terça-feira, 22 de outubro de 2024

Por que alergias alimentares estão cada vez mais comuns

Leite, ovos, amendoim, trigo: muita gente entra em pânico só de olhar para esses alimentos, já que, para essas pessoas, o consumo deles pode até ser fatal. Muitos também são alérgicos a avelãs, soja e crustáceos, entre outros. E esse número está crescendo.

De acordo com um estudo recente do Imperial College de Londres, o número estimado de novos casos de alergias alimentares no Reino Unido dobrou em dez anos: de 76 casos por 100 mil pessoas em 2008 para 160 casos por 100 mil  pessoas em 2018, o que significa que cerca de 1,1% da população do Reino Unido é alérgica a algum alimento.

Entretanto, esse não é um problema exclusivamente britânico. De acordo com uma análise publicada em 2023, 8% das crianças e 10% da população adulta em todo o mundo sofrem de alergias alimentares. A maioria das pessoas afetadas vive em países e cidades industrializadas.

<><> O que é uma alergia?

No caso de uma alergia, o sistema imunológico reage de forma inadequada a uma substância que normalmente é inofensiva. Essa reação imunológica pode se manifestar na forma de erupções cutâneas, inchaço, náusea, febre ou asma.

Às vezes, a reação imunológica desencadeada é tão forte que pode levar a um choque anafilático e, portanto, a um colapso circulatório com risco de vida. De acordo com uma análise publicada em 2021 no Journal of Allergy and Clinical Immunology, nozes, leite de vaca e crustáceos são os desencadeadores mais comuns de anafilaxia em todo o mundo.

Em vista do perigo potencial à vida representado pelas alergias alimentares, os pesquisadores consideram os números crescentes alarmantes. Um agravante, segundo o estudo britânico, é que pessoas em áreas mais pobres têm potencialmente menos acesso a medicamentos de emergência que salvam vidas.

<><> Como se desenvolve uma alergia alimentar?

A predisposição genética desempenha um papel importante no desenvolvimento de alergias alimentares. Filhos de pais com alergias têm um risco maior de se tornarem alérgicos. No entanto, os pesquisadores acreditam que a genética não é a resposta para tudo.

O número de alergias em ambientes urbanos e industrializados é maior do que em ambientes rurais e mais naturais. Por essa razão, uma das causas das alergias alimentares pode ser encontrada em nosso estilo de vida, diz Margitta Worm, professora de imunomodulação em doenças alérgicas do hospital Charité, em Berlim. "Vivemos em um ambiente com baixa contaminação microbiana", explica.

O que inicialmente parece ser uma boa notícia é, na verdade, um problema. Isso porque os micróbios influenciam as chamadas células T, que possuem muitos subgrupos diferentes.

"As chamadas células T auxiliares desempenham um papel decisivo nas alergias", explica Worm. São elas que desencadeiam a resposta imunológica excessiva no caso de uma alergia.

"Os micróbios promovem a formação de células T em uma direção que neutraliza a alergia." E eles não são apenas mais comuns em fazendas do que na cidade, como também são mais encontrados em alimentos frescos do que em ultraprocessados.

Portanto, os pesquisadores acreditam firmemente que o microbioma intestinal desempenha um papel decisivo no desenvolvimento de alergias alimentares. Em outras palavras: uma dieta pobre não é apenas a causa de muitas doenças, mas também uma possível porta de entrada para as alergias.

<><> Como podemos evitar alergias alimentares?

"A maneira mais segura é evitar o alimento em questão", diz Worm. "Mas há pessoas que são alérgicas a um farelo de amendoim, por exemplo". Nesses casos, elas devem ter sempre um kit de emergência com adrenalina, que desobstrui as vias aéreas no caso de uma reação alérgica e estabiliza a circulação, combatendo assim o choque anafilático.

Durante muito tempo, os médicos aconselhavam as mulheres grávidas a evitar alérgenos, como o amendoim, e também a mantê-los longe de crianças pequenas. "Mas estudos mostraram que evitar aumenta o risco de alergias." As mulheres grávidas podem reduzir o risco de alergias dos filhos os amamentando e comendo o máximo possível de alimentos frescos e menos processados.

