CONTRA A MERCANTILIZAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
PÚBLICAS
A educação superior, enquanto pilar
fundamental para a construção de uma sociedade democrática e igualitária,
enfrenta desafios sem precedentes em um mundo cada vez mais marcado pela
mercantilização e pela ideologia neoliberal. As
universidades, que deveriam ser espaços de promoção de diálogo crítico,
reflexão e ação social, estão se transformando em arenas dominadas por
interesses corporativos, onde o conhecimento é tratado como uma mercadoria.
Neste cenário, torna-se urgente investir na formação política de professores e
estudantes das universidades públicas, capacitando-os a confrontar e questionar
as narrativas que buscam silenciar a dissidência e a crítica. Ao conectar a
educação à responsabilidade social e à luta histórica por justiça e igualdade,
podemos atualizar as ideias criticas para o século XXI e redefinir o papel das instituições de ensino, garantindo
que cumpram sua função primordial: formar cidadãos críticos, conscientes e
engajados na construção de um futuro mais justo.
Entretanto, ao invés
de conter o crescimento da ideologia autoritária neoliberal, as instituições de
ensino estão fazendo exatamente o contrário, agindo de forma conivente com a
destruição da democracia e dentro da lógica de mercantilização do ensino superior.
Como observa Chris Hedges, as universidades se
tornaram “um playground para administradores corporativos”. A liderança
universitária, guiada por uma ideologia gerencialista, acredita que
produtividade e eficiência são as respostas para os problemas do ensino
superior. Essa pedagogia neoliberal reduz a educação a um conjunto de
competências técnicas, ofuscando sua dimensão ética e política. Em todo o mundo
proliferam pedagogias de conformidade, silenciamento e abandono ético. As
universidades são vistas como empresas, os alunos como clientes, e os
professores como uma força de trabalho a ser explorada ou substituída para
maximizar os lucros.
Pedagogias de
repressão são justificadas por cortes financeiros, políticas de precariedade e
apelos vazios à eficiência. Exemplos disso incluem a repressão às manifestações
estudantis contra a guerra de Israel que vem ocorrendo nos Estados Unidos, no
Canadá e na Europa. Financiados pelo mercado de capitais, os gestores
universitários se alinham com figuras políticas de extrema direita e a grande
mídia, desviando a narrativa do sofrimento e da morte infligidos aos palestinos
em Gaza e justificando a repressão aos protestos dos estudantes com discurso de
antissemitismo. Ao mesmo tempo, silenciam os próprios manifestantes judeus que
defendem a paz na palestina. Quanto estão recebendo as universidades de
financiamento ou doações da indústria bélica que lucra com a guerra?
Ao restringir a
liberdade de expressão no campus universitário e acionar a polícia para
controlar e promover a repressão de estudantes e professores que se manifestam
exercendo seu direito à liberdade de expressão, se forja uma cultura de
silenciamento e medo, alimentada pela violência. Sobre esses episódios
recentes, Will Bunch denuncia que
“enquanto uma nova geração de jovens protesta contra os ataques a mulheres e
crianças em Gaza, administradores universitários, de Boston a Los Angeles,
acionam a polícia militarizada para dispersar acampamentos de protesto nas
universidades.”
Representantes das
forças de extrema direita, como Donald Trump, ecoam essa visão autoritária,
indicando sua disposição de usar força militar para reprimir a dissidência
estudantil se for eleito nas eleições desse ano de 2024. Trump se referiu aos
manifestantes que montam acampamentos em campi universitários como “lunáticos
radicais de esquerda que devem ser derrotados, e precisam ser detidos agora”.
Ironicamente, Trump descreveu as prisões em massa de estudantes da Universidade
de Columbia pela polícia de Nova York como “uma coisa linda de assistir”,
evidenciando uma visão mais ampla do policiamento como ferramenta de repressão. A democracia é desprezada e
alguns líderes políticos clamam por regimes autoritários, em uma sociedade em
que a diferença é temida e a igualdade é desvalorizada.
Mas como esses espaços
de ensino sempre foram valorizados como locais de liberdade de expressão e
pensamento crítico, onde aconteceram manifestações históricas que muitas vezes
mudaram o mundo, provoca-se uma crise de identidade que leva à destruição da própria
universidade. Essa postura repressiva sinaliza a morte da esfera pública
democrática. Estamos, portanto, diante de uma nova forma de ditadura,
disfarçada pela retórica financeira. As universidades de elite, mais
preocupadas em satisfazer aos doadores extremamente ricos do que em servir à
sociedade, não hesitam em reprimir a liberdade de expressão para garantir os
interesses da indústria de guerra e lobistas sionistas. É assim que a extrema
direita se une aos bilionários que defendem o silenciamento de protestos nos
campi e efetivamente transformam o ensino superior em mais um dispositivo
do Estado policial.
