quarta-feira, 23 de outubro de 2024

“Globo do Velho Testamento” e “Globo do Novo Testamento”: ambas contra as minorias sociais

Nos círculos de extrema direita na internet, tem sido cada vez mais comum dividir a história da maior emissora de televisão do Brasil em duas grandes eras: “Globo do Velho Testamento” e “Globo do Novo Testamento”. Os mais metódicos apontam até o marco dessa transição: a morte do fundador da Globo, Roberto Marinho, em 2003. Nessa lógica, o SBT, com o recente falecimento de Silvio Santos, estaria indo na mesma direção.

A “Globo do Antigo Testamento” se refere ao período em que a emissora não era adepta do politicamente correto, negros eram representados negativamente em telenovelas e prevalecia o humor estilo Caseta & Planeta. Em suma, a Globo não era “mimizenta”. Racismo, homofobia ou machismo eram práticas naturalizadas. “Não existia esse negócio de bullying antigamente”, costumam dizer os saudosistas.

Em contrapartida, a “Globo do Novo Testamento”, segundo os devaneios da extrema direita, é sinônimo de “mimimi”, “lacração” e “marxismo cultural”. Diferentemente de outrora, agora há negros bem-sucedidas na programação, casais homoafetivos em novelas (corrompendo os valores da “família tradicional”) e os humorísticos politicamente incorretos não estão mais na grade (ao contrário dos “bons tempos”). A Globo virou “Globe” (em alusão aos pronomes neutros ou linguagem não binária).

Uma análise apressada – como já é costume nesta rede mundial de computadores – diria que, finalmente, a Globo deixou seu passado conservador e, se adaptando aos novos tempos, agora tem viés progressista. No entanto, como nos ensinou o filósofo contemporâneo Compadre Washington: “sabe de nada, inocente!”.

Desde sua fundação, em 1965, até o dia em que escrevo este texto, a Globo não alterou em nada seu principal foco: atender aos interesses do Deus mercado (representado, sob o aspecto geopolítico, pelo imperialismo estadunidense).

Essa maior presença de determinadas minorias na tela não tem nada de “representatividade”, como se diz por aí. É apenas demagogia com negros, mulheres ou homossexuais. Trata-se da adesão da Globo à chamada agenda woke (ou identitarismo), diretriz ideológica vinda diretamente do Partido Democrata dos Estados Unidos. Portanto, politicamente à direita, espectro ao qual a emissora sempre pertenceu (a não ser que você seja um tiozão do zap que acredite que a Globo é “comunista”).

Desse modo, é incentivada a divisão dos oprimidos. A “luta de classes” – motor da história e principal antagonismo no sistema capitalista, de acordo com Marx – é substituída por “identidades” (que surgem conforme as necessidades do mercado). Ações concretas dos trabalhadores dão lugar a medidas simbólicas e abstratas (como mudanças linguísticas).

Para a Globo (e, naturalmente, para o mercado) é interessante a presença de um ou dois negros nos telejornais, por exemplo, desde que a maioria continue em situações precárias e não se rebele. Lembrando o dito popular, o capital cede os anéis para não perder os dedos. Além disso, a presença de uma mulher, um indígena ou um homossexual em “espaços de poder” serve para legitimar o princípio da meritocracia (pois estão lá por terem se esforçado o suficiente; logo mereceram).

Se na “Globo do Velho Testamento” não havia tanta minoria contemplada, era porque isso não era interessante ao grande capital. Já na “Globo do Novo Testamento” o assunto é outro. Há necessidade de vender produtos para pele negra, turismo gay, roupas plus size e por aí vai.

Uma breve análise do histórico recente da “Globo do Novo Testamento” comprova que não há defesa alguma das minorias. Além de seguir de maneira fidedigna os ditames do imperialismo estadunidense (maior inimigo dos povos oprimidos do planeta), a emissora contribuiu para o golpe de 2016, que prejudicou principalmente os setores mais vulneráveis da população, e segue apoiando a política do sionismo na Palestina, regime que melhor representa os ideais supremacistas e racistas na atualidade.

Se os noticiários internacionais da “Globo do Novo Testamento” fossem realmente antirracistas, favoráveis às mulheres e em defesa das crianças, deveriam denunciar os crimes de Israel contra essas minorias sociais.

Assim, enquanto a “Globo do Velho Testamento” era explícita em demonstrar seu repúdio às minorias; a “Globo do Novo Testamento” possui uma linha mais sofisticada, oculta seus preconceitos sob o verniz do identitarismo (ao aceitar que só alguns integrantes de determinadas minorias cheguem ao topo). A ascensão individual garante que não haja libertação coletiva.

Também não deixa de ser inusitado constatar que, tanto os adeptos da “Globo do Velho Testamento” (extrema direita), quando os defensores da “Globo do Novo Testamento” (identitários), têm um ponto em comum: o autoritarismo. Ambos querem calar vozes contrárias, sendo os principais expoentes daquilo que conhecemos como cultura do cancelamento.

