Ricardo
Noblat: Lula tira Tarcísio da sua zona de conforto e irrita os bolsonaristas
Pela
terceira vez consecutiva, os militares terão um candidato a presidente da
República para chamar de seu. Em 2018 e em 2022 foi Bolsonaro, agora à beira da
sepultura. Em 2026 será Tarcísio de Freitas. Bolsonaro, ex-capitão. Tarcísio,
ex-capitão e engenheiro militar. Ambos afinados com os valores e os planos da
caserna.
Uma vez
eleito presidente, os chefes militares pensaram que seria moleza controlar
Bolsonaro. Ocuparam todos os cargos oferecidos por ele e mais alguns que
pediram. Descobriram mais tarde que seu filhote era relativamente
incontrolável. Foi Bolsonaro que os controlou, atraindo-os depois para uma
aventura golpista.
Havia
um componente de mágoa no caso de Bolsonaro que não há no caso de Tarcísio.
Bolsonaro acabou afastado do Exército por mau comportamento. Planejou detonar
bombas em quartéis e em pontos chaves do Rio de Janeiro porque ganhava pouco.
Em troca da patente de capitão, passou à reserva e ingressou na política.
Tarcísio
concluiu em 1996 o bacharelado em Ciências Militares pela Academia Militar das
Agulhas Negras (AMAN), em Resende, no Rio. Seis anos depois, formou-se
engenheiro civil pelo Instituto Militar de Engenharia (IME), no Rio. Em 2008,
deixou o serviço militar e entrou para o funcionalismo público federal.
Bolsonaro
foi um político vencedor. Disputou e venceu nove eleições seguidas – uma para
vereador, sete para deputado federal, e uma para presidente. Ao tentar vencer a
décima, elegendo-se presidente de novo, perdeu para Lula. Se tivesse aguentado
o tranco, seria o nome da direita para a eleição do próximo ano.
Virou
golpista por sua culpa, sua máxima e exclusiva culpa. Mas antes fez de Tarcísio
ministro da Infraestrutura e, em 2022, candidato ao governo de São Paulo para
que o ajudasse a se reeleger. Bolsonaro demonstrou faro apurado. Tarcísio, que
nunca disputou uma eleição, surpreendeu-se com a própria vitória.
É coisa
rara na história de São Paulo alguém de fora se eleger governador. Tarcísio é
carioca. Teve que trocar às pressas seu domicílio eleitoral para concorrer ao
cargo de governador. É coisa rara um governador de São Paulo eleger-se
presidente. De 1930 para cá, só um se elegeu: Jânio Quadros.
Embora
pressionado por políticos, empresários, mercado financeiro e a maior parte da
mídia a se declarar desde já candidato a presidente em 2026, Tarcísio conseguiu
embromá-los com a conversa de que ainda não desistiu de tentar se reeleger, e
de que o dono do seu destino é Bolsonaro. Acontece que Lula…
Pois é:
por esperteza ou convicção, Lula decidiu tirar Tarcísio da sua zona de
conforto. E ontem, pela primeira vez publicamente, aproveitou uma reunião com
38 dos seus ministros para anunciar que seu adversário será Tarcísio. Tocou
fogo na direita que dispõe de outros nomes. Irritou Bolsonaro e a
extrema-direita.
Nada,
porém, que muito dinheiro e a promessa de repartição futura do Poder não possa
resolver, apaziguando os ânimos de Bolsonaro e dos seus dependentes. Afinal,
Bolsonaro já era.
• PL e Centrão descartam Eduardo Bolsonaro
e apostam em Tarcísio para 2026
Lideranças
do Centrão e do Partido Liberal (PL) avaliam que uma possível candidatura de
Eduardo Bolsonaro (PL-SP) à Presidência da República não representa ameaça ao
governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). percepção
predominante entre dirigentes é de que Tarcísio permanece como a principal
aposta da direita para as eleições de 2026.
