quinta-feira, 24 de outubro de 2024


 

Quem é quem na crise do apagão em São Paulo

Os padrinhos políticos dos atuais dirigentes da Aneel se escondem. Agência tem sido culpada por não agir contra concessionária

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Não foi só a Grande São Paulo que sofreu com o apagão iniciado no último fim de semana. O problema atingiu também a memória de alguns congressistas, principalmente aqueles ligados às indicações de diretores na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Os escolhidos permanecem nos cargos e a agência está no meio da troca de acusações entre o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), sobre as responsabilidades pela crise. Foi o terceiro grande apagão na capital paulista em menos de um ano.

O jogo de empurra é delicado: Nunes tenta responsabilizar o governo federal para jogar o caso no colo de Lula e atingir Guilherme Boulos (PSOL), seu adversário, apoiado pelo presidente.

Silveira, como ministro, rebate o prefeito. Mas o presidente de seu partido, Gilberto Kassab, é próximo ao prefeito e foi o responsável por articular o apoio do governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), à reeleição do prefeito.

A crise caiu no colo da Aneel, que deveria fiscalizar a Enel, a concessionária de energia que atende São Paulo e região, junto com a agência estadual.

·        Sem padrinhos

No meio da crise, os primeiros desaparecidos são os padrinhos políticos dos dirigentes da agência. O diretor-presidente, Sandoval Feitosa, é apontado como uma indicação do senador Ciro Nogueira (PP-PI), que foi ministro da Casa Civil de Bolsonaro.

Feitosa trabalhou na Companhia Energética do Maranhão (Cemar) e na Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), antes de iniciar carreira dentro da agência. Procurado nesta semana, o ex-ministro não falou sobre a indicação.

O senador Marcos Rogério (PL-RO) é tido como autor das indicações de Fernando Mosna e Ricardo Tili. Mosna, que tem um currículo de apenas quatro linhas no site da agência, foi assessor do parlamentar na Comissão de Infraestrutura.

Tili trabalhou por treze anos na Energisa Rondônia e depois mais dois na geradora de energia Rovema, ambas em Rondônia, estado de origem do parlamentar bolsonarista. Ele passou também pela Eletronorte antes de ir para a Aneel. Marcos Rogério nega as indicações.

A última indicação durante o governo Bolsonaro foi de Agnes Maria de Aragão da Costa, nomeada em dezembro de 2022, após a derrota do agora ex-presidente nas urnas. Uma das diretorias está vaga desde a saída de Hélvio Guerra, cujo período no cargo foi encerrado em maio deste ano. Os mandatos de todos os quatro atuais diretores, inclusive de Sandoval Feitosa, o presidente, tiveram início no último ano do governo anterior.

·        O TCU e as agências

O Tribunal de Contas da União (TCU) arquivou um processo em agosto deste ano que poderia mudar a composição das agências reguladoras, inclusive a Aneel. A discussão era se um presidente de agência poderia ficar mais de cinco anos na diretoria caso tivesse sido diretor no período imediatamente anterior.

Os ministros arquivaram o caso por entender que não teriam poder para decidir sobre o assunto. Feitosa é um dos que teriam seu mandato reduzido se o TCU decidisse em outro sentido.

¨      Diretoria da Aneel dará ‘tom de urgência’ em processo de intimação da Enel SP, diz Sandoval

O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Sandoval Feitosa, disse nesta terça-feira (22) que a diretoria dará “tom de urgência” em processo administrativo que trata da fiscalização da concessão da Enel SP, após o tempestade de 11 de outubro deixar mais de 2 milhões de unidades consumidoras sem energia elétrica.

Em conversa com jornalistas, Sandoval também declarou que há “tranquilidade” sobre o rito administrativo da Aneel neste caso, após cobrança do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira – que pediu abertura de processo que poderá levar à caducidade da concessão.

“A manifestação do ministro é avaliada dentro do contexto do que já estamos fazendo. Ela é importante do ponto de vista de ser uma comunicação do poder concedente, mas temos tranquilidade de que estamos seguindo o nosso rito administrativo”, afirmou.

Nesta segunda-feira, 21, a Aneel encaminhou à Enel SP um termo de intimação em função da “reincidência quanto ao atendimento insatisfatório aos consumidores em situações de emergência”. A intimação inicia o processo para posterior avaliação de recomendação de caducidade da concessão.

Na semana passada, a Controladoria-Geral da União (CGU) abriu uma investigação para apurar eventuais irregularidades envolvendo dirigentes da Aneel. Por ora, o órgão regulador recebeu da CGU pedindo cópias de processos envolvendo Enel SP, segundo Sandoval.

O diretor-geral disse ainda que há “completa harmonia” com as equipes de fiscalização do TCU e alertou para o risco de insegurança jurídica em decisões referentes à concessões de energia.

