Arnóbio
Rocha: Negacionismo, um estado anímico sórdido, cínico e letal
A
negação da realidade, uma espécie de não aceitação do que se percebe e é
sensível, do que se lê ou se ouve. É um fenômeno que fez o mundo piorar muito,
nos mais variados campos, mas na política ele se torna explosivo e letal,
porque abrange uma gama de ideias e de comportamentos (negativos) que, postos
em movimento, transformam (para pior) todo o cenário da existência e
convivência humana, dando azo a teorias da conspiração que não se sustentariam
por minutos, exceto no estado de negação.
Ao
contrário do que se possa imaginar, a negação não é sinônimo de baixa instrução
(formal) educacional, ou de que sejam as pessoas de camadas mais pobres da
população em sua maioria. O fenômeno atinge com maior peso as classes médias e
altas, com grau de escolaridade maior, parte inclusive de uma certa “elite”
intelectual, que nega o mundo que não lhe convém e embarca em teses que não
fazem o menor sentido. Não se resume a “terra plana”, é algo mais danoso,
porque, em tese, dá sustentação e certa validade por ser vocalizado por grupos
com formações superiores, validando suas viagens (lisérgicas).
Nesse
sentido, a internet (as redes sociais, em particular) veio para consolidar uma
visão negativa do mundo moderno, sem utopia, fim das ideologias e disputas
mundiais (visíveis ou não). Aliás, o medo é o vetor central desse
comportamento, que passa a ver a “modernidade” como inimiga e que ela fecha os
espaços, ou não garante o “status quo” para os bem-nascidos, de que a
meritocracia se quebre diante das mutações e da velocidade dessas mudanças,
muitas delas incompreensíveis, ou que fazem parte de um plano nefasto de
dominação que os excluirá (até pode ser, mas não nesse sentido próprio).
Disso
explode o achismo, que é o irmão gêmeo da negação.
Ora, se
negamos tudo, vale qualquer “opinião” como valor e como critério da verdade,
ainda que sem nenhuma base científica, experimentação e nem mesmo como fruto de
conhecimento humano no tempo e na história. Isso, em parte, é o que explica que
alguém como Olavo de Carvalho, astrólogo pernóstico e de linguajar
escatológico, tenha feito a “cabeça” de tanta gente, em particular da classe
média e alta, muitos com longos anos de academia, estudos e títulos (o que nos
parece ainda mais trágico). Uma espécie de captura à caricatura, como se o
cinismo, as palavras de baixo calão contra tudo e contra todos, virassem a
autoridade moral.
A
famosa frase de Umberto Eco sobre a internet e redes sociais reverbera até
hoje, passados 10 anos, justamente pelo seu caráter premonitório do que estava
por vir (e veio). Recordemos:
“As
redes sociais deram o direito à palavra a legiões de imbecis que, antes, só
falavam nos bares, após um copo de vinho, e não causavam nenhum mal para a
coletividade. Nós os fazíamos calar imediatamente, enquanto hoje eles têm o
mesmo direito de palavra que um prêmio Nobel. É a invasão dos imbecis.”
A coisa
piorou sensivelmente nesses 10 anos, porque, além da autoridade nessa ágora
virtual, ganharam títulos esnobes de influencers, youtubers, coachs,
legendários, entre outras coisas. Ganham fábulas em monetização da idiotia de
forma generalizada, reforçando o aspecto essencial da negação, o seu caráter
alienante, que reforça o desprezo por todas as atividades sociais e coletivas,
do que pode representar um mundo igual e fraterno.
Dessa
geração da negação surgiram os novos políticos e dirigentes do Estado. Eles
vieram negando o sistema (leia-se: política, a democracia), mas trabalhando
justamente para tornar o sistema perene, mais injusto e autoritário, para
justificar o seu próprio discurso. Esses políticos usaram dessa lógica (a
negação) para ignorar a pandemia e foram responsáveis diretamente pela maior
mortandade do que seria sem a negação da ciência, das vacinas, da medicina
(inclusive médicos ajudaram fortemente essa negação), da saúde pública, da
necessidade vital do isolamento social nos piores momentos.
Um novo
momento desse estado trágico é negar que houve a pandemia, inclusive os milhões
de mortos, das famílias dilaceradas (muitas delas acreditam que foi obra
divina) pelas perdas de entes queridos. Há uma verdadeira ação para
simplesmente apagar as (ir)responsabilidades pelos fatos. No Brasil,
oficialmente 715 mil mortos, como se não tivessem existido. Alguns desses
agentes públicos viraram deputados, senadores, governadores, quase Bolsonaro
foi reeleito, o que parece absolutamente inexplicável. Como houve esse
esquecimento tão rápido? Arriscamos dizer que isso é resultado do estado de
negação, sem embargos.
