Brasil seguirá linha da presidência russa
no BRICS em 2025, diz Vieira
A 16ª Cúpula do BRICS,
em Kazan, de 22 a 24 de outubro, marca a culminação da presidência russa do
BRICS, mas com o ano passando, o momento em que o Brasil vai se tornar o
presidente do grupo está se aproximando.
O ministro das
Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira, revelou, em uma entrevista à
Sputnik, os vetores da política que o Brasil pretende desenvolver em sua
próxima presidência do BRICS e no cenário mundial em transformação em geral.
Ampliação do BRICS:
critérios para candidatos
Segundo o chanceler, o
Brasil, durante sua presidência, quer seguir a linha atual que a Rússia, como
atual presidente do agrupamento, exerce, aumentando os participantes do grupo.
Vieira disse que a
posição brasileira na questão da expansão do BRICS permanece a de que todos os
países que querem virar parte do grupo devem acatar os critérios dos
países-membros atuais.
"É uma questão de
coerência e de promover uma expansão que fortaleça o BRICS politicamente como
voz influente no mundo", ressaltou.
Para alcançar esse
objetivo, como uma das prioridades das discussões às margens da cúpula, Vieira
considera o desenvolvimento e o estabelecimento desses critérios.
Um dos critérios a
serem acatados, segundo o desejo brasileiro, é o da defesa da ampliação do
Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), o que permitiria fortalecer as
posições do BRICS e de todo o Sul Global no cenário mundial.
Vieira lembrou que na
última cúpula do BRICS, em Joanesburgo, as delegações concordaram que o Brasil,
a África do Sul e a Índia deviam ter o direito de ocupar vagas em caso de
ampliação do CSNU.
"Nossa posição é
a de que a manifestação dos líderes, neste e em outros assuntos relevantes,
deve orientar o processo de ampliação", enfatizou.
Tocando o tema da
desdolarização e uso de moedas nacionais no comércio dentro do BRICS, o
chanceler disse que, embora a questão precise de tempo para se desenvolver, o
assunto "desperta grande interesse no presidente Lula, e o Brasil é
favorável a que essa nova modalidade fique à disposição".
Ele confirmou que as
experiências do Brasil mostraram que há uma possibilidade de realizar essas
ideias.
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Amigos da Paz e sua capacidade de resolver conflitos
Anteriormente, o
ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, disse que a China, o Brasil
e outros países do Sul Global com ideias semelhantes pretendem criar a
plataforma aberta Amigos da Paz para resolver a crise ucraniana.
Apesar de o assunto
não estar na agenda oficial da cúpula, Vieira disse que está pronto para
apresentar as ideias principais da proposta.
Porém agora não é o
tempo próprio para organizar uma reunião da plataforma, já que é preciso tempo
para ela atrair novos países que a avaliariam.
"Qualquer esforço
bem-sucedido de abertura de diálogo depende da aceitação pelas partes
diretamente envolvidas no conflito", acrescentou.
Quando perguntado
sobre a possibilidade de participar na solução do conflito no Oriente Médio,
Vieira sublinhou que, embora todas as tentativas de cessar-fogo em Gaza e no
Líbano tenham falhado, a posição brasileira continua sendo a solução de dois
Estados, um palestino e um israelense, estabelecida pelas Nações Unidas, como
única fórmula para a paz na região.
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Consequências das eleições nos EUA
O Brasil não tem
preocupações sobre os resultados das próximas eleições nos Estados Unidos.
Segundo ele, as
relações entre os EUA e a América Latina têm sido formadas durante longo tempo
e "são também maduras e muito sólidas", com grande envolvimento das
sociedades dos países.
Elas não dependem
apenas do líder em exercício, e por isso Vieira disse não esperar alguma
mudança radical nas relações entre a região sul-americana e o país
norte-americano.
• 'As negociações foram concluídas com
êxito': diz sherpa brasileiro do BRICS sobre novos membros
Brasil mantém apoio à
reforma do Conselho de Segurança da ONU como critério para adesão de novos
países ao BRICS e aposta na categoria de países parceiros. Após dias de
reuniões, o sherpa do Brasil no BRICS, embaixador Eduardo Saboia, revelou à
Sputnik Brasil os principais avanços nas negociações.
