sexta-feira, 29 de agosto de 2025

'Não sou um ditador', diz Trump ao defender intervenção e pena de morte em Washington

"Não sou um ditador", afirmou nesta terça-feira (26) o presidente dos Estados UnidosDonald Trump, sem ser questionado, ao comentar análises da imprensa sobre a intervenção federal em Washington, D.C.

Desde o dia 12 de agosto, forças militares estão na capital dos Estados Unidos para reforçar a segurança da cidade. Trump alega que o crime em Washington está "fora de controle" e fez críticas ao governo local, controlado pela oposição.

"O discurso é que eu sou um ditador, mas eu paro o crime. Então muita gente diz: ‘Se for esse o caso, eu prefiro um ditador’. Mas eu não sou um ditador. Eu só sei como parar o crime", declarou nesta terça-feira.

Na segunda-feira (25), Trump já havia comentado sobre as acusações de autoritarismo: "E eles dizem... 'Ele é um ditador. Ele é um ditador'", afirmou. "Muitas pessoas estão dizendo: 'Talvez queiramos um ditador'. Eu não gosto de um ditador. Eu não sou um ditador."

Durante uma reunião de gabinete nesta terça-feira, Trump exaltou o trabalho da Guarda Nacional no reforço da segurança da capital americana — iniciado há cerca de duas semanas — e os números apresentados por membros do governo.

Após o depoimento de uma correspondente da Casa Branca, que contou ter sido espancada e ficado sob a mira de uma arma em Washington há alguns anos, o presidente também afirmou que seu governo "começará a buscar a pena de morte em casos de homicídio" na capital.

A pena de morte no Distrito de Colúmbia, onde está a capital americana, foi abolida na década de 1980.

A prefeita da cidade, a democrata Muriel Bowser, tem feito duras críticas ao republicano desde que a intervenção foi anunciada.

<><> Trump quer intervenção em outras grandes cidades

Na sexta-feira (22), Donald Trump falou que Chicago, Nova York e São Francisco também podem sofrer intervenção federal.

"Chicago, provavelmente, será a próxima cidade que tornaremos segura. Então ajudaremos com Nova York", disse Trump à imprensa após um pronunciamento no Salão Oval da Casa Branca. "Podemos fazer uma limpa em São Francisco também".

O presidente republicano não informou quando as novas intervenções ocorrerão e também não forneceu números sobre a violência nas cidades citadas. Todas as três, além de Washington, são governadas por prefeitos do Partido Democrata.

Trump disse, no entanto, que Chicago está uma "bagunça" e chamou o prefeito de "extremamente incompetente".

<><> Reforço na segurança em Washington

As tropas federais dos Estados Unidos chegaram a Washington no dia 12, um dia após Trump anunciar uma intervenção federal na segurança da cidade.

O argumento de Trump na ocasião foi o de que "o crime está fora de controle" na capital norte-americana. Ele afirmou que a taxa de homicídios em Washington D.C. é maior do que em alguns dos piores lugares do mundo, e citou diversas capitais de outros países, inclusive Brasília.

"Washington D.C. deveria ser um dos lugares mais seguros e bonitos do mundo, mas há alguns anos não é mais. A esquerda radical saiu do controle, porque os democratas não querem segurança", afirmou o norte-americano na ocasião.

Apesar de Washington D.C. ter problemas de violência armada e criminalidade, o crime em geral está em queda na capital e atingiu em 2024 o menor nível dos últimos 30 anos, segundo dados de segurança pública dos EUA.

Já o crime violento, que Trump citou diversas vezes, caiu 26% entre 2023 e 2024, segundo o Departamento de Polícia local.

Ainda assim, cerca de 2.000 homens da Guarda Nacional foram designados à capital, segundo o Departamento de Defesa americano. Segundo o jornal americano "The New York Times", a intervenção federal na cidade tem previsão para durar 30 dias, mas Trump já disse que a operação pode ser estendida.

➡️ A Guarda Nacional é uma força híbrida vinculada ao Exército dos EUA, com função estadual e federal. Normalmente opera sob comando dos estados, com financiamento dos governos locais. Às vezes, os soldados são enviados para missões federais, ainda sob comando estadual, mas com recursos federais.

Autoridades locais criticaram a intervenção de Trump, e afirmaram que as tropas da Guarda Nacional não terão autoridade para realizar prisões. A prefeita de Washington D.C., a democrata Muriel Bowser, classificou a manobra de Trump como "alarmante e sem precedentes". O procurador-geral de Colúmbia, Brian Schwalb, autoridade máxima da Justiça no distrito de Colúmbia, disse que a medida é "sem precedentes, desnecessária e ilegal".