A
negação se constituiu como ideologia, das mais difíceis de serem combatidas,
principalmente porque se tenta usar como antídoto a razão, o que, em parte, se
perdeu ou foi tragado pela internet, o maior consumidor de neurônios e
sinapses.
É
trágico!
• Vocação para maldade. Por Heraldo Campos
Outro
dia, dando uma zapeada na TV, caí na TV Senado e estava passando o excelente
documentário “Vocacional – Uma Aventura Humana”
sobre as seis escolas vocacionais que existiam no Estado de São Paulo
nos anos 60 do século passado.
Uma
dessas escolas era o “Ginásio Vocacional Oswaldo Aranha” que funcionava (e
funciona) no bairro do Brooklin, localizado na Zona Sul da capital paulista. As
outras cinco escolas eram espalhadas pelo interior do Estado nas cidades de
Batatais (“Ginásio Vocacional Cândido Portinari”), São Caetano (“Ginásio
Vocacional de São Caetano do Sul Vila de Santa Maria”), Americana (“Ginásio
Vocacional Papa João XXIII”), Rio Claro (“Ginásio Vocacional Chanceler Raul
Fernandes”) e Barretos (“Ginásio Vocacional Embaixador Macedo Soares”).
Não
estudei no “Ginásio Vocacional Oswaldo Aranha”, mas tenho amigos que sim. Fui
pesquisar sobre o assunto e encontrei essa informação: “Nos anos 1960, foi
criado por legislação o Serviço de Ensino Vocacional do Estado de São Paulo
(SEV), composto por seis ginásios vocacionais, entre os quais o Ginásio Oswaldo
Aranha, inaugurado em 1962. A proposta dos vocacionais era desenvolver uma
educação interdisciplinar, trabalhando com a personalidade do aluno para que
ele desenvolvesse suas habilidades. Uma visão pedagógica que se mostrava
antagônica àquela que a ditadura procuraria estimular, mais voltada para o
acúmulo de conhecimentos técnicos úteis ao mercado de trabalho. Os conflitos
entre o ginásio e o regime não tardariam a se expressar, até que em 1969 Maria
Nilde Mascellani, coordenadora do programa, foi afastada da função. Acentuada
pela vigilância e ameaças de corte de verbas, uma invasão policial combinada em
todos os colégios do SEV no mesmo ano levou ao encerramento da experiência
pedagógica, com a intervenção da Secretaria no serviço.”
Vale
ressaltar que a vocação para maldade dos governos ditatoriais, com relação a
projetos inovadores de educação, aconteceu em um passado não muito distante e,
lamentavelmente, persiste nos dias de hoje em vários países, visando minar o
ensino (e a sua destruição ao final do
plano) para as pessoas nos seus mais distintos níveis.
Tomando
por exemplo o Brasil, é só ver os caminhos que tomaram a ditadura de 1964 a
1985 e a proto-ditadura de 2019 a 2022 e que, certamente, seguiria com uma nova
ditadura, que não se consumou com o golpe de 08/01/2023 articulado, como
sabemos, com certa antecedência pelos militares de plantão. Alguém tem dúvida
que sabotar a educação não é uma das maneiras de subjugar os povos para a
perpetuação no poder e sob o domínio de poucos poderosos?
“Lavar
as mãos do conflito entre os poderosos e os impotentes significa ficar do lado
dos poderosos, não ser neutro. O educador tem o dever de não ser neutro.” -
Paulo Freire.
• "PEC das prerrogativas" está a
serviço da extrema direita, diz Rogério Correia
O
deputado federal Rogério Correia (PT-MG) fez um alerta nesta quarta-feira (27)
para os prejuízos da PEC das Prerrogativas (PEC 3/21), que proíbe vários casos
de prisão em flagrante de parlamentares.
“A
serviço do que o centrão e a extrema direita querem”, disse o parlamentar em
entrevista à TV 247. “Quanto mais isolados ficam, mais agressivos. Tenho medo
que essa extrema direita brasileira acabe virando uma espécie de guerrilha.
Cada vez a agressividade é maior”.
O
petista aproveitou para repudiar a trama golpista, que tem Jair Bolsonaro (PL)
entre os 31 réus. “Não adianta eles falarem que vão fechar o Supremo. Não vamos
permitir. Foi uma tentativa de golpe nítida”, afirmou Correia.
Segundo
a PEC das Prerrogativas, policiais poderão efetuar prisão em flagrante dos
parlamentares nos casos de crimes inafiançáveis mencionados explicitamente pela
Constituição: racismo, crimes hediondos, tortura, tráfico de drogas, terrorismo
e a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e
o Estado Democrático.
A
proposta passou a ser analisada em um contexto de prisão domiciliar de
Bolsonaro. Ele passou a ficar detido, em Brasília (DF), e a cumprir medidas
cautelares por risco de fuga para o exterior e obstrução judicial da
investigação sobre a tentativa de golpe.