Nesta terça-feira
(22), representantes do Itamaraty finalizam as negociações sobre a nova
expansão do BRICS e os termos da Declaração Final do grupo. Os resultados serão
divulgados durante a Cúpula de Chefes de Estado de Kazan, a ser realizada entre
os dias 22 e 23 de outubro.
O embaixador Eduardo
Saboia, responsável pelas negociações no âmbito do BRICS, passou os últimos
dias cumprindo agenda intensa na Reunião de Sherpas do grupo, iniciada no dia
17 de outubro. Em conversa com a Sputnik Brasil, o diplomata afirmou que a maratona
de negociações foi concluída com sucesso.
Um dos pontos focais
da agenda foi o estabelecimento de uma categoria de países parceiros do BRICS e
seus respectivos critérios de admissão.
"A discussão de
critérios para parceiros foi concluída exitosamente e ela inclui aspectos que
nós consideramos importantes, como a ideia de que os países [parceiros do
BRICS] não devem adotar sanções unilaterais, que devem ter relações amigáveis
com todos os países do grupo e apoiar a reforma do Conselho de Segurança da
ONU", disse Saboia à Sputnik Brasil.
Para o embaixador
Saboia, a inclusão da reforma do Conselho de Segurança na agenda de negociações
do BRICS coaduna com o objetivo do bloco de promover a reforma da ordem global.
"Esse é um
aspecto importante, já que o BRICS será uma força de transformação da
governança global. E essa transformação também requer a reforma do Conselho de
Segurança. Portanto, isso foi aprovado", informou Saboia.
Apesar da cobertura
midiática da Cúpula de Kazan estar focada na seleção de países candidatos a
entrar no BRICS, o embaixador Saboia confirma que a inclusão de novos membros
plenos na agremiação, por enquanto, não está na agenda.
"Não há uma
discussão sobre a ampliação dos membros, […] o foco é na categoria de países
parceiros, que participam das sessões em separado das de líderes e de ministros
das Relações Exteriores. Essa é uma prática que já existe, e a categoria de
países é uma maneira de organizar essa prática e de dar a ela maior
previsibilidade", disse Saboia.
De fato, declarações
recentes de autoridades como o presidente russo Vladimir Putin e o
vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, notam a
necessidade de consolidar a entrada dos novos membros plenos do BRICS, como
Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Irã, antes de iniciar uma nova rodada
de expansão.
"Apesar de a
questão dos critérios para países parceiros estar ganhando muita atenção, eu
acho que o grande aspecto dessa reunião [em Kazan] é que estamos reunindo todos
os novos membros. É a primeira vez que, em nível de líderes, reuniremos o BRICS
ampliado", declarou Saboia. "E isso é um exercício muito importante,
porque exige o debate sobre os assuntos que antes eram discutidos somente entre
os cinco, e agora terão um espaço muito maior."
O sherpa brasileiro
ainda notou os avanços realizados no setor financeiro, um tema caro para a
presidência russa do BRICS. O tema estará na agenda dos chefes de Estado nesta
quarta-feira (22) e será mantido na lista de prioridades durante 2025, ano em
que o Brasil assume o comando do grupo.
"Houve um bom
avanço na área de cooperação financeira. Os ministros das Finanças tiveram
reuniões nesse ano de presidência da Rússia, e esse trabalho vai
prosseguir", disse Saboia. "Essa área deverá receber um novo impulso
agora com a reunião de líderes e que vai continuar da presidência russa para a
presidência brasileira."
O representante do
Itamaraty declarou estar otimista com a presidência brasileira do bloco, apesar
da necessidade de acumular a função com a organização da Conferência das Partes
do Clima, em Belém do Pará. Por isso, o Brasil planeja realizar a próxima Cúpula
do BRICS já no primeiro semestre de 2025.
