quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Pessoas com depressão podem realizar estimulação cerebral em casa, revela estudo

De acordo com um ensaio clínico recente, pessoas com depressão grave podem aliviar seus sintomas administrando uma forma de estimulação cerebral elétrica em casa. Os resultados mostraram que pacientes que seguiram um tratamento de 10 semanas tinham o dobro de chances de alcançar a remissão da depressão em comparação com aqueles do grupo controle, que realizaram o mesmo procedimento com o dispositivo desligado.

As descobertas sugerem que pacientes com depressão poderiam se beneficiar da estimulação cerebral sem precisar comparecer a uma clínica, oferecendo uma alternativa para aqueles que não respondem bem a terapias convencionais ou preferem evitar medicamentos antidepressivos.

“Esse pode ser um tratamento de primeira linha para depressão”, disse Cynthia Fu, professora de neurociência afetiva e psicoterapia do King’s College London, e coautora do estudo. Ela acrescentou que a terapia pode ser útil para quem não teve melhora com antidepressivos ou que prefere evitar a medicação ou a psicoterapia.

O estudo, em sua fase dois, envolveu 174 pessoas com transtorno depressivo maior, que receberam um dispositivo para aplicar estimulação transcraniana por corrente contínua (tDCS). O dispositivo, produzido pela Flow Neuroscience, contém dois eletrodos que aplicam uma corrente fraca de até 2 miliamperes na testa. O tratamento, supervisionado por chamadas de vídeo, incluía inicialmente cinco sessões de 30 minutos por semana durante três semanas, seguidas de três sessões por semana ao longo de sete semanas.

Metade dos participantes recebeu a estimulação cerebral ativa, enquanto a outra metade teve uma terapia inativa, na qual o dispositivo aplicava apenas uma breve corrente no início e no final das sessões, sem fornecer estímulo real durante o restante do tempo.

Escrevendo na revista Nature Medicine, os pesquisadores relataram que, embora ambos os grupos tenham mostrado melhora nos escores de depressão ao longo do estudo, os participantes que receberam a estimulação ativa tiveram maiores progressos. A taxa de remissão no grupo com estimulação ativa foi de 44,9%, em comparação com 21,8% no grupo de controle inativo.

Estima-se que 5% dos adultos no mundo sofram de depressão, sendo que os tratamentos mais comuns incluem antidepressivos e terapias psicológicas. No entanto, mais de um terço das pessoas com depressão grave não alcançam a remissão completa.

A tDCS estimula os neurônios das regiões frontais do cérebro, aumentando sua atividade, o que pode ter um efeito positivo na rede cerebral afetada pela depressão. O tratamento é significativamente mais leve do que a terapia eletroconvulsiva, que induz crises generalizadas no cérebro, sendo que o dispositivo desliga após 30 minutos para minimizar riscos de estimulação prolongada.

Apesar de a tDCS para depressão estar incluída nas diretrizes do Instituto Nacional para a Excelência em Saúde e Cuidados (Nice) desde 2015 e ser considerada “segura”, ainda existem incertezas sobre sua eficácia, conforme destacou Myles Jones, professor de psicologia na Universidade de Sheffield, que não participou do estudo.

“O estudo demonstra que o uso repetido de tDCS em casa está associado à redução de uma medida chave da depressão”, afirmou Jones, ressaltando que o uso prolongado ao longo de dias ou semanas mostrou ser clinicamente eficaz em várias condições, como depressão e zumbido, mesmo quando doses únicas de tDCS tiveram resultados menos claros.

 

•        Pessoas nascidas sem olfato respiram de forma diferente, revela estudo

De acordo com um estudo recente, pessoas que nascem sem o sentido do olfato respiram de maneira diferente em comparação àquelas que têm esse sentido intacto, o que pode ajudar a explicar por que a perda do olfato está associada a uma série de problemas de saúde.

Embora alguns subestimem a importância do olfato – Charles Darwin chegou a afirmar que ele tinha “utilidade extremamente limitada” para os humanos – pesquisas apontam que sua perda pode estar ligada a depressão, sensação de isolamento e até a um maior risco de morte prematura.

“Há essa ideia de que o olfato não tem muita relevância, mas, quando se perde, muitas coisas ruins acontecem. Parece um paradoxo”, disse o professor Noam Sobel, coautor da pesquisa, do Instituto Weizmann de Ciência, em Israel.

O impacto da perda de olfato ganhou destaque durante a pandemia de Covid, já que é um sintoma comum da doença. Agora, Sobel e sua equipe trouxeram novas luzes sobre esse enigma.

No artigo publicado na revista *Nature Communications*, os pesquisadores relataram como estudaram 21 pessoas com anosmia congênita — ou seja, que nunca tiveram o sentido do olfato — e 31 pessoas com olfato normal. Cada participante utilizou por 24 horas um dispositivo nasal que mediu o fluxo de ar enquanto realizavam suas atividades cotidianas.

Os dados mostraram que aqueles com olfato funcional respiravam mais profundamente e faziam mais inalações curtas (sniffs) do que as pessoas com anosmia, possivelmente em resposta a estímulos olfativos do ambiente. Esse padrão foi confirmado em outro experimento, no qual indivíduos com olfato funcional não apresentaram essas respirações extras em um ambiente sem odores.

Além disso, os participantes com anosmia mostraram mais pausas respiratórias durante o dia e uma menor intensidade ao expirar, em comparação aos demais. Padrões de respiração também apresentaram diferenças durante o sono, quando os odores no ambiente são geralmente constantes.

Os pesquisadores alimentaram seus dados em um algoritmo de aprendizado de máquina, que conseguiu prever se um participante tinha anosmia com uma precisão de 83%.

O estudo possui limitações, como o tamanho reduzido da amostra e o fato de não levar em conta especificamente a respiração pela boca. Além disso, ele não pode provar que as diferenças nos padrões respiratórios causam problemas de saúde em pessoas com anosmia. O estudo incluiu apenas pessoas nascidas sem olfato, embora novos trabalhos estejam sendo realizados com indivíduos que perderam o sentido ao longo da vida.

Os cientistas destacaram que outros fatores podem explicar a relação entre a anosmia e os problemas de saúde, mas sugerem que as mudanças na respiração podem ser um fator contribuinte, afetando a saúde física e mental, possivelmente através de alterações na atividade cerebral.

Sobel mencionou que a ideia tem precedentes. “Se você não suspira, você morre”, disse ele. “Então, a noção de que os padrões respiratórios podem ser muito influentes não é tão absurda assim.”

 

Fonte: The Guardian

 

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