Vacina
contra HPV é chave para eliminar câncer de colo de útero
O
câncer de colo de útero é um dos tumores que mais matam mulheres no Brasil,
embora seja quase totalmente evitável. Estima-se que 99% dos casos estão
ligados ao HPV, vírus transmitido principalmente por via sexual. Globalmente,
ele é responsável por 4,5% de todos os cânceres diagnosticados a cada ano — o
que equivale a 630 mil novos casos no mundo.
Apesar
da gravidade, há um caminho claro para a eliminação da doença: a vacinação
contra o HPV, combinada com rastreamento precoce e tratamento adequado das
lesões. Em 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou uma estratégia
global, endossada por 194 países, para eliminar o câncer de colo de útero como
problema de saúde pública até 2030.
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As metas da OMS incluem:
• 90% das meninas vacinadas até os 15
anos;
• 70% das mulheres rastreadas com teste de
HPV até os 35 e novamente até os 45;
• 90% dos casos tratados de pré-câncer e
câncer invasivo.
“A
vacinação é a prevenção primária. É o primeiro pilar quando falamos em
erradicação do câncer de colo de útero. Sem ela, não conseguimos atingir a meta
da OMS”, afirma a infectologista Marina Della Negra, diretora médica da MSD
Brasil.
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O papel da imunização
A
vacina contra o HPV, explica a especialista, é produzida a partir de partículas
semelhantes ao vírus, chamadas de VLPs. Elas não causam a doença, mas estimulam
o sistema imunológico a criar anticorpos.
“Assim,
quando o indivíduo entra em contato com o HPV, o organismo já está preparado
para combatê-lo e evitar a infecção”, detalha Della Negra.
No
Brasil, a rede pública oferece a vacina quadrivalente para meninos e meninas
entre 9 e 14 anos, além de grupos especiais de até 45 anos, como pessoas
vivendo com HIV, transplantados, pacientes oncológicos e vítimas de abuso
sexual. Já a rede privada disponibiliza a vacina nonavalente para homens e
mulheres de 9 a 45 anos, com esquema de três doses, que pode custar cerca de R$
3 mil.
Apesar
da eficácia, mitos ainda atrapalham a adesão. “Um dos equívocos é acreditar que
vacinar contra uma infecção sexualmente transmissível estimularia o início
precoce da vida sexual. Isso não acontece. A vacina é sobre prevenção de
câncer, não sobre comportamento”, reforça a médica.
Brasil
ainda não bateu a meta
Os
dados mais recentes do Ministério da Saúde mostram que a cobertura vacinal das
meninas entre 9 e 14 anos chegou a quase 83%, enquanto entre os meninos está em
67%. A ampliação para adolescentes de 15 a 19 anos, entretanto, enfrenta
dificuldades: apenas 1,5% do público-alvo foi vacinado até agora.
“Vacinar
meninos é igualmente fundamental, porque eles também podem desenvolver cânceres
relacionados ao HPV e são transmissores do vírus”, alerta Della Negra.
A
eliminação do HPV não é apenas uma questão de saúde pública, mas também de
impacto econômico. No Brasil, cada caso relacionado ao vírus custa em média US$
18 mil ao sistema de saúde. Segundo estudo internacional da Asc Academics, em
parceria com a Universidade de Groningen, o país poderia economizar cerca de
US$ 6 bilhões até 2069 caso consiga eliminar o câncer de colo de útero.
“O
custo de tratar doenças relacionadas ao HPV é infinitamente maior que o
investimento na prevenção. Além de salvar vidas, a vacinação gera economia para
todo o sistema de saúde”, destaca a infectologista.
Avanço
no rastreio
Além da
vacina, o SUS começou a incorporar um novo teste de rastreamento. Diferente do
tradicional papanicolau, que avalia alterações celulares já causadas pelo
vírus, o exame identifica a presença do HPV antes mesmo do desenvolvimento das
lesões. “Esse método é mais sensível, permite diagnosticar precocemente e até
ampliar o intervalo entre os exames quando o resultado é negativo, garantindo
mais conforto às mulheres”, explica Della Negra.
Com a
estratégia da OMS e as novas tecnologias disponíveis, a eliminação do câncer de
colo de útero é possível. Mas para isso será preciso ampliar a vacinação,
combater a desinformação e garantir o acesso ao rastreamento e ao tratamento.
“Temos
uma doença que pode ser prevenida com três pilares — vacinação, rastreio e
tratamento precoce. O Brasil tem as ferramentas. Agora precisamos garantir que
toda a população tenha acesso a elas”, conclui a especialista.
Fonte:
Correio Braziliense

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