terça-feira, 22 de outubro de 2024

O verdadeiro 'plano de vitória' para a Ucrânia foi elaborado na Rússia

O real "plano de vitória" para a Ucrânia foi desenvolvido na Rússia, disse o jornalista irlandês Chay Bowes na rede social X.

"Enquanto todos se riem do 'plano de vitória' do ditador delirante Zelensky, eis o verdadeiro plano para a vitória da Ucrânia. O único problema para Zelensky e a OTAN é que ele foi elaborado pelos russos", escreveu Bowes, comentando as palavras do ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, que lembrou as condições propostas para o fim do conflito pelo chefe de Estado, Vladimir Putin.

Zelensky apresentou na quarta-feira (16) ao parlamento ucraniano o chamado "plano de vitória". O documento inclui cinco pontos e três anexos secretos.

Em particular, o primeiro ponto implica convidar a Ucrânia para a OTAN com posterior adesão, o segundo – levantar as restrições aos ataques com armas de longo alcance em território russo e o terceiro – colocar na Ucrânia um "pacote abrangente de dissuasão não nuclear" da Rússia. Zelensky sublinhou que a implementação do plano "depende dos parceiros".

Em 14 de junho, o presidente russo Vladimir Putin indicou os seguintes pré-requisitos para a solução do conflito ucraniano:

1.Retirada completa do Exército ucraniano das Repúblicas Populares de Donetsk e Luhansk (RPD e RPL) e das regiões de Zaporozhie e Kherson;

2.Reconhecimento das realidades territoriais consagradas na constituição russa;

3.Status neutro, não alinhado e não nuclear da Ucrânia;

4.Desmilitarização e desnazificação da Ucrânia;

5.Garantia dos direitos, liberdades e interesses dos cidadãos ucranianos de língua russa;

6.Cancelamento de todas as sanções antirrussas.

<> Biden: 'Não há consenso' no governo para permitir que Kiev lance ataques em território russo

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, declarou que não há consenso em seu governo sobre a possibilidade de levantar restrições ao uso de armas de longo alcance fornecidas à Ucrânia para ataques em território russo.

A declaração foi dada durante coletiva de imprensa antes da partida de Biden de Berlim, na Alemanha. Biden afirmou: "Neste momento, não há consenso sobre as armas de longo alcance."

Essa declaração vem na sequência de um diálogo recente entre o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e Vladimir Zelensky, em que a questão do uso de mísseis de longo alcance contra alvos russos foi discutida.

A conversa ocorreu em um contexto de crescente tensão, especialmente após um aviso do presidente russo, Vladimir Putin, à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

Putin alertou que ataques ucranianos com armas fornecidas pela aliança em território russo significariam que os países da OTAN estariam, de fato, em guerra com a Rússia.

A Ucrânia é apoiada militarmente pela OTAN, o bloco militar liderado pelos Estados Unidos e composto pela maioria dos países da União Europeia (UE).

A situação ressalta a delicada balança que os Estados Unidos devem manter em sua política externa, enquanto buscam apoiar a Ucrânia em meio ao conflito, sem escalonar ainda mais as tensões com Moscou. A falta de consenso no governo Biden reflete as divisões de como proceder neste cenário complexo.

Desde 24 de fevereiro de 2022, a Rússia executa uma operação militar especial na Ucrânia, a fim de proteger a população de um genocídio por parte do regime de Kiev e atacar os riscos de segurança nacional que representam o avanço da Aliança Atlântica.

¨      'Independentemente do resultado nos EUA, Rússia seguirá sendo um oponente', diz MRE russo

A eleição presidencial dos Estados Unidos será realizada em 5 de novembro. O Partido Democrata será representado pela vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, e o Partido Republicano, pelo ex-presidente Donald Trump.

No entanto, a Rússia continuará sendo uma adversária, se não uma inimiga, de Washington, independentemente dos resultados das próximas eleições presidenciais, disse o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, neste sábado (19).

"Independentemente do resultado da eleição, continuaremos sendo para os Estados Unidos, se não um inimigo, então definitivamente um oponente. Em qualquer caso, um competidor", declarou Lavrov.

Comentando sobre as negociações de redução de armas nucleares propostas por Joe Biden, o chanceler russo disse que o atual presidente está tentando aumentar as chances de vitória eleitoral de Kamala Harris.

Anteriormente, Biden afirmou que o mundo precisa lutar pela eliminação completa do arsenal nuclear, e também confirmou a disponibilidade dos EUA para negociar com a Rússia, China e Coreia do Norte neste sentido, mas manteve silêncio sobre as despesas significativas do governo norte-americano no desenvolvimento e fortalecimento da sua própria tríade nuclear.

"Trata-se de uma vontade de ganhar pontos pré-eleitorais para a candidata do Partido Democrata", disse o ministro.

Também neste sábado (19), o chefe do segundo departamento do Ministério das Relações Exteriores da Rússia para os países da Comunidade de Estados Independentes, Aleksei Polishchuk, declarou que se a Ucrânia aderir à OTAN, Kiev eliminará as possibilidades de uma solução política e diplomática para o conflito na Ucrânia e tornará inevitável o envolvimento direto da aliança em operações militares contra a Rússia.

