quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Cartéis do México poderiam retaliar EUA com mais força que Al-Qaeda e Estado Islâmico, diz analista

A ameaça de que o governo de Donald Trump lance ações militares unilaterais contra cartéis de droga no México não está descartada em Washington, mas especialistas entrevistados pelo La Jornada concordam que, por ora, a ameaça tem o propósito de forçar o governo do México a ampliar sua cooperação com os Estados Unidos — e, apontam, está funcionando.

A doutora Aileen Teague, professora assistente na Escola Bush da Universidade Texas A&M, comentou que a decisão do governo mexicano de enviar aos EUA um segundo grupo de narcotraficantes esta semana é evidência de que a ameaça de ação militar está funcionando. “Enquanto [a presidenta] Claudia Sheinbaum precisa lidar com as atitudes internas do seu país, ela demonstrou que pode ser pressionada nesse tipo de questão — exatamente como fez quando enviou 10 mil integrantes da Guarda Nacional à fronteira [entre EUA e México] há alguns meses.”

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Ao La Jornada, Teague acrescentou que não acredita que Trump vá, por enquanto, lançar uma ação militar unilateral contra os cartéis em território mexicano. “Não ocorrerá algo como a invasão de 1846 ou Veracruz em 1914”, disse. “Acredito que, se houver alguma escalada da presença militar estadunidense, será dentro dos arranjos militares pré-existentes — sobre os quais a liderança mexicana realmente prefere não falar, porque não necessariamente quer informar o povo mexicano sobre eles.”

Mas nem Teague, nem outros especialistas estavam dispostos a descartar por completo a possibilidade de uma ação militar unilateral dos Estados Unidos no México. “O México pode ter que aceitar operações estadunidenses contra cartéis”, foi o título de uma reportagem publicada na influente revista Politico em 11 de agosto. O texto aponta que “a presidenta do México diz que ataques militares estadunidenses contra cartéis mexicanos seriam uma ‘invasão’ e que isso ‘não está sobre a mesa’, mas o México poderia não impedir os Estados Unidos caso decidam atacar os agrupamentos criminosos.” Recorda que a falta de autorização não impediu os ataques com drones no Oriente Médio, nem a captura de líderes do cartel como Ismael El Mayo Zambada e Joaquín Guzmán López.

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<><> Cartéis: resposta imprevisível

“O governo de Trump não se importa com as críticas. Não se importa com o fato de que um ataque militar não seria efetivo, nem com as potenciais consequências indiretas. Tampouco se importa se o Congresso autorizou ou não esse tipo de ação”, adverte James Bosworth, fundador da empresa de análise de risco político Hxagon, em um recente boletim. Ele acrescenta que os cartéis mexicanos poderiam causar grandes prejuízos às forças militares dos EUA, caso estas optem por realizar operações no México. E adverte que os cartéis “têm capacidade, armamento e pessoal para levar essa luta até o território dos Estados Unidos de uma forma que Al-Qaeda e o Estado Islâmico só podem sonhar.”

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Dan DePetris, analista de segurança da organização Defense Priorities, indicou que uma incursão militar dos EUA poderia não surtir efeito. “Bombardear laboratórios é algo atrativo porque dá aos Estados Unidos a ilusão de progresso, sem de fato resolver nada. Uma hipotética ação militar no México poderia destruir alguns desses laboratórios e matar membros de cartéis, mas os incentivos financeiros e os lucros são tão altos que o negócio provavelmente continuaria apesar de tudo”, afirmou em entrevista ao La Jornada. “Vimos como isso evoluiu na Colômbia nos anos 1990, onde a queda do cartel de Medellín simplesmente abriu espaço para o fortalecimento do cartel do Golfo. O ambiente no México hoje é ainda mais complexo.”

<><> Militarizar guerra às drogas: mais danos

Poucos presidentes dos EUA parecem aprender com a história, observa Teague. “É muito importante analisar o longo histórico do uso da força militar contra cartéis de drogas e organizações do narcotráfico no México, porque a história mostra que isso aconteceu poucas vezes.” Ela lembrou que, em 1969, o presidente Richard Nixon interrompeu o fluxo de mercadorias na fronteira até que o México aceitasse colaborar mais na luta contra as drogas — embora o então chanceler Antonio Carrillo Flores tenha declarado ao jornal Excélsior que o governo mexicano havia intensificado sua ação antidrogas não por compromisso com os Estados Unidos, mas sim “com o povo mexicano e no interesse do México”.

