quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Ricardo Noblat: Lula tira Tarcísio da sua zona de conforto e irrita os bolsonaristas

Pela terceira vez consecutiva, os militares terão um candidato a presidente da República para chamar de seu. Em 2018 e em 2022 foi Bolsonaro, agora à beira da sepultura. Em 2026 será Tarcísio de Freitas. Bolsonaro, ex-capitão. Tarcísio, ex-capitão e engenheiro militar. Ambos afinados com os valores e os planos da caserna.

Uma vez eleito presidente, os chefes militares pensaram que seria moleza controlar Bolsonaro. Ocuparam todos os cargos oferecidos por ele e mais alguns que pediram. Descobriram mais tarde que seu filhote era relativamente incontrolável. Foi Bolsonaro que os controlou, atraindo-os depois para uma aventura golpista.

Havia um componente de mágoa no caso de Bolsonaro que não há no caso de Tarcísio. Bolsonaro acabou afastado do Exército por mau comportamento. Planejou detonar bombas em quartéis e em pontos chaves do Rio de Janeiro porque ganhava pouco. Em troca da patente de capitão, passou à reserva e ingressou na política.

Tarcísio concluiu em 1996 o bacharelado em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em Resende, no Rio. Seis anos depois, formou-se engenheiro civil pelo Instituto Militar de Engenharia (IME), no Rio. Em 2008, deixou o serviço militar e entrou para o funcionalismo público federal.

Bolsonaro foi um político vencedor. Disputou e venceu nove eleições seguidas – uma para vereador, sete para deputado federal, e uma para presidente. Ao tentar vencer a décima, elegendo-se presidente de novo, perdeu para Lula. Se tivesse aguentado o tranco, seria o nome da direita para a eleição do próximo ano.

Virou golpista por sua culpa, sua máxima e exclusiva culpa. Mas antes fez de Tarcísio ministro da Infraestrutura e, em 2022, candidato ao governo de São Paulo para que o ajudasse a se reeleger. Bolsonaro demonstrou faro apurado. Tarcísio, que nunca disputou uma eleição, surpreendeu-se com a própria vitória.

É coisa rara na história de São Paulo alguém de fora se eleger governador. Tarcísio é carioca. Teve que trocar às pressas seu domicílio eleitoral para concorrer ao cargo de governador. É coisa rara um governador de São Paulo eleger-se presidente. De 1930 para cá, só um se elegeu: Jânio Quadros.

Embora pressionado por políticos, empresários, mercado financeiro e a maior parte da mídia a se declarar desde já candidato a presidente em 2026, Tarcísio conseguiu embromá-los com a conversa de que ainda não desistiu de tentar se reeleger, e de que o dono do seu destino é Bolsonaro. Acontece que Lula…

Pois é: por esperteza ou convicção, Lula decidiu tirar Tarcísio da sua zona de conforto. E ontem, pela primeira vez publicamente, aproveitou uma reunião com 38 dos seus ministros para anunciar que seu adversário será Tarcísio. Tocou fogo na direita que dispõe de outros nomes. Irritou Bolsonaro e a extrema-direita.

Nada, porém, que muito dinheiro e a promessa de repartição futura do Poder não possa resolver, apaziguando os ânimos de Bolsonaro e dos seus dependentes. Afinal, Bolsonaro já era.

•        PL e Centrão descartam Eduardo Bolsonaro e apostam em Tarcísio para 2026

Lideranças do Centrão e do Partido Liberal (PL) avaliam que uma possível candidatura de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) à Presidência da República não representa ameaça ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). percepção predominante entre dirigentes é de que Tarcísio permanece como a principal aposta da direita para as eleições de 2026.

De acordo com a coluna da jornalista Bela Megale, de O Globo, parlamentares e articuladores políticos acreditam que Eduardo Bolsonaro dificilmente estará apto a disputar o pleito. A expectativa é que o deputado seja condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em ação que investiga sua atuação nos Estados Unidos para pressionar autoridades brasileiras durante a tentativa de golpe de Estado. Com isso, o parlamentar ficaria inelegível.

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Além da perspectiva jurídica, dirigentes do Centrão avaliam que o governador paulista tem mais condições de aglutinar apoio partidário. A previsão é de que diferentes legendas se alinhem em torno de seu nome, esvaziando as possibilidades de Eduardo Bolsonaro buscar respaldo político em outras siglas da direita. Ainda conforme a reportagem, líderes partidários não enxergam nenhuma legenda de peso disposta a acolher o deputado caso ele siga insistindo em lançar candidatura própria.

Outro ponto considerado central nas análises é o papel de Jair Bolsonaro (PL), pai do deputado. Dirigentes do PL e do Centrão acreditam que o próprio Bolsonaro deve optar por apoiar Tarcísio de Freitas, visto como o único nome capaz de manter a direita competitiva e viabilizar um sucessor político. Eduardo Bolsonaro, porém, cogita deixar o PL caso Tarcísio decida se filiar à legenda com vistas à disputa presidencial.