A intensificação de
uma pedagogia de vigilância e punição tem se manifestado de muitos outros modos
como já nos ensinou Foucault. A disciplina neoliberal transforma as escolas
públicas em ambientes militarizados, muitas vezes similares às prisões, expandindo
a ideologia elitista de criminalização da pobreza. O Estado carcerário se
estende também à educação. Embora tenha havido considerável cobertura sobre os
apelos dos estudantes por uma Palestina livre, houve pouca cobertura da
situação de perseguição aos acadêmicos dissidentes. Como aponta Natasha Lennard,
professores e pesquisadores em áreas como política, sociologia, literatura,
saúde pública, estudos latino-americanos, estudos do Oriente Médio e África,
foram demitidos, suspensos ou removidos da sala por expressar opinião contrária
à guerra.
Enquanto nos Estados
Unidos e Canadá testemunhamos uma repressão crescente nas universidades e uma
adesão crescente ao autoritarismo neoliberal, no Brasil, a situação também
apresenta desafios complexos. Embora a Constituição Federal estabeleça que a
educação é um direito social e dever do Estado – com o objetivo de promover a
formação humana, técnica e cidadã – observa-se uma tendência de reduzir essa
concepção, limitando a educação ao componente da qualificação para o trabalho,
negligenciando o objetivo de formar cidadãos conscientes e participativos que
exerçam sua cidadania. Nesse sentido, é essencial resgatar os ensinamentos
de Paulo Freire, que defende uma
educação que promova a elevação do nível de consciência (da ingenuidade
alienada à conscientização crítica) por meio do diálogo e da problematização da
realidade social. Sua visão contrasta profundamente com a pedagogia neoliberal,
que tende a reduzir a educação a um conjunto de competências técnicas de
formação para o trabalho e a produtividade, negligenciando a dimensão ética e
política da educação.
·
Políticas de inclusão
e as transformações nas universidades públicas brasileiras
A mudança no perfil
dos estudantes, promovida pelas políticas de cotas, reflete
transformações sociais mais amplas e enriquece a experiência acadêmica.
As políticas de cotas implementadas nas universidades públicas brasileiras têm
transformado significativamente o perfil do corpo discente. Antes das cotas, o
acesso às universidades públicas era dominado por estudantes das classes
sociais mais altas, resultando em um ambiente acadêmico elitista. Com a
introdução dessas políticas de inclusão social, as universidades passaram a
acolher um número maior de estudantes provenientes de grupos historicamente
marginalizados, como pretos, pobres, indígenas e pessoas com deficiência. A
chegada desse novo perfil de estudantes impactou profundamente a universidade
com profunda transformação nas relações em sala de aula e no processo pedagógico.
Essas transformações desafiam o status quo das universidades brasileiras,
introduzindo uma nova dinâmica nas relações entre professores e alunos. O
ambiente acadêmico se torna um espaço de maior diversidade e diálogo, onde o
conhecimento precisa ser validado frente às demandas e necessidades sociais.
Embora essa adaptação possa provocar desconforto, ela também representa uma
oportunidade para enriquecer o processo educacional e tornar a universidade um
verdadeiro espaço de inclusão e justiça social.
Professores que antes
lidavam com uma composição mais homogênea de alunos agora enfrentam o desafio
de adaptar suas práticas para atender às variadas necessidades dos estudantes.
Esses alunos, muitas vezes provenientes de classes trabalhadoras, enfrentam
dificuldades adicionais, como a falta de tempo para estudos devido ao trabalho
e a carência de recursos acadêmicos e apoio emocional. Também questões
interseccionais, como a luta pelo reconhecimento do nome social por estudantes
trans, e a necessidade de um ensino que respeite a diversidade de gênero,
classe, raça e etnia tornam-se cada vez mais urgentes. Adaptar as práticas
pedagógicas para responder a essas novas necessidades é um desafio crucial, mas
também uma chance de promover um ambiente universitário mais inclusivo e
respeitoso.
