quinta-feira, 28 de agosto de 2025

A reação do governo Lula após Israel 'rebaixar' relação com Brasil

"Ofensas, inverdades e grosserias inaceitáveis." O Itamaraty classificou assim as declarações de um ministro do governo de Benjamin Netanyahu que chamou Lula de "antissemita", em uma nova troca de ofensas entre os dois países.

A declaração do governo brasileiro foi feita em uma publicação no perfil do Ministério das Relações Exteriores (MRE) no X (antigo Twitter), no início da tarde desta terça-feira (26/8).

"O Ministro da Defesa e ex-chanceler israelense, Israel Katz, voltou a proferir ofensas, inverdades e grosserias inaceitáveis contra o Brasil e o Presidente Lula", diz um trecho da publicação.

A resposta brasileira aconteceu após Katz criticar o governo brasileiro e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), acusando-o de ser um "apoiador do Hamas" em uma postagem nas suas redes sociais.

"Agora ele [Lula] revelou sua verdadeira face como antissemita declarado e apoiador do Hamas", disse Katz.

A publicação de Katz acontece após o governo brasileiro se retirar da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA, na sigla em inglês). A saída do Brasil da organização aconteceu em meio ao estremecimento das relações entre os dois países.

Na postagem, Katz publicou uma foto de Lula modificada como se ele fosse uma marionete do líder supremo do Irã, Ali Khamenei, um dos maiores adversários políticos de Israel.

Na resposta brasileira, o Itamaraty volta a acusar Israel de genocídio contra o povo palestino.

"Como Ministro da Defesa, o senhor Katz não pode se eximir de sua responsabilidade, cabendo-lhe assegurar que seu país não apenas previna, mas também impeça a prática de genocídio contra os palestinos."

<><> Rebaixamento anunciado pela imprensa

A resposta do Brasil às declarações de Katz também veio após o jornal Haaretz, um dos mais importantes e antigos do país e que faz uma cobertura crítica da guerra em Gaza, publicar uma reportagem informando que Israel teria "rebaixado" as relações bilaterais com o Brasil.

Segundo a reportagem, o motivo teria sido a falta de resposta do governo Lula à indicação de Gali Dagan ao cargo de embaixador no Brasil, deixando de conceder o agrément — consentimento à nomeação de um diplomata estrangeiro para atuar em seu território. O posto está vago há duas semanas.

"Após o Brasil, excepcionalmente, recusar-se a atender a um pedido de reunião do Embaixador Dagan, Israel retirou o pedido e as relações entre os países passaram a ser conduzidas em um nível diplomático inferior", disse o Ministério das Relações Exteriores de Israel ao Haaretz.

O ministério israelense acrescentou que "continua mantendo contato próximo com os diversos círculos de amigos que Israel mantém no Brasil".

No entanto, um diplomata brasileiro ouvido em caráter reservado pela BBC News Brasil afirmou que o governo brasileiro não teria sido comunicado formalmente sobre a decisão do governo israelense. Além disso, a fonte informou que a figura do "rebaixamento" no nível das relações entre países não existe formalmente.

A fonte disse ainda que, na prática, tanto a embaixada brasileira em Tel Aviv quando a embaixada de Israel em Brasília continuam funcionando, ainda que sem a presença de embaixadores.

A BBC News Brasil pediu posicionamento oficial do governo israelense, e atualizará o texto em caso de resposta.

<><> O declínio das relações entre Brasil e Israel

A troca de críticas entre Brasil e Israel nas últimas 24 horas é o mais recente episódio de uma longa lista que marca a deterioração das relações entre os dois países desde que Lula assumiu o governo.

Mais recentemente, o governo brasileiro aderiu a uma ação movida pela África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ), da Organização das Nações Unidas (ONU).

Desde o ano passado, Lula é considerado persona non grata pelo governo israelense. Na diplomacia, esta é uma das medidas mais graves de descontentamento de um país em relação a outro.

Quem anunciou que Lula não era mais bem-vindo em Israel foi o mesmo Israel Katz, que agora volta ao atacar Lula, em uma reunião com o então embaixador do Brasil no país, Frederico Meyer, no Museu do Holocausto.

Pouco antes, Lula havia comparado a ofensiva israelense contra Gaza ao Holocausto — quando milhões de judeus foram mortos e perseguidos pelos nazistas.

Na ocasião, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que a comparação havia ultrapassado uma "linha vermelha".

O governo brasileiro considerou a situação em que Meyer foi colocado como um insulto ao país.

Em maio de 2024, Lula decidiu retirar Meyer de Israel, que não tem um embaixador brasileiro no posto até hoje.