"Nós alertamos constantemente sobre a ameaça da adesão da Ucrânia à OTAN. A possível adesão da Ucrânia à aliança vai colocar fim às possibilidades de um acordo político e diplomático, tornará inevitável que a aliança se envolva diretamente em hostilidades contra a Rússia e levará a uma escalada descontrolada", disse a autoridade.

¨      Moscou adverte sobre conflito direto entre OTAN e Rússia se a Ucrânia se juntar à aliança

A adesão de Kiev à OTAN nas condições atuais colocará o fim às possibilidades de uma solução político-diplomática do conflito na Ucrânia, declarou à Sputnik Aleksei Polischuk, chefe do Segundo Departamento do Ministério das Relações Exteriores da Rússia para os países da Comunidade de Estados Independentes (CEI).

Foi assim que ele comentou as declarações do ministro das Relações Exteriores húngaro, Peter Szijjarto. No início desta semana, ele afirmou que a admissão da Ucrânia na OTAN nas circunstâncias atuais significaria o início de uma Terceira Guerra Mundial.

"Estamos constantemente alertando sobre o perigo da adesão da Ucrânia à OTAN", disse Polischuk.

O diplomata acrescentou que tal passo "poria fim às possibilidades de um acordo político-diplomático, tornaria inevitável o envolvimento direto da Aliança no combate contra a Rússia e levaria a uma escalada descontrolada, a responsabilidade pela qual recairá inteiramente sobre os patrocinadores ocidentais do regime de Kiev".

Ele expressou esperança de que haja políticos sensatos na liderança deste bloco, conscientes das consequências devastadoras que um convite à Ucrânia para entrar na OTAN poderia ter.

Anteriormente, o presidente russo Vladimir Putin havia observado que a possível adesão da Ucrânia à OTAN é uma ameaça à segurança da Rússia, que foi um dos motivos para lançar a operação militar especial.

 

¨      Coletiva evidencia um Putin 'realista' e um Ocidente 'reativo', dizem especialistas

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, concedeu uma entrevista a jornalistas dos países-membros do BRICS em virtude da 16ª cúpula do grupo, que acontece em Kazan entre os dias 22 e 24 de outubro. À Sputnik Brasil, especialistas descreveram as respostas de Putin como equilibradas e sensatas, o oposto do que costuma noticiar o Ocidente.

Durante a conferência, a Sputnik esteve representada por Dmitry Kiselev, diretor-geral do grupo midiático Rossiya Segodnya. O Brasil também esteve presente com Daniel Rittner, diretor editorial da CNN Brasil.

A Rittner Vladimir Putin afirmou que não virá ao Brasil para a cúpula do G20, uma vez que mesmo que a Federação da Rússia não reconheça a jurisdição do Tribunal Penal Internacional (TPI) e, portanto, não se preocupe com o mandado emitido pelo organismo, o líder russo não quer que sua presença roube o foco do evento.

"Nós entendemos o que está acontecendo em torno da Rússia. Eu também entendo. O presidente Lula e eu temos uma relação de amizade maravilhosa. Eu iria lá especificamente para atrapalhar o trabalho normal deste fórum?"

Além de Kiselev e Rittner, integraram a coletiva de imprensa Admasu Damtew Belete (Etiópia), diretor-geral da agência de notícias FANA; Salahaldin Maghauri (Egito), editor-chefe adjunto da Agência de Notícias do Oriente Médio (MENA); Nadeem Koteich (Emirados Árabes Unidos), diretor-geral da Sky News Arabia; Faizal Abbas (Arábia Saudita), editor-chefe do jornal Arab News; Iqbal Surve (África do Sul), presidente executivo da holding de mídia Independent Media; Sudhakar Nair (Índia), editor executivo da agência de notícias PTI; e Fan Yan (China), diretor e editor-chefe da rede de televisão CGTN e editor-chefe adjunto da China Media Corporation.

Aos jornalistas, Putin entrou em temas como a ascensão do BRICS, o conflito na Ucrânia e o uso de sanções para prejudicar a economia russa.

<><> Paz na Ucrânia

Entre as falas sobre o conflito na Ucrânia, nas quais sublinhou que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) utiliza Kiev como ponta de lança em seu objetivo de derrotar a Rússia, Putin elogiou a formulação de paz sino-brasileira, destacando que não possuía conhecimento da iniciativa e foi pego de surpresa.

Para Vinicius Modolo Teixeira, professor de geopolítica da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e especialista em organizações de tratados militares, o Brasil e a China acertaram ao não consultar Moscou quanto à sua iniciativa. Dessa forma, diz, os atores, que já são parceiros no BRICS, evitam acusações de parcialidade e constroem um plano propositivo e autêntico.

À reportagem, o professor de história e pesquisador do Núcleo de Estudos das Américas (Nucleas), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), João Cláudio Pitillo explica que a chamada proposta sino-brasileira na verdade não é uma proposta de paz bem-delineada, mas sim um "conjunto de teses que podem nortear esse processo de paz".

