sábado, 30 de agosto de 2025

Nikolas Ferreira derrubou norma e abriu espaço para crimes do PCC na Faria Lima

Em janeiro deste ano, Nikolas Ferreira (PL-MG) publicou um vídeo em fundo preto acusando o governo de tentar criar um “imposto do Pix”. O conteúdo ganhou enorme repercussão e oito meses depois volta ao debate após a Operação Carbono Oculto expôr a infiltração do PCC em estruturas sofisticadas do sistema financeiro.

A fala de Nikolas distorceu o conteúdo da Instrução Normativa nº 2.219/2024, editada pela Receita Federal, que ampliava o envio de informações agregadas sobre movimentações financeiras. A medida foi revogada após a reação negativa e a onda de desinformação de que haveria cobrança sobre transações digitais.

O que estava em jogo na Instrução Normativa nº 2.219/2024 não era tributação, mas compliance fiscal: bancos e instituições de pagamento deveriam enviar à Receita informações mensais de operações acima de R$ 5 mil (pessoas físicas) e R$ 15 mil (jurídicas). Não havia previsão de imposto, nem rastreamento em tempo real de cada Pix.

A intenção era justamente criar mecanismos para identificar operações suspeitas de lavagem de dinheiro, como as que hoje aparecem no centro da Operação Carbono Oculto. Ainda assim, Nikolas e seus vídeos ajudaram a transformar o tema em palanque político, alimentando a desinformação que derrubou a normativa.

Mais do que o desgaste político, a crise gerada pelas fake news em torno do Pix foi lamentada pela área econômica do governo pelo prejuízo que trouxe ao controle da atuação das fintechs. Em setembro do ano passado, a Receita Federal editou a mesma Instrução Normativa com o propósito de atualizar a lista de meios de pagamento cujas movimentações devem ser informadas à Receita. A ideia era simples: incluir as fintechs nas mesmas regras que os bancos já seguiam. Meses depois, a norma foi engolfada por desinformação e revogada, contrariando a equipe econômica.

De quebra, o governo editou em janeiro uma Medida Provisória que proibia estabelecimentos comerciais de cobrar adicional sobre vendas feitas por Pix e assegurava que não haveria tributação desse meio de pagamento. A MP perdeu validade em junho sem votação e não deixou falta. Já a Instrução Normativa, como admitiu a Receita hoje, faz falta.

Em comunicado, o órgão afirmou que o crime organizado se aproveita justamente da “não obrigatoriedade de prestação de informações à Receita Federal sobre as operações financeiras dos clientes por meio da e-Financeira”. O órgão ressaltou que havia feito alterações normativas para diminuir a opacidade das instituições de pagamento, mas essas alterações foram revogadas no início de 2025 após a onda de fake news.

<><> Fake news de Nikolas impediu controle das fintechs

A deflagração da Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal e Receita, revelou a infiltração do PCC em estruturas da Faria Lima, com uso de fundos de investimento, fintechs e arranjos de pagamento para lavar bilhões de reais oriundos do setor de combustíveis. Foram identificados mais de 40 fundos sob influência, com patrimônio estimado acima de R$ 30 bilhões, além de um “banco paralelo” que teria movimentado R$ 46 bilhões em compensações extrabancárias. No mesmo dia, a Operação Tank também mirou esse eixo de lavagem.

Na véspera da operação, o ministro da Justiça já havia alertado para as brechas regulatórias em fintechs. Segundo ele, a ausência de regras claras e de fiscalização efetiva compromete instituições sérias e abre espaço para que o crime organizado infiltre suas operações. “Você começa a comprometer o nome fintech com gente séria. Mas como você não fiscaliza, o crime organizado entra na brecha e compromete todo o arranjo que o Banco Central fez em relação a essas instituições”, disse.

O caso também aumenta a pressão sobre o Congresso, que mantém parados três projetos de lei que definem o que é devedor contumaz e estabelecem punições. Essas propostas miram justamente operações do crime organizado na economia formal, como no setor de combustíveis, e contam com apoio de grandes empresas que sofrem concorrência desleal de quem não paga impostos.

A conexão entre as duas situações é direta: o que foi tratado como “imposto do Pix” era, na prática, uma tentativa de aprimorar o rastreio de operações ilícitas. O recuo diante da pressão política — alimentado por vídeos como o de Nikolas Ferreira — deixou exposta a dificuldade do governo em comunicar mudanças técnicas em temas sensíveis. Agora, com as operações Carbono Oculto e Tank, fica evidente como lacunas na supervisão e falhas no monitoramento de beneficiários finais podem ser exploradas pelo crime organizado.

•        Ajuda de Nikolas ao PCC com fake news do Pix, revelada pela PF, tem ampla repercussão nas redes

A megaoperação da Polícia Federal (PF) contra o crime organizado, deflagrada nesta quinta-feira (28), trouxe à tona também o episódio que movimentou intensamente as redes sociais em janeiro deste ano: a divulgação, pelo deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), de uma fake news sobre o Pix contra o governo Lula, que, de acordo com a investigação, favoreceu o Primeiro Comando da Capital (PCC).

Na época, um vídeo de Nikolas viralizou nas redes afirmando falsamente que o governo Lula criaria impostos sobre transferências instantâneas. A desinformação levou comerciantes a boicotarem o Pix e forçou o Palácio do Planalto a recuar, mesmo após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vir a público desmentir a tese.

Em 15 de janeiro, o governo suspendeu a instrução normativa que ampliaria a fiscalização sobre fintechs, mesmo diante do alerta da Receita sobre os riscos. Para o secretário especial do órgão, Robinson Barreirinhas, aquele episódio representou “o maior ataque de fake news da história da Receita”.

