“Globo do Velho Testamento” e “Globo do
Novo Testamento”: ambas contra as minorias sociais
Nos círculos de
extrema direita na internet, tem sido cada vez mais comum dividir a história da
maior emissora de televisão do Brasil em duas grandes eras: “Globo do Velho
Testamento” e “Globo do Novo Testamento”. Os mais metódicos apontam até o marco
dessa transição: a morte do fundador da Globo, Roberto Marinho, em 2003. Nessa
lógica, o SBT, com o recente falecimento de Silvio Santos, estaria indo na
mesma direção.
A “Globo do Antigo
Testamento” se refere ao período em que a emissora não era adepta do
politicamente correto, negros eram representados negativamente em telenovelas e
prevalecia o humor estilo Caseta & Planeta. Em suma, a Globo não era
“mimizenta”. Racismo, homofobia ou machismo eram práticas naturalizadas. “Não
existia esse negócio de bullying antigamente”, costumam dizer os saudosistas.
Em contrapartida, a
“Globo do Novo Testamento”, segundo os devaneios da extrema direita, é sinônimo
de “mimimi”, “lacração” e “marxismo cultural”. Diferentemente de outrora, agora
há negros bem-sucedidas na programação, casais homoafetivos em novelas (corrompendo
os valores da “família tradicional”) e os humorísticos politicamente incorretos
não estão mais na grade (ao contrário dos “bons tempos”). A Globo virou “Globe”
(em alusão aos pronomes neutros ou linguagem não binária).
Uma análise apressada
– como já é costume nesta rede mundial de computadores – diria que, finalmente,
a Globo deixou seu passado conservador e, se adaptando aos novos tempos, agora
tem viés progressista. No entanto, como nos ensinou o filósofo contemporâneo
Compadre Washington: “sabe de nada, inocente!”.
Desde sua fundação, em
1965, até o dia em que escrevo este texto, a Globo não alterou em nada seu
principal foco: atender aos interesses do Deus mercado (representado, sob o
aspecto geopolítico, pelo imperialismo estadunidense).
Essa maior presença de
determinadas minorias na tela não tem nada de “representatividade”, como se diz
por aí. É apenas demagogia com negros, mulheres ou homossexuais. Trata-se da
adesão da Globo à chamada agenda woke (ou identitarismo), diretriz ideológica
vinda diretamente do Partido Democrata dos Estados Unidos. Portanto,
politicamente à direita, espectro ao qual a emissora sempre pertenceu (a não
ser que você seja um tiozão do zap que acredite que a Globo é “comunista”).
Desse modo, é
incentivada a divisão dos oprimidos. A “luta de classes” – motor da história e
principal antagonismo no sistema capitalista, de acordo com Marx – é
substituída por “identidades” (que surgem conforme as necessidades do mercado).
Ações concretas dos trabalhadores dão lugar a medidas simbólicas e abstratas
(como mudanças linguísticas).
Para a Globo (e,
naturalmente, para o mercado) é interessante a presença de um ou dois negros
nos telejornais, por exemplo, desde que a maioria continue em situações
precárias e não se rebele. Lembrando o dito popular, o capital cede os anéis
para não perder os dedos. Além disso, a presença de uma mulher, um indígena ou
um homossexual em “espaços de poder” serve para legitimar o princípio da
meritocracia (pois estão lá por terem se esforçado o suficiente; logo
mereceram).
Se na “Globo do Velho
Testamento” não havia tanta minoria contemplada, era porque isso não era
interessante ao grande capital. Já na “Globo do Novo Testamento” o assunto é
outro. Há necessidade de vender produtos para pele negra, turismo gay, roupas
plus size e por aí vai.
Uma breve análise do
histórico recente da “Globo do Novo Testamento” comprova que não há defesa
alguma das minorias. Além de seguir de maneira fidedigna os ditames do
imperialismo estadunidense (maior inimigo dos povos oprimidos do planeta), a
emissora contribuiu para o golpe de 2016, que prejudicou principalmente os
setores mais vulneráveis da população, e segue apoiando a política do sionismo
na Palestina, regime que melhor representa os ideais supremacistas e racistas
na atualidade.
Se os noticiários
internacionais da “Globo do Novo Testamento” fossem realmente antirracistas,
favoráveis às mulheres e em defesa das crianças, deveriam denunciar os crimes
de Israel contra essas minorias sociais.
Assim, enquanto a
“Globo do Velho Testamento” era explícita em demonstrar seu repúdio às
minorias; a “Globo do Novo Testamento” possui uma linha mais sofisticada,
oculta seus preconceitos sob o verniz do identitarismo (ao aceitar que só
alguns integrantes de determinadas minorias cheguem ao topo). A ascensão
individual garante que não haja libertação coletiva.
Também não deixa de
ser inusitado constatar que, tanto os adeptos da “Globo do Velho Testamento”
(extrema direita), quando os defensores da “Globo do Novo Testamento”
(identitários), têm um ponto em comum: o autoritarismo. Ambos querem calar
vozes contrárias, sendo os principais expoentes daquilo que conhecemos como
cultura do cancelamento.
