Daniel Afonso da Silva: Sobre a
de(s)formação
Bolsonaro era apenas o
resultado de uma supressão de referências que imprimiu ao país a tentação
majoritária de “desconstruir tudo que está aí”
Em numerosas ocasiões,
a propósito d’O significado de Raízes do Brasil – prefácio de sua autoria à
edição de 1967 da obra maestra de Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) –,
Antonio Candido de Mello e Souza (1918-2017), por escrito e em viva voz, sempre
reiterou a centralidade do momentum 1930 na vida nacional brasileira.
Quem viu e ouviu vai
fácil lembrar. A cadência de sua exposição era afetuosa e a força das imagens
mobilizadas, generosas. Tudo aludindo certo espanto retrospectivo frente àquilo
que o Brasil se tornou. Sempre acentuando a existência de um antes e um depois
1930. Espécie de turning point. Caminho sem volta. Que os mais moços, no dizer
do mestre, jamais conseguirão imaginar. Da mesma sorte, as obras dos principais
intérpretes daquele momento.
Como bem sabido, o
núcleo daquele afamado prefácio de Antonio Candido fazia uma ode às inovações
analíticas de Gilberto Freyre (1900-1987), Sérgio Buarque de Holanda
(1902-1982) e Caio Prado Junior (1907-1990) na interpretação do Brasil. Sempre
acentuando um antes e um depois. Antes e depois de 1933 e de Casa-Grande &
Senzala. Antes e depois de 1936 e de Raízes do Brasil. Antes e depois de 1942 e
de Formação do Brasil contemporâneo.
Tudo imantado na força
motriz do momentum 1930. Que, ao fim das contas, plasmou as múltiplas dimensões
de todos os movimentos que levaram Getúlio Vargas (1882-1954) ao poder,
constituíram o varguismo e o getulismo e ressignificaram o destino do país. Malgrado
o Estado Novo.
Nas trilhas da ideia
de formação – que o próprio Antonio Candido, em seu Formação da Literatura
Brasileira, de 1959, ajudara a aferir –, o Brasil de 1930 estava feito. Era
inequívoca a sua condição de Brasil. Das penas dos árcades mineiros aos traços
desconcertantes de Machado de Assis (1839-1908) o país tinha em tudo se formado
e internalizado um sentimento nacional genuíno entre os seus habitantes. De
maneira que, em miúdos, em cento e poucos anos, entre Cláudio Manuel da Costa
(1729-1789) e os contemporâneos do Bruxo do Cosme, o Brasil se fez Brasil e os
brasileiros, brasileiros.
Mas faltava algo.
O fardo pesado do
passado ainda era difícil de superar. A experiência colonial ainda assombrava
tripulantes. Ter-se levado a escravidão até o limite de sua própria exaustão
cobrava um preço muito elevado. Quem sabe, impagável. De modo que, depois,
portanto, da transição da Monarquia à República, do após-Abolição e do
após-Machado, o desafio era mitigar as externalidades negativas desse fardo. E
foi justamente isso que o momentum 1930 começou a fazer.
Getúlio, o varguismo e
o getulismo foram sínteses de muitos processos. Passados e futuros se reuniram
todos ali. Como numa experiência bifronte. Não sem tensões. Sendo as primeiras
e fundamentais aquelas de 1932 e 1934. Que, lidas de soslaio, foram uma simples
reação de paulistas. Mas quando vistas em maior gradação foram a afirmação de
demandas de aceleração da modernização.
Queria-se, em certo,
em São Paulo e no Brasil, fazer tudo rápido. Adeus, República Velha. Adeus,
velhos e novos antigos. Bem-vindos novos modernos. Uma bem-aventurança
lastreada em razão e racionalização, conhecimento e saber. Que acabou por
impelir os paulistas a sair na frente e fundar a USP – Universidade de São
Paulo – para servir a esse propósito mais que consequente: trazer clarividência
ao processo de modernização.
Produto, portanto,
daquele momentum 1930, a USP surgiu, certo, para capacitar elites paulistas,
mas não tardou a servir o país inteiro. Como modelo de razão e racionalização
de processos eficientes e duradouros de produção de conhecimento e saber.
Impondo, de saída, um adeus aos diletantismos – típicos das instituições de
ensino até então – e um chamado à construção de sistemas de pensamento com
meios de verificação ancorados em métodos, técnicas, conceitos, teorias
racionais oriundos das Humanidades.
