sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Operação Carbono Oculto: como o PCC se infiltrou na Faria Lima

Investigação do Ministério Público de São Paulo revelou que o Primeiro Comando da Capital (PCC) atuava na importação irregular de produtos químicos destinados à adulteração de combustíveis comercializados aos consumidores. A Megaoperação é a junção de três operações: Carbono Oculto, do MP, e Quasar e Tank, da Polícia Federal.

Ao todo, estão sendo cumpridos mandados de busca e apreensão em aproximadamente 350 alvos, entre pessoas físicas e jurídicas.

Apenas em um edifício da Faria Lima, foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão. Nas ações, policiais recolheram documentos e computadores em empresas, corretoras e fundos de investimento, incluindo fintechs.

>>> As principais empresas alvo da operação são:

•        Grupo Aster/Copape, donos de usinas, formuladoras, distribuidoras e rede de postos de combustíveis usada pela organização criminosa;

•        BK Bank, fintech financeira utilizada para movimentar dinheiro por meio de contas bolsão não rastreáveis;

•        Reag, fundo de investimento usado na compra de empresas, usinas e para blindagem do patrimônio dos envolvidos.

# Entenda abaixo o que fazem as fintechs

<><> Grupo Aster/Copape

1.       A Copape é formuladora que adquire correntes de petróleo já processadas e as mistura para produzir gasolina e diesel. Já a Aster é distribuidora de combustíveis;

2.       Ambas as empresas já foram alvo de investigação do Ministério Público de São Paulo por fraudes fiscais e ecorreram à Justiça Federal do Distrito Federal e ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília, para tentar recuperar suas licenças de operação;

3.       Em 2022, o MP-SP arquivou a ação sobre irregularidades fiscais da Copape, mas a Secretaria da Fazenda de São Paulo aplicou multas bilionárias que ultrapassaram R$ 2 bilhões;

4.       As empresas pertencem a Mohamad Hussein Mourad e Renato Steinle Camargo. Mohamad adquiriu as duas em 2020 por R$ 52 milhões;

<><> BK Bank

•        Fundado em 2015, o BK Bank é uma instituição financeira brasileira especializada em soluções digitais para pessoas físicas e jurídicas. Inicialmente focado em benefícios corporativos como vale-refeição;

•        A instituição também oferece bancária digital com funcionalidades como transferências, pagamentos, depósitos, geração de boletos e gestão de cartões pré-pagos;

•        Entre meios de pagamento, oferta máquinas de cartão e soluções para e-commerce.

<><> Reag

•        Uma das maiores gestoras independentes do Brasil, a Reag possui R$ 299 bilhões sob gestão, segundo o site da empresa;

•        Foi a primeira empresa de Wealth Management listada na B3, sob o ticker REAG3;

•        Fundada em 2013, a empresa tem aproximadamente 130 profissionais que atuam em áreas como Crédito, Real Estate, Equity, Legal Claims e Special Situations;

•        O portfólio da Reag inclui produtos de crédito estruturado como FIDC, CRI e Debêntures, além de FII, Fundos de Precatórios, Quanti, Multimercado e Renda Fixa.

<><> Reag confirma busca e apreensão

Em fato relevante à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Reag Investimentos anunciou que suas sedes foram incluídas em mandados de busca e apreensão no âmbito da operação.

"Trata-se de procedimento investigativo em curso", afirmou a Reag em nota.

Também foi alvo de busca e apreensão a Companhia Brasileira de Serviços Financeiros (Ciabrasf), empresa de serviços financeiros que atua como uma “spin off” da Reag Investimentos.

"As companhias esclarecem que estão colaborando integralmente com as autoridades competentes, fornecendo as informações e documentos solicitados, e permanecerão à disposição para quaisquer esclarecimentos adicionais que se fizerem necessários", acrescentaram.

<><> Como era o esquema de lavagem de dinheiro com fintechs

Segundo as investigações, o grupo usava um esquema sofisticado que, além de lavar dinheiro do crime, gerava altos lucros na cadeia de combustíveis.

Centenas de empresas eram abertas para esconder a origem dos recursos. A fraude envolvia sonegação fiscal e adulteração de produtos.

"Operações financeiras realizadas por meio de instituições de pagamento (fintechs), em vez de bancos tradicionais, dificultavam o rastreamento dos valores transacionados", afirma a PF. Cerca de 1.000 postos de combustíveis vinculados ao grupo movimentaram R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024.

Uma das fintechs atuava como banco paralelo da organização e movimentou sozinha R$ 46 bilhões não rastreáveis no período.

Parte significativa desses recursos sem lastro foi usada para adquirir usinas sucroalcooleiras e fortalecer o grupo, que incorporou à sua estrutura criminosa distribuidoras, transportadoras e postos de combustíveis.

Os lucros e valores lavados eram então aplicados em fundos de investimento, com várias camadas de ocultação para esconder os verdadeiros beneficiários.