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Nesse sentido, Teague afirma que os formuladores de políticas seguem sem aprender as lições do passado. “Os Estados Unidos pressionam seus parceiros mexicanos a usar força militar, e isso tem consequências não intencionais que aumentam a violência e a instabilidade no México — e, em alguns casos, contribuíram para o fortalecimento de algumas dessas organizações do narcotráfico”, apontou.

“Acho que se pode argumentar que militarizar a guerra contra as drogas a torna ainda pior e, de fato, alimenta a economia ilícita — é isso que argumento no meu livro”, segue a especialista sobre sua obra, que acaba de concluir e será lançada em breve, The United States, Mexico and the Origins of the Modern Drug War 1969–2000 (Os Estados Unidos, o México e as origens da moderna guerra às drogas, 1969–2000, em tradução livre), que detalha a história da cooperação bilateral entre Estados Unidos e México na questão das drogas.

A especialista conclui: “Esse é um problema com raízes mais profundas. A força militar não é uma ferramenta eficaz contra os cartéis”, acrescenta Teague, que é veterana dos Fuzileiros Navais dos EUA. “Melhorar a segurança pública é importante, mas isso precisa estar acompanhado de uma abordagem voltada para o desenvolvimento”, sublinhou.

Questionada mais uma vez sobre o quanto se deve levar a sério a ameaça de uma ação militar unilateral, ela repete: “Espero que seja apenas retórica, mas nunca se sabe.”

¨      'El Mayo' se declara culpado nos EUA; Sheinbaum fala em ‘colaboração’ entre países

presidente do México, Claudia Sheinbaum, declarou nesta terça-feira (26/08) que a prisão de Ismael “El Mayo” Zambada García, cofundador do cartel mexicano de Sinaloa, após sua entrega à Justiça “é um exemplo da colaboração positiva” entre os dois países no combate ao narcotráfico.

Por outro lado, a mandatária mexicana criticou Washington por equiparar “El Mayo” com Genaro García Luna, que atuou como secretário de Segurança Pública durante o governo de Felipe Calderón entre 2006 e 2012. Luna foi condenado em outubro de 2024 a mais de 38 anos de prisão pela Justiça norte-americana por tráfico de drogas, em especial com apoio ao Cartel de Sinaloa.

“O diretor Administração de Repressão às Drogas (DEA) [Terrance Cole] está colocando conhecidos chefes do tráfico e o ex-secretário de Segurança de Calderón no mesmo nível”, afirmou.

<><> Reação dos EUA

De acordo com um comunicado do Departamento de Justiça norte-americano nesta segunda-feira (25/08), “El Mayo”, que tem 77 anos de idade, “se declarou culpado por ser um dos principais líderes de uma organização criminosa em andamento — o Cartel de Sinaloa, e por uma acusação de Organizações Corruptas e Influenciadas por Extorsão (RICO, na sigla em inglês”.

O governo norte-americano ainda classificou o cartel de Sinaloa como “uma das organizações de tráfico de drogas mais violentas e poderosas do mundo”. Contudo, ao se apresentar como culpado, “El Mayo” não citou nomes de outros possíveis envolvidos, uma vez que não há nenhum acordo de colaboração para confissões.

“O Departamento de Justiça não vai descansar até que todos os líderes de cartéis responsáveis por envenenar as comunidades com fentanil sejam presos”, declarou o secretário da pasta Merrick Garland.

Em uma coletiva de imprensa do Departamento de Justiça norte-americano nesta terça-feira (26/08), a procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi, e o chefe da Administração de Repressão às Drogas (DEA), Terrance Cole, afirmaram que a detenção de “El Mayo” é um “triunfo sem precedentes” e representa “o possível fim do cartel de Sinaloa”.

A administração Trump afirma que os cartéis são os responsáveis de “inundar os EUA com drogas”, levando a “crimes hediondos” como assassinatos. No caso de “El Mayo” e do cartel de Sinaloa, os acusa de traficar cocaína, heroína e fentanil para o território norte-americano.

“Eles compraram os precursores químicos do fentanil da China. Eles fabricaram a droga no México e inundaram nossas comunidades, matando nossas crianças”, afirmou Bondi, sem apresentar provas da relação do cartel com Pequim.