Uma dieta saudável desde cedo também pode reduzir o risco de alergias.

Se, apesar de todos os esforços, surgir uma alergia alimentar, as opções de tratamento ainda são limitadas.

<><> As alergias alimentares podem ser tratadas?

Durante muito tempo, houve pouco progresso no desenvolvimento de medicamentos eficazes para alergias alimentares, diz Worm. Entre outras coisas, os fabricantes têm se esquivado dos riscos associados aos testes clínicos em pacientes para verificar a eficácia de um medicamento.

A imunoterapia, como a usada para a febre do feno(também conhecida como rinite alérgica sazonal), só está disponível para alergias a amendoim, informa Worm. Isso envolve a exposição gradual das pessoas afetadas a doses cada vez mais altas do alérgeno para aumentar a tolerância do sistema imunológico. De acordo com Worm, a terapia só é aprovada para jovens entre quatro e 18 anos de idade.

Nos EUA, o medicamento de anticorpos Xolair também foi aprovado para o tratamento de todos os tipos de alergias alimentares desde o início de 2024. Esse medicamento se liga ao anticorpo do tipo imunoglobina E (IgE), que desencadeia a reação alérgica, e o enfraquece. O risco de reações alérgicas graves é reduzido. Entretanto, esse medicamento também não cura em definitivo a alergia alimentar.

 

•        Leite vegetal é opção mais saudável que o de vaca?

Com 75% da população global sendo intolerante à lactose e as preocupações com o meio ambiente em alta, os leites à base de plantas surgiram como uma alternativa viável aos produtos lácteos nos últimos anos. É um setor global de 20 bilhões de dólares (R$ 113,3 bilhões), com vendas que devem dobrar na próxima década.

As alternativas vegetais, constituem o maior segmento do mercado à base de plantas nos EUA, com vendas de 2,9 bilhões de dólares (R$ 16,4 bilhões) no ano passado. As bebidas à base de plantas representaram cerca de 15% do total das vendas de leite nos EUA, e quase metade dos lares do país comprou leite à base de plantas em 2023.

No entanto, em um estudo recente com 219 tipos de leites vegetais, cientistas do Centro de Coordenação de Nutrição da Universidade de Minnesota descobriram que eles oferecem menos benefícios nutricionais do que o leite de vaca. Incluindo menos cálcio e vitamina D.

<><> Pegadas de carbono diferentes

Como a criação de gado está ligada ao desmatamento e às emissões de metano, o consumo de produtos lácteos também tem implicações ambientais e climáticas.

A média das emissões de gases de efeito estufa por litro associadas aos leites de soja, aveia, amêndoa, espelta, ervilha e coco é de 62% a 78% menor do que a do leite de vaca, segundo os autores de um estudo intitulado Dairy and Plant-Based Milks: Implications for Nutrition and Planetary Health (Leites de origem vegetal e lácteos: implicações para a nutrição e a saúde planetária).

<><> Qual o melhor para o planeta e a saúde?

"É um pouco difícil responder à pergunta sobre qual é o melhor", reconhece Brent Kim, pesquisador do Johns Hopkins Center for a Livable Future e um dos autores do estudo.

"Estamos nos referindo ao menor impacto na mudança climática? Falamos do leite mais nutritivo, o leite mais acessível ou talvez estejamos mais preocupados com a quantidade de água usada para produzir esse leite? Ou talvez com a quantidade de terras agrícolas que tiveram de ser ocupadas para produzir esse leite?" 

O que está claro é que os alimentos à base de vegetais têm uma pegada de carbono muito menor, e isso não se refere apenas ao CO2.

Kim diz que, embora a embalagem e o transporte sejam responsáveis por algumas dessas emissões, grande parte dos gases de efeito estufa já é gerada antes de as plantações saírem da fazenda.