•        Lula cresce, Tarcísio cai e São Paulo tem empate técnico na disputa presidencial, diz pesquisa

Os efeitos do tarifaço contra o Brasil, desencadeado por Eduardo Bolsonaro (PL) junto a Donald Trump, estão provocando reflexos terríveis nas pretensões da terceira via em lançar Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) como candidato anti-Lula nas eleições presidenciais de 2026.

Em um mês Tarcísio caiu quase 3 pontos percentuais no eleitorado de São Paulo, estado que é administrado por ele, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (27) pelo Instituto Paraná Pesquisas, que mostra uma situação de empate técnico com Lula.

Entre julho e agosto, o governador caiu de 37,1% para atuais 34,3% na preferência dos eleitores paulistas - uma queda de 2,7 pontos.

No mesmo período, Lula saiu de 29,1% para atuais 32,7%, um crescimento de 3,6 pontos. A diferença entre os dois - que era de 8 pontos - caiu para 1,6 pontos percentuais, dentro da margem de erro de 2,4 pontos.

Em um longínquo terceiro lugar aparece Ciro Gomes (PSDB), que permanece com os mesmos 9,2% da pesquisa anterior. Ratinho Jr (PSD), governador do Paraná, vem em seguida, com 7,3% - era 6,7%. Ronaldo Caiado (União), de Goiás, caiu de 2,7% para 2,1%; e o ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), de 1% para 0,7%.

<><> Outros cenários

A pesquisa mostra que, diferentemente do estudo anterior, agora Lula venceria Michelle Bolsonaro (PL) no Estado. O presidente subiu de 29,8% para atuais 33,4%; enquanto a ex-primeira-dama caiu de 33,6% para 31,5%. Na sequência estão Ciro (9,9%), Ratinho (8,3%), Caiado (2,9%) e Renan (0,6%).

Segundo o Paraná Pesquisas, Lula ficaria atrás apenas do inelegível Jair Bolsonaro no eleitorado paulista. No entanto, o tarifaço também afugentou os eleitores: o ex-presidente tinha 41,8% e agora tem 38,9%. Já o atual mandatário subiu de 29,3% para 32,9%. Na sequência estão Ciro (8%), Ratinho (5,8%), Caiado (2,2%) e Renan (0,5%).

O Paraná Pesquisas ouviu 1,680 eleitores paulistas entre os dias 21 e 24 de agosto de 2025. O índice de confiança é de 95%.

•        Lindbergh denuncia pacote da extrema direita na Câmara como tentativa de anistiar Bolsonaro

O líder do PT na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias (RJ), criticou os planos da extrema direita de aprovar um pacote de propostas que, segundo ele, busca anistiar Jair Bolsonaro. O ex-presidente está em prisão domiciliar e é réu por liderar a trama golpista.

"A nossa posição é de votar contra. O roteiro está descrito: juntar foro, 'PEC das prerrogativas' e ir depois para a anistia. O que está acontecendo é muito grave. O [presidente dos EUA Donald] Trump defende anistia, e não podemos defender o mesmo", disse o deputado em entrevista à GloboNews, nesta quarta-feira (27).

Por sua vez, o deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) disse, na entrevista ao lado de Lindbergh, que o pacote busca "proteger" o Congresso Nacional. Contudo, ele próprio admitiu que a aprovação da 'PEC das prerrogativas' "abre o caminho" para as discussões sobre a anistia aos envolvidos na trama golpista.

A 'PEC das prerrogativas' restringe a prisão em flagrante de integrantes do Congresso Nacional. Conforme a versão original, somente poderá haver prisão em flagrante de parlamentares nos casos de crimes inafiançáveis citados explicitamente pela Constituição: racismo, crimes hediondos, tortura, tráfico de drogas, terrorismo e a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.

•        Os Bolsonaro deixarão que o bolsonarismo sobreviva sem eles à frente? Por Mário Sabino

Jair Bolsonaro está se conformando com a realidade de que não será candidato em 2026. Estará preso, e só falta definir o tamanho da cana no julgamento que começa na semana que vem.

Agora, Eduardo e Carlos Bolsonaro precisam se convencer disso, visto que Flávio já parece aceitar o irremediável. No caso de Eduardo, acrescente-se uma dificuldade para o convencimento: a candidatura impossível do pai lhe serve para acalentar o sonho de ser o substituto do insubstituível.

Na visão dele, explicitada na rede social X, está em curso uma operação política da chamada direita permitida para o pai ser forçado a apoiar Tarcísio de Freitas desde já, embora ele não cite o nome do governador de São Paulo:

“Se houver necessidade de substituir JB, isso não será feito pela força nem com base em chantagem. Acho que já deixei claro que não aceito chantagens. Qualquer decisão política será tomada por nós. Não adianta vir com o papo de ‘única salvação’, porque não iremos nos submeter. Não há ganho estratégico em fazer esse anúncio agora, a poucos dias do seu injusto julgamento.”