A medida de Trump ocorre após o presidente expressar algumas vezes, desde que retornou à Casa Branca em janeiro, o desejo de colocar Washington D.C. sob controle federal. A intervenção federal é interpretada pelos jornais dos EUA como "uma medida extraordinária de uso do poder federal", e que pode expor os moradores da capital.

¨      Trump 'socialista'? A polêmica decisão do governo dos EUA de comprar parte da Intel

Donald Trump está levando o governo americano para o mercado de chips.

Ele anunciou na última sexta-feira (22/08) que o governo federal iria adquirir participação de 10% na Intel, empresa que faz parte da Fortune 500 (lista anual das 500 maiores empresas dos EUA por receita) e é uma das maiores fabricantes americanas de semicondutores.

E o presidente americano insinuou que os EUA podem não ter terminado de aumentar sua carteira de ações.

"Farei acordos como esse para o nosso país o dia todo", escreveu ele em sua rede social, a Truth Social.

"Também ajudarei as empresas que fazem acordos tão lucrativos com os Estados Unidos."

A publicação de Trump foi uma resposta a críticas que se acumularam por dias.

Os críticos incluem apoiadores da direita, que veem na compra um rompimento da tradição americana e do preceito de um governo enxuto.

Além disso, alguns economistas alertam que a promessa de ajudar empresas que fazem acordos com o governo dos EUA aumenta o potencial de corrupção e ineficácia do mercado.

"Com isso, as decisões de investimento precisam ser tomadas com base em política, não em economia", disse Tad DeHaven, analista de política econômica do Cato Institute, um think tank (centros de pesquisa e debate que buscam influenciar políticas públicas) libertário.

"Isso coloca o governo diretamente na essência do processo decisório de uma grande empresa."

Embora Trump diga que os EUA pagaram "zero" pelos cerca de US$ 9 bilhões em ações sem direito a voto da Intel, a transação está longe de ser um presente.

Os EUA converteram subsídios não pagos, designados na Lei de Chips de 2023 (legislação destinada a promover a fabricação nacional de semicondutores), em ações da Intel.

A postura de Trump não é totalmente inédita no país.

Na crise financeira de 2009, os EUA adquiriram parte da propriedade da General Motors, Citigroup e AIG para evitar a quebra dessas empresas.

Essas intervenções foram justificadas pelos então presidentes George W. Bush e Barack Obama como medidas emergenciais para evitar um colapso econômico nacional.

O governo Trump justifica a compra de participação na Intel como uma forma de proteger uma indústria vital para a segurança nacional.

Mas, para Robert Atkinson, presidente da Information Technology and Innovation Foundation, o objetivo real é outro.

"Não se trata realmente de fortalecer a Intel, mas sim de ter controle sobre ela e talvez ganhar mais dinheiro", avalia Atkinson.

Se a participação estatal em empresas privadas é uma medida incomum para o governo dos EUA, não é em outros lugares.

China e Rússia investem pesadamente em suas empresas nacionais. Até mesmo as democracias europeias têm um histórico de apoiar o que consideram indústrias-chave, como aeroespacial, comunicações e energia.

Na terça (26), o secretário de Comércio, Howard Lutnick, delineou uma estratégia semelhante, afirmando que os EUA estão considerando adquirir participações acionárias em empresas de defesa e munições.

"A Lockheed Martin obtém 97% de sua receita do governo federal", disse ele.

"Se estamos agregando valor fundamental aos seus negócios, acho justo que Donald Trump pense no povo americano."

Outro assessor econômico de Trump, Kevin Hassett, sugeriu um plano mais amplo: que esse tipo de intervenção governamental seja o primeiro passo para a criação de um fundo soberano dos EUA.

O presidente admira os fundos de investimento administrados por outras nações, como a China e as monarquias do Golfo, como um meio eficaz de gerar receita governamental.

Embora não tenha pressionado o Congresso a autorizar formalmente a criação de um fundo nos EUA, o modelo de investimento da Intel pode fornecer uma rota alternativa sem a supervisão e regulamentação que poderiam vir com a participação mais ativa do Congresso.

"Tenho certeza de que em algum momento haverá mais transações, se não neste setor, em outros setores", diz Hassett.

Poderiam oferecer mais ativos para tal fundo a golden share (ação preferencial que dá direito a veto a decisões estratégicas) do governo na US Steel, negociada como parte da compra da empresa pelo Japão, e a promessa de investimento estrangeiro em indústrias americanas.

Embora Trump frequentemente elogie suas habilidades de negociação e seu conhecimento financeiro, Richard Stern, da conservadora Heritage Foundation, avalia que o controle estatal raramente se iguala ao desempenho do capitalismo de livre mercado.