"O Brasil tem uma
tradição de fazer presidências com bons resultados como, por exemplo, a
fundação do Novo Banco de Desenvolvimento, [também conhecido como Banco do
BRICS], que foi durante a presidência brasileira do BRICS [de 2014]",
lembrou Saboia. "Mas como teremos a Conferência do Clima no fim do ano,
achamos prudente realizar [a Cúpula do BRICS] já no primeiro semestre."
O representante do
Itamaraty garantiu que o calendário apertado não prejudicará a liderança
brasileira do bloco, que será exercida ao longo de todo o ano.
"Os temas da
nossa presidência refletem as prioridades dos países do BRICS. Na presidência
brasileira do G20, procuramos imprimir maior ênfase em alguns eixos: combate à
pobreza e à fome, desenvolvimento econômico, sustentabilidade e reforma da governança
global. Acredito que esses eixos estarão refletidos na presidência brasileira
do BRICS. Mas lembro que é um trabalho coletivo e todos os países terão suas
contribuições a dar na presidência brasileira", concluiu o embaixador
Saboia.
Nesta terça-feira
(22), os preparativos para a Cúpula de Chefes de Estado do BRICS seguem em
Kazan, com as delegações focando na agenda bilateral. No período da manhã do
horário local, o presidente russo Vladimir Putin se reuniu com a presidenta do
Novo Banco de Desenvolvimento, Dilma Rousseff.
Durante a tarde, o
presidente russo deve realizar conversa telefônica com o seu homólogo
brasileiro, que não pôde comparecer a Kazan por recomendação médica.
A agenda do presidente
russo para esta terça (22) ainda inclui reuniões bilaterais com o presidente da
China, Xi Jinping, da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e com o primeiro-ministro
da Índia, Narendra Modi.
• Amorim diz que entrada da Venezuela no
BRICS não é 'julgamento moral e nem político' e cita Turquia
Na segunda-feira (21),
foi ventilado pela mídia brasileira que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
teria sinalizado a sua equipe internacional que o Brasil não apoiaria a entrada
da Venezuela no BRICS.
Nesta terça-feira
(22), Celso Amorim, principal assessor de política externa de Lula – o qual
teve uma reunião ontem com o presidente – comentou sobre o assunto, afirmando
que não se trata de "julgamento moral e nem político", uma vez que o
importante é saber da capacidade política e diplomática de novos países
integrarem o bloco, e não necessariamente se um Estado ou outro em especial.
"Talvez ainda não
seja possível chegar a uma conclusão. Não estou preocupado com a entrada ou não
da Venezuela, não estamos fazendo julgamento moral e nem político sobre o país
em si. O BRICS tem países que praticam certos tipos de regime, e outros tipos
de regime, a questão é saber se eles têm capacidade pelo seu peso político e
pela capacidade de relacionamento, de contribuírem para um mundo mais
pacífico", afirmou Amorim em entrevista ao jornal O Globo.
A Venezuela se
candidatou para ingressar no organismo e, com a primeira cúpula do BRICS
ampliado acontecendo hoje (22) e amanhã (23) em Kazan, na Rússia, a candidatura
deve ser trazida à mesa.
"O Brasil quer
fortalecer o BRICS, tivemos um aumento recente, estamos nos adaptando a esse
aumento. A própria Arábia Saudita disse que ia entrar, foi em algumas reuniões,
não foi a outras. Queremos que haja BRICS fortalecido, países que possam realmente
contribuir para a paz pelo equilíbrio", argumenta o ex-chanceler.
Ao mesmo tempo, Amorim
defendeu que não haja uma regra rígida, mas que a cúpula esteja aberta a países
que tenham clara capacidade de relacionamento, o que compensaria nações de
menor tamanho. O assessor citou o exemplo da Turquia, que não integra o grupo e
faz contribuições efetivas.
"Não acho que
deve ser restritivo, mas tem países que, pela sua capacidade de relacionamento,
compensam tamanho pequeno e a partir dessa ideia podem ter um peso nas relações
internacionais, influenciar na paz mundial, no desenvolvimento e na mudança da
governança global."