Paralelamente às ações criminais, o Comitê Interinstitucional de Recuperação de Ativos do Estado de São Paulo (CIRA/SP) adotará medidas judiciais para bloquear bens capazes de garantir a recuperação do tributo sonegado, cujo valor atualizado ultrapassa R$ 7 bilhões.

<><> Operação Tank

Como parte da Operação Carbono Neutro, a Receita Federal e a Polícia Federal também deflagraram nesta quinta-feira a Operação Tank, que investiga lavagem de dinheiro do crime organizado envolvendo uma rede de postos e distribuidoras de combustíveis.

As investigações começaram em 2023, quando um ex-condenado por tráfico internacional, investigado na operação Ferrari, e sua esposa passaram a ostentar bens de luxo em um condomínio de alto padrão em Pinhais (PR), em Curitiba, sem comprovação fiscal da origem dos recursos.

Além de depósitos em espécie, ao menos 121 empresas suspeitas transferiram cerca de R$ 1,4 bilhão para contas de uma distribuidora de petróleo sem justificativa ou documentação.

Entre 2020 e 2023, uma das distribuidoras declarou faturamento superior a R$ 7 bilhões, mas as evidências apontam que a empresa foi criada com recursos ilícitos ao longo dos anos.

Outra instituição de pagamentos, sediada em São Paulo, também foi utilizada para ocultar a origem e o destino dos recursos, enviando mais de R$ 400 milhões para as contas da distribuidora.

No total, estima-se que mais de R$ 20 bilhões foram movimentados em transações bancárias, resultando em aproximadamente R$ 4 bilhões deixados de arrecadar em tributos federais, além de cerca de R$ 1 bilhão inscritos em dívida ativa, de acordo com a Receita Federal.

•        Megaoperação que mira esquema bilionário do PCC é a maior já realizada no Brasil contra o crime organizado

A megaoperação que ocorre nesta quinta-feira (28), com o objetivo de desarticular um esquema criminoso bilionário no setor de combustíveis, comandado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), é considerada a maior da história do Brasil contra o crime organizado.

As autoridades levaram em conta a cooperação das polícias dos estados e a amplitude da megaoperação. A força-tarefa nacional conta com cerca de 1.400 agentes, que cumprem mandados de busca, apreensão e prisão em oito estados.

A megaoperação Carbono Oculto é a junção de três operações e acontece em São Paulo, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina. O grupo sonegou mais de R$ 7,6 bilhões em impostos federais, estaduais e municipais, segundo autoridades da Fazenda de SP.

As irregularidades foram identificadas em diversas etapas do processo de produção e distribuição de combustíveis no país. O esquema tem lesado não apenas os consumidores que abastecem seus veículos no Brasil, mas toda uma cadeia econômica ligada aos combustíveis.

O PCC agia na importação irregular de produtos químicos para adulterar os combustíveis. Os investigadores identificaram mais de 300 postos de combustíveis que atuam nessas fraudes. Já o setor estima um impacto maior, em cerca de 30% dos postos em todo o estado de São Paulo, em torno de 2.500 estabelecimentos.

A Receita Federal também identificou ao menos 40 fundos de investimentos, com patrimônio de R$ 30 bilhões, controlados pelo PCC. Segundo o órgão, as operações aconteciam justamente no mercado financeiro de São Paulo, através de membros infiltrados na Avenida Faria Lima.

Esses fundos de investimentos foram utilizados como estruturas de ocultação de patrimônio, afirmam os auditores federais.

Mais de 350 alvos – entre pessoas físicas e jurídicas – são suspeitos de crimes contra a ordem econômica, adulteração de combustíveis, crimes ambientais, lavagem de dinheiro, fraude fiscal e estelionato.

<><> As principais empresas alvo da operação são:

•        Grupo Aster/Copape, donos de usinas, formuladoras, distribuidoras e rede de postos de combustíveis usada pela organização criminosa;

•        BK Bank, fintech financeira utilizada para movimentar dinheiro por meio de contas bolsão não rastreáveis;

•        Reag, fundo de investimento usado na compra de empresas, usinas e para blindagem do patrimônio dos envolvidos.

<><> Funcionamento do esquema

De acordo com as investigações, um dos principais eixos da fraude investigada passa pela importação irregular de metanol. O produto, que chega ao país pelo Porto de Paranaguá (PR), não é entregue aos destinatários indicados nas notas fiscais.

Em vez disso, é desviado e transportado clandestinamente, com documentação fraudulenta e em desacordo com normas de segurança, colocando em risco motoristas, pedestres e o meio ambiente.

O metanol, altamente inflamável e tóxico, é direcionado a postos e distribuidoras, nos quais é utilizado para adulterar combustíveis, gerando lucros bilionários à organização criminosa.

Segundo eles, consumidores estariam pagando por volumes inferiores ao informado pelas bombas (fraude quantitativa) ou por combustíveis adulterados fora das especificações técnicas exigidas pela ANP (fraude qualitativa).

