Pessoas com depressão podem realizar
estimulação cerebral em casa, revela estudo
De acordo com um
ensaio clínico recente, pessoas com depressão grave podem aliviar seus sintomas
administrando uma forma de estimulação cerebral elétrica em casa. Os resultados
mostraram que pacientes que seguiram um tratamento de 10 semanas tinham o dobro
de chances de alcançar a remissão da depressão em comparação com aqueles do
grupo controle, que realizaram o mesmo procedimento com o dispositivo
desligado.
As descobertas sugerem
que pacientes com depressão poderiam se beneficiar da estimulação cerebral sem
precisar comparecer a uma clínica, oferecendo uma alternativa para aqueles que
não respondem bem a terapias convencionais ou preferem evitar medicamentos
antidepressivos.
“Esse pode ser um
tratamento de primeira linha para depressão”, disse Cynthia Fu, professora de
neurociência afetiva e psicoterapia do King’s College London, e coautora do
estudo. Ela acrescentou que a terapia pode ser útil para quem não teve melhora
com antidepressivos ou que prefere evitar a medicação ou a psicoterapia.
O estudo, em sua fase
dois, envolveu 174 pessoas com transtorno depressivo maior, que receberam um
dispositivo para aplicar estimulação transcraniana por corrente contínua
(tDCS). O dispositivo, produzido pela Flow Neuroscience, contém dois eletrodos
que aplicam uma corrente fraca de até 2 miliamperes na testa. O tratamento,
supervisionado por chamadas de vídeo, incluía inicialmente cinco sessões de 30
minutos por semana durante três semanas, seguidas de três sessões por semana ao
longo de sete semanas.
Metade dos
participantes recebeu a estimulação cerebral ativa, enquanto a outra metade
teve uma terapia inativa, na qual o dispositivo aplicava apenas uma breve
corrente no início e no final das sessões, sem fornecer estímulo real durante o
restante do tempo.
Escrevendo na revista
Nature Medicine, os pesquisadores relataram que, embora ambos os grupos tenham
mostrado melhora nos escores de depressão ao longo do estudo, os participantes
que receberam a estimulação ativa tiveram maiores progressos. A taxa de remissão
no grupo com estimulação ativa foi de 44,9%, em comparação com 21,8% no grupo
de controle inativo.
Estima-se que 5% dos
adultos no mundo sofram de depressão, sendo que os tratamentos mais comuns
incluem antidepressivos e terapias psicológicas. No entanto, mais de um terço
das pessoas com depressão grave não alcançam a remissão completa.
A tDCS estimula os
neurônios das regiões frontais do cérebro, aumentando sua atividade, o que pode
ter um efeito positivo na rede cerebral afetada pela depressão. O tratamento é
significativamente mais leve do que a terapia eletroconvulsiva, que induz crises
generalizadas no cérebro, sendo que o dispositivo desliga após 30 minutos para
minimizar riscos de estimulação prolongada.
Apesar de a tDCS para
depressão estar incluída nas diretrizes do Instituto Nacional para a Excelência
em Saúde e Cuidados (Nice) desde 2015 e ser considerada “segura”, ainda existem
incertezas sobre sua eficácia, conforme destacou Myles Jones, professor de
psicologia na Universidade de Sheffield, que não participou do estudo.
“O estudo demonstra
que o uso repetido de tDCS em casa está associado à redução de uma medida chave
da depressão”, afirmou Jones, ressaltando que o uso prolongado ao longo de dias
ou semanas mostrou ser clinicamente eficaz em várias condições, como depressão
e zumbido, mesmo quando doses únicas de tDCS tiveram resultados menos claros.
• Pessoas nascidas sem olfato respiram de
forma diferente, revela estudo
De acordo com um
estudo recente, pessoas que nascem sem o sentido do olfato respiram de maneira
diferente em comparação àquelas que têm esse sentido intacto, o que pode ajudar
a explicar por que a perda do olfato está associada a uma série de problemas de
saúde.
Embora alguns
subestimem a importância do olfato – Charles Darwin chegou a afirmar que ele
tinha “utilidade extremamente limitada” para os humanos – pesquisas apontam que
sua perda pode estar ligada a depressão, sensação de isolamento e até a um
maior risco de morte prematura.
“Há essa ideia de que
o olfato não tem muita relevância, mas, quando se perde, muitas coisas ruins
acontecem. Parece um paradoxo”, disse o professor Noam Sobel, coautor da
pesquisa, do Instituto Weizmann de Ciência, em Israel.
O impacto da perda de
olfato ganhou destaque durante a pandemia de Covid, já que é um sintoma comum
da doença. Agora, Sobel e sua equipe trouxeram novas luzes sobre esse enigma.
No artigo publicado na
revista *Nature Communications*, os pesquisadores relataram como estudaram 21
pessoas com anosmia congênita — ou seja, que nunca tiveram o sentido do olfato
— e 31 pessoas com olfato normal. Cada participante utilizou por 24 horas um
dispositivo nasal que mediu o fluxo de ar enquanto realizavam suas atividades
cotidianas.
Os dados mostraram que
aqueles com olfato funcional respiravam mais profundamente e faziam mais
inalações curtas (sniffs) do que as pessoas com anosmia, possivelmente em
resposta a estímulos olfativos do ambiente. Esse padrão foi confirmado em outro
experimento, no qual indivíduos com olfato funcional não apresentaram essas
respirações extras em um ambiente sem odores.
Além disso, os
participantes com anosmia mostraram mais pausas respiratórias durante o dia e
uma menor intensidade ao expirar, em comparação aos demais. Padrões de
respiração também apresentaram diferenças durante o sono, quando os odores no
ambiente são geralmente constantes.
Os pesquisadores
alimentaram seus dados em um algoritmo de aprendizado de máquina, que conseguiu
prever se um participante tinha anosmia com uma precisão de 83%.
O estudo possui
limitações, como o tamanho reduzido da amostra e o fato de não levar em conta
especificamente a respiração pela boca. Além disso, ele não pode provar que as
diferenças nos padrões respiratórios causam problemas de saúde em pessoas com
anosmia. O estudo incluiu apenas pessoas nascidas sem olfato, embora novos
trabalhos estejam sendo realizados com indivíduos que perderam o sentido ao
longo da vida.
Os cientistas
destacaram que outros fatores podem explicar a relação entre a anosmia e os
problemas de saúde, mas sugerem que as mudanças na respiração podem ser um
fator contribuinte, afetando a saúde física e mental, possivelmente através de
alterações na atividade cerebral.
Sobel mencionou que a
ideia tem precedentes. “Se você não suspira, você morre”, disse ele. “Então, a
noção de que os padrões respiratórios podem ser muito influentes não é tão
absurda assim.”
Fonte: The Guardian
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