Devido ao acidente
doméstico ocorrido no último sábado (18), Lula cancelou a ida à Rússia e enviou
o chanceler Mauro Vieira como chefe da delegação brasileira. O presidente
participará da cúpula por videoconferência.
• Brasil é contra as sanções à Rússia,
entre os 2 países não há hostilidade, diz Amorim
As sanções contra a
Rússia não são um instrumento eficaz de influência e não vão dar resultado,
disse Celso Amorim, assessor especial da Presidência do Brasil para assuntos
internacionais, em entrevista à mídia alemã às vésperas da cúpula do BRICS em
Kazan.
Um jornalista alemão
perguntou se o Brasil apoiava a imposição de medidas restritivas contra a
Rússia.
Amorim respondeu que
seu país não compartilha da opinião do Ocidente sobre essa questão, apontando
para as relações amistosas e a ausência de hostilidade entre o Brasil e a
Rússia.
"Temos relações
normais com a Rússia. Somos contra as sanções", enfatizou Amorim.
Ao discutir a possível
eficácia das sanções impostas à Rússia, ele chamou a atenção de seu
interlocutor para o fato de a Europa Ocidental ser quem que mais sofre com
elas, enquanto a economia da Rússia está crescendo.
"Hoje em dia, os
EUA vendem combustível e gás caros para os europeus ocidentais, que precisam
ser transportados por mar. Costumava ser mais barato por meio de um gasoduto da
Rússia", indicou.
A 16ª Cúpula do BRICS
será realizada em Kazan de 22 a 24 de outubro de 2024. Trinta e dois países
confirmaram sua participação no evento, 24 dos quais serão representados por
chefes de Estado.
Anteriormente, Aleksei
Pushkov, chefe da Comissão de Política de Informação e Relações com a Mídia do
Conselho da Federação (câmara alta do parlamento) da Rússia, disse que o
crescente interesse na cúpula entre os líderes de vários países indica uma perda
de fé nos "ideais" ocidentais.
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Forte presença de lideranças em Kazan mostra que Putin não está isolado, diz
mídia dos EUA
Líderes de 32 países,
assim como altos funcionários de organizações regionais e até mesmo o
secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, participarão da cúpula em
Kazan.
A reunião é a primeira
desde que o BRICS concordou em estender a filiação a seis nações adicionais na
cúpula do ano passado na África do Sul. As novas adesões e a presença de
grandes chefes de Estado — como Narendra Modi, Xi Jinping e Cyril Ramaphosa — mostram
aos Estados Unidos que a Rússia e Vladimir Putin não são párias internacionais,
escreve a Bloomberg.
O presidente
brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, cancelou no domingo (20) seus planos de
comparecer à cúpula após sofrer um ferimento na cabeça em um acidente em sua
casa, mas ele participará por videoconferência na quarta-feira (22).
Nações que vão da
Malásia e Tailândia até Nicarágua e Turquia — esta última, membra da
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) — estão ansiosas para se
juntar ao BRICS, embora seja improvável que haja um acordo sobre ampliação na
cúpula.
A expansão do BRICS
"é um sinal claro de que o equilíbrio global de poder está mudando",
disse Alicia Garcia-Herrero, economista de Hong Kong e pesquisadora sênior no
think tank Bruegel, citada pela mídia.
A influência do BRICS
está crescendo. Seus membros respondem por 45% da população mundial e
representam 36% do produto interno bruto (PIB) global — paridade de poder de
compra —, superando os 29,3% do G7 e os 14,5% da União Europeia.
O Brasil sediará a
cúpula do G20 no mês que vem, após a presidência da Índia no ano passado e
antes da África do Sul, em 2025.
O fato de tantos
países quererem se juntar ao grupo indica a crescente demanda por laços
internacionais independentes do Ocidente, disse Fyodor Lukyanov, chefe do
Conselho de Política Externa e de Defesa, um grupo de estudos que assessora o
Kremlin.
"Por enquanto,
todos querem apenas ver o que podem ganhar com isso", disse ele.
Fonte: Sputnik Brasil
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