sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Arnóbio Rocha: Negacionismo, um estado anímico sórdido, cínico e letal

A negação da realidade, uma espécie de não aceitação do que se percebe e é sensível, do que se lê ou se ouve. É um fenômeno que fez o mundo piorar muito, nos mais variados campos, mas na política ele se torna explosivo e letal, porque abrange uma gama de ideias e de comportamentos (negativos) que, postos em movimento, transformam (para pior) todo o cenário da existência e convivência humana, dando azo a teorias da conspiração que não se sustentariam por minutos, exceto no estado de negação.

Ao contrário do que se possa imaginar, a negação não é sinônimo de baixa instrução (formal) educacional, ou de que sejam as pessoas de camadas mais pobres da população em sua maioria. O fenômeno atinge com maior peso as classes médias e altas, com grau de escolaridade maior, parte inclusive de uma certa “elite” intelectual, que nega o mundo que não lhe convém e embarca em teses que não fazem o menor sentido. Não se resume a “terra plana”, é algo mais danoso, porque, em tese, dá sustentação e certa validade por ser vocalizado por grupos com formações superiores, validando suas viagens (lisérgicas).

Nesse sentido, a internet (as redes sociais, em particular) veio para consolidar uma visão negativa do mundo moderno, sem utopia, fim das ideologias e disputas mundiais (visíveis ou não). Aliás, o medo é o vetor central desse comportamento, que passa a ver a “modernidade” como inimiga e que ela fecha os espaços, ou não garante o “status quo” para os bem-nascidos, de que a meritocracia se quebre diante das mutações e da velocidade dessas mudanças, muitas delas incompreensíveis, ou que fazem parte de um plano nefasto de dominação que os excluirá (até pode ser, mas não nesse sentido próprio).

Disso explode o achismo, que é o irmão gêmeo da negação.

Ora, se negamos tudo, vale qualquer “opinião” como valor e como critério da verdade, ainda que sem nenhuma base científica, experimentação e nem mesmo como fruto de conhecimento humano no tempo e na história. Isso, em parte, é o que explica que alguém como Olavo de Carvalho, astrólogo pernóstico e de linguajar escatológico, tenha feito a “cabeça” de tanta gente, em particular da classe média e alta, muitos com longos anos de academia, estudos e títulos (o que nos parece ainda mais trágico). Uma espécie de captura à caricatura, como se o cinismo, as palavras de baixo calão contra tudo e contra todos, virassem a autoridade moral.

A famosa frase de Umberto Eco sobre a internet e redes sociais reverbera até hoje, passados 10 anos, justamente pelo seu caráter premonitório do que estava por vir (e veio). Recordemos:

“As redes sociais deram o direito à palavra a legiões de imbecis que, antes, só falavam nos bares, após um copo de vinho, e não causavam nenhum mal para a coletividade. Nós os fazíamos calar imediatamente, enquanto hoje eles têm o mesmo direito de palavra que um prêmio Nobel. É a invasão dos imbecis.”

A coisa piorou sensivelmente nesses 10 anos, porque, além da autoridade nessa ágora virtual, ganharam títulos esnobes de influencers, youtubers, coachs, legendários, entre outras coisas. Ganham fábulas em monetização da idiotia de forma generalizada, reforçando o aspecto essencial da negação, o seu caráter alienante, que reforça o desprezo por todas as atividades sociais e coletivas, do que pode representar um mundo igual e fraterno.

Dessa geração da negação surgiram os novos políticos e dirigentes do Estado. Eles vieram negando o sistema (leia-se: política, a democracia), mas trabalhando justamente para tornar o sistema perene, mais injusto e autoritário, para justificar o seu próprio discurso. Esses políticos usaram dessa lógica (a negação) para ignorar a pandemia e foram responsáveis diretamente pela maior mortandade do que seria sem a negação da ciência, das vacinas, da medicina (inclusive médicos ajudaram fortemente essa negação), da saúde pública, da necessidade vital do isolamento social nos piores momentos.

Um novo momento desse estado trágico é negar que houve a pandemia, inclusive os milhões de mortos, das famílias dilaceradas (muitas delas acreditam que foi obra divina) pelas perdas de entes queridos. Há uma verdadeira ação para simplesmente apagar as (ir)responsabilidades pelos fatos. No Brasil, oficialmente 715 mil mortos, como se não tivessem existido. Alguns desses agentes públicos viraram deputados, senadores, governadores, quase Bolsonaro foi reeleito, o que parece absolutamente inexplicável. Como houve esse esquecimento tão rápido? Arriscamos dizer que isso é resultado do estado de negação, sem embargos.

