John Kennedy Ferreira: ‘Influencer na
Universidade pública’
Considerações sobre a
performance na Universidade Federal do Maranhão.
##
<><>
Introdução
Ao contrário do que
insinua Tertuliana Lustosa (no artigo “Educando com o cu”), a questão anal é um
tema antigo, tanto quanto prazer, como pesquisa científica: o Imperador Júlio
Cesar era conhecido como o melhor homem à suas mulheres e uma moça aos seus homens,
o termo pederastia era o nome dado ao atual pedagogo, já que a educação na
antiguidade envolvia relações entre mestre e aluno. Sócrates por exemplo, era
um excelente pederasta.
No século XVI
(Foucault), a “pederastia” foi meio que escanteada, mas continuou existindo,
até mesmo “como” institucionalizada: os grumetes nas caravelas eram jovens que
serviam ao alivio dos marujos. O poeta Walt Whitman, no século XIX fez diversas
odes ao amor viril e Oscar White e seu texto de socialismo (1898), dedica uma
parte ao prazer entre pares, um século antes, Marques de Sade em seus 120 dias
de Sodoma, tem várias passagens sobre o assunto.
Penso que, quem abriu
as portas para um debate científico foi Sigmund Freud nos “Primeiros Conceitos
Psicanalíticos”, publicados entre 1893 e 1899; a primeira Constituição a
aceitar a “questão homossexual” será a soviética de 1924 e pasmem… a medicina
tem uma área que estuda o anus: proctologia. Ou seja, é um debate antigo, que
tem milhares de contribuições. Dizer que é um tema tabu, é corroborar, com os
estudos que mostram que os alunos (e também, parte dos professores), não
conseguem ler um livro ou realizar uma pesquisa, ficando na esfera do senso
comum, na extensão do próprio ego ou dos tik tok da vida.
<><> Entre
o público e o privado
Em 1936, a aula
inaugural da Universidade de Salamanca foi invadida pelos soldados franquistas,
tendo à frente general Millán-Astray que a plenos pulmões gritou “Abaixo a
inteligência, viva a morte” o reitor, o filósofo Miguel Unumano, tomou a
palavra e frente as armas e os cavalos, fez uma das mais belas e heroicas
defesa da ciência e da Universidade.
Esse sentimento de
morte da razão e ataque a ciência voltou forte pela direita com a crise
civilizatória e do neoliberalismo nos últimos anos. A Universidade e a ciência
passam por uma severa crítica e não foram poucos os ministros, secretários,
órgãos de imprensa, intelectuais, políticos que lançaram suas armas e cavalos
contra o conhecimento e a universidade como lugar de balburdia. Esse ataque à
direita é mais recente, mas há também um ataque pela esquerda que vem da pós
modernidade de longa data, com o relativismo do conhecimento e a
impossibilidade de se conhecer a verdade, nesse pensamento tudo é conhecimento
e saber. Tal adágio caiu como uma luva ao neoliberalismo e ao privatismo.
Confesso uma coisa,
sou velho, sou da geração que formou PT, CUT, UBES, UNE, etc., que lutou (e
luta) pelos direitos humanos, compreendendo que uma pessoa pode exercer sua
individualidade (de orientação sexual, crença, etc.), sem incomodar e sem ser
incomodado, para tanto o direito público deveria (e deve) proteger o direito
privado
A Universidade é
espaço público, local apropriado para o desenvolvimento do conhecimento e da
ciência, você ter um curso sobre Marquês de Sade, não significa que
praticaremos sadismo; Podemos estudar a queda de Roma, contudo, não significa
que as pessoas devam fazer fellatio com cavalos ou tocar harpa enquanto Roma
arde em chamas (vale para Amazônia e Pantanal hodierno);
Ou um curso sobre a
inquisição sem que queimemos os alunos e colegas; ou estudos de drogas sem que
precisemos ficar drogados… ou seja, universidade estuda, pesquisa e adquiri
conhecimento sobre um assunto seja lá qual for, pode ser sobre travesti, trans,
cu, naves espaciais ou câncer.
As manifestações
individuais, como ser travesti, gay, prostituta neopentecostal, dentro de uma
instituição apresenta-se como individuo diluído e institucionalizado. Explico:
a travesti ou a puta não vão a universidade para fazer ponto, o drogadito não
vai à universidade para vender ou comprar drogas, o religioso não vai pregar…
vão lá para exercer o seu direito ao estudo, conhecimento e a ciência.
