'Não
sou um ditador', diz Trump ao defender intervenção e pena de morte em
Washington
"Não
sou um ditador", afirmou nesta terça-feira (26) o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sem ser questionado, ao comentar análises
da imprensa sobre a intervenção federal em Washington, D.C.
Desde o
dia 12 de agosto, forças militares estão na capital dos Estados Unidos para
reforçar a segurança da cidade. Trump alega que o crime em Washington está
"fora de controle" e fez críticas ao governo local, controlado pela
oposição.
"O
discurso é que eu sou um ditador, mas eu paro o crime. Então muita gente diz:
‘Se for esse o caso, eu prefiro um ditador’. Mas eu não sou um ditador. Eu só
sei como parar o crime", declarou nesta terça-feira.
Na
segunda-feira (25), Trump já havia comentado sobre as acusações de
autoritarismo: "E eles dizem... 'Ele é um ditador. Ele é um
ditador'", afirmou. "Muitas pessoas estão dizendo: 'Talvez queiramos
um ditador'. Eu não gosto de um ditador. Eu não sou um ditador."
Durante
uma reunião de gabinete nesta terça-feira, Trump exaltou o trabalho da Guarda
Nacional no reforço da segurança da capital
americana —
iniciado há cerca de duas semanas — e os números apresentados por membros do
governo.
Após o
depoimento de uma correspondente da Casa Branca, que contou ter sido espancada
e ficado sob a mira de uma arma em Washington há alguns anos, o presidente
também afirmou que seu governo "começará a buscar a pena de morte em
casos de homicídio" na capital.
A pena
de morte no Distrito de Colúmbia, onde está a capital americana, foi abolida na
década de 1980.
A
prefeita da cidade, a democrata Muriel Bowser, tem feito duras críticas ao
republicano desde que a intervenção foi anunciada.
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Trump quer intervenção em outras grandes cidades
Na
sexta-feira (22), Donald Trump falou que Chicago, Nova York e São Francisco
também podem sofrer intervenção federal.
"Chicago,
provavelmente, será a próxima cidade que tornaremos segura. Então ajudaremos
com Nova York", disse Trump à imprensa após um pronunciamento no Salão
Oval da Casa Branca. "Podemos fazer uma limpa em São Francisco
também".
O
presidente republicano não informou quando as novas intervenções ocorrerão e
também não forneceu números sobre a violência nas cidades citadas. Todas
as três, além de Washington, são governadas por prefeitos do Partido Democrata.
Trump
disse, no entanto, que Chicago está uma "bagunça" e chamou
o prefeito de "extremamente incompetente".
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Reforço na segurança em Washington
As
tropas federais dos Estados Unidos chegaram a Washington no dia 12, um dia
após Trump anunciar uma intervenção
federal na segurança da
cidade.
O
argumento de Trump na ocasião foi o de que "o crime está fora de
controle" na capital norte-americana. Ele afirmou que a taxa de
homicídios em Washington D.C. é maior do que
em alguns dos piores lugares do mundo, e citou diversas capitais de outros
países, inclusive Brasília.
"Washington
D.C. deveria ser um dos lugares mais seguros e bonitos do mundo, mas há alguns
anos não é mais. A esquerda radical saiu do controle, porque os democratas não
querem segurança", afirmou o norte-americano na ocasião.
Apesar
de Washington D.C. ter problemas de violência armada e criminalidade, o crime
em geral está em queda na capital e atingiu em 2024 o menor nível dos últimos
30 anos, segundo dados de segurança pública dos EUA.
Já o
crime violento, que Trump citou diversas vezes, caiu 26% entre 2023 e 2024,
segundo o Departamento de Polícia local.
Ainda
assim, cerca de 2.000 homens da Guarda Nacional foram designados à capital,
segundo o Departamento de Defesa americano. Segundo o jornal americano
"The New York Times", a intervenção federal na cidade tem previsão
para durar 30 dias, mas Trump já disse que a operação pode ser estendida.
➡️ A Guarda Nacional é uma força híbrida
vinculada ao Exército dos EUA, com função estadual e federal. Normalmente
opera sob comando dos estados, com financiamento dos governos locais. Às vezes,
os soldados são enviados para missões federais, ainda sob comando estadual, mas
com recursos federais.
Autoridades
locais criticaram a intervenção de Trump, e afirmaram que as tropas da Guarda
Nacional não terão autoridade para realizar prisões. A prefeita de Washington
D.C., a democrata Muriel Bowser, classificou a manobra de Trump
como "alarmante e sem precedentes". O procurador-geral de Colúmbia,
Brian Schwalb, autoridade máxima da Justiça no distrito de Colúmbia, disse que
a medida é "sem precedentes, desnecessária e ilegal".