De
acordo com a coluna da jornalista Bela Megale, de O Globo, parlamentares e
articuladores políticos acreditam que Eduardo Bolsonaro dificilmente estará
apto a disputar o pleito. A expectativa é que o deputado seja condenado pelo
Supremo Tribunal Federal (STF) em ação que investiga sua atuação nos Estados
Unidos para pressionar autoridades brasileiras durante a tentativa de golpe de
Estado. Com isso, o parlamentar ficaria inelegível.
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Além da
perspectiva jurídica, dirigentes do Centrão avaliam que o governador paulista
tem mais condições de aglutinar apoio partidário. A previsão é de que
diferentes legendas se alinhem em torno de seu nome, esvaziando as
possibilidades de Eduardo Bolsonaro buscar respaldo político em outras siglas
da direita. Ainda conforme a reportagem, líderes partidários não enxergam
nenhuma legenda de peso disposta a acolher o deputado caso ele siga insistindo
em lançar candidatura própria.
Outro
ponto considerado central nas análises é o papel de Jair Bolsonaro (PL), pai do
deputado. Dirigentes do PL e do Centrão acreditam que o próprio Bolsonaro deve
optar por apoiar Tarcísio de Freitas, visto como o único nome capaz de manter a
direita competitiva e viabilizar um sucessor político. Eduardo Bolsonaro,
porém, cogita deixar o PL caso Tarcísio decida se filiar à legenda com vistas à
disputa presidencial.
• Lula cresce, Tarcísio cai e São Paulo
tem empate técnico na disputa presidencial, diz pesquisa
Os
efeitos do tarifaço contra o Brasil, desencadeado por Eduardo Bolsonaro (PL)
junto a Donald Trump, estão provocando reflexos terríveis nas pretensões da
terceira via em lançar Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) como candidato
anti-Lula nas eleições presidenciais de 2026.
Em um
mês Tarcísio caiu quase 3 pontos percentuais no eleitorado de São Paulo, estado
que é administrado por ele, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (27)
pelo Instituto Paraná Pesquisas, que mostra uma situação de empate técnico com
Lula.
Entre
julho e agosto, o governador caiu de 37,1% para atuais 34,3% na preferência dos
eleitores paulistas - uma queda de 2,7 pontos.
No
mesmo período, Lula saiu de 29,1% para atuais 32,7%, um crescimento de 3,6
pontos. A diferença entre os dois - que era de 8 pontos - caiu para 1,6 pontos
percentuais, dentro da margem de erro de 2,4 pontos.
Em um
longínquo terceiro lugar aparece Ciro Gomes (PSDB), que permanece com os mesmos
9,2% da pesquisa anterior. Ratinho Jr (PSD), governador do Paraná, vem em
seguida, com 7,3% - era 6,7%. Ronaldo Caiado (União), de Goiás, caiu de 2,7%
para 2,1%; e o ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), de 1% para 0,7%.
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Outros cenários
A
pesquisa mostra que, diferentemente do estudo anterior, agora Lula venceria
Michelle Bolsonaro (PL) no Estado. O presidente subiu de 29,8% para atuais
33,4%; enquanto a ex-primeira-dama caiu de 33,6% para 31,5%. Na sequência estão
Ciro (9,9%), Ratinho (8,3%), Caiado (2,9%) e Renan (0,6%).
Segundo
o Paraná Pesquisas, Lula ficaria atrás apenas do inelegível Jair Bolsonaro no
eleitorado paulista. No entanto, o tarifaço também afugentou os eleitores: o
ex-presidente tinha 41,8% e agora tem 38,9%. Já o atual mandatário subiu de
29,3% para 32,9%. Na sequência estão Ciro (8%), Ratinho (5,8%), Caiado (2,2%) e
Renan (0,5%).
O
Paraná Pesquisas ouviu 1,680 eleitores paulistas entre os dias 21 e 24 de
agosto de 2025. O índice de confiança é de 95%.