No entanto, em sua fala Putin criticou a postura ucraniana. "O lado ucraniano não considera possível realizar qualquer tipo de negociação. Ele apenas formula suas demandas, e isso é tudo. Isso não é negociação", disse.

Segundo Pitillo, o líder russo tem motivos para estar cético com a diplomacia de Kiev. O regime de Zelensky não só cortou todos os canais diplomáticos e proibiu, através de um decreto, qualquer tipo de negociação com representantes russos, como abandonou a mesa de negociações de 2022 a mando dos líderes euro-atlânticos.

"Na ausência do debate da diplomacia, só sobrou o campo de batalha e a guerra. Ao romper esse acordo e encerrar os canais com Moscou, há dúvida sobre se isso não era um desejo da OTAN, e não um desejo de Kiev. Então o presidente Putin tem muita razão em estar desconfiado disso."

Mais do que suspeito da chancelaria ucraniana, as declarações de Putin são um reflexo da "realidade dos últimos meses do conflito", afirma Modolo, que sublinha o recente "Plano da Vitória" anunciado por Zelensky. "Isso coloca a Ucrânia em uma situação bastante complicada, de não querer negociar", afirma.

<><> Ascensão do BRICS

Outro ponto de destaque da coletiva de imprensa de Putin foram suas falas sobre a reorganização mundial, liderada pela ascensão do BRICS. Para o presidente da Federação da Rússia, a prosperidade do grupo de países ocorre de maneira natural.

À Sputnik Brasil, Késsio Lemos, doutor em relações internacionais e pesquisador do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE), sublinha que a qualificação de Putin ressoa "positivamente para muitos países do Sul Global, que há muito tempo buscam uma maior representação nas instituições internacionais e nas tomadas de decisão globais".

O líder russo destacou ainda uma fala do premiê indiano, Narendra Modi, de que os países do BRICS não compõem um grupo antiocidental; apenas são países não ocidentais.

A resposta de Putin também destaca um aspecto muito importante que não permite que o grupo seja qualificado como antiocidental. "O BRICS não se furta de ter um comércio franco com países do capitalismo central", diz Pitillo. "O problema é que esses países constituíram uma ordem hegemônica que visa impedir os países do BRICS de se desenvolverem."

"Realmente", diz o professor da Unemat, "o BRICS simboliza em grande medida essa mudança da ordem mundial por conta da representatividade econômica", enquanto o Ocidente — descrito como o eixo euro-atlântico —, "tem perdido a sua representatividade a nível mundial, mas ainda é muito poderoso".

Contudo, Modolo destaca que em vez de pensar em uma nova estratégia de mediação de relações a nível mundial, as potências ocidentais têm sido "reativas, tentando frear a ascensão desses polos de poder".

"A realidade que se impõe hoje no mundo não é mais a realidade que o Ocidente gostaria de ter no século XXI, de ver seu poder consolidado e não corroído."

<><> Sanções à Rússia

Uma das formas com que o Ocidente, liderado pelos Estados Unidos, mina o desenvolvimento dos considerados inimigos é através das sanções. Esse método foi feito com Cuba, Iraque, Coreia do Norte, Irã e China.

Após o início da operação especial, em 2022, a Rússia se tornou uma das maiores vítimas dessa política, sendo impedida de usar o dólar para transacionar. Só que, ao contrário do que esperavam as nações euro-atlânticas, a economia russa não colapsou, mas conseguiu se reorganizar e apresenta um bom crescimento.

"Agora 95% de todo o comércio exterior da Rússia é feito com nossos parceiros em moedas nacionais", como o rublo e o yuan, destacou Putin.

De fato, ressalta Lemos, "a capacidade da Rússia de redirecionar seu comércio para parceiros como a China e a Índia tem mitigado alguns dos impactos esperados".

Por outro lado, os países da Europa passam por uma grande crise econômica com a perda de acesso às importações russas, em especial do gás natural.

"O efeito bumerangue sobre as economias ocidentais também deve ser considerado, uma vez que trouxe consequências econômicas custosas para os países sancionadores."

De acordo com Getúlio Alves de Almeida Neto, doutorando do programa de pós-graduação em relações internacionais San Tiago Dantas e integrante do Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE), a resiliência econômica russa, "estabelecida enquanto projeto político há mais de uma década, […] se tornou um exemplo de que o cenário mundial é composto pela emergência de novos mercados e mecanismos financeiros alternativos ao dólar."

Nesse sentido, Almeida Neto concorda com o presidente russo de que o uso do dólar como ferramenta de coerção política provocou uma diminuição da confiança em relação à moeda estadunidense.

Já Lemos afirma que o uso de moedas alternativas, estratégia encontrada para contornar os sistemas ocidentais, "indica uma tendência de desdolarização em certas esferas econômicas".

Entretanto, ambos os especialistas afirmam que o dólar norte-americano ainda segue como principal moeda do comércio internacional. Mas a curto prazo, destaca Pitillo.

"A médio e longo prazo, o dólar está fadado ao fracasso enquanto uma moeda que servia para sequestrar as economias dos países em desenvolvimento."

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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