A
medida de Trump ocorre após o presidente expressar algumas vezes, desde que
retornou à Casa Branca em janeiro, o desejo de colocar Washington D.C. sob
controle federal. A intervenção federal é interpretada pelos jornais dos
EUA como "uma medida extraordinária de uso do poder federal", e que
pode expor os moradores da capital.
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Trump 'socialista'? A polêmica decisão do governo dos EUA
de comprar parte da Intel
Donald Trump está levando o
governo americano para o mercado de chips.
Ele
anunciou na última sexta-feira (22/08) que o governo federal iria adquirir
participação de 10% na Intel, empresa que faz parte da Fortune 500 (lista anual
das 500 maiores empresas dos EUA por receita) e é uma das maiores fabricantes
americanas de semicondutores.
E o
presidente americano insinuou que os EUA podem não ter terminado de
aumentar sua carteira de ações.
"Farei
acordos como esse para o nosso país o dia todo", escreveu ele em sua rede
social, a Truth Social.
"Também
ajudarei as empresas que fazem acordos tão lucrativos com os Estados
Unidos."
A
publicação de Trump foi uma resposta a críticas que se acumularam por dias.
Os
críticos incluem apoiadores da direita, que veem na compra um rompimento da
tradição americana e do preceito de um governo enxuto.
Além
disso, alguns economistas alertam que a promessa de ajudar empresas que fazem
acordos com o governo dos EUA aumenta o potencial de corrupção e ineficácia do
mercado.
"Com
isso, as decisões de investimento precisam ser tomadas com base em política,
não em economia", disse Tad DeHaven, analista de política econômica do
Cato Institute, um think tank (centros de pesquisa e debate
que buscam influenciar políticas públicas) libertário.
"Isso
coloca o governo diretamente na essência do processo decisório de uma grande
empresa."
Embora
Trump diga que os EUA pagaram "zero" pelos cerca de US$ 9 bilhões em
ações sem direito a voto da Intel, a transação está longe de ser um presente.
Os EUA
converteram subsídios não pagos, designados na Lei de Chips de 2023 (legislação
destinada a promover a fabricação nacional de semicondutores), em ações da
Intel.
A
postura de Trump não é totalmente inédita no país.
Na crise financeira de 2009, os EUA adquiriram
parte da propriedade da General Motors, Citigroup e AIG para evitar a quebra
dessas empresas.
Essas
intervenções foram justificadas pelos então presidentes George W. Bush e Barack
Obama como medidas emergenciais para evitar um colapso econômico nacional.
O
governo Trump justifica a compra de participação na Intel como uma forma de
proteger uma indústria vital para a segurança nacional.
Mas,
para Robert Atkinson, presidente da Information Technology and Innovation
Foundation, o objetivo real é outro.
"Não
se trata realmente de fortalecer a Intel, mas sim de ter controle sobre ela e
talvez ganhar mais dinheiro", avalia Atkinson.
Se a
participação estatal em empresas privadas é uma medida incomum para o governo
dos EUA, não é em outros lugares.
China e
Rússia investem pesadamente em suas empresas nacionais. Até mesmo as
democracias europeias têm um histórico de apoiar o que consideram
indústrias-chave, como aeroespacial, comunicações e energia.
Na
terça (26), o secretário de Comércio, Howard Lutnick, delineou uma estratégia
semelhante, afirmando que os EUA estão considerando adquirir participações
acionárias em empresas de defesa e munições.
"A
Lockheed Martin obtém 97% de sua receita do governo federal", disse ele.
"Se
estamos agregando valor fundamental aos seus negócios, acho justo que Donald
Trump pense no povo americano."
Outro
assessor econômico de Trump, Kevin Hassett, sugeriu um plano mais amplo: que
esse tipo de intervenção governamental seja o primeiro passo para a criação de
um fundo soberano dos EUA.
O
presidente admira os fundos de investimento administrados por outras nações,
como a China e as monarquias
do Golfo, como um meio eficaz de gerar receita governamental.
Embora
não tenha pressionado o Congresso a autorizar formalmente a criação de um fundo
nos EUA, o modelo de investimento da Intel pode fornecer uma rota alternativa
sem a supervisão e regulamentação que poderiam vir com a participação mais
ativa do Congresso.
"Tenho
certeza de que em algum momento haverá mais transações, se não neste setor, em
outros setores", diz Hassett.
Poderiam
oferecer mais ativos para tal fundo a golden share (ação
preferencial que dá direito a veto a decisões estratégicas) do governo na US
Steel, negociada como parte da compra da empresa pelo Japão, e a promessa de
investimento estrangeiro em indústrias americanas.
Embora
Trump frequentemente elogie suas habilidades de negociação e seu conhecimento
financeiro, Richard Stern, da conservadora Heritage Foundation, avalia que o
controle estatal raramente se iguala ao desempenho do capitalismo de livre
mercado.