Proprietários de postos de gasolina que venderam seus estabelecimentos comerciais para a rede criminosa também não receberam os valores da transação e foram ameaçados de morte, caso fizessem qualquer tipo de cobrança.

“O produto e proveito das infrações econômicas e penais foram realocados em uma complexa rede de interpostas pessoas que ocultam os verdadeiros beneficiários em camadas societárias e financeiras, especialmente em shell companies, fundos de investimento e instituições de pagamento", explicam os membros do MP-SP.

"Parcela substancial desses recursos sem lastro financiou a aquisição de usinas sucroalcooleiras e potencializou a atuação do grupo que absorveu em sua estrutura criminosa distribuidoras, transportadoras e postos de combustíveis”, completaram.

<><> Fintechs criminosas bilionárias

As transações financeiras do grupo criminoso passavam por fintechs controladas pelo crime organizado, cujo portfólio de clientes é formado majoritariamente por empresas do setor de combustíveis, segundo a Receita Federal.

Pelo menos 40 dessas empresas financeiras foram identificadas como financiadoras do esquema. Essas fintechs têm o patrimônio de R$ 30 bilhões e ajudaram a comprar postos e caminhões de combustíveis, usinas de álcool, fazendas no interior de São Paulo e casas de luxo (entenda mais aqui).

Investigadores afirmam que o uso de instituições de pagamento, em vez de bancos tradicionais, tinha o objetivo de dificultar o rastreamento do dinheiro.

As fintechs operavam com contabilidade paralela, permitindo transferências entre empresas e pessoas físicas sem que os beneficiários finais fossem identificados.

O Comitê Interinstitucional de Recuperação de Ativos do Estado de São Paulo (CIRA/SP), da Secretaria da Fazenda de São Paulo, vai pedir o bloqueio de bens para recuperar o tributo sonegado, cujo montante atualizado é estimado em R$ 7.672.938.883,21.

A ação desta quinta-feira é coordenada pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP), por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Também participam o Ministério Público Federal (MPF) e as polícias Federal, Civil e Militar de São Paulo.

Fazem parte ainda a Receita Federal, a Secretaria da Fazenda de SP, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) e a Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo (PGE-SP). Ministérios Públicos de outros estados apoiam o cumprimento dos mandados.

<><> PCC estava em todo o setor de produção de cana-de-açúcar e obrigava empresários a venderem propriedades, diz MP

Integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) se infiltraram em todo o setor de produção de cana-de-açúcar e atuaram com ameaças a empresários e fazendeiros no interior de São Paulo, aponta investigação do Ministério Público (MP) do estado.

Nesta quinta-feira (28), o MP realiza uma megaoperação com 1.400 agentes para cumprir mandados de busca, apreensão e prisão ligados a um esquema bilionário da facção criminosa no setor de combustíveis.

Essa super investigação contou com denúncias levadas ao Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo (GAECO) de várias regiões do interior paulista.

Empresários, agricultores, colaboradores ligados ao agro e à cadeia produtiva do álcool fizeram chegar aos promotores uma série de situações suspeitas envolvendo a compra de usinas, de fazendas de cultivo de cana, de postos de combustíveis e até mesmo de transportadoras ligadas ao setor sucroalcooleiro.

Gente séria do ramo endereçou situações gravíssimas de que fazendeiros, donos de usinas e de postos estavam sendo coagidos a venderem suas propriedades para os grupos criminosos. Inclusive, havia até suspeitas de incêndios criminosos em canaviais, empresas e propriedades rurais como forma de intimidação.

Ainda de acordo com relatos que chegaram ao MP, os negócios eram geralmente fechados à vista em dinheiro vivo com valores subfaturados e ameaças de morte caso o "vendedor" desistisse ou abrisse o bico para denunciar a coação.

Vários empresários e comerciantes sérios ficaram extremamente preocupados, pois sentiram que o crime organizado, por meio do PCC e afiliados, estava, de fato, avançando com força sobre o setor — com a tática de dominação de territórios.

O aprofundamento das investigações do MP estadual resultou na necessidade de colaboração do Ministério Público Federal, da Receita Federal e da Polícia Federal.

Os crimes apurados envolviam, entre outros, a sonegação de centenas de milhões de reais em tributos federais, lavagem de dinheiro no sistema financeiro nacional além da adulteração de combustíveis por meio de importações fraudulentas de metanol.

Assim, inquéritos também foram abertos em âmbito federal e, em trabalho conjunto no estilo força tarefa, o resultado é a deflagração da operação desta quinta-feira.

A Justiça Federal concedeu para a PF as ordens de prisão de vários alvos e, à estadual, dezenas de mandados de busca e apreensão de suspeitos de terem participação nos esquemas criminosos envolvendo o PCC — desde o cultivo no campo até a venda de álcool para o consumidor final.

 

Fonte: g1

 

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