terça-feira, 22 de outubro de 2024

Daniel Afonso da Silva: Sobre a de(s)formação

Bolsonaro era apenas o resultado de uma supressão de referências que imprimiu ao país a tentação majoritária de “desconstruir tudo que está aí”

Em numerosas ocasiões, a propósito d’O significado de Raízes do Brasil – prefácio de sua autoria à edição de 1967 da obra maestra de Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) –, Antonio Candido de Mello e Souza (1918-2017), por escrito e em viva voz, sempre reiterou a centralidade do momentum 1930 na vida nacional brasileira.

Quem viu e ouviu vai fácil lembrar. A cadência de sua exposição era afetuosa e a força das imagens mobilizadas, generosas. Tudo aludindo certo espanto retrospectivo frente àquilo que o Brasil se tornou. Sempre acentuando a existência de um antes e um depois 1930. Espécie de turning point. Caminho sem volta. Que os mais moços, no dizer do mestre, jamais conseguirão imaginar. Da mesma sorte, as obras dos principais intérpretes daquele momento.

Como bem sabido, o núcleo daquele afamado prefácio de Antonio Candido fazia uma ode às inovações analíticas de Gilberto Freyre (1900-1987), Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) e Caio Prado Junior (1907-1990) na interpretação do Brasil. Sempre acentuando um antes e um depois. Antes e depois de 1933 e de Casa-Grande & Senzala. Antes e depois de 1936 e de Raízes do Brasil. Antes e depois de 1942 e de Formação do Brasil contemporâneo.

Tudo imantado na força motriz do momentum 1930. Que, ao fim das contas, plasmou as múltiplas dimensões de todos os movimentos que levaram Getúlio Vargas (1882-1954) ao poder, constituíram o varguismo e o getulismo e ressignificaram o destino do país. Malgrado o Estado Novo.

Nas trilhas da ideia de formação – que o próprio Antonio Candido, em seu Formação da Literatura Brasileira, de 1959, ajudara a aferir –, o Brasil de 1930 estava feito. Era inequívoca a sua condição de Brasil. Das penas dos árcades mineiros aos traços desconcertantes de Machado de Assis (1839-1908) o país tinha em tudo se formado e internalizado um sentimento nacional genuíno entre os seus habitantes. De maneira que, em miúdos, em cento e poucos anos, entre Cláudio Manuel da Costa (1729-1789) e os contemporâneos do Bruxo do Cosme, o Brasil se fez Brasil e os brasileiros, brasileiros.

Mas faltava algo.

O fardo pesado do passado ainda era difícil de superar. A experiência colonial ainda assombrava tripulantes. Ter-se levado a escravidão até o limite de sua própria exaustão cobrava um preço muito elevado. Quem sabe, impagável. De modo que, depois, portanto, da transição da Monarquia à República, do após-Abolição e do após-Machado, o desafio era mitigar as externalidades negativas desse fardo. E foi justamente isso que o momentum 1930 começou a fazer.

Getúlio, o varguismo e o getulismo foram sínteses de muitos processos. Passados e futuros se reuniram todos ali. Como numa experiência bifronte. Não sem tensões. Sendo as primeiras e fundamentais aquelas de 1932 e 1934. Que, lidas de soslaio, foram uma simples reação de paulistas. Mas quando vistas em maior gradação foram a afirmação de demandas de aceleração da modernização.

Queria-se, em certo, em São Paulo e no Brasil, fazer tudo rápido. Adeus, República Velha. Adeus, velhos e novos antigos. Bem-vindos novos modernos. Uma bem-aventurança lastreada em razão e racionalização, conhecimento e saber. Que acabou por impelir os paulistas a sair na frente e fundar a USP – Universidade de São Paulo – para servir a esse propósito mais que consequente: trazer clarividência ao processo de modernização.

Produto, portanto, daquele momentum 1930, a USP surgiu, certo, para capacitar elites paulistas, mas não tardou a servir o país inteiro. Como modelo de razão e racionalização de processos eficientes e duradouros de produção de conhecimento e saber. Impondo, de saída, um adeus aos diletantismos – típicos das instituições de ensino até então – e um chamado à construção de sistemas de pensamento com meios de verificação ancorados em métodos, técnicas, conceitos, teorias racionais oriundos das Humanidades.