A experiência
universitária planetária, desde Bolonha e Paris no medievo, já havia
demonstrado que as Humanidades constituem o coração de qualquer instituição de
ensino superior que deseje o epíteto de Universidade. Pois são elas, as
Humanidades, que irrigam de razão padrões verificáveis de qualquer produção
intelectual verdadeiramente honesta.
Por Humanidades
entendia-se – lembre-se John Neiville Keynes (1852-1949) – Artes que ensinavam
a pensar com em Filosofia, núcleo das Humanidades, que só ensina a filosofar –
lembre-se Immanuel Kant (1724-1804). Pensar e filosofar são saberes muito
antigos. Anteriores às Ciências. E, sobretudo, às Ciências Humanas produto das
demandas de especialização iluministas. Saberes portadores de cientificidade,
mas jamais confundidos com os circuitos fechados das esferas da existência
investigadas pelas Ciências Humanas.
Foi, portanto, a essas
Artes, Humanidades e saberes que os fundadores da USP – e, em seguida, os
fundadores das demais universidades brasileiras – franquearam o seu destino. O
ano era 1934 quando o momentum 1930 avançava a todo o vapor.
Vinte anos depois, em
1954, o momentum 1930 ficou acéfalo. Getúlio saiu da vida para entrar na
História. Como num gesto dramático. Mas com carregado de propósito e razão:
perpetuar o espírito de 1930.
Tudo – e até a morte –
menos o fim de 1930.
E foi, por claro, o
espírito de 1930 que pulsou forte nos feitos da nova bossa na presidência de
Juscelino Kubitschek (1902-1976). Mas, agora, despido da perversidade do
varguismo e do autoritarismo do getulismo. Até que veio Brasília.
Brasília era uma
demanda antiga, meditada desde a Independência. Mas depois de Brasília veio
Jânio Quadros (1917-1992), que fez o que fez: assassinar Getúlio mais uma vez e
abrir uma nova temporada de experimentações.
Leonel Brizola
(1922-2004), ainda em 1961, desde o Sul, tentou barrar o sinistro. Adiante foi
a vez de Tancredo de Almeida Neves (1910-1985), Afonso Arinos de Mello Franco
(1905-1990), Francisco Clementino de San Tiago Dantas (1911-1964) tentar
remediar tudo aquilo através do parlamentarismo e da entronização do presidente
João Goulart (1919-1976). Mas não deu. 1964 já rondava as casas. E não tardou
adentrar e para desconjuntar o momentum 1930.
Aquela trama
materializada pelo senador Auro de Moura Andrade (1915-1982) – “Atenção! O
senhor presidente da República deixou a sede do governo. Deixou a nação
acéfala. […] Abandonou o governo! […] (…) assim sendo declaro vaga a
Presidência da República” – era uma resposta à alegoria do “mar de lama” entre
as elites desde os infortúnios de 1930, 1932, 1937 e 1954. Era, essencialmente,
uma reação ao mal-estar do momentum 1930.
Veio, assim, o AI-1.
Que foi, por certo, uma violência institucional, mas, também, coup de force
histórico. Intuía virar de vez a página de Getúlio. Mas, de novo, não deu.
As eleições de 1965
seguiram mantidas e o espírito de 1930 voltou a se impor em lugares importantes
como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina e Mato Grosso. O que levou os
maiorais de farda a alterar seus planos. Baixando, assim, às rápidas, o AI-2 e
o AI-3. Engessando, assim, a condução política. Propugnando uma nova
Constituição. Ejetando o moderado Castello Branco do poder. Instaurando o AI-4.
Afirmando a sua linha dura. Criando um novo regime e consolidando a sua trama
com o AI-5.
Era o fim das ilusões.
Depois de 1965, a ambiência quase ingênua de 1964 não existia mais. O peso da
Guerra Fria havia, agora e explicitamente, contaminado tudo. O receio de uma
balcanização das Américas, cubanização da América do Sul e argelinização do Brasil
acendia todos os alertas vermelhos em Washington. A inauguração do muro de
Berlim, em 1961, que havia dado concretude à cortina de ferro de prognosticada
por Winston Churchill (1874-1965) desde 1946, agora virava uma questão quase ao
alcance das mãos na forma de interiorização à brasileira da tensão Leste-Oeste
inaugurada em 1917. A humilhação norte-americana no Vietnã e as efemérides de
maio de 1968 em Paris afirmavam-se como espasmos dessas contradições.