Ao refletirmos sobre
as transformações nas universidades públicas brasileiras, impulsionadas por
políticas de inclusão, como as cotas, e pelo esforço contínuo em promover uma
educação crítica e inclusiva, é inevitável reconhecer as profundas mudanças na dinâmica
entre professores e estudantes. Nesse sentido, é vital entender os processos de
governança, as estruturas disciplinares e a biopolítica que moldam as
subjetividades dentro das universidades. A escolha de princípios éticos,
estéticos e filosóficos claros é fundamental para uma formação humana integral.
A utopia surge, então, como uma possibilidade de criar algo novo e viável, com
a esperança servindo como um poderoso instrumento de luta e transformação.
Essas mudanças revelam desafios estruturais e pedagógicos que afetam tanto os
docentes quanto os alunos, exigindo uma constante adaptação das práticas
educacionais e a valorização de uma formação integral. Nesse contexto, a
prática docente é confrontada não apenas com a necessidade de abraçar novas metodologias
e tecnologias, mas também de repensar sua função política no complexo ambiente
universitário.
·
Educação como uma
esfera pública democrática
Ao refletir sobre
essas mudanças nas universidades brasileiras, e fazendo um paralelo com a
crítica mais ampla às instituições de ensino superior no contexto global,
especialmente nos Estados Unidos, é possível observar que há um desafio comum
que é restaurar a educação como uma esfera pública democrática. Tanto no Brasil
quanto nos Estados Unidos, as universidades estão sob pressão para ceder aos
interesses corporativos e à pedagogia da conformidade, afastando-se de seu
papel original de promover a cidadania crítica e o engajamento social.
A luta por um ensino
superior que valorize a diversidade, a liberdade de expressão e o pensamento
crítico é, portanto, uma questão global. Trata-se de uma resistência contra a
transformação das universidades em instrumentos de autoritarismo e espaços que
priorizam a conformidade e a obediência, em vez da dissidência e da reflexão
crítica. Seja nas ruas de Gaza, nas salas de aula do Brasil, ou nos campi
reprimidos dos Estados Unidos, os estudantes continuam a se levantar,
defendendo uma visão de educação que inspire e energize a imaginação pública
para construir uma sociedade mais justa e democrática.
Conforme artigo
recente sobre a mercantilização como marca na formação dos pedagogos no
Brasil, as instituições privadas
respondem por 78% das matrículas do ensino superior no Brasil. De acordo
com as autoras, o país tem testemunhado, desde a década de 1990, um crescimento
substancial no número de matrículas no ensino superior público. As instituições
públicas experimentaram um aumento de 259% nas matrículas, passando de 578.414
em 1990 para pouco mais de dois milhões em 2022. Ainda assim, somente cerca de
20% dos estudantes universitários tem acesso à educação pública. Embora haja um
crescimento do setor público ele é insuficiente frente à importância da
valorização da educação pública e da resistência frente às pressões
neoliberais, fundamentais para assegurar que as universidades continuem a ser
centros de conhecimento e de transformação social.
As universidades se
posicionam como espaços essenciais para a formação crítica e a promoção de uma
cidadania engajada. Mesmo diante de grandes desafios, essas instituições
resistem, continuando a ser locais de construção de saberes que não se limitam
à formação técnica, mas que promovem uma visão ampla e integrada de cidadania.
A luta pela valorização das universidades públicas é crucial para garantir um
futuro mais justo e inclusivo. Um dos principais desafios é implementar uma
pedagogia crítica que integre aspectos técnicos e políticos, preparando
cidadãos críticos e socialmente engajados. Essa pedagogia precisa promover a
formação integral dos estudantes, assegurando que a educação pública continue a
desempenhar seu papel transformador na sociedade.
·
Desafios no ambiente
acadêmico
Entretanto, o ambiente
institucional das universidades é marcado por dinâmicas e desafios complexos.
Além das relações interpessoais com colegas e alunos, os professores enfrentam
as fragilidades e potencialidades do trabalho docente. Esse trabalho exige um
compromisso político, responsabilidade e credibilidade, que muitas vezes se
confronta com a lógica de produtividade e gerencialismo característico do setor
privado. Além disso, os campi universitários enfrentam problemas adicionais,
como infraestrutura inadequada, falta de recursos tecnológicos e violência
estrutural. Os docentes, muitas vezes, são pressionados a produzir mais,
publicar e orientar mais, enfrentando uma sobrecarga de atividades com
infraestrutura insuficiente e vínculos frágeis. Durante o governo
Bolsonaro, práticas autoritárias reduziram a participação democrática nas
instituições e intensificaram as dificuldades para
o ensino superior público.