A experiência universitária planetária, desde Bolonha e Paris no medievo, já havia demonstrado que as Humanidades constituem o coração de qualquer instituição de ensino superior que deseje o epíteto de Universidade. Pois são elas, as Humanidades, que irrigam de razão padrões verificáveis de qualquer produção intelectual verdadeiramente honesta.

Por Humanidades entendia-se – lembre-se John Neiville Keynes (1852-1949) – Artes que ensinavam a pensar com em Filosofia, núcleo das Humanidades, que só ensina a filosofar – lembre-se Immanuel Kant (1724-1804). Pensar e filosofar são saberes muito antigos. Anteriores às Ciências. E, sobretudo, às Ciências Humanas produto das demandas de especialização iluministas. Saberes portadores de cientificidade, mas jamais confundidos com os circuitos fechados das esferas da existência investigadas pelas Ciências Humanas.

Foi, portanto, a essas Artes, Humanidades e saberes que os fundadores da USP – e, em seguida, os fundadores das demais universidades brasileiras – franquearam o seu destino. O ano era 1934 quando o momentum 1930 avançava a todo o vapor.

Vinte anos depois, em 1954, o momentum 1930 ficou acéfalo. Getúlio saiu da vida para entrar na História. Como num gesto dramático. Mas com carregado de propósito e razão: perpetuar o espírito de 1930.

Tudo – e até a morte – menos o fim de 1930.

E foi, por claro, o espírito de 1930 que pulsou forte nos feitos da nova bossa na presidência de Juscelino Kubitschek (1902-1976). Mas, agora, despido da perversidade do varguismo e do autoritarismo do getulismo. Até que veio Brasília.

Brasília era uma demanda antiga, meditada desde a Independência. Mas depois de Brasília veio Jânio Quadros (1917-1992), que fez o que fez: assassinar Getúlio mais uma vez e abrir uma nova temporada de experimentações.

Leonel Brizola (1922-2004), ainda em 1961, desde o Sul, tentou barrar o sinistro. Adiante foi a vez de Tancredo de Almeida Neves (1910-1985), Afonso Arinos de Mello Franco (1905-1990), Francisco Clementino de San Tiago Dantas (1911-1964) tentar remediar tudo aquilo através do parlamentarismo e da entronização do presidente João Goulart (1919-1976). Mas não deu. 1964 já rondava as casas. E não tardou adentrar e para desconjuntar o momentum 1930.

Aquela trama materializada pelo senador Auro de Moura Andrade (1915-1982) – “Atenção! O senhor presidente da República deixou a sede do governo. Deixou a nação acéfala. […] Abandonou o governo! […] (…) assim sendo declaro vaga a Presidência da República” – era uma resposta à alegoria do “mar de lama” entre as elites desde os infortúnios de 1930, 1932, 1937 e 1954. Era, essencialmente, uma reação ao mal-estar do momentum 1930.

Veio, assim, o AI-1. Que foi, por certo, uma violência institucional, mas, também, coup de force histórico. Intuía virar de vez a página de Getúlio. Mas, de novo, não deu.

As eleições de 1965 seguiram mantidas e o espírito de 1930 voltou a se impor em lugares importantes como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina e Mato Grosso. O que levou os maiorais de farda a alterar seus planos. Baixando, assim, às rápidas, o AI-2 e o AI-3. Engessando, assim, a condução política. Propugnando uma nova Constituição. Ejetando o moderado Castello Branco do poder. Instaurando o AI-4. Afirmando a sua linha dura. Criando um novo regime e consolidando a sua trama com o AI-5.

Era o fim das ilusões. Depois de 1965, a ambiência quase ingênua de 1964 não existia mais. O peso da Guerra Fria havia, agora e explicitamente, contaminado tudo. O receio de uma balcanização das Américas, cubanização da América do Sul e argelinização do Brasil acendia todos os alertas vermelhos em Washington. A inauguração do muro de Berlim, em 1961, que havia dado concretude à cortina de ferro de prognosticada por Winston Churchill (1874-1965) desde 1946, agora virava uma questão quase ao alcance das mãos na forma de interiorização à brasileira da tensão Leste-Oeste inaugurada em 1917. A humilhação norte-americana no Vietnã e as efemérides de maio de 1968 em Paris afirmavam-se como espasmos dessas contradições. Produzindo constrangimentos de um lado e liberação, libertinagem e liberalização de outro. Chegando ao Brasil como fonte de inspiração para o Opinião, a Tropicália e dando adeus às “Brigas, nunca mais”. Doravante seria pua. E pua forte até 1973-1974, quando a linha dura deu espaço para a presidência de Ernesto Geisel (1907-1996) começar.