Nas redes sociais, parlamentares e internautas reagiram de diversas maneiras, mas a repercussão negativa foi imediata, com um número significativo de publicações com alto engajamento nas plataformas, segundo um levantamento do DataFórum. Houve em sua maioria elogios à atuação da PF e críticas que se concentraram na postura de Nikolas Ferreira com uma média de 10 mil curtidas e compartilhamentos por publicação no Instagram e no Facebook, e 60 mil interações no post de uma das maiores páginas progressistas do Brasil.

O engajamento, como foi observado, concentrou-se em páginas de esquerda ao centro, enquanto a extrema direita, que vive momento de implosão e fim do bolsonarismo em face dos crimes do clã Bolsonaro, não consegue sustentar mais seu discurso nas redes.

•        Fake news de Nikolas Ferreira sobre Pix teve financiamento de fintechs

O vídeo em que o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) afirmava que o Pix seria taxado não viralizou por acaso. Segundo apurações da Receita Federal e do Banco Central, a peça de desinformação teria contado com o apoio de fintechs sob investigação por lavagem de dinheiro e ligação com o crime organizado.

Segundo apuração de Guilherme Amado, do PlatôBR, essas empresas, agora alvo da Operação Carbono Oculto, tinham motivo para agir: o governo pretendia ampliar a fiscalização sobre transações financeiras suspeitas, incluindo as plataformas digitais no sistema de monitoramento da Receita. A medida, porém, acabou suspensa após a enxurrada de ataques baseada no vídeo, que acumulou mais de 200 milhões de visualizações.

A brecha que favorece fraudes

De acordo com o sindicalista Dão Real, diretor do Sindifisco, a Receita já acompanhava irregularidades em combustíveis, mas os criminosos encontraram um novo caminho em meios de pagamento digitais. “Sem a obrigação de prestar informações como os bancos fazem, essas plataformas se tornaram zona cega. O controle preventivo some e só resta a quebra de sigilo posterior, quando a fraude já ocorreu”, disse.

Um esquema bilionário

Na quinta-feira (28), a Operação Carbono Oculto cumpriu 350 mandados em oito estados, revelando a dimensão do esquema: parte do dinheiro do setor de combustíveis era desviado para fintechs e depois blindado em 40 fundos de investimento, avaliados em R$ 30 bilhões. Apenas uma plataforma digital chegou a movimentar R$ 46 bilhões sozinha.

Para os investigadores, as fintechs funcionavam como “portas de saída” do dinheiro ilícito. “A instrução normativa buscava fechar essa brecha. Não foi por acaso que as fake news surgiram justamente naquele momento”, afirmou Dão Real.

•        Reimont pede prisão preventiva de Nikolas Ferreira

O deputado federal Reimont (PT-RJ) protocolou, nesta quinta-feira (28), ofício ao procurador-geral da República, Paulo Gonet, solicitando abertura de investigação contra o bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG).

Reimont, que é presidente da Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial da Câmara, pediu, ainda, que seja analisada a possibilidade de prisão preventiva, caso as investigações apontem risco à ordem pública.

A solicitação mencionou a prisão em flagrante de Glaycon Raniere de Oliveira Fernandes, primo de Nikolas, detido em Uberlândia (MG) em posse de mais de 30 kg de maconha.

Reimont destacou, no documento, que o episódio levanta a necessidade de investigar eventuais vínculos familiares, políticos e financeiros entre o deputado de extrema direita e a organização criminosa investigada.

A solicitação citou, ainda, a atuação de Nikolas, em janeiro de 2025, quando o deputado propagou fake news a respeito de uma mentirosa taxação do Pix.

“O grande crime organizado mantém relações espúrias com uma parcela corrupta de agentes do Estado, praticando violações sistemáticas de direitos humanos. Como presidente da Comissão, é meu dever zelar pela integridade democrática e pela proteção dos direitos humanos”, ressaltou Reimont.

Ainda segundo o deputado, “o país precisa de respostas rápidas e firmes para proteger a sociedade e fortalecer as instituições democráticas”.

<><> Fake news de Nikolas colaborou com PCC

O secretário especial da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, afirmou nesta quinta (28), em São Paulo, que a disseminação de notícias falsas nas redes sociais obrigou o governo a suspender, no início do ano, uma medida que ampliaria a fiscalização sobre fintechs — empresas do setor financeiro que, segundo a Polícia Federal, têm sido usadas pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) para movimentar recursos ilícitos.

A instrução normativa estava prevista para entrar em vigor em janeiro e colocaria as fintechs sob as mesmas regras de transparência e prestação de informações que já valem para bancos tradicionais há mais de duas décadas. No entanto, um vídeo do deputado Nikolas Ferreira, com a falsa alegação de que o governo Lula pretendia “taxar o Pix”, viralizou e levou à revogação da norma.

Segundo Barreirinhas, a repercussão negativa gerou o que ele classificou como o “maior ataque de fake news da história da Receita”. O secretário explicou que a desinformação não apenas atrapalhou a comunicação do órgão, como também incentivou comerciantes a boicotarem o Pix, temendo cobranças inexistentes.

Diante da pressão, o presidente Lula (PT) decidiu suspender a medida em 15 de janeiro, mesmo após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vir a público para desmentir a tese. À época, o governo prometeu enviar uma nova proposta por medida provisória, mas ainda não apresentou um texto definitivo.

 

Fonte: Fórum

 

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