O governo brasileiro também não respondeu à indicação de um novo embaixador por Israel.

Celso Amorim, assessor para assuntos internacionais da Presidência da República e ex-chanceler, disse à TV Globo que o Brasil não vetou o nome.

"Pediram um agrément e não demos. Não respondemos. Simplesmente não demos. Eles entenderam e desistiram. Eles humilharam nosso embaixador lá, uma humilhação pública. Depois daquilo, o que eles queriam?", questionou Amorim.

<><> Faixa de Gaza

Amorim afirmou ainda que o Brasil não é contra Israel, mas contra a política do atual governo.

"Queremos ter uma boa relação com Israel. Mas não podemos aceitar um genocídio, que é o que está acontecendo. É uma barbaridade. Nós não somos contra Israel. Somos contra o que o governo Netanyahu está fazendo."

Netanyahu diz que as acusações de genocídio em Gaza são "uma campanha de mentiras".

A guerra em Gaza foi desencadeada pelo ataque liderado pelo grupo palestino Hamas a Israel em 7 de outubro. Na ocasião, cerca de 1.200 pessoas foram mortas e outras 251 foram levadas para Gaza como reféns.

Israel respondeu com uma grande ofensiva militar que dura até hoje e matou mais de 62.744 pessoas no território palestino, segundo dados do Ministério da Saúde administrado pelo Hamas (e considerados confiáveis ​​pelas Nações Unidas).

O governo Netanyahu tem sido cada vez mais criticado pela crise humanitária desencadeada por sua ofensiva em Gaza, onde seus moradores passam fome, segundo a ONU.

Isso levou uma série de países a reconhecer que reconhecerão o Estado Palestino ou a dizer que farão isso, entre eles França, Canadá, Reino Unido, Portugal, Espanha e Noruega.

Atualmente, 147 dos 193 Estados-membros da ONU fazem esse reconhecimento formal — o Brasil é um deles desde 2010. Israel se opõe fortemente à proposta.

<><> O fator Trump

O Brasil também enfrenta uma grave crise diplomática com os Estados Unidos, o principal aliado de Israel na ofensiva em Gaza.

As relações entre os países se deterioraram principalmente a partir de julho, quando o presidente americano, Donald Trump, anunciou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros exportado ao país.

A ofensiva seguiu com a aplicação de sanções a autoridades brasileiras, como Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), com base na Lei Global Magnitsky.

No início do ano, Trump ventilou um plano para os EUA tomarem o controle da Faixa de Gaza e reassentarem os palestinos em outro local. A proposta precisaria da cooperação dos Estados árabes, que rejeitaram a proposta.

Os EUA também apoiaram Israel nos ataques contra o Irã, em junho.

O presidente americano mantém boa relação com Netanyahu, que em julho chegou a dizer que vai indicar Trump para o Prêmio Nobel da Paz.

¨      Por que Israel 'rebaixou' Brasil nas relações diplomáticas, segundo jornal

Israel decidiu rebaixar sua relação diplomática com o Brasil após o governo brasileiro não responder à indicação de um novo embaixador, segundo reportagem do jornal Haaretz.

Brasil não teria respondido à indicação de Gali Dagan ao cargo, deixando de conceder o agrément — consentimento à nomeação de um diplomata estrangeiro para atuar em seu território.

A reportagem do jornal israelense foi publicada na segunda-feira (25/08) no horário brasileiro, terça-feira (26) em Israel.

"Após o Brasil, excepcionalmente, recusar-se a atender a um pedido de reunião do Embaixador Dagan, Israel retirou o pedido e as relações entre os países passaram a ser conduzidas em um nível diplomático inferior", disse o Ministério das Relações Exteriores de Israel ao Haaretz.

O ministério israelense acrescentou que "continua mantendo contato próximo com os diversos círculos de amigos que Israel mantém no Brasil".

A BBC News Brasil pediu posicionamento oficial do governo israelense e do Ministério das Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty) e atualizará o texto em caso de resposta.

Celso Amorim, assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, disse à TV Globo que o Brasil não vetou o nome, apenas deixou de responder à indicação.

"Não houve veto. Pediram um agrément e não demos. Não respondemos. Simplesmente não demos. Eles entenderam e desistiram. Eles humilharam nosso embaixador lá, uma humilhação pública. Depois daquilo, o que eles queriam?", indagou Amorim.

O assessor provavelmente se referia a um episódio ocorrido em fevereiro de 2024, envolvendo o diplomata brasileiro Frederico Meyer.