Bondi ainda classificou o ocorrido como “uma vitória crucial na luta do presidente Trump para eliminar completamente as organizações terroristas estrangeiras e proteger os cidadãos americanos das drogas mortais e da violência”. No entanto, além de ter se entregado à Justiça, “El Mayo” já havia sido preso e julgamento anteriormente, em julho de 2024, durante o governo do ex-presidente democrata Joe Biden (2021-2025).

Por fim, Bondi agradeceu às autoridades mexicanas “por sua ajuda para levar todos esses líderes do cartel à justiça”.

¨      Líderes do Haiti denunciam: EUA armaram gangues e agora preparam invasão com mercenários

O estadunidense Erik Prince – fundador da Blackwater, empresa conhecida pela acusação de torturar iraquianos na invasão do país – disse que enviará centenas de mercenários ao Haiti para “combater o problema da violência de gangues no país e restaurar seu sistema de arrecadação de impostos”.

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“Somos contra a chegada desses mercenários que aprofundam o caos que estamos vivendo agora”, afirmou ao Brasil de Fato Camille Chalmers, economista e líder popular.

O dirigente do partido Rasin Kan Pèp la (reagrupamento socialista por uma nova iniciativa nacional) afirma que este é outro exemplo da “tática do bombeiro incendiário”, usada com frequência no Haiti.

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“Cria-se o problema para vender a preços altos a solução”, diz Chalmers, lembrando que tal tática foi usada inclusive pelo Brasil, que enviou o general Augusto Heleno para comandar a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah), em 2004.

A força comandada pelo bolsonarista que hoje é réu por cinco crimes, entre eles tentativa de golpe de Estado, acumulou denúncias de massacres, estupros e de ter contribuído para a chegada de um surto de cólera ao Haiti, sem reduzir os índices de violência do país caribenho.

<><> A crise é projeto

Chalmers diz que as gangues armadas – justificativa para a chegada dos mercenários – são criação tanto dos EUA como da vizinha República Dominicana, que fornecem armas, munições e apoio para os quase 300 grupos que levam caos ao Haiti.

“Criaram as gangues armadas que atuam contra a população haitiana destruindo hospitais, escolas, espaços patrimoniais, universidades, ao mesmo tempo em que enfraqueceram as forças de segurança do Haiti”, explica ele.

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“O governo dos EUA bloqueou a importação de armas compradas pela Polícia Nacional. Com o plano migratório de [Joe] Biden, [ex-presidente estadunidense], organizou a saída de nosso país de mais de 4 mil oficiais de polícia experimentados em uma força que está amplamente subdimensionada.”

<><> Blackwater: histórico de abusos

Erik Prince é um dos principais doadores da campanha do atual presidente dos EUA, Donald Trump, e detalhou como sua empresa Vectus Global vai atuar no Haiti, combatendo gangues e assegurando a arrecadação de taxas, dentro do prazo de um ano.

“Uma medida fundamental do sucesso para mim será poder dirigir de Porto Príncipe a Cabo Haitiano em um veículo de baixa cilindrada sem ser parado por gangues”, disse ele à agência de notícias Reuters, afirmando também que o contrato é de dez anos, sem comentar valores.

A Vectus Global já atua no Haiti desde março, principalmente com drones, e irá enviar ao país centenas de mercenários treinados nos EUA, Europa e El Salvador, como atiradores de elite e especialistas em inteligência e comunicação, além de barcos e helicópteros.

A empresa anterior de Prince, a Blackwater, teve quatro funcionários condenados pelos assassinatos de 14 cidadãos iraquianos na Praça Nisour, em Bagdá, em setembro de 2007, além de inúmeras acusações de tortura. Os contratados foram posteriormente perdoados por Trump durante seu primeiro mandato na Casa Branca.

Prince vendeu a Blackwater em 2010, mas permaneceu ativo no setor de segurança privada. Desde o retorno de Trump à Casa Branca, ele tem consultado o Equador sobre como combater a violência de gangues.

“Recorrer a empresas militares privadas não pode ser visto como uma solução para a insegurança no Haiti”, disse Gedeon Jean, chefe do Centro de Análise e Pesquisa de Direitos Humanos do Haiti, à AP. “O uso de empresas privadas frequentemente resulta em violações de direitos humanos.”