"Mesmo que ele fosse o empresário mais genial que já existiu, a verdade é que parte do que torna os negócios tão bem-sucedidos é que as pessoas envolvidas neles são especializadas. Elas conhecem aquele negócio, aquele produto, aquela área", diz Stern.

"Nenhum ser humano pode ser universalmente perfeito na gestão de todos os negócios em todos os setores do planeta."

Até agora, poucos políticos republicanos — incluindo aqueles no Congresso, que poderiam exercer supervisão — se manifestaram contra o novo interesse do presidente no capitalismo gerido pelo Estado.

O senador Rand Paul, um crítico ocasional de Trump, é uma exceção notável.

"Se socialismo é o governo possuir os meios de produção", escreveu ele na rede social X, "o governo possuir parte da Intel não seria um passo em direção ao socialismo?"

Como se quisesse enfatizar esse ponto, o senador Bernie Sanders, socialista autodeclarado, manifestou apoio à iniciativa de Trump.

"Se as empresas de microchip lucram com as generosas verbas que recebem do governo federal", disse o ex-candidato à presidência em um comunicado, "os contribuintes americanos têm direito a um retorno razoável sobre seus investimentos".

A perspectiva de que o poder econômico que Trump está acumulando com essas últimas medidas possa ser exercido por um futuro presidente democrata é outro motivo para o desconforto de alguns conservadores.

"Alguém acha que eles vão ficar de braços cruzados enquanto o governo detém 10% de participação na Intel sem ter nada a dizer sobre as políticas da Intel em tecnologia verde, diversidade, responsabilidade corporativa e por aí vai?", questionou DeHaven.

Isso não pareceu deter Trump, cujos esforços podem ser parte de uma estratégia maior ou simplesmente a ânsia de um empresário em intervir onde puder — seja direcionando investimentos governamentais, sugerindo que a Coca-Cola mude a fórmula do refrigerante ou recomendando que a Cracker Barrel volte ao seu antigo logotipo.

"Todo mundo está se precipitando [em analisar a situação] com os 'ismos' — corporativismo, socialismo, capitalismo de Estado...", disse DeHaven. "No fim das contas, é o trumpismo."

¨      Trans brasileira presa de forma truculenta nos EUA segue presa e será deportada, diz governo Trump

A brasileira Alice Barbosa, de 28 anos, uma mulher trans detida de forma truculenta no sábado (23) em Maryland, nos Estados Unidos, seguirá presa até ser deportada de volta para o Brasil, segundo o Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE).

O argumento para mantê-la presa foram detenções anteriores "por posse de substância controlada e posse de maconha", informou o departamento.

Em nota divulgada nesta terça-feira (28), o ICE deu tratou Alice pelo nome masculino —e não pelo nome social. Trata-se de uma diretriz do presidente Donald Trump, que prometeu deter o que chamou de "loucura transgênero" assim que assumiu o cargo, em janeiro.

"Alexsander Correia Barbosa, um imigrante ilegal do Brasil, permaneceu nos Estados Unidos por quase 6 anos além do prazo permitido por seu visto. Ele ficou no país após o vencimento de seu visto de turista B-2, que autorizava sua permanência por seis meses. Quase seis anos depois, ele ainda está ilegalmente em território americano", afirma o comunicado.

Um vídeo gravado por amigos de Alice mostra que ela foi levada de forma truculenta pelos agentes que a abordaram. Ainda no momento da detenção, um dos agentes usa o pronome masculino para se referir a ela e é corrigido instantaneamente pela mulher que filmava.

Assim que assumiu seu segundo mandato, o presidente dos EUA, Donald Trump, assinou um decreto que tornou "política oficial dos EUA que existam apenas dois gêneros: masculino e feminino".

Apesar do comunicado do ICE não especificar o local onde a brasileira está presa, o uso do nome de nascimento de Alice mostra que os temores de que ela estivesse sendo tratada como homem e tenha sido levada para um centro de detenção masculino são fundamentados.

Segundo a comentarista da GloboNews Flávia Oliveira, a deputada federal Erika Hilton, que também teve o visto americano renovado sem seu nome social há alguns meses, procurou a ajuda do Itamaraty por temor que Alice acabe sendo vítima de abuso e violência. 

O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania informou que está acompanhando, ao lado do Itamaraty, o caso de Alice Barbosa "para que sejam adotadas as medidas necessárias à proteção da vítima, assegurando-lhe assistência consular e o resguardo de seus direitos".

 

Fonte: g1/BBC News 

 

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