"Mesmo
que ele fosse o empresário mais genial que já existiu, a verdade é que parte do
que torna os negócios tão bem-sucedidos é que as pessoas envolvidas neles são
especializadas. Elas conhecem aquele negócio, aquele produto, aquela
área", diz Stern.
"Nenhum
ser humano pode ser universalmente perfeito na gestão de todos os negócios em
todos os setores do planeta."
Até
agora, poucos políticos republicanos — incluindo aqueles no Congresso, que
poderiam exercer supervisão — se manifestaram contra o novo interesse do
presidente no capitalismo gerido pelo Estado.
O
senador Rand Paul, um crítico ocasional de Trump, é uma exceção notável.
"Se
socialismo é o governo possuir os meios de produção", escreveu ele na rede
social X, "o governo possuir parte da Intel não seria um passo em direção
ao socialismo?"
Como se
quisesse enfatizar esse ponto, o senador Bernie Sanders, socialista
autodeclarado, manifestou apoio à iniciativa de Trump.
"Se
as empresas de microchip lucram com as generosas verbas que recebem do governo
federal", disse o ex-candidato à presidência em um comunicado, "os
contribuintes americanos têm direito a um retorno razoável sobre seus
investimentos".
A
perspectiva de que o poder econômico que Trump está acumulando com essas
últimas medidas possa ser exercido por um futuro presidente democrata é outro
motivo para o desconforto de alguns conservadores.
"Alguém
acha que eles vão ficar de braços cruzados enquanto o governo detém 10% de
participação na Intel sem ter nada a dizer sobre as políticas da Intel em
tecnologia verde, diversidade, responsabilidade corporativa e por aí
vai?", questionou DeHaven.
Isso
não pareceu deter Trump, cujos esforços podem ser parte de uma estratégia maior
ou simplesmente a ânsia de um empresário em intervir onde puder — seja
direcionando investimentos governamentais, sugerindo que a Coca-Cola mude a fórmula do
refrigerante ou
recomendando que a Cracker Barrel volte ao seu antigo logotipo.
"Todo
mundo está se precipitando [em analisar a situação] com os 'ismos' —
corporativismo, socialismo, capitalismo de Estado...", disse DeHaven.
"No fim das contas, é o trumpismo."
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Trans brasileira presa de forma truculenta nos EUA segue
presa e será deportada, diz governo Trump
A brasileira
Alice Barbosa, de 28 anos, uma mulher trans detida de forma truculenta no
sábado (23) em Maryland, nos Estados Unidos, seguirá presa até ser deportada de volta
para o Brasil, segundo o Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE).
O
argumento para mantê-la presa foram detenções anteriores "por posse de
substância controlada e posse de maconha", informou o departamento.
Em nota
divulgada nesta terça-feira (28), o ICE deu tratou Alice pelo nome masculino —e
não pelo nome social. Trata-se de uma diretriz do presidente Donald Trump, que prometeu deter o que chamou de "loucura
transgênero" assim que assumiu o cargo, em janeiro.
"Alexsander
Correia Barbosa, um imigrante ilegal do Brasil, permaneceu nos Estados Unidos
por quase 6 anos além do prazo permitido por seu visto. Ele ficou no país após
o vencimento de seu visto de turista B-2, que autorizava sua permanência por
seis meses. Quase seis anos depois, ele ainda está ilegalmente em território
americano", afirma o comunicado.
Um
vídeo gravado por amigos de Alice mostra que ela foi levada de forma truculenta
pelos agentes que a abordaram. Ainda no momento da detenção, um dos agentes usa
o pronome masculino para se referir a ela e é corrigido instantaneamente pela
mulher que filmava.
Assim
que assumiu seu segundo mandato, o presidente dos EUA, Donald Trump, assinou
um decreto que tornou "política
oficial dos EUA que existam apenas dois gêneros: masculino e feminino".
Apesar
do comunicado do ICE não especificar o local onde a brasileira está
presa, o uso do nome de nascimento de Alice mostra que os temores de que
ela estivesse sendo tratada como homem e tenha sido levada para um centro de
detenção masculino são fundamentados.
Segundo
a comentarista da GloboNews Flávia Oliveira, a deputada federal Erika Hilton, que também teve o visto
americano renovado sem seu nome social há alguns meses, procurou a ajuda do
Itamaraty por temor que Alice acabe sendo vítima de abuso e violência.
O
Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania informou que está acompanhando,
ao lado do Itamaraty, o caso de Alice Barbosa "para que sejam adotadas as
medidas necessárias à proteção da vítima, assegurando-lhe assistência consular
e o resguardo de seus direitos".
Fonte:
g1/BBC News

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