• Lindbergh denuncia pacote da extrema
direita na Câmara como tentativa de anistiar Bolsonaro
O líder
do PT na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias (RJ), criticou os planos da
extrema direita de aprovar um pacote de propostas que, segundo ele, busca
anistiar Jair Bolsonaro. O ex-presidente está em prisão domiciliar e é réu por
liderar a trama golpista.
"A
nossa posição é de votar contra. O roteiro está descrito: juntar foro, 'PEC das
prerrogativas' e ir depois para a anistia. O que está acontecendo é muito
grave. O [presidente dos EUA Donald] Trump defende anistia, e não podemos
defender o mesmo", disse o deputado em entrevista à GloboNews, nesta
quarta-feira (27).
Por sua
vez, o deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) disse, na entrevista ao
lado de Lindbergh, que o pacote busca "proteger" o Congresso
Nacional. Contudo, ele próprio admitiu que a aprovação da 'PEC das
prerrogativas' "abre o caminho" para as discussões sobre a anistia
aos envolvidos na trama golpista.
A 'PEC
das prerrogativas' restringe a prisão em flagrante de integrantes do Congresso
Nacional. Conforme a versão original, somente poderá haver prisão em flagrante
de parlamentares nos casos de crimes inafiançáveis citados explicitamente pela
Constituição: racismo, crimes hediondos, tortura, tráfico de drogas, terrorismo
e a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e
o Estado Democrático.
• Os Bolsonaro deixarão que o bolsonarismo
sobreviva sem eles à frente? Por Mário Sabino
Jair
Bolsonaro está se conformando com a realidade de que não será candidato em
2026. Estará preso, e só falta definir o tamanho da cana no julgamento que
começa na semana que vem.
Agora,
Eduardo e Carlos Bolsonaro precisam se convencer disso, visto que Flávio já
parece aceitar o irremediável. No caso de Eduardo, acrescente-se uma
dificuldade para o convencimento: a candidatura impossível do pai lhe serve
para acalentar o sonho de ser o substituto do insubstituível.
Na
visão dele, explicitada na rede social X, está em curso uma operação política
da chamada direita permitida para o pai ser forçado a apoiar Tarcísio de
Freitas desde já, embora ele não cite o nome do governador de São Paulo:
“Se
houver necessidade de substituir JB, isso não será feito pela força nem com
base em chantagem. Acho que já deixei claro que não aceito chantagens. Qualquer
decisão política será tomada por nós. Não adianta vir com o papo de ‘única
salvação’, porque não iremos nos submeter. Não há ganho estratégico em fazer
esse anúncio agora, a poucos dias do seu injusto julgamento.”
Ele
acredita que o julgamento é “a faca no pescoço” do seu pai, “o meio de pressão
eficaz para forçar Bolsonaro a tomar uma decisão da qual não possa mais voltar
atrás”.
Eduardo
arremata que “quem compactua com essa nojeira pode repetir mil vezes que é
pró-Bolsonaro, mas não será percebido como apoiador e muito menos como
merecedor dos votos bolsonaristas. São com atitudes — e não com palavras — que
mostramos quem somos. Antes de mais nada, caminhar com Bolsonaro significa ter
princípios, coerência e valores”.
O
recado para Tarcísio de Freitas e para quem o apoia não poderia ser mais claro.
A
questão, no entanto, transcende a eventual candidatura do governador paulista.
É saber se os Bolsonaro vão permitir que o bolsonarismo sobreviva sem Jair ou
qualquer outro integrante do clã à frente ou se vão preferir seguir a máxima
atribuída originalmente à Madame de Pompadour, amante de Luís XV: “depois de
nós, o dilúvio”.
• Escolha de substituto de Bolsonaro não
virá por chantagem, garante Bananinha
O
deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou nesta terça-feira (26/8) que
a escolha de um candidato para substituir o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL),
que está inelegível, não será feita “pela força nem com base em chantagem”.