“O trabalho da agência é muito bem feito. Ainda assim, a multa aplicada à Enel SP, de R$ 165 milhões, referente ao evento de novembro de 2023 foi suspensa pela justiça. Sinal de que nós não podemos, ao sabor do vento, emitir atos aqui sem embasamento técnico, robustez jurídica, porque se assim fizermos, nós recebemos, pode ocorrer como ocorreu, um questionamento judicial”, disse.

Sandoval também foi questionado sobre a situação da Amazonas Energia. Para ele, é possível que a decisão judicial que deu base para transferência de controle para Âmbar Energia “se perpetue”. Caso contrário, a Aneel, o Ministério de Minas e Energia (MME) e a empresa detentora do contrato de concessão deverão encontrar uma outra solução.

 

¨      A renovação da privataria tucana. Por Jeferson Miola

No dia 20 de junho passado o governo publicou o Decreto nº 12.068 para a renovação antecipada das concessões de distribuição de energia elétrica. De acordo com a ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica, existem 19 concessionárias de distribuição com contratos a vencer entre 2025 e 2031.

Tais concessões foram feitas há quase 30 anos, no marco do processo escandaloso e corrupto de privatizações e de entrega do patrimônio público que ficou conhecido como a “privataria tucana”.

O Decreto permite a prorrogação das atuais concessões por mais trinta anos, ainda que a gestão privada se mostrou desastrosa e colocou em risco a segurança elétrica do Brasil.

O governo pretende renovar as concessões sem realizar novas licitações ou leilões públicos, e sem considerar a hipótese de a própria União reassumir o controle dos serviços que, nestes casos, seriam sem nenhum ônus para o erário.

Se forem observados os critérios estabelecidos no Decreto para a avaliação da prorrogação, dificilmente as atuais empresas concessionárias conseguiriam renovar os contratos devido ao desempenho insatisfatório.

O Decreto fixa que a prorrogação está condicionada “à demonstração da prestação do serviço adequado” [artigo 11º]. A concessionária deve demonstrar eficiência quanto à “continuidade do fornecimento” de energia, que é “mensurada por indicadores que considerem a frequência e a duração média das interrupções do serviço público de distribuição de energia elétrica”.

Nem é preciso grande esforço para se demonstrar os enormes prejuízos causados à população e à economia nacional pelas interrupções prolongadas e frequentes de fornecimento de energia pelas distribuidoras privadas. O apagão como o ocorrido em São Paulo com a empresa Enel é a regra, não a exceção.

Depois das privatizações, as ex-empresas estatais foram sucateadas, os investimentos abandonados, e houve redução drástica do número de trabalhadores especializados com o objetivo de reduzir custos para aumentar os lucros e dividendos pagos a acionistas, principalmente estrangeiros.

Apesar disso, no entanto, o interesse na renovação dos contratos de concessão é de tal ordem que o Ministério de Minas e Energia/MME concede prazo para as concessionárias fazerem aquilo que não fizeram em 30 anos de exploração dos serviços.

É o que está disposto no artigo 11º do Decreto, que define que “no caso de não atendimento do critério de continuidade do fornecimento”, o MME ainda concederá um prazo de 30 dias para as concessionárias apresentarem um “plano de resultados que contenha ações e investimentos para o atingimento do critério de continuidade do fornecimento”.

O apagão causado pela Enel, que deixou 3,1 milhões de paulistas na escuridão durante dias e causou prejuízos de mais de R$ 2 bilhões, torna urgente o debate sobre a necessidade de se reverter as privatizações que tanto mal vêm causando ao país.

Especialistas alertam que o caos elétrico no Brasil é consequência da privatização em si, mas que é ainda agravado pelo modelo adotado na privataria tucana, que privilegiou o interesse das empresas concessionárias em detrimento da qualidade dos serviços e da segurança nacional.

A renovação dos contratos, neste sentido, significaria prorrogar para mais uma geração de brasileiros/as a agonia com realidades crescentemente mais críticas que as já experimentadas atualmente, pois serão agravadas com a emergência climática e pela ausência de incorporação tecnológica pelas concessionárias, que evitam investir para manter altas taxas de lucros.

Vários países europeus estão revertendo as fracassadas privatizações de serviços essenciais realizadas nos anos 1990.

A crítica à atuação da ANEEL, ainda que procedente em parte, não pode, contudo, servir de biombo para o essencial, que é a incompatibilidade das privatizações com o atendimento das necessidades de desenvolvimento do país.

O Brasil está diante de uma oportunidade promissora para reverter a privataria que tantos males causou à população e à economia nacional.

E pode fazer isso sem rompimento de contratos ou às custas de intermináveis contenciosos jurídicos, pois é prerrogativa do Poder Público reassumir a gestão desses serviços essenciais com o fim do prazo dos contratos. A renovação da privataria condenaria o Brasil ao breu.