Não importa se você
chamar a emissora da família Marinho de “Rede Goebbels”, “Globe”, “Vênus
Platinada”, “Globo Lixo” ou “Rede Bobo”. Independentemente do “testamento” –
novo ou velho – a Globo só defenderá os interesses de uma única “minoria”
(“numérica”, e não “social”): aquele 1 % que controla a maior parte da riqueza
produzida no mundo.
• Brasil tem 586 mil crianças e
adolescentes exercendo as piores formas de trabalho infantil; índice é o menor
já registrado
Cerca de 586 mil
crianças e adolescentes de 5 a 17 anos exerceram as piores formas de trabalho
infantil, atividades que envolvem risco de acidentes à saúde e estão descritas
na Lista TIP, em 2023. O número é o menor da série histórica e teve uma redução
de 22,5% frente a 2022, quando 756 mil crianças e adolescentes do país estavam
nessa situação.
Os dados fazem parte
da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua sobre o Trabalho
de Crianças e Adolescentes em 2023, divulgada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), nesta sexta-feira, 18.
Os mais jovens são os
mais atingidos; 65,7% das crianças e adolescentes de 5 a 13 anos realizavam as
piores formas de trabalho infantil. Já no grupo de 14 e 15 anos, o percentual foi de 55,7%, e no de 16 e 17
anos, de 34,1%, ou seja, demonstrando queda com o aumento da idade.
A pesquisa também
identificou que, em 2023, o País tinha 1,607 milhão de crianças e adolescentes
de 5 a 17 anos em situação de trabalho infantil, menor contingente desde 2016,
quando iniciou a série histórica da PNAD Contínua para esse indicador. Esse contingente
caiu 14,6% frente a 2022 (1,881 milhão) e 23,9% frente a 2016 (2,112 milhões).
Além disso, o trabalho
em atividades econômicas não eximia crianças e adolescentes dos afazeres
domésticos. Pelo contrário, a proporção dos envolvidos em afazeres domésticos
era maior entre os que trabalhavam (75,5%) do que entre os que não realizavam
nenhuma atividade econômica (51,7%).
<><> Como
foi feita a pesquisa?
O trabalho infantil é
aquele que oferece prejuízos à saúde, ao desenvolvimento desenvolvimento
físico, mental, emocional e social das crianças e adolescentes. A pesquisa
também classificou quem são as crianças e adolescentes que desenvolvem
atividades constantes na Lista das Piores Formas de Trabalho Infantil (Lista
TIP).
Para mensurar o grupo
de grupo de brasileiros com idades de 5 a 17 anos em situação de trabalho
infantil, foi criado um aglorítimo como
base também nos seguintes critérios: faixa etária, tipo de atividade desenvolvida,
número de horas trabalhadas, frequência escolar, a realização de trabalho
perigoso e atividades econômicas desenvolvidas em situação de informalidade.
<><> Quem
são as crianças e adolescentes que realizavam as piores formas de trabalha
infantil no Brasil em 2023?
# 76,4% eram homens;
# 67,5% tem a cor
preta ou parda;
# Os piores
indicadores de trabalho infantil em pessoas de 5 a 13 anos foram encontrados
nas regiões Norte e Nordeste;
# O rendimento mensal
era de R$ 735 por mês. Em contrapartida, crianças e adolescentes em situação de
trabalho infantil (que não envolvem riscos à saúde) ganhavam em média R$ 771
por mês;
<><> Quem
são as crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil?
# 63,8% eram homens;
# Quase dois terços
(65,2%) eram pretas ou pardas;
# A maior quantidade,
506 mil, estava na região Nordeste, mas a maior proporção foi encontrada na
região Norte, onde 6,9% das crianças e adolescentes de 5 a 17 anos estavam em
situação de trabalho infantil;
# Mais de 48% atuavam
no Comércio e reparação de veículos (26,7%) ou na Agricultura, pecuária,
produção florestal, pesca e aquicultura (21,6%);
O trabalho infantil
afasta as crianças da escola. Enquanto 97,5% da população de 5 a 17 anos de
idade eram estudantes, entre os trabalhadores infantis esta taxa era de 88,4%.
<><> O que
diz a legislação brasileira
# Até os 13 anos é
proibido qualquer forma de trabalho até os 13 anos;
# Aos 14 e 15 anos é
permitido unicamente o trabalho na condição de aprendiz;
# Aos 16 e 17 anos é
permitido o trabalho apenas com carteira assinada, sem atividades perigosas,
insalubres e em horário noturno.
¨ Quando a vergonha pode mudar o mundo
Recentemente, durante
um evento da iniciativa Goalkeepers, promovido nos Estados Unidos pela Fundação
Bill e Melinda Gates, o presidente Lula afirmou que a fome no mundo não se deve
à falta de dinheiro, e sim à falta de “vergonha na cara” de quem governa os
países.
Lula disse também que
a classe empresarial tem responsabilidade direta na questão alimentar e que a
população mais rica terá que aprender a investir sua riqueza para cuidar do
planeta, ou tudo acaba.