Dizendo rápido o que se fez lentamente, sob a presidência Geisel se fizeram todas as tratativas de tudo que iria vigorar de 1973 e 2013.

Como princípio houve a singela proposta de abertura “lenta, gradual e segura”. Que, vista em panorama, era uma clara reabilitação madura do espírito de 1930.

Consoante veio a candidatura de protesto do doutor Ulysses Guimarães (1916-1992) em 1973. Da junção disso – reabilitação do momentum 1930 e permissividade política –, abriram-se caminhos para a ascensão do MDB – Manda Brasa –, a projeção da Anistia, a recomposição do sistema de partidos, a hipertrofia da participação popular, os sucessos eleitorais democráticos em 1976, 1978 e 1982, a frustração das Diretas Já!, o momentum Tancredo de Almeida Neves, a Nova República, a Assembleia Constituinte, a Constituição de 1988, o novo regime, a presidência Collor de Mello e todas as pretensões de estabilização política, econômica e social até a hecatombe de junho de 2013.

Parece que não foi, mas foi: quarenta anos, 1973-2013, de construção esvaídos em poucas noites de convulsão.

Aquelas noites daquele junho encerraram o momentum 1930. Mas, em lástima, lançaram o país no desconhecido.

Foi a primeira vez na história do país que Getúlio não foi convocado para mediar uma crise. A primeira vez que o momentum 1930 deixava se servir – para se seguir ou se negar – de referência. A primeira vez, portanto, que o Brasil namorava abismos sem nenhuma âncora de salvação.

O impeachment de 2016 foi, em tudo, mais doloroso que o 1992 justamente por isso. Da mesma sorte que a prisão do presidente Lula da Silva em 2018 só ocorreu em decorrência dessa insofismável perda integral de noção.

País sério – leia-se: com algum lastro – não prende presidente da República e ponto final.

Ao se privar de liberdade de um presidente da República, o país inteiro sucumbiu a uma pesada escuridão. Dando adeus aos pactos pela redemocratização e encerrando também o movimento de abertura “lenta, gradual e segura”. Como resultado, veio a presidência de Jair Messias Bolsonaro, contra a qual os mais sofisticados peripatéticos conseguiram simplesmente elaborar um “Ele, não!”.

Seria cômico se não fosse trágico, aquela palavra de ordem “Ele, não!” encobria todos os processos mais profundos, negaceava o bom combate e conferia ao Bolsonaro um conjunto de excedentes de poder que ele jamais teve.

Bolsonaro era apenas o resultado de uma supressão de referências que imprimiu ao país a tentação majoritária de “desconstruir tudo que está aí”. A começar pelo legado do momentum 1930. Que foi ignorado na crise de junho de 2013 e dilapidado no quadriênio 2019-2022.

Mas, volte-se ao começo e aninhe-se nas noites de junho de 2013. Nada ali foi simples.

Fale-se e pense-se o que se quiser pensar e falar, mas os protestos daquelas noites ensejaram, a rigor, uma revanche legítima e honesta daqueles brasileiros que notaram que a marola da crise financeira mundial de 2008 havia virado tsunami e estava bem perto de estraçalhar o que havia sobrado de esperança de dias bons.

Volte-se, então, a 2008.

2008 foi, de fato, diferente. Diferente de 1929 e diferente de todas as crises agudas anteriores a essa de 2008.

Não foi, por claro, o fim do sistema de acumulação capitalista tampouco o fim da globalização financeira acelerada a partir dos anos de 1970. Mas foi, sinceramente, o momento em que a integralidade do Ocidente – e não apenas o Brasil – começou a namorar precipícios.