Na ocasião, o então embaixador do Brasil em Israel foi convidado para um evento no Museu do Holocausto, onde ouviu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tornou-se "persona non grata" no país e não era mais bem-vindo em Israel.

Pouco antes, Lula havia comparado a ofensiva isralense contra Gaza ao Holocausto — quando milhões de judeus foram mortos e perseguidos pelos nazistas.

Na ocasião, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que a comparação havia ultrapassado "a linha vermelha".

O governo brasileiro considerou a situação em que Meyer foi colocado como um insulto ao país.

Em maio de 2024, Lula decidiu retirar Meyer de Israel, que ficou sem um embaixador brasileiro.

Na entrevista à TV Globo, Amorim afirmou que o Brasil não é contra Israel, mas contra a política do atual governo.

"Nós queremos ter uma boa relação com Israel. Mas não podemos aceitar um genocídio, que é o que está acontecendo. É uma barbaridade. Nós não somos contra Israel. Somos contra o que o governo Netanyahu está fazendo."

<><> Ministro de Israel chama Lula de 'antissemita'

Nesta terça-feira (26/8), o ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, chamou Lula de "antissemita declarado e apoiador do Hamas" por retirar o país da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA, na sigla em inglês).

Em julho deste ano, o governo brasileiro deixou a aliança criada para o combate ao antissemitismo e memória do massacre dos judeus.

A decisão de deixar a IHRA foi tomada porque a adesão foi feita, segundo o Itamaraty, de maneira inadequada durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).

Katz também associou o presidente brasileiro ao líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei.

No X, ele publicou uma imagem gerada por inteligência artificial de Lula controlado como uma marionete por Khamenei.

O ministro israelense alegou que a decisão de Lula de sair da IHRA coloca o país "ao lado de regimes como o Irã, que nega abertamente o Holocausto e ameaça destruir o Estado de Israel".

"Como Ministro da Defesa de Israel, afirmo: saberemos nos defender contra o eixo do mal do islamismo radical, mesmo sem a ajuda de Lula e seus aliados", afirmou Katz na rede social em português;

"Vergonha para o maravilhoso povo brasileiro e para os muitos amigos de Israel no Brasil que este seja o seu presidente. Dias melhores ainda virão para a relação entre nossos países."

O Itamaraty respondeu à publicação também utilizando o X.

"O Ministro da Defesa e ex-chanceler israelense, Israel Katz, voltou a proferir ofensas, inverdades e grosserias inaceitáveis contra o Brasil e o Presidente Lula", afirmou a diplomacia brasileira.

"Espera-se do sr. Katz, em vez de habituais mentiras e agressões, que assuma responsabilidade e apure a verdade sobre o ataque de ontem contra o hospital Nasser, em Gaza, que provocou a morte de ao menos 20 palestinos, incluindo pacientes, jornalistas e trabalhadores humanitários."

"Como Ministro da Defesa, o senhor Katz não pode se eximir de sua responsabilidade, cabendo-lhe assegurar que seu país não apenas previna, mas também impeça a prática de genocídio contra os palestinos", concluiu o Ministério das Relações Exteriores do Brasil.

Dois dias antes de deixar a IHRA, em julho, governo brasileiro anunciou que vai aderir a uma ação, na Corte Internacional de Justiça (CIJ), que acusa Israel de genocídio em Gaza.

A guerra em Gaza foi desencadeada pelo ataque liderado pelo grupo palestino Hamas a Israel em 7 de outubro. Na ocasião, cerca de 1.200 pessoas foram mortas e outras 251 foram levadas para Gaza como reféns.

Israel respondeu com uma grande ofensiva militar que dura até hoje e matou mais de 62.744 pessoas no território palestino, segundo dados do Ministério da Saúde administrado pelo Hamas (e considerados confiáveis ​​pelas Nações Unidas).

O Brasil também enfrenta uma grave crise diplomática com os Estados Unidos, o principal aliado de Israel na ofensiva em Gaza.

As relações entre os países se deterioraram principalmente a partir de julho, quando o presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros exportado ao país.

A ofensiva seguiu com a aplicação de sanções a autoridades brasileiras, como Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), com base na Lei Global Magnitsky.

No início do ano, Trump ventilou um plano para os EUA tomarem o controle da Faixa de Gaza e reassentarem os palestinos em outro local. A proposta precisaria da cooperação dos Estados árabes, que rejeitaram a proposta.

Os EUA também apoiaram Israel nos ataques contra o Irã, em junho.

O presidente americano mantém boa relação com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que em julho chegou a dizer que vai indicar Trump para o Prêmio Nobel da Paz.

 

Fonte: BBC News Brasil

 

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