Romain Le Cour Grandmaison, chefe do programa para o Haiti da Iniciativa Global Contra o Crime Organizado Transnacional, com sede em Genebra, disse à AP que a missão da Vectus Global no Haiti violaria a lei dos EUA, a menos que tivesse permissão de Washington para prosseguir.

Ele disse que seu envolvimento provavelmente complicaria a crise no Haiti em vez de resolvê-la.

“Na ausência de uma estratégia haitiana e internacional coerente e liderada em conjunto, o uso de empresas privadas tem mais probabilidade de fragmentar a autoridade e a soberania do que de promover a resolução da crise”, disse ele.

A correspondente da Telesur no Haiti, Cha Dafol, disse que a ideia de aumentar a atuação dos mercenários da empresa estadunidense é polêmica dentro do governo de transição haitiano. Desde 2024, o Executivo do país é comandado pelo Conselho de Transição Presidencial, com comando rotativo de cinco meses para cada presidente.

“O premiê Alix Didier Fils-Aimé, de direita, teria assinado o acordo com a Vectus Global, mas o ex-presidente Fritz Alphonse Jean, que deixou o cargo em 6 de agosto, negou a existência do contrato”, diz ela ao Brasil de Fato.

“A questão deve aprofundar o atrito entre os integrantes dessa administração nos próximos tempos”, conclui.

¨      Jovens solidários dos EUA vivenciam democracia popular e resistência ao bloqueio em Cuba

“Os jovens aprenderam muito nesta visita, estão contentes e cada vez mais interessados em conhecer a sociedade cubana, o país submetido a um criminoso bloqueio”, comenta Gloria La Riva, grande amiga e líder do projeto Hatuey, realizado em Cuba.

Sigla em inglês para Health Advocates in Truth, Unity and Empathy (Defensores da Saúde na Verdade, Unidade e Empatia, em tradução livre), o programa é formado por profissionais da saúde e ativistas pela justiça social, totalmente voluntários, preocupados com os efeitos negativos do cerco econômico dos EUA à ilha.

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Gloria, que com outros 16 jovens participou de um intercâmbio com o deputado Alberto Núñez Betancourt e Mirthia Brossard, do Comitê Nacional da União da Juventude Comunista (UJC), detalhou os encontros realizados na nação cubana. O grupo da iniciativa solidária chegou dos Estados Unidos no início de agosto com uma nova e muito valiosa doação de medicamentos para salas pediátricas oncológicas. As doações, de fármacos e recursos vitais, serão utilizadas no tratamento de crianças com câncer nos hospitais Juan Manuel Márquez, em Havana, e José Luis Miranda, em Villa Clara.

Em um diálogo espontâneo e fraterno, os jovens conheceram a democracia popular na ilha, o funcionamento da Assembleia Nacional do Poder Popular e seu cronograma legislativo, as eleições, a participação cidadã em consultas massivas…

Também ouviram sobre as contribuições da juventude, com sua energia e convicções próprias, para a construção e defesa da sociedade socialista; sobre o enfrentamento ao bloqueio, que provoca carências e difíceis condições de vida à população que resiste ao assédio do governo estadunidense; e sobre sua participação nas esferas econômicas, sociais, culturais, educacionais e comunitárias.

Já na sede do Instituto Cubano de Amizade com os Povos (ICAP), foi realizado um intercâmbio com os jovens amigos, interessados em saber mais — muito mais — sobre cada tema, em um sincero afã de ampliar e aprofundar sua aproximação com o povo que os viajantes se esforçam para apoiar e defender.

Os nobres jovens, desde sua chegada, receberam demonstrações repetidas de gratidão. “Agradecemos seu apoio, solidariedade e fraternidade, sobretudo nestes tempos difíceis”, afirmou o deputado Alberto Núñez Betancourt.

Com esses encontros do grupo com a realidade cubana, concretiza-se um propósito enunciado pela jovem Rachel Viqueira, coordenadora do Hatuey: “Nossa missão ao regressar aos Estados Unidos é divulgar as lições aprendidas em Cuba; educar sobre a necessidade de acabar com o bloqueio e construir pontes para o futuro das relações entre ambas as nações.”

 

Fonte: Diálogos do Sul Global/Opera Mundi

 

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