mercadoria. Este movimento deve ser sustentado por um compromisso coletivo para garantir que as vozes críticas não sejam silenciadas, mas sim celebradas como fundamentais para a saúde democrática da sociedade. O futuro da educação e a luta contra o autoritarismo neoliberal e em favor da justiça social dependem de nossa capacidade de resistir e questionar as narrativas dominantes, reafirmando a educação como um direito humano e dispositivo de transformação social.

·        Educação crítica e dialógica

A resistência às pressões neoliberais que tentam mercantilizar a educação deve ser acompanhada de um esforço coletivo para fortalecer a universidade pública como espaço de inovação pedagógica, diálogo plural e formação para a cidadania. O futuro depende da capacidade de professores, estudantes e da sociedade em geral de defender um ensino comprometido com a transformação social e a formação integral, preparando sujeitos para o mundo do trabalho e o exercício consciente de sua cidadania crítica. Tudo aponta enfim para a necessidade de uma mobilização social em defesa das universidades públicas e do papel do professor como um intelectual público na sociedade. A educação, mais do que nunca, precisa fortalecer estratégias de resistência contra a mercantilização da educação e sua lógica baseada no autoritarismo neoliberal.

A resiliência das instituições democráticas depende de uma mobilização coletiva que reafirme o compromisso com a diversidade de ideias, o pensamento livre e o debate sobre temas complexos. A história nos ensina que momentos de crise são também oportunidade para reimaginar e revitalizar a luta pela dignidade humana. Portanto, é essencial que os cidadãos, especialmente os jovens estudantes, continuem a desafiar as narrativas dominantes, a resistir à opressão e a se engajar em práticas de cidadania ativa. A proteção da democracia é uma jornada contínua que exige vigilância, solidariedade e coragem. A universidade pública enquanto espaço de conhecimento e transformação tem um papel central nesse processo. A educação dialógica proposta por Paulo Freire, que valoriza a conscientização política e a leitura crítica do mundo, volta a se fortalecer como um caminho necessário para superar pedagogias tecnicistas, promover uma formação integral e enfrentar os desafios éticos da sociedade contemporânea.

As manifestações estudantis exemplificam a coragem e a consciência moral necessárias em tempos de crise. Ao direcionar suas políticas para um futuro imaginado, onde a democracia está nas mãos do povo, sua resistência ao genocídio em Gaza demonstra o poder do pensamento crítico e da análise aprofundada. Estes protestos representam um chamado corajoso à resistência e uma reivindicação crucial por justiça. Nesta época sombria, a resistência estudantil emerge como uma força moral contra a tirania e o autoritarismo. Estudantes em todo o mundo estão se levantando para confrontar essa ameaça, demonstrando que, para falar sobre democracia, é necessário enfrentar o autoritarismo. Eles nos lembram que, para imaginar uma democracia real, é preciso despertar uma política emancipatória que inspire e energize a imaginação pública. Sua resistência é um chamado à justiça, demonstrando que, em tempos de crise, a verdadeira política é aquela que busca um futuro mais justo e democrático.

Em um momento em que a tirania lança uma sombra escura sobre o globo, o peso da consciência carrega tanto um fardo quanto o potencial de um despertar moral e político. Esta nova geração de estudantes, corajosos, exemplifica que, quando a responsabilidade social é guiada pelas demandas da moralidade, a política pode, de fato, desafiar a influência e o domínio autoritário emergente. Em tempos como estes, a consciência crítica emerge como uma força inabalável, instigando indivíduos a resistirem às crescentes marés de ultranacionalismo, racismo, violência estatal e militarismo. Ela incita a resistência contra a opressão de indivíduos e grupos que, em sua luta por liberdade, são frequentemente considerados descartáveis. É necessário reverter a lógica dos lucros corporativos, que se baseia na precarização do trabalho docente e na adoção de tecnologias de forma oportunista. Apesar dos inúmeros desafios enfrentados pela educação e pelos docentes no Brasil, há uma profunda esperança na capacidade transformadora do ensino público no nível superior.

Em suma, a luta pela valorização da educação pública e a formação crítica de professores e estudantes são essenciais para enfrentar as ameaças da mercantilização e do autoritarismo nas universidades. É imperativo que as instituições de ensino superior não apenas promovam a inclusão e a diversidade, mas também se comprometam com uma educação que forme cidadãos conscientes, engajados e capazes de desafiar as desigualdades sociais. Ao resgatar os princípios da educação crítica, inspirados por pensadores como Paulo Freire, e ao cultivar um ambiente de diálogo e reflexão, podemos transformar as universidades em espaços de resistência e emancipação. Para isso, é essencial investir na formação política de professores e estudantes das universidades públicas. Só assim, será possível recuperar a esperança e construir uma sociedade mais justa e democrática, onde a educação seja um instrumento vital para a liberdade, a transformação social e a criatividade humana.

A luta pelo fortalecimento das universidades como espaços de transformação social é uma tarefa coletiva. A formação de cidadãos críticos e engajados depende da capacidade de professores, estudantes e da sociedade em geral de defender uma educação comprometida com um futuro mais justo e democrático. Mesmo diante dos desafios, é possível vislumbrar um caminho em que a educação pública se reafirme como uma força vital para a emancipação humana e para a construção de uma sociedade mais inclusiva, participativa e consciente. A formação política de professores, técnicos administrativos e estudantes é, portanto, uma estratégia necessária e urgente para a consolidação de um Estado democrático que não transforme os direitos sociais (à educação, saúde e previdência) em mercadorias privadas. A defesa da universidade pública só fará sentido se ela for uma alternativa ao modelo privado neoliberal.

Educação não é mercadoria!

 

Fonte: Por Henry Armand Giroux e Gustavo de Oliveira Figueiredo, no Le Monde

 

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