Produzindo constrangimentos de um lado e liberação, libertinagem e
liberalização de outro. Chegando ao Brasil como fonte de inspiração para o
Opinião, a Tropicália e dando adeus às “Brigas, nunca mais”. Doravante seria
pua. E pua forte até 1973-1974, quando a linha dura deu espaço para a presidência
de Ernesto Geisel (1907-1996) começar.
Dizendo rápido o que
se fez lentamente, sob a presidência Geisel se fizeram todas as tratativas de
tudo que iria vigorar de 1973 e 2013.
Como princípio houve a
singela proposta de abertura “lenta, gradual e segura”. Que, vista em panorama,
era uma clara reabilitação madura do espírito de 1930.
Consoante veio a
candidatura de protesto do doutor Ulysses Guimarães (1916-1992) em 1973. Da
junção disso – reabilitação do momentum 1930 e permissividade política –,
abriram-se caminhos para a ascensão do MDB – Manda Brasa –, a projeção da
Anistia, a recomposição do sistema de partidos, a hipertrofia da participação
popular, os sucessos eleitorais democráticos em 1976, 1978 e 1982, a frustração
das Diretas Já!, o momentum Tancredo de Almeida Neves, a Nova República, a
Assembleia Constituinte, a Constituição de 1988, o novo regime, a presidência
Collor de Mello e todas as pretensões de estabilização política, econômica e
social até a hecatombe de junho de 2013.
Parece que não foi,
mas foi: quarenta anos, 1973-2013, de construção esvaídos em poucas noites de
convulsão.
Aquelas noites daquele
junho encerraram o momentum 1930. Mas, em lástima, lançaram o país no
desconhecido.
Foi a primeira vez na
história do país que Getúlio não foi convocado para mediar uma crise. A
primeira vez que o momentum 1930 deixava se servir – para se seguir ou se negar
– de referência. A primeira vez, portanto, que o Brasil namorava abismos sem
nenhuma âncora de salvação.
O impeachment de 2016
foi, em tudo, mais doloroso que o 1992 justamente por isso. Da mesma sorte que
a prisão do presidente Lula da Silva em 2018 só ocorreu em decorrência dessa
insofismável perda integral de noção.
País sério – leia-se:
com algum lastro – não prende presidente da República e ponto final.
Ao se privar de
liberdade de um presidente da República, o país inteiro sucumbiu a uma pesada
escuridão. Dando adeus aos pactos pela redemocratização e encerrando também o
movimento de abertura “lenta, gradual e segura”. Como resultado, veio a
presidência de Jair Messias Bolsonaro, contra a qual os mais sofisticados
peripatéticos conseguiram simplesmente elaborar um “Ele, não!”.
Seria cômico se não
fosse trágico, aquela palavra de ordem “Ele, não!” encobria todos os processos
mais profundos, negaceava o bom combate e conferia ao Bolsonaro um conjunto de
excedentes de poder que ele jamais teve.
Bolsonaro era apenas o
resultado de uma supressão de referências que imprimiu ao país a tentação
majoritária de “desconstruir tudo que está aí”. A começar pelo legado do
momentum 1930. Que foi ignorado na crise de junho de 2013 e dilapidado no
quadriênio 2019-2022.
Mas, volte-se ao
começo e aninhe-se nas noites de junho de 2013. Nada ali foi simples.
Fale-se e pense-se o
que se quiser pensar e falar, mas os protestos daquelas noites ensejaram, a
rigor, uma revanche legítima e honesta daqueles brasileiros que notaram que a
marola da crise financeira mundial de 2008 havia virado tsunami e estava bem perto
de estraçalhar o que havia sobrado de esperança de dias bons.
Volte-se, então, a
2008.
2008 foi, de fato,
diferente. Diferente de 1929 e diferente de todas as crises agudas anteriores a
essa de 2008.
Não foi, por claro, o
fim do sistema de acumulação capitalista tampouco o fim da globalização
financeira acelerada a partir dos anos de 1970. Mas foi, sinceramente, o
momento em que a integralidade do Ocidente – e não apenas o Brasil – começou a
namorar precipícios.