Não importa se você chamar a emissora da família Marinho de “Rede Goebbels”, “Globe”, “Vênus Platinada”, “Globo Lixo” ou “Rede Bobo”. Independentemente do “testamento” – novo ou velho – a Globo só defenderá os interesses de uma única “minoria” (“numérica”, e não “social”): aquele 1 % que controla a maior parte da riqueza produzida no mundo.

•        Brasil tem 586 mil crianças e adolescentes exercendo as piores formas de trabalho infantil; índice é o menor já registrado

Cerca de 586 mil crianças e adolescentes de 5 a 17 anos exerceram as piores formas de trabalho infantil, atividades que envolvem risco de acidentes à saúde e estão descritas na Lista TIP, em 2023. O número é o menor da série histórica e teve uma redução de 22,5% frente a 2022, quando 756 mil crianças e adolescentes do país estavam nessa situação.

Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua sobre o Trabalho de Crianças e Adolescentes em 2023, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta sexta-feira, 18.

Os mais jovens são os mais atingidos; 65,7% das crianças e adolescentes de 5 a 13 anos realizavam as piores formas de trabalho infantil. Já no grupo de 14 e 15 anos, o  percentual foi de 55,7%, e no de 16 e 17 anos, de 34,1%, ou seja, demonstrando queda com o aumento da idade.

A pesquisa também identificou que, em 2023, o País tinha 1,607 milhão de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos em situação de trabalho infantil, menor contingente desde 2016, quando iniciou a série histórica da PNAD Contínua para esse indicador. Esse contingente caiu 14,6% frente a 2022 (1,881 milhão) e 23,9% frente a 2016 (2,112 milhões).

Além disso, o trabalho em atividades econômicas não eximia crianças e adolescentes dos afazeres domésticos. Pelo contrário, a proporção dos envolvidos em afazeres domésticos era maior entre os que trabalhavam (75,5%) do que entre os que não realizavam nenhuma atividade econômica (51,7%).

<><> Como foi feita a pesquisa?

O trabalho infantil é aquele que oferece prejuízos à saúde, ao desenvolvimento desenvolvimento físico, mental, emocional e social das crianças e adolescentes. A pesquisa também classificou quem são as crianças e adolescentes que desenvolvem atividades constantes na Lista das Piores Formas de Trabalho Infantil (Lista TIP).

Para mensurar o grupo de grupo de brasileiros com idades de 5 a 17 anos em situação de trabalho infantil,  foi criado um aglorítimo como base também nos seguintes critérios: faixa etária, tipo de atividade desenvolvida, número de horas trabalhadas, frequência escolar, a realização de trabalho perigoso e atividades econômicas desenvolvidas em situação de informalidade.

<><> Quem são as crianças e adolescentes que realizavam as piores formas de trabalha infantil no Brasil em 2023?

# 76,4% eram homens;

# 67,5% tem a cor preta ou parda;

# Os piores indicadores de trabalho infantil em pessoas de 5 a 13 anos foram encontrados nas regiões Norte e Nordeste;

# O rendimento mensal era de R$ 735 por mês. Em contrapartida, crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil (que não envolvem riscos à saúde) ganhavam em média R$ 771 por mês;

<><> Quem são as crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil?

# 63,8% eram homens;

# Quase dois terços (65,2%) eram pretas ou pardas;

# A maior quantidade, 506 mil, estava na região Nordeste, mas a maior proporção foi encontrada na região Norte, onde 6,9% das crianças e adolescentes de 5 a 17 anos estavam em situação de trabalho infantil;

# Mais de 48% atuavam no Comércio e reparação de veículos (26,7%) ou na Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (21,6%);

O trabalho infantil afasta as crianças da escola. Enquanto 97,5% da população de 5 a 17 anos de idade eram estudantes, entre os trabalhadores infantis esta taxa era de 88,4%.

<><> O que diz a legislação brasileira

# Até os 13 anos é proibido qualquer forma de trabalho até os 13 anos;

# Aos 14 e 15 anos é permitido unicamente o trabalho na condição de aprendiz;

# Aos 16 e 17 anos é permitido o trabalho apenas com carteira assinada, sem atividades perigosas, insalubres e em horário noturno.

 

¨      Quando a vergonha pode mudar o mundo

Recentemente, durante um evento da iniciativa Goalkeepers, promovido nos Estados Unidos pela Fundação Bill e Melinda Gates, o presidente Lula afirmou que a fome no mundo não se deve à falta de dinheiro, e sim à falta de “vergonha na cara” de quem governa os países.

Lula disse também que a classe empresarial tem responsabilidade direta na questão alimentar e que a população mais rica terá que aprender a investir sua riqueza para cuidar do planeta, ou tudo acaba.