A negação se constituiu como ideologia, das mais difíceis de serem combatidas, principalmente porque se tenta usar como antídoto a razão, o que, em parte, se perdeu ou foi tragado pela internet, o maior consumidor de neurônios e sinapses.

É trágico!

•        Vocação para maldade. Por Heraldo Campos

Outro dia, dando uma zapeada na TV, caí na TV Senado e estava passando o excelente documentário “Vocacional – Uma Aventura Humana”  sobre as seis escolas vocacionais que existiam no Estado de São Paulo nos anos 60 do século passado.

Uma dessas escolas era o “Ginásio Vocacional Oswaldo Aranha” que funcionava (e funciona) no bairro do Brooklin, localizado na Zona Sul da capital paulista. As outras cinco escolas eram espalhadas pelo interior do Estado nas cidades de Batatais (“Ginásio Vocacional Cândido Portinari”), São Caetano (“Ginásio Vocacional de São Caetano do Sul Vila de Santa Maria”), Americana (“Ginásio Vocacional Papa João XXIII”), Rio Claro (“Ginásio Vocacional Chanceler Raul Fernandes”) e Barretos (“Ginásio Vocacional Embaixador Macedo Soares”).

Não estudei no “Ginásio Vocacional Oswaldo Aranha”, mas tenho amigos que sim. Fui pesquisar sobre o assunto e encontrei essa informação: “Nos anos 1960, foi criado por legislação o Serviço de Ensino Vocacional do Estado de São Paulo (SEV), composto por seis ginásios vocacionais, entre os quais o Ginásio Oswaldo Aranha, inaugurado em 1962. A proposta dos vocacionais era desenvolver uma educação interdisciplinar, trabalhando com a personalidade do aluno para que ele desenvolvesse suas habilidades. Uma visão pedagógica que se mostrava antagônica àquela que a ditadura procuraria estimular, mais voltada para o acúmulo de conhecimentos técnicos úteis ao mercado de trabalho. Os conflitos entre o ginásio e o regime não tardariam a se expressar, até que em 1969 Maria Nilde Mascellani, coordenadora do programa, foi afastada da função. Acentuada pela vigilância e ameaças de corte de verbas, uma invasão policial combinada em todos os colégios do SEV no mesmo ano levou ao encerramento da experiência pedagógica, com a intervenção da Secretaria no serviço.”

Vale ressaltar que a vocação para maldade dos governos ditatoriais, com relação a projetos inovadores de educação, aconteceu em um passado não muito distante e, lamentavelmente, persiste nos dias de hoje em vários países, visando minar o ensino  (e a sua destruição ao final do plano) para as pessoas nos seus mais distintos níveis.

Tomando por exemplo o Brasil, é só ver os caminhos que tomaram a ditadura de 1964 a 1985 e a proto-ditadura de 2019 a 2022 e que, certamente, seguiria com uma nova ditadura, que não se consumou com o golpe de 08/01/2023 articulado, como sabemos, com certa antecedência pelos militares de plantão. Alguém tem dúvida que sabotar a educação não é uma das maneiras de subjugar os povos para a perpetuação no poder e sob o domínio de poucos poderosos?

“Lavar as mãos do conflito entre os poderosos e os impotentes significa ficar do lado dos poderosos, não ser neutro. O educador tem o dever de não ser neutro.” - Paulo Freire.

•        "PEC das prerrogativas" está a serviço da extrema direita, diz Rogério Correia

O deputado federal Rogério Correia (PT-MG) fez um alerta nesta quarta-feira (27) para os prejuízos da PEC das Prerrogativas (PEC 3/21), que proíbe vários casos de prisão em flagrante de parlamentares.

“A serviço do que o centrão e a extrema direita querem”, disse o parlamentar em entrevista à TV 247. “Quanto mais isolados ficam, mais agressivos. Tenho medo que essa extrema direita brasileira acabe virando uma espécie de guerrilha. Cada vez a agressividade é maior”.

O petista aproveitou para repudiar a trama golpista, que tem Jair Bolsonaro (PL) entre os 31 réus. “Não adianta eles falarem que vão fechar o Supremo. Não vamos permitir. Foi uma tentativa de golpe nítida”, afirmou Correia.

Segundo a PEC das Prerrogativas, policiais poderão efetuar prisão em flagrante dos parlamentares nos casos de crimes inafiançáveis mencionados explicitamente pela Constituição: racismo, crimes hediondos, tortura, tráfico de drogas, terrorismo e a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.

A proposta passou a ser analisada em um contexto de prisão domiciliar de Bolsonaro. Ele passou a ficar detido, em Brasília (DF), e a cumprir medidas cautelares por risco de fuga para o exterior e obstrução judicial da investigação sobre a tentativa de golpe.