Ficando nos Estados Unidos, o Occupy Wall Street – e occupy todas as partes – foi muito mais grave, profundo e penetrante que todos os movimentos anteriores de protestação popular em séculos. Mas, diferentemente de tudo que se viu, por exemplo, desde a comoção de Pearl Harbor, agora, os protestos eram todos – embora, mais barulhentos – estéreis e muito longe de serem emancipatórios.

Nenhum dos frequentadores dos protestos norte-americanos após 2008 tinha ilusões de emancipação. Todos desciam às ruas cientes de que todo o leite já estava derramado. Bem diferente, por exemplo, para ficar num singelo exemplo, da ambiência de Selma, dos tempos de Martin Luther King Jr. (1929-1968), onde todos viam caminhos de superação. Em 2008, não. 2008 foi, porquanto, sim, diferente.

Atravessando o Atlântico, a crise de 2008 desconjuntou de vez a construção europeia. Inebriando a consciência coletiva sobre o trágico e impondo, assim, um franco menosprezo aos sinais do chão de ruínas das guerras totais.

Diferente de maio de 1968 – quando os rebeldes, segundo Raymond Aron (1905-1983), não dispunham de consciência nem causa, mas possuíam alguma esperança de emancipação –, os insurgentes europeus do após 2008 sucumbiram ao tudo ou nada com a certeza de que só teriam o nada visto que De Gaulle e Churchill, agora, viraram, entre eles, quimeras.

Atravessando-se o Mediterrâneo, veja-se a agonia dos africanos e médio-orientais nos torvelinhos disso que se convencionou chamar de Primavera Árabe – outro produto direto da crise financeira de 2008. Foi um momento desesperador. Que acabou por lançar essas porções do mundo para muito além do fim da história e do choque de civilizações. Num mar turbulento, sem leme nem bússola pra se guiar.

Avançando-se sobre a Ásia, curiosamente, Adam Smith (1723-1790), enfim, conseguiu o seu lugar ao sol em Shangai. Pondo, com isso, fim de vez ao vigor universalista dos valores do Ocidente.

Sim: muita informação e muita contradição. Mas foi tudo isso que as noites de junho interiorizaram no Brasil.

Os protagonistas no movimento até tentaram explicar. Mas ninguém quis ouvir.

Não eram pelos centavos, diziam eles. Não era, portanto, por Marx nem por Jesus. Mas, para simplificar, acreditou-se que fosse. O que tornou o sinistro ainda pior. Alimentando feras que ladrilharam caminhos seguros para o desconhecido. Que mostrou a sua face nas presidenciais de 2018 e, mais amplamente agora, nas municipais de 2024.

Em tempos normais, um Pablo Marçal jamais chegaria perto do olimpo da política. Diferente de seu compagnon de route, Jair Messias Bolsonaro, que chafurdou por decênios no submundo da representação parlamentar, Marçal veio noviço e virginal disputar a prefeitura mais importante do país e quase levou.

Getúlio revirou-se na tomba. Jânio Quadros também.

Em reação, gente bem informada como o Ministro José Dirceu se antecipou em desfazer o entusiasmo ao vaticinar que o fator Marçal não passa de um “problema para a direita” e para o “bolsonarismo”.

Ok: tudo bem!

Mas como explicar o sucesso acachapante da “direita” e o “bolsonarismo” assentados na senda do fator Marçal?

Como toda vênia ao Ministro José Dirceu, mas tudo é muito mais complexo: nem Marx nem Jesus.

Sem a referência do momentum 1930, nada, ao mesmo tempo, mais antigo e mais moderno que o fator Marçal e, da mesma sorte, nada, ao mesmo tempo, mais perverso e inconsequente que a presidência Bolsonaro.

Mas o que dizer da terceira presidência de Lula da Silva?

Sem lastro não há salvação. E o presidente Lula da Silva foi mobilizado de volta ao poder como reação a 2018 e 2016 sem se ater no vazio aberto em 2013.

Ainda sobre 2013 e depois, vai conveniente notar que, deu-se adeus ao momentum 1930 sem inserir nada de expressivo no lugar.

Do contrário, por onde andarão os novos intérpretes do Brasil – em substituição aos magos dos anos 1930 – para sinalizar, após junho de 2013, o que pensar e o que fazer?

Mas, claro, tudo foi um processo.