Ficando nos Estados
Unidos, o Occupy Wall Street – e occupy todas as partes – foi muito mais grave,
profundo e penetrante que todos os movimentos anteriores de protestação popular
em séculos. Mas, diferentemente de tudo que se viu, por exemplo, desde a comoção
de Pearl Harbor, agora, os protestos eram todos – embora, mais barulhentos –
estéreis e muito longe de serem emancipatórios.
Nenhum dos
frequentadores dos protestos norte-americanos após 2008 tinha ilusões de
emancipação. Todos desciam às ruas cientes de que todo o leite já estava
derramado. Bem diferente, por exemplo, para ficar num singelo exemplo, da
ambiência de Selma, dos tempos de Martin Luther King Jr. (1929-1968), onde
todos viam caminhos de superação. Em 2008, não. 2008 foi, porquanto, sim,
diferente.
Atravessando o
Atlântico, a crise de 2008 desconjuntou de vez a construção europeia.
Inebriando a consciência coletiva sobre o trágico e impondo, assim, um franco
menosprezo aos sinais do chão de ruínas das guerras totais.
Diferente de maio de
1968 – quando os rebeldes, segundo Raymond Aron (1905-1983), não dispunham de
consciência nem causa, mas possuíam alguma esperança de emancipação –, os
insurgentes europeus do após 2008 sucumbiram ao tudo ou nada com a certeza de
que só teriam o nada visto que De Gaulle e Churchill, agora, viraram, entre
eles, quimeras.
Atravessando-se o
Mediterrâneo, veja-se a agonia dos africanos e médio-orientais nos torvelinhos
disso que se convencionou chamar de Primavera Árabe – outro produto direto da
crise financeira de 2008. Foi um momento desesperador. Que acabou por lançar essas
porções do mundo para muito além do fim da história e do choque de
civilizações. Num mar turbulento, sem leme nem bússola pra se guiar.
Avançando-se sobre a
Ásia, curiosamente, Adam Smith (1723-1790), enfim, conseguiu o seu lugar ao sol
em Shangai. Pondo, com isso, fim de vez ao vigor universalista dos valores do
Ocidente.
Sim: muita informação
e muita contradição. Mas foi tudo isso que as noites de junho interiorizaram no
Brasil.
Os protagonistas no
movimento até tentaram explicar. Mas ninguém quis ouvir.
Não eram pelos
centavos, diziam eles. Não era, portanto, por Marx nem por Jesus. Mas, para
simplificar, acreditou-se que fosse. O que tornou o sinistro ainda pior.
Alimentando feras que ladrilharam caminhos seguros para o desconhecido. Que
mostrou a sua face nas presidenciais de 2018 e, mais amplamente agora, nas
municipais de 2024.
Em tempos normais, um
Pablo Marçal jamais chegaria perto do olimpo da política. Diferente de seu
compagnon de route, Jair Messias Bolsonaro, que chafurdou por decênios no
submundo da representação parlamentar, Marçal veio noviço e virginal disputar a
prefeitura mais importante do país e quase levou.
Getúlio revirou-se na
tomba. Jânio Quadros também.
Em reação, gente bem
informada como o Ministro José Dirceu se antecipou em desfazer o entusiasmo ao
vaticinar que o fator Marçal não passa de um “problema para a direita” e para o
“bolsonarismo”.
Ok: tudo bem!
Mas como explicar o
sucesso acachapante da “direita” e o “bolsonarismo” assentados na senda do
fator Marçal?
Como toda vênia ao
Ministro José Dirceu, mas tudo é muito mais complexo: nem Marx nem Jesus.
Sem a referência do
momentum 1930, nada, ao mesmo tempo, mais antigo e mais moderno que o fator
Marçal e, da mesma sorte, nada, ao mesmo tempo, mais perverso e inconsequente
que a presidência Bolsonaro.
Mas o que dizer da
terceira presidência de Lula da Silva?
Sem lastro não há
salvação. E o presidente Lula da Silva foi mobilizado de volta ao poder como
reação a 2018 e 2016 sem se ater no vazio aberto em 2013.
Ainda sobre 2013 e
depois, vai conveniente notar que, deu-se adeus ao momentum 1930 sem inserir
nada de expressivo no lugar.
Do contrário, por onde
andarão os novos intérpretes do Brasil – em substituição aos magos dos anos
1930 – para sinalizar, após junho de 2013, o que pensar e o que fazer?
Mas, claro, tudo foi
um processo.