Alfinetadas à parte, o comentário caiu na vala comum dos noticiários, apesar do interessante subtexto nele contido.

A vergonha é, sim, humilhação e tristeza incapacitantes, culpa, arrependimento e muitos sentimentos nocivos que paralisam uma reação.

Na fala do presidente, no entanto, a “vergonha na cara” ultrapassa o lugar comum e toma dimensões políticas cujo significado mais profundo é a força motriz de um sentimento revolucionário, capaz de incríveis transformações individuais e coletivas.

Sem escancarar a autoria, Lula recitou Marx para o mundo.

Pelo imperativo marxista, “a vergonha é uma revolução em si. […] é uma espécie de raiva voltada para si mesma. E se uma nação inteira se sentisse envergonhada, seria como um leão recuando para saltar”, escreveu Marx em uma carta datada de 1843 e endereçada ao filósofo alemão Arnold Ruge.

Houvesse o esforço de entender a camada de vulnerabilidade sob a questão alimentar, a fome não seria naturalizada e nenhuma pessoa viveria abaixo da linha da dignidade.

O conjunto da sociedade civil e dos governos agiria com a força do leão pronto a saltar sobre as injustiças. Entre elas, claro, a fome, entendida por Marx como um poderoso problema estrutural do capitalismo e uma forma de destruição.

 

•        Deputado evangélico diz que Lula tem seu ‘reconhecimento’ e não se arrepende de elogios

O deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), que se encontrou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na última terça-feira, 15, durante a cerimônia que marcou a sanção do projeto de lei que cria o Dia Nacional da Música Gospel, afirmou em entrevista à CNN Brasil que não se arrepende do encontro e do discurso elogioso feito no evento.

Na ocasião, o ex-vice-líder do governo de Jair Bolsonaro (PL) afirmou que, embora a maioria dos evangélicos não tenha votado em Lula, eles estão “entre os brasileiros mais beneficiados pelos programas sociais de seu governo”. Ele citou o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida como exemplos de políticas que ajudam “essa gente humilde e temente a Deus”.

“É preciso reconhecer programas sociais como o Minha Casa, Minha Vida, o ProUni, entre outros. Esses programas atingem uma boa parcela de nós, evangélicos, um povo que faz parte da base da pirâmide social. Não se tratava de elogios, mas de um reconhecimento”, declarou o deputado à emissora.

O parlamentar, que se autodefine como “conservador, de direita e evangélico”, destacou que o PT enfrenta dificuldades na comunicação com o eleitorado religioso. Segundo ele, o voto dos evangélicos é “baseado em princípios” e, enquanto Lula estiver associado à “pauta identitária e progressista”, continuará enfrentando resistência desse público.

“Enquanto Lula estiver envolvido com essa pauta (…), ele pode até ter reconhecimento, mas não terá o voto dos evangélicos. Eu reconheço Lula, mas não voto nele. Por que se envolver em questões que o afastam da igreja?”, questionou.

A presença de Otoni no evento no Palácio do Planalto gerou críticas dentro da base bolsonarista. O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) foi um dos que atacaram o colega, classificando os seus agradecimentos ao petista como uma “atitude patética”.

O parlamentar minimizou as críticas, defendendo que as lideranças evangélicas precisam seguir um novo caminho, sem vínculo com Lula ou Bolsonaro. Para ele, “a igreja foi tomada por uma paixão política, da qual eu mesmo já participei, mas agora precisa voltar à sua missão e papel”. Ele também afirmou que, em alguns templos, “defender Bolsonaro parece mais importante do que defender a fé”.

Na quinta-feira, 17, durante entrevista à Rádio Metrópole, de Salvador, Lula fez uma provocação a Otoni.

“O deputado foi lá e fez uma declaração dizendo que não votou em mim, que muitos evangélicos não votaram em mim, mas que reconhece que tudo para os evangélicos foi feito por mim. Deu vontade de perguntar: se você reconhece isso, por que votou no Bolsonaro?”, questionou o presidente, que observou que as declarações de Otoni a seu favor fizeram o deputado ser “triturado” por bolsonaristas.

Seis dias antes da cerimônia no Planalto, Otoni tinha dito que o governo do PT era antissemita por não querer fazer negócios com Israel. Como mostrou a Coluna do Estadão, a declaração deixou auxiliares de Lula surpresos, já que ele é considerado ponte entre o governo e o mundo evangélico. Nas eleições municipais no Rio, por exemplo, o deputado apoiou a reeleição de Eduardo Paes (PSD), aliado de Lula, contra Alexandre Ramagem (PL), candidato do bolsonarismo.

 

Fonte: Por Francisco Fernandes Ladeira, no Jornal GGN/IstoÉ/Redação Terra/Pagina do MST

 

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