Ele acredita que o julgamento é “a faca no pescoço” do seu pai, “o meio de pressão eficaz para forçar Bolsonaro a tomar uma decisão da qual não possa mais voltar atrás”.

Eduardo arremata que “quem compactua com essa nojeira pode repetir mil vezes que é pró-Bolsonaro, mas não será percebido como apoiador e muito menos como merecedor dos votos bolsonaristas. São com atitudes — e não com palavras — que mostramos quem somos. Antes de mais nada, caminhar com Bolsonaro significa ter princípios, coerência e valores”.

O recado para Tarcísio de Freitas e para quem o apoia não poderia ser mais claro.

A questão, no entanto, transcende a eventual candidatura do governador paulista. É saber se os Bolsonaro vão permitir que o bolsonarismo sobreviva sem Jair ou qualquer outro integrante do clã à frente ou se vão preferir seguir a máxima atribuída originalmente à Madame de Pompadour, amante de Luís XV: “depois de nós, o dilúvio”.

•        Escolha de substituto de Bolsonaro não virá por chantagem, garante Bananinha

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou nesta terça-feira (26/8) que a escolha de um candidato para substituir o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está inelegível, não será feita “pela força nem com base em chantagem”. Segundo ele, qualquer decisão política será tomada em conjunto pelo clã bolsonarista.

Junto à mensagem, o filho 03 do ex-chefe do Executivo publicou uma foto com seu pai e seus irmãos, Flávio, Carlos e Jair Renan.

“Se houver necessidade de substituir JB, isso não será feito pela força nem com base em chantagem. Acho que já deixei claro que não me submeto a chantagens. Qualquer decisão política será tomada por nós. Não adianta vir com o papo de ‘única salvação’, porque não iremos nos submeter. Não há ganho estratégico em fazer esse anúncio agora, a poucos dias do seu injusto julgamento”, escreveu o deputado, que está autoexilado nos EUA.

A declaração foi dada em publicação no X (ex-Twitter) um dia após o presidente do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, afirmar que Bolsonaro deve decidir quem apoiará nas eleições de 2026 só quando passar o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), que começa na próxima semana, em 2 de setembro.

Eduardo questionou o porquê da pressa em decidir o nome. “Só há uma resposta lógica: o julgamento é a faca no pescoço de JB, é o ‘meio de pressão eficaz’ para forçar Bolsonaro a tomar uma decisão da qual não possa mais voltar atrás”, disse.

Ao final da publicação, o deputado federal, que se encontra nos Estados Unidos desde março, classificou a mensagem como um “aviso”, “para depois não virem com a ladainha de que eu estou desunindo a direita ou sendo radical”.

“Na base da chantagem vocês não irão levar nada”, concluiu Eduardo Bolsonaro.

•        Dossiês ilegais sobre antifascistas feitos por Bolsonaro começam a ser liberados

Servidores da segurança pública e professores universitários que foram alvos do dossiê secreto produzido no ministério da Justiça durante o governo Jair Bolsonaro (PL) começaram a receber os registros da investigação considerada ilegal. Ao todo, 77 pessoas solicitaram as informações por meio da Lei de Acesso à Informação.

A liberação atende a uma determinação do ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), no julgamento de um habeas data apresentado com apoio de entidades civis, entre elas a Rede Liberdade. Segundo a coluna de Mônica Bergamo, na Folha, a decisão, proferida em outubro de 2023, obrigou a pasta a detalhar não apenas os dados coletados, mas também os motivos que levaram à produção do material.

O dossiê foi revelado em 2020 pelo UOL. Elaborado pela Secretaria de Operações Integradas (Seopi), reunia informações pessoais e sensíveis — como endereços, perfis em redes sociais e fotografias — de 579 servidores públicos e três docentes universitários, todos associados ao chamado “movimento antifascista”. À época, o ministério era chefiado por André Mendonça, hoje ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

<><> Garantias constitucionais

Para Gonçalves, a iniciativa teve caráter político e violou garantias constitucionais de privacidade, liberdade de expressão e intimidade. Ele lembrou ainda que o STF já havia considerado inconstitucional a prática, em julgamento concluído em 2022. A relatora, ministra Cármen Lúcia, classificou o episódio como “afronta direta ao regime democrático”. Apenas Nunes Marques divergiu, sustentando que o monitoramento buscava prevenir distúrbios e preservar o patrimônio público.

O Ministério da Justiça informou que não foi formalmente notificado da decisão do STJ. Segundo a pasta, eventual responsabilização de servidores só poderá ocorrer em processos judiciais de indenização ou em ações regressivas movidas pela União, desde que fique comprovado dolo ou culpa na elaboração do relatório.

 

Fonte: Metrópoles/Brasil 247/Fórum

 

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