<><> Compensações ambientais

Há diferentes compensações ambientais quando se trata de leites vegetais. Embora o leite de amêndoas esteja próximo ao leite de vaca no que diz respeito às emissões de gases de efeito estufa, a situação não é tão boa se levarmos em conta sua pegada hídrica. O leite de amêndoas é o leite vegetal mais vendido nos EUA, respondendo por três quartos das vendas totais.

Kim afirma que uma das melhores opções seria o leite feito de proteína de ervilha, por emitir menos gases de efeito estufa e ter bons níveis de proteína.

"E se estivermos preocupados com o uso de água, preocupação que devemos ter, o leite de ervilha tem uma dos menores consumos de água de todos os leites”, ressalta, acrescentando que o leite de soja também preenche todos esses requisitos. Embora alguns estudos tenham mostrado que a soja tem um impacto climático ligeiramente maior em comparação com a ervilha. Ele frisa que foram feitos mais estudos sobre o leite de soja, mas o veredicto ainda não foi dado. E o leite feito de proteína de ervilha ainda não está amplamente disponível.

<><> Então, qual é o melhor leite para a saúde?

Com todas as marcas e tipos diferentes no mercado, é possível dizer qual é o melhor?

Isso é difícil, diz Abby Johnson, diretora associada do Centro de Coordenação de Nutrição da Universidade de Minnesota na Escola de Saúde Pública e principal autora do estudo que analisou mais de 200 leites vegetais diferentes.

"Há muita variedade. Cada leite vegetal, ao que parece, é formulado de forma diferente", explica a especialista.

Os laticínios são considerados uma boa fonte de três dos cinco nutrientes importantes identificados nas Diretrizes Dietéticas dos EUA para 2020-2025: cálcio, potássio e vitamina D.

"A dieta do americano médio excede em muito a quantidade de proteína necessária para uma dieta saudável", sublinha o pesquisador Brent Kim. Mas essa proteína extra dos laticínios é importante para alguns grupos.

"Especialmente para crianças em fase de crescimento, em áreas onde as pessoas têm dificuldade de ter uma variedade de alimentos, os laticínios são realmente importantes, porque fornecem uma boa quantidade de proteínas", diz Becky Ramsing, profissional de nutrição de saúde pública e nutricionista do Johns Hopkins Center for a Livable Future.

"A aveia não é necessariamente um alimento rico em proteínas”, acrescenta. "E não se engane pensando também que o leite de amêndoas é rico em proteínas só porque é feito de nozes".

"Na maneira como os leites são feitos, há muita água adicionada a eles, portanto, o teor de proteína é, na verdade, muito baixo”, conclui.

<><> Leia o rótulo!

"Você não pode simplesmente escolher um leite vegetal da prateleira e presumir que ele se encaixará em um perfil. Cada pessoa é muito diferente”, diz Ramsing, lembrando ser importante ler o rótulo para descobrir o que há no produto.

Ramsing conta que ela mesma passou por isso quando descobriu que seu leite de soja favorito não era enriquecido com cálcio. E você pode se surpreender ao descobrir a quantidade de açúcar adicionado em alguns leites.

<><> Obtendo todos os nutrientes do leite

Uma vantagem dos leites vegetais em relação ao leite de vaca é a fibra extra. Johnson diz que há alguns leites vegetais que fornecem mais de 10% do valor diário de fibras, enquanto o leite de vaca não tem nenhuma.

Por outro lado, o leite de vaca é rico em vitamina B2 ou riboflavina, que são importantes para o crescimento celular e a produção de energia, e o fósforo, que é importante para ossos e dentes.

"Mas você ainda pode beber leite vegetal se obtiver seus nutrientes em outro lugar", diz Abby Johnson.

"Tenha uma dieta diversificada com muitas frutas e vegetais e você não precisará se preocupar com a deficiência de vitamina B2 ou de fósforo”, afirma.

"Os leites à base de plantas podem, com certeza, fazer parte de uma dieta saudável.”

 

Fonte: DW Brasil

 

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