Segundo ele, qualquer decisão política será tomada em conjunto pelo clã
bolsonarista.
Junto à
mensagem, o filho 03 do ex-chefe do Executivo publicou uma foto com seu pai e
seus irmãos, Flávio, Carlos e Jair Renan.
“Se
houver necessidade de substituir JB, isso não será feito pela força nem com
base em chantagem. Acho que já deixei claro que não me submeto a chantagens.
Qualquer decisão política será tomada por nós. Não adianta vir com o papo de
‘única salvação’, porque não iremos nos submeter. Não há ganho estratégico em
fazer esse anúncio agora, a poucos dias do seu injusto julgamento”, escreveu o
deputado, que está autoexilado nos EUA.
A
declaração foi dada em publicação no X (ex-Twitter) um dia após o presidente do
Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, afirmar que Bolsonaro deve decidir quem
apoiará nas eleições de 2026 só quando passar o julgamento no Supremo Tribunal
Federal (STF), que começa na próxima semana, em 2 de setembro.
Eduardo
questionou o porquê da pressa em decidir o nome. “Só há uma resposta lógica: o
julgamento é a faca no pescoço de JB, é o ‘meio de pressão eficaz’ para forçar
Bolsonaro a tomar uma decisão da qual não possa mais voltar atrás”, disse.
Ao
final da publicação, o deputado federal, que se encontra nos Estados Unidos
desde março, classificou a mensagem como um “aviso”, “para depois não virem com
a ladainha de que eu estou desunindo a direita ou sendo radical”.
“Na
base da chantagem vocês não irão levar nada”, concluiu Eduardo Bolsonaro.
• Dossiês ilegais sobre antifascistas
feitos por Bolsonaro começam a ser liberados
Servidores
da segurança pública e professores universitários que foram alvos do dossiê
secreto produzido no ministério da Justiça durante o governo Jair Bolsonaro
(PL) começaram a receber os registros da investigação considerada ilegal. Ao
todo, 77 pessoas solicitaram as informações por meio da Lei de Acesso à
Informação.
A
liberação atende a uma determinação do ministro Benedito Gonçalves, do Superior
Tribunal de Justiça (STJ), no julgamento de um habeas data apresentado com
apoio de entidades civis, entre elas a Rede Liberdade. Segundo a coluna de
Mônica Bergamo, na Folha, a decisão, proferida em outubro de 2023, obrigou a
pasta a detalhar não apenas os dados coletados, mas também os motivos que
levaram à produção do material.
O
dossiê foi revelado em 2020 pelo UOL. Elaborado pela Secretaria de Operações
Integradas (Seopi), reunia informações pessoais e sensíveis — como endereços,
perfis em redes sociais e fotografias — de 579 servidores públicos e três
docentes universitários, todos associados ao chamado “movimento antifascista”.
À época, o ministério era chefiado por André Mendonça, hoje ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF).
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Garantias constitucionais
Para
Gonçalves, a iniciativa teve caráter político e violou garantias
constitucionais de privacidade, liberdade de expressão e intimidade. Ele
lembrou ainda que o STF já havia considerado inconstitucional a prática, em
julgamento concluído em 2022. A relatora, ministra Cármen Lúcia, classificou o
episódio como “afronta direta ao regime democrático”. Apenas Nunes Marques
divergiu, sustentando que o monitoramento buscava prevenir distúrbios e
preservar o patrimônio público.
O
Ministério da Justiça informou que não foi formalmente notificado da decisão do
STJ. Segundo a pasta, eventual responsabilização de servidores só poderá
ocorrer em processos judiciais de indenização ou em ações regressivas movidas
pela União, desde que fique comprovado dolo ou culpa na elaboração do
relatório.
Fonte:
Metrópoles/Brasil 247/Fórum

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