Alfinetadas à parte, o
comentário caiu na vala comum dos noticiários, apesar do interessante subtexto
nele contido.
A vergonha é, sim,
humilhação e tristeza incapacitantes, culpa, arrependimento e muitos
sentimentos nocivos que paralisam uma reação.
Na fala do presidente,
no entanto, a “vergonha na cara” ultrapassa o lugar comum e toma dimensões
políticas cujo significado mais profundo é a força motriz de um sentimento
revolucionário, capaz de incríveis transformações individuais e coletivas.
Sem escancarar a
autoria, Lula recitou Marx para o mundo.
Pelo imperativo
marxista, “a vergonha é uma revolução em si. […] é uma espécie de raiva voltada
para si mesma. E se uma nação inteira se sentisse envergonhada, seria como um
leão recuando para saltar”, escreveu Marx em uma carta datada de 1843 e
endereçada ao filósofo alemão Arnold Ruge.
Houvesse o esforço de
entender a camada de vulnerabilidade sob a questão alimentar, a fome não seria
naturalizada e nenhuma pessoa viveria abaixo da linha da dignidade.
O conjunto da
sociedade civil e dos governos agiria com a força do leão pronto a saltar sobre
as injustiças. Entre elas, claro, a fome, entendida por Marx como um poderoso
problema estrutural do capitalismo e uma forma de destruição.
• Deputado evangélico diz que Lula tem seu
‘reconhecimento’ e não se arrepende de elogios
O deputado federal
Otoni de Paula (MDB-RJ), que se encontrou com o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) na última terça-feira, 15, durante a cerimônia que marcou a sanção
do projeto de lei que cria o Dia Nacional da Música Gospel, afirmou em entrevista
à CNN Brasil que não se arrepende do encontro e do discurso elogioso feito no
evento.
Na ocasião, o
ex-vice-líder do governo de Jair Bolsonaro (PL) afirmou que, embora a maioria
dos evangélicos não tenha votado em Lula, eles estão “entre os brasileiros mais
beneficiados pelos programas sociais de seu governo”. Ele citou o Bolsa Família
e o Minha Casa Minha Vida como exemplos de políticas que ajudam “essa gente
humilde e temente a Deus”.
“É preciso reconhecer
programas sociais como o Minha Casa, Minha Vida, o ProUni, entre outros. Esses
programas atingem uma boa parcela de nós, evangélicos, um povo que faz parte da
base da pirâmide social. Não se tratava de elogios, mas de um reconhecimento”,
declarou o deputado à emissora.
O parlamentar, que se
autodefine como “conservador, de direita e evangélico”, destacou que o PT
enfrenta dificuldades na comunicação com o eleitorado religioso. Segundo ele, o
voto dos evangélicos é “baseado em princípios” e, enquanto Lula estiver associado
à “pauta identitária e progressista”, continuará enfrentando resistência desse
público.
“Enquanto Lula estiver
envolvido com essa pauta (…), ele pode até ter reconhecimento, mas não terá o
voto dos evangélicos. Eu reconheço Lula, mas não voto nele. Por que se envolver
em questões que o afastam da igreja?”, questionou.
A presença de Otoni no
evento no Palácio do Planalto gerou críticas dentro da base bolsonarista. O
deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) foi um dos que atacaram o colega,
classificando os seus agradecimentos ao petista como uma “atitude patética”.
O parlamentar
minimizou as críticas, defendendo que as lideranças evangélicas precisam seguir
um novo caminho, sem vínculo com Lula ou Bolsonaro. Para ele, “a igreja foi
tomada por uma paixão política, da qual eu mesmo já participei, mas agora
precisa voltar à sua missão e papel”. Ele também afirmou que, em alguns
templos, “defender Bolsonaro parece mais importante do que defender a fé”.
Na quinta-feira, 17,
durante entrevista à Rádio Metrópole, de Salvador, Lula fez uma provocação a
Otoni.
“O deputado foi lá e
fez uma declaração dizendo que não votou em mim, que muitos evangélicos não
votaram em mim, mas que reconhece que tudo para os evangélicos foi feito por
mim. Deu vontade de perguntar: se você reconhece isso, por que votou no
Bolsonaro?”, questionou o presidente, que observou que as declarações de Otoni
a seu favor fizeram o deputado ser “triturado” por bolsonaristas.
Seis dias antes da
cerimônia no Planalto, Otoni tinha dito que o governo do PT era antissemita por
não querer fazer negócios com Israel. Como mostrou a Coluna do Estadão, a
declaração deixou auxiliares de Lula surpresos, já que ele é considerado ponte
entre o governo e o mundo evangélico. Nas eleições municipais no Rio, por
exemplo, o deputado apoiou a reeleição de Eduardo Paes (PSD), aliado de Lula,
contra Alexandre Ramagem (PL), candidato do bolsonarismo.
Fonte: Por Francisco
Fernandes Ladeira, no Jornal GGN/IstoÉ/Redação Terra/Pagina do MST
Nenhum comentário:
Postar um comentário