A universidade como
qualquer instituição tem suas representações, nada impede que um centro
acadêmico, sindicato ou o colegiado, reconheça o direito das mulheres ao voto,
lutem pelo fim da escravização, seja contra guerra do Vietnã ou Gaza, pela
discriminação das drogas, pelo direito ao corpo e etc.
A estudante que
mostrou a vulva ao conservador Theodor Adorno, o fez num contexto: por que
havia uma manifestação política para que fosse reconhecido o direito ao
relacionamento entre casais nos dormitórios da Universidade de Nanterre. As
moças que queimaram o sutiã de bojo na Universidade de Berkeley, o fizeram pelo
direito da mulher ao seu corpo, os estudantes que lutaram contra a ditadura e
ocuparam a reitoria da USP, o fizeram contra as regras educacionais
autoritárias ou atualmente, os estudantes de boa parte do mundo que pixam muros
e ocupam dependências de universidades para protestar contra o genocídio em
Gaza, o fazem com objetivos políticos.
Todas essas
manifestações foram políticas e passaram (e passarão), para história como sendo
políticas, visando melhorias e reconhecimento de demandas reais do mundo
acadêmico e da sociedade.
Fui no Rio em 1998
para participar de uma reunião e estava muito curioso para ir num pancadão
funk, demonizado pela mídia conservadora, falei da minha vontade e dois
companheiros me levaram num baile funk em Realengo/Madureira, ficamos umas duas
horas, barulho ensurdecedor, cerveja quente… enfim, não vi nada demais, coisa
de jovens pobres sem área de lazer.
Anos depois vi
prefeitos, inclusive o Fernando Haddad, buscando organizar o espaço dos
pancadão, firmaram acordos com clubes tradicionais e decadentes, muitos até
fechados nas periferias, construindo um espaço adequado para que o barulho nas
ruas fosse superado e as pessoas pudessem curtir e outras pudessem dormir
tranquilamente.
Essa solução ao
problema, foi mostrada através de um curta metragem, onde são ouvidos funkeiros
(como os excelentes Claudinho e Bochecha), líderes comunitários, pessoas do
bairro etc. O curta em questão era parte de um estudo da UFRJ, mas várias
universidades desenvolveram estudos apontando soluções.
A moça, Tertuliana
(possivelmente homenagem ao teólogo moralista e socialista cristão,
Tertuliano), foi apenas hedonista e quis causar, e causou!!
Se ela e o grupo em
questão quisesse fazer aquela performance num espaço privado, como uma casa, um
buteco, cabaré, o problema seria deles, teria todo o meu apoio e solidariedade,
mas quando lemos que “O evento tem como público alvo pessoas ativistas em movimentos
sociais e pesquisadores de diversas áreas do conhecimento, docentes da educação
básica e do ensino superior, estudantes do ensino médio, estudantes da
graduação e pós-graduação, técnicos das instituições de ensino e profissionais
da educação em gera” , numa Universidade pública é problema nosso!
No meu ancien ponto de
vista, ela representou apenas uma faceta da hipersexualização colocada pelo
neoliberalismo às mulheres (e demais grupos eróticos e identitários), além de
ser um manjar dos deuses para os defensores do Novo Ensino Médio e da Escola Sem
Partido.
No dia 17 de setembro,
o grupo de extrema direita (olavista) “Brasil Paralelo” lançou um filme (bem
feito), mostrando que o dinheiro público era gasto em besteiras como: drogas,
sexo e qualquer coisa… menos com conhecimento e ciência. Ao mesmo tempo, mostra
que os conhecimentos são adquiridos em universidades particulares (apresenta
como contraponto o sistema privado dos EUA), aponta como saída a privatização
das universidades brasileiras.
Essa moça e esse grupo
de estudos reforçam os argumentos da extrema direita, pois na performance da
moça não há pesquisa, não há nada que não seja a sua liberdade de opinião
particular. A influencer, como qualquer hedonista quis e conseguiu adquirir
“seguidores” para suas redes sociais, criando uma repercussão nacional. O
político de extrema direita, Nikolas Ferreira (et caterva) lançou suas armas e
cavalos e colocou a UFMA na Comissão de Educação, e irá a plenário da Câmara,
situação séria.
Nas campanhas hiper
difíceis onde há segundo turno entre esquerda e direita, a performance
lacradora será propagandeada como exemplo de educação “de esquerda”. Para as
pessoas simples, esse escárnio será mostrado como “sendo” o ensino na
universidade, os envolvidos em questão, fortaleceram em nome de seu princípio
egoísta e “anarcoliberal” , o privatismo.
Fonte: A Terra é
Redonda
Nenhum comentário:
Postar um comentário