A precarização
das condições de trabalho dos docentes é outro fator que merece atenção. As condições de trabalho
dos professores, como infraestrutura inadequada e a sobrecarga de atividades,
impactam diretamente a qualidade do ensino. Baixos salários, vínculos
temporários e a falta de infraestrutura básica, como salas de aula adequadas e
equipamentos tecnológicos, são problemas recorrentes nas universidades públicas
brasileiras. Essa precarização afeta não apenas os professores, mas também os
alunos, que frequentemente se deparam com um ambiente de ensino sem condições
mínimas para uma formação de qualidade. Além disso, a violência nos campi
universitários, especialmente aqueles localizados em áreas vulneráveis, é um
desafio constante, contribuindo para a deterioração do ambiente acadêmico.
A docência
universitária envolve muito mais do que simplesmente transmitir conteúdo; é
necessário criar condições para que os alunos participem ativamente do processo
de aprendizagem. Isso implica repensar a organização da sala de aula, as
dinâmicas de trabalho e as relações entre professores e alunos. Não se trata
apenas de adotar metodologias contemporâneas, mas de reavaliar o funcionamento
da própria universidade, que muitas vezes ainda opera sob modelos antiquados e
hierárquicos de ensino. Diante desses desafios, torna-se essencial promover um
intercâmbio maior de experiências entre os professores e uma reflexão constante
sobre o papel da educação na sociedade contemporânea. A universidade precisa
renovar seus métodos e repensar suas práticas, sem perder de vista a necessária
crítica política e a sua intencionalidade pedagógica.
Mesmo apesar das
dificuldades estruturais, muitos professores têm conseguido criar espaços de
troca e diálogo, nos quais os alunos participam ativamente do processo de
aprendizagem. Essas experiências mostram que é possível construir uma educação
mais dialógica e menos “bancária”, como propôs Paulo Freire, mesmo diante de
muitos desafios. O professor pode atuar como um intelectual capaz de reproduzir
ou reinventar a cultura dentro e fora da sala de aula. Embora muitos setores
dentro das universidades desenvolvam práticas pedagógicas dinâmicas e ativas,
essas iniciativas são minoria e acabam sendo invisibilizadas ou isoladas.
É, portanto,
necessário criar espaços de intercâmbio entre os docentes, para que essas
experiências possam ser compartilhadas e ampliadas. As transformações na
educação não virão apenas de políticas governamentais ou de projetos externos,
mas também de dentro das próprias instituições, através do diálogo entre
professores e da valorização de suas experiências. O futuro da universidade
pública depende de uma ação coletiva que integre ensino, pesquisa e extensão
como partes indissociáveis de uma formação integral e crítica, alinhada às
demandas sociais. Isso passa pela valorização do diálogo, da colaboração e da
resistência frente às pressões neoliberais, que buscam transformar a educação
em mais uma mercadoria. Este movimento deve ser sustentado por um compromisso
coletivo para garantir que as vozes críticas não sejam silenciadas, mas sim
celebradas como fundamentais para a saúde democrática da sociedade. O futuro da
educação e a luta contra o autoritarismo neoliberal e em favor da justiça
social dependem de nossa capacidade de resistir e questionar as narrativas
dominantes, reafirmando a educação como um direito humano e dispositivo de
transformação social.
·
Educação crítica e
dialógica
A resistência às
pressões neoliberais que tentam mercantilizar a educação deve ser acompanhada
de um esforço coletivo para fortalecer a universidade pública como espaço de
inovação pedagógica, diálogo plural e formação para a cidadania. O futuro
depende da capacidade de professores, estudantes e da sociedade em geral de
defender um ensino comprometido com a transformação social e a formação
integral, preparando sujeitos para o mundo do trabalho e o exercício consciente
de sua cidadania crítica. Tudo aponta enfim para a necessidade de uma
mobilização social em defesa das universidades públicas e do papel do professor
como um intelectual público na sociedade. A educação, mais do que nunca,
precisa fortalecer estratégias de resistência contra a mercantilização da
educação e sua lógica baseada no autoritarismo neoliberal.
A resiliência das
instituições democráticas depende de uma mobilização coletiva que reafirme o
compromisso com a diversidade de ideias, o pensamento livre e o debate sobre
temas complexos. A história nos ensina que momentos de crise são também
oportunidade para reimaginar e revitalizar a luta pela dignidade humana.