 

¨      Tarcísio de Freitas: ausência de ideias e compromisso histórico, apenas vassalagem. Por Pedro Benedito Maciel Neto

"A venda do patrimônio público e privado certamente está empobrecendo o país e é consequência da irresponsabilidade do governo" - Bresser-Pereira 

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Tarcísio de Freitas, o governador carioca, não conhece o estado de São Paulo e muito menos Campinas, não tem ideias nem compromisso histórico conosco, terá sua passagem pelo estado, não tenho dúvidas, marcada pela vassalagem aos interesses do mercado. 

Minha indignação não tem fim, ele quer privatizar “por privatizar” patrimônio público de Campinas, por puro sadismo, e nem o MP, nem os “progressistas” estão resistindo. 

Explico.

Gente como Tarcísio acredita que o povo não deve emancipar-se e que o país deve tornar-se empregado dos países ricos.

Acredito que o Estado deve mover-se na busca do interesse público, não para servir o mercado; deve ser zeloso nos investimentos e nos gastos.

Em homenagem ao Carlinhos Barreto cito Bresser-Pereira, que explica assim a questão do endividamento e dos investimentos: "É como uma família que decide se endividar para fazer um investimento qualquer, digamos de R$ 100 mil. Mas, em vez de usar o dinheiro emprestado para investir, a família usa para consumir. A família só investe R$ 10 mil e acabando gastando os outros R$ 90 mil viajar, fazer uma festa, comprar coisas. Mas aí tem que pagar a dívida. Como a família faz? A única saída para pagar essa dívida é vendendo patrimônio. Vende os móveis da casa, vende o carro, vende a própria casa. É isso que o país está fazendo agora", ou seja, não faz nenhum sentido “gastar por gastar”. Gasto bom é o que gera riqueza e que emancipa, não faz sentido “gastar por gastar”, assim como não faz sentido “vender por vender” o patrimônio público.

Sem investimento, o Brasil está se condenando a taxas de crescimento muito baixas e a ser uma economia de propriedade dos países ricos e nós brasileiros seremos todos empregados, contudo, privatizar nem sempre é a solução, pois, a privatização não torna todas as empresas melhores e mais eficientes; a privatização é boa quando gera competição, mas a privatização de empresas monopolistas (Sabesp, Petrobrás, etc.), que atua em setores sem concorrência, em princípio, não são uma boa coisa. 

A empresa privada funciona bem porque ela é controlada pelo mercado; no caso dos monopólios, como a Sabesp, não tem o mercado para controlá-la, por isso, ser a favor da privatização simplesmente porque a empresa privada seria mais eficiente é uma coisa muito relativa. As empresas privadas não são necessariamente mais eficientes e elas não têm nenhum compromisso com o interesse público.

Voltemos ao Tarcísio. Aqui em Campinas Tarcísio anunciou a venda do “Campo do Mogiana” e de parte da Fazenda Santa Elisa, mas não disse o porquê. 

Tarcísio não sabe e à especulação imobiliária não interessa saber, que o citado estádio foi concluído em 1940 e na época era o principal estádio de futebol do interior, só perdendo em todo o país, em termos de qualidade e arquitetura, para o recém-inaugurado Pacaembu, na capital e para o estádio São Januário no Rio de Janeiro. Sequer foi realizado debate público válido e, no caso, necessário.

A primeira partida foi disputada em 9 de julho de 1940, entre o Esporte Clube Mogiana e o Uberaba Sport Club, era só o carioca "dar um Google”, mas à essa gente só interessa servir aos interesses privados, à especulação. 

O bolsonarista também não sabe (aliás, ele não sabe nada), que a Fazenda Santa Elisa, outro imóvel que anunciou a venda, é patrimônio histórico e que suas pesquisas salvaram a economia do Brasil. Tarcísio e os incivilizados que o cercam, não conhece o Centro de Café Alcides de Carvalho, nem o Banco de Germoplasma. 

É triste o mundo no qual minhas netas crescerão, um mundo distópico, governado por idiosubjetivados e "pobres de direita", gente que ignora a História e desrespeita o povo.

Cito novamente o economista Bresser-Pereira que indignado, em 2017 disse: “o Brasil está à venda”; a indignação tornou-se pública logo após o governo federal anunciar a intenção de privatizar a Eletrobrás e outras 56 empresas ou projetos de infraestrutura. Bresser-Pereira denunciava: “Não são apenas as estatais que estão à venda. Empresas privadas também estão sendo transferidas para os estrangeiros”, esse é o patriotismo da nova extrema-direita.

No caso do estado de São Paulo o assanhamento de Tarcísio é tal que quer privatizar o que puder para mostrar ao mercado que ele é o candidato certo para o liberalismo e para o capitalismo financeiro, mesmo sem interesse manifestou do próprio mercado.

Onde está o diligente Ministério Público do estado?

 

Fonte: Istoé/Brasil 247


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