O
inquérito da trama golpista está no Supremo Tribunal Federal, mas, em outra
apuração, a Polícia Federal indiciou Jair e o deputado Eduardo Bolsonaro
(PL-SP) por atrapalhar as investigações sobre o plano golpista por causa das
articulações junto ao governo Donald Trump (EUA) para aplicar sanções à
economia brasileira e ao STF.
Ainda
na entrevista concedida ao 247, o deputado Rogério Correia também afirmou que a
cassação do mandato de Eduardo Bolsonaro na Câmara “já era para ter sido
feita”.
• Nosso boné nunca será vermelho. Por
Ricardo Mezavila
Nos
últimos anos, os bonés se tornaram mais do que simples acessórios de moda;
emergiram como símbolos poderosos de identidade política, tanto no Brasil
quanto no cenário internacional.
Na
reunião ministerial de ontem, o presidente Lula e seus ministros apareceram
usando bonés azuis com a frase “O Brasil é dos brasileiros”.
Essa
ação foi uma estratégia de comunicação política, em resposta aos bonés
vermelhos inspirados no “Make America Great Again” (MAGA) usados pela direita
bolsonarista, reforçando uma narrativa de soberania nacional em meio às tensões
com ameaças protecionistas de Donald Trump.
Essa
escolha de cores e mensagens é contraditória em relação às associações
históricas de cada espectro político. A escolha do vermelho pelos bolsonaristas
é uma contradição gritante.
Eles
bradam “Nossa bandeira nunca será vermelha” nas redes e nas ruas, mas desfilam
com bonés vermelhos que idolatram Trump, um líder que ameaça a economia
brasileira com tarifas de 50% sobre nossos produtos.
Que
patriotismo é esse que se curva a um estrangeiro enquanto ataca as instituições
democráticas do próprio país?
No
passado, os golpistas foram anistiados e tiveram tempo de se organizar para
atentar novamente contra a democracia.
Que
essa lição tenha sido suficiente para que os golpistas de hoje paguem com a
privação de liberdade por tudo o que fizeram de prejudicial à economia,
cultura, educação, diplomacia, saúde e relações humanas, em todos os níveis.
• Emprego em alta: Brasil resiste ao
tarifaço norte-americano. Por Oliveiros Marques
Apesar
dos ataques externos e da cumplicidade criminosa de setores da oposição, o
Brasil continua a mostrar resiliência e vitalidade em sua economia. Mesmo
diante do tarifaço imposto pelo governo dos Estados Unidos, com o apoio
explícito do deputado Eduardo Bolsonaro contra os interesses nacionais, o país
mantém resultados expressivos na geração de empregos, fruto direto de políticas
públicas voltadas para o desenvolvimento econômico interno, o fortalecimento da
indústria e o estímulo ao mercado de trabalho.
Segundo
os dados do CAGED, divulgados pelo ministro do Trabalho e Emprego, Luiz
Marinho, nesta quarta-feira, somente em julho de 2025, todos os cinco grandes
grupamentos econômicos apresentaram saldos positivos. O setor de Serviços
liderou, com +50.159 novos postos, puxado por atividades administrativas,
transporte e saúde. O Comércio veio em seguida, com +27.325 empregos,
especialmente no varejo. A Indústria cresceu +24.426, destacando-se alimentos e
veículos automotores. Já a Construção Civil adicionou +19.066, e a Agropecuária
fechou com +8.795, impulsionada pela soja e pela laranja.
No
acumulado de agosto de 2024 a julho de 2025, foram +1,5 milhão de vínculos
formais criados, elevando para 48,5 milhões o estoque de trabalhadores com
carteira assinada. Esse resultado reflete não apenas a recuperação da confiança
no ambiente econômico, mas também o impacto de investimentos estratégicos em
infraestrutura, políticas de crédito direcionado e estímulo à produção
nacional.
O
perfil das novas contratações revela inclusão social. Jovens entre 18 e 24 anos
responderam por quase 95 mil vagas, enquanto aprendizes até 17 anos somaram
mais de 12 mil postos. Mulheres tiveram participação crescente no comércio e
serviços, e houve avanço também na inserção de pessoas com deficiência (+774).
Entre os grupos raciais, pardos (+108 mil) e pretos (+21 mil) lideraram os
saldos, demonstrando que as oportunidades estão chegando com mais força à base
da pirâmide social.
Os
números confirmam a robustez do mercado de trabalho nacional e a capacidade do
país de manter-se no rumo do crescimento com inclusão. O Brasil prova, mês a
mês, que tem força para resistir às pressões externas e internas. O tarifaço
norte-americano e a sabotagem de setores ligados ao bolsonarismo não foram
suficientes para interromper um ciclo virtuoso de geração de empregos formais,
sustentado por políticas públicas que valorizam o trabalho, estimulam a
produção e fortalecem a soberania nacional.
Fonte:
Brasil 247

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