O inquérito da trama golpista está no Supremo Tribunal Federal, mas, em outra apuração, a Polícia Federal indiciou Jair e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por atrapalhar as investigações sobre o plano golpista por causa das articulações junto ao governo Donald Trump (EUA) para aplicar sanções à economia brasileira e ao STF.

Ainda na entrevista concedida ao 247, o deputado Rogério Correia também afirmou que a cassação do mandato de Eduardo Bolsonaro na Câmara “já era para ter sido feita”.

•        Nosso boné nunca será vermelho. Por Ricardo Mezavila

Nos últimos anos, os bonés se tornaram mais do que simples acessórios de moda; emergiram como símbolos poderosos de identidade política, tanto no Brasil quanto no cenário internacional.

Na reunião ministerial de ontem, o presidente Lula e seus ministros apareceram usando bonés azuis com a frase “O Brasil é dos brasileiros”.

Essa ação foi uma estratégia de comunicação política, em resposta aos bonés vermelhos inspirados no “Make America Great Again” (MAGA) usados pela direita bolsonarista, reforçando uma narrativa de soberania nacional em meio às tensões com ameaças protecionistas de Donald Trump.

Essa escolha de cores e mensagens é contraditória em relação às associações históricas de cada espectro político. A escolha do vermelho pelos bolsonaristas é uma contradição gritante.

Eles bradam “Nossa bandeira nunca será vermelha” nas redes e nas ruas, mas desfilam com bonés vermelhos que idolatram Trump, um líder que ameaça a economia brasileira com tarifas de 50% sobre nossos produtos.

Que patriotismo é esse que se curva a um estrangeiro enquanto ataca as instituições democráticas do próprio país?

No passado, os golpistas foram anistiados e tiveram tempo de se organizar para atentar novamente contra a democracia.

Que essa lição tenha sido suficiente para que os golpistas de hoje paguem com a privação de liberdade por tudo o que fizeram de prejudicial à economia, cultura, educação, diplomacia, saúde e relações humanas, em todos os níveis.

•        Emprego em alta: Brasil resiste ao tarifaço norte-americano. Por Oliveiros Marques

Apesar dos ataques externos e da cumplicidade criminosa de setores da oposição, o Brasil continua a mostrar resiliência e vitalidade em sua economia. Mesmo diante do tarifaço imposto pelo governo dos Estados Unidos, com o apoio explícito do deputado Eduardo Bolsonaro contra os interesses nacionais, o país mantém resultados expressivos na geração de empregos, fruto direto de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento econômico interno, o fortalecimento da indústria e o estímulo ao mercado de trabalho.

Segundo os dados do CAGED, divulgados pelo ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, nesta quarta-feira, somente em julho de 2025, todos os cinco grandes grupamentos econômicos apresentaram saldos positivos. O setor de Serviços liderou, com +50.159 novos postos, puxado por atividades administrativas, transporte e saúde. O Comércio veio em seguida, com +27.325 empregos, especialmente no varejo. A Indústria cresceu +24.426, destacando-se alimentos e veículos automotores. Já a Construção Civil adicionou +19.066, e a Agropecuária fechou com +8.795, impulsionada pela soja e pela laranja.

No acumulado de agosto de 2024 a julho de 2025, foram +1,5 milhão de vínculos formais criados, elevando para 48,5 milhões o estoque de trabalhadores com carteira assinada. Esse resultado reflete não apenas a recuperação da confiança no ambiente econômico, mas também o impacto de investimentos estratégicos em infraestrutura, políticas de crédito direcionado e estímulo à produção nacional.

O perfil das novas contratações revela inclusão social. Jovens entre 18 e 24 anos responderam por quase 95 mil vagas, enquanto aprendizes até 17 anos somaram mais de 12 mil postos. Mulheres tiveram participação crescente no comércio e serviços, e houve avanço também na inserção de pessoas com deficiência (+774). Entre os grupos raciais, pardos (+108 mil) e pretos (+21 mil) lideraram os saldos, demonstrando que as oportunidades estão chegando com mais força à base da pirâmide social.

Os números confirmam a robustez do mercado de trabalho nacional e a capacidade do país de manter-se no rumo do crescimento com inclusão. O Brasil prova, mês a mês, que tem força para resistir às pressões externas e internas. O tarifaço norte-americano e a sabotagem de setores ligados ao bolsonarismo não foram suficientes para interromper um ciclo virtuoso de geração de empregos formais, sustentado por políticas públicas que valorizam o trabalho, estimulam a produção e fortalecem a soberania nacional.

 

Fonte: Brasil 247

 

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