Voltando a um passado recente, lembre-se que a frustração com os momentos iniciais do lutopetismo no poder produziu o “silêncio dos intelectuais”. Um silêncio que, em verdade, foi esmaecendo toda aquela força intelectual herdeira do momentum 1930 até se apagar.

Beira um truísmo afirmar que esse apagar produziu 1. o severo e incorrigível empobrecimento do debate público no país e 2. a aceleração da desmoralização das Humanidades no interior das universidades brasileiras.

De modo que o que veio depois de 2013 tornou tudo que já era bem frágil ainda pior. A produção de conhecimento e saber que, à força do momentum 1930, havia se deslocado do diletantismo, agora, em pleno século XXI, começava a namorar a indigência, dentro e fora das universidades, chegando ao seu zênite mais recente agora, em 2024, com o lançamento de “Unitopia” pela Brasil Paralelo (BP).

Parecia o fim do mundo. O barulho foi gigantesco. Anunciadores de mau-agouro emergiam de muitas partes. Alguns muito eloquentes frente a outros simplesmente estridentes. Todos em comunhão. Conclamando uma reação quase sindical ante um mal estrutural. Que se afigurava em Armagedon, fim dos tempos, Juízo Final. A ponto de justificar o conclame:

“Amigos e amigas: as universidades públicas brasileiras vão ser objeto de uma campanha de ódio por parte de ‘Brasil Paralelo’, que lança, no dia 17/9, às 20h, um documentário estilo profissão repórter sobre as universidades públicas brasileiras. Trata-se de matéria encomendada com a finalidade de fazer uma campanha de desqualificação das universidades públicas. É preciso soar os alertas nas demais ADs e mobilizar nosso campo para ocupar os comentários e para denunciar o canal pela difamação sobre as universidades públicas. Claramente é um ataque orquestrado contra as políticas públicas como é o “dia do fogo” que aliás não é um único dia, mas o mês inteiro. As universidades estão sob forte ataque, é a guerra cultural para desqualificar e justificar uma campanha para privatizar de vez o ensino superior do país. Alerta total!”

Todos os frequentadores das universidades brasileiras foram participados dessa convocação.

Mas, malgrado o fervor, não seria o caso de comentar, validar nem reprovar, o documentário sem ver. Ao documentário então.

A copy de seus anúncios dizia abertamente que “As câmeras da Brasil Paralelo entraram nas universidades públicas brasileiras. O que descobrimos será revelado por professores, alunos e servidores que vivem a realidade das salas de aula. Não perca o que vamos revelar no dia 17 de setembro, às 20 horas. Você vai assistir ao primeiro episódio da nossa nova série Unitopia”. Era algo, por claro, exagerado e apelativo, projetando, antes de tudo, vender. Vale lembrar que a BP é, acima de tudo, uma empresa.

Relevando-se o exagero e dando-se um voto de fé ao projeto, avança-se sobre o documentário com a esperança de se encontrar algo novo e inovador. Algo que, de fato, escancarasse o estágio de agonia, angústia e degeneração das universidades brasileiras.

Mas, não: nada.

Nem o fim do mundo nem “uma campanha de ódio”. Nem uma “campanha de desqualificação” nem um movimento para “justificar uma campanha para privatizar de vez o ensino superior do país”.

Nada: simplesmente, nada. Apenas uma simples – e até honesta – peça de reflexão.

Mas, então, por que tanto barulho de parte a parte?

Seria curioso se não fosse trágico.

Entre os críticos do projeto da BP estão, claramente, aqueles imoderados que engrossaram as fileiras do “Ele, não”. Gente que, sinceramente, condenou o documentário sem ver. Pois se tivesse visto teria condições de notar que a letalidade de “Unitopia” não vai ao encontro das universidades – que, em grande medida, já morreram –, mas, em contrário, procura recuperar o elo perdido entre as noites de junho de 2013 e a ascensão do olavobolsonarista expresso na tentação de desconstruir tudo que está aí.

“Unitopia” vai, portanto, muito além das universidades. Trata-se da tentativa de ocupar o espaço que os intelectuais herdeiros do momentum 1930 tornavam vago depois das noites de junho de 2013.

Que dizer? Que fazer? Chorar?

Adeus, Machado. Adeus, Getúlio. Adeus, Brasil.

E ao vencedor, a cloroquina!

 

Fonte: A Terra é Redonda

 

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