Voltando a um passado
recente, lembre-se que a frustração com os momentos iniciais do lutopetismo no
poder produziu o “silêncio dos intelectuais”. Um silêncio que, em verdade, foi
esmaecendo toda aquela força intelectual herdeira do momentum 1930 até se apagar.
Beira um truísmo
afirmar que esse apagar produziu 1. o severo e incorrigível empobrecimento do
debate público no país e 2. a aceleração da desmoralização das Humanidades no
interior das universidades brasileiras.
De modo que o que veio
depois de 2013 tornou tudo que já era bem frágil ainda pior. A produção de
conhecimento e saber que, à força do momentum 1930, havia se deslocado do
diletantismo, agora, em pleno século XXI, começava a namorar a indigência,
dentro e fora das universidades, chegando ao seu zênite mais recente agora, em
2024, com o lançamento de “Unitopia” pela Brasil Paralelo (BP).
Parecia o fim do
mundo. O barulho foi gigantesco. Anunciadores de mau-agouro emergiam de muitas
partes. Alguns muito eloquentes frente a outros simplesmente estridentes. Todos
em comunhão. Conclamando uma reação quase sindical ante um mal estrutural. Que
se afigurava em Armagedon, fim dos tempos, Juízo Final. A ponto de justificar o
conclame:
“Amigos e amigas: as
universidades públicas brasileiras vão ser objeto de uma campanha de ódio por
parte de ‘Brasil Paralelo’, que lança, no dia 17/9, às 20h, um documentário
estilo profissão repórter sobre as universidades públicas brasileiras. Trata-se
de matéria encomendada com a finalidade de fazer uma campanha de
desqualificação das universidades públicas. É preciso soar os alertas nas
demais ADs e mobilizar nosso campo para ocupar os comentários e para denunciar
o canal pela difamação sobre as universidades públicas. Claramente é um ataque
orquestrado contra as políticas públicas como é o “dia do fogo” que aliás não é
um único dia, mas o mês inteiro. As universidades estão sob forte ataque, é a
guerra cultural para desqualificar e justificar uma campanha para privatizar de
vez o ensino superior do país. Alerta total!”
Todos os
frequentadores das universidades brasileiras foram participados dessa
convocação.
Mas, malgrado o
fervor, não seria o caso de comentar, validar nem reprovar, o documentário sem
ver. Ao documentário então.
A copy de seus
anúncios dizia abertamente que “As câmeras da Brasil Paralelo entraram nas
universidades públicas brasileiras. O que descobrimos será revelado por
professores, alunos e servidores que vivem a realidade das salas de aula. Não
perca o que vamos revelar no dia 17 de setembro, às 20 horas. Você vai assistir
ao primeiro episódio da nossa nova série Unitopia”. Era algo, por claro,
exagerado e apelativo, projetando, antes de tudo, vender. Vale lembrar que a BP
é, acima de tudo, uma empresa.
Relevando-se o exagero
e dando-se um voto de fé ao projeto, avança-se sobre o documentário com a
esperança de se encontrar algo novo e inovador. Algo que, de fato, escancarasse
o estágio de agonia, angústia e degeneração das universidades brasileiras.
Mas, não: nada.
Nem o fim do mundo nem
“uma campanha de ódio”. Nem uma “campanha de desqualificação” nem um movimento
para “justificar uma campanha para privatizar de vez o ensino superior do
país”.
Nada: simplesmente,
nada. Apenas uma simples – e até honesta – peça de reflexão.
Mas, então, por que
tanto barulho de parte a parte?
Seria curioso se não
fosse trágico.
Entre os críticos do
projeto da BP estão, claramente, aqueles imoderados que engrossaram as fileiras
do “Ele, não”. Gente que, sinceramente, condenou o documentário sem ver. Pois
se tivesse visto teria condições de notar que a letalidade de “Unitopia” não
vai ao encontro das universidades – que, em grande medida, já morreram –, mas,
em contrário, procura recuperar o elo perdido entre as noites de junho de 2013
e a ascensão do olavobolsonarista expresso na tentação de desconstruir tudo que
está aí.
“Unitopia” vai,
portanto, muito além das universidades. Trata-se da tentativa de ocupar o
espaço que os intelectuais herdeiros do momentum 1930 tornavam vago depois das
noites de junho de 2013.
Que dizer? Que fazer?
Chorar?
Adeus, Machado. Adeus,
Getúlio. Adeus, Brasil.
E ao vencedor, a
cloroquina!
Fonte: A Terra é
Redonda
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