Portanto, é essencial que os cidadãos, especialmente os jovens estudantes,
continuem a desafiar as narrativas dominantes, a resistir à opressão e a se
engajar em práticas de cidadania ativa. A proteção da democracia é uma jornada
contínua que exige vigilância, solidariedade e coragem. A universidade pública
enquanto espaço de conhecimento e transformação tem um papel central nesse
processo. A educação dialógica proposta por Paulo Freire, que valoriza a
conscientização política e a leitura crítica do mundo, volta a se fortalecer
como um caminho necessário para superar pedagogias tecnicistas, promover uma
formação integral e enfrentar os desafios éticos da sociedade contemporânea.
As manifestações
estudantis exemplificam a coragem e a consciência moral necessárias em tempos
de crise. Ao direcionar suas políticas para um futuro imaginado, onde a
democracia está nas mãos do povo, sua resistência ao genocídio em Gaza
demonstra o poder do pensamento crítico e da análise aprofundada. Estes
protestos representam um chamado corajoso à resistência e uma reivindicação
crucial por justiça. Nesta época sombria, a resistência estudantil emerge como
uma força moral contra a tirania e o autoritarismo. Estudantes em todo o mundo
estão se levantando para confrontar essa ameaça, demonstrando que, para falar
sobre democracia, é necessário enfrentar o autoritarismo. Eles nos lembram que,
para imaginar uma democracia real, é preciso despertar uma política
emancipatória que inspire e energize a imaginação pública. Sua resistência é um
chamado à justiça, demonstrando que, em tempos de crise, a verdadeira política
é aquela que busca um futuro mais justo e democrático.
Em um momento em que a
tirania lança uma sombra escura sobre o globo, o peso da consciência carrega
tanto um fardo quanto o potencial de um despertar moral e político. Esta nova
geração de estudantes, corajosos, exemplifica que, quando a responsabilidade
social é guiada pelas demandas da moralidade, a política pode, de fato,
desafiar a influência e o domínio autoritário emergente. Em tempos como estes,
a consciência crítica emerge como uma força inabalável, instigando indivíduos a
resistirem às crescentes marés de ultranacionalismo, racismo, violência estatal
e militarismo. Ela incita a resistência contra a opressão de indivíduos e
grupos que, em sua luta por liberdade, são frequentemente considerados
descartáveis. É necessário reverter a lógica dos lucros corporativos, que se
baseia na precarização do trabalho docente e na adoção de tecnologias de forma
oportunista. Apesar dos inúmeros desafios enfrentados pela educação e pelos
docentes no Brasil, há uma profunda esperança na capacidade transformadora do
ensino público no nível superior.
Em suma, a luta pela valorização da educação pública e a
formação crítica de professores e estudantes são essenciais para enfrentar as
ameaças da mercantilização e do autoritarismo nas universidades. É imperativo que as instituições de ensino superior não
apenas promovam a inclusão e a diversidade, mas também se comprometam com uma
educação que forme cidadãos conscientes, engajados e capazes de desafiar as
desigualdades sociais. Ao resgatar os princípios da educação crítica,
inspirados por pensadores como Paulo Freire, e ao cultivar um ambiente de
diálogo e reflexão, podemos transformar as universidades em espaços de
resistência e emancipação. Para isso, é essencial investir na formação política
de professores e estudantes das universidades públicas. Só assim, será
possível recuperar a esperança e
construir uma sociedade mais justa e democrática, onde a educação seja um
instrumento vital para a liberdade, a transformação social e a criatividade
humana.
A luta pelo
fortalecimento das universidades como espaços de transformação social é uma
tarefa coletiva. A formação de cidadãos críticos e engajados depende da
capacidade de professores, estudantes e da sociedade em geral de defender uma
educação comprometida com um futuro mais justo e democrático. Mesmo diante dos
desafios, é possível vislumbrar um caminho em que a educação pública se
reafirme como uma força vital para a emancipação humana e para a construção de
uma sociedade mais inclusiva, participativa e consciente. A formação
política de professores, técnicos
administrativos e estudantes é, portanto, uma estratégia necessária e urgente
para a consolidação de um Estado democrático que não transforme os direitos
sociais (à educação, saúde e previdência) em mercadorias privadas. A defesa da
universidade pública só fará sentido se ela for uma alternativa ao modelo
privado neoliberal.
Educação não é
mercadoria!
Fonte: Por Henry
Armand Giroux e Gustavo de Oliveira Figueiredo, no Le Monde
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