Seyed
Abbas Araghchi: A ilusão do ‘Grande Israel’ é uma ameaça e um perigo à paz e à
segurança internacionais
Às
vésperas da Reunião Extraordinária do Conselho de Ministros das Relações
Exteriores da Organização para a Cooperação Islâmica (OCI), a mais grave ameaça
existencial que paira sobre a região e o mundo islâmico pesa sobre a
consciência da humanidade mais do que nunca. É a entidade sionista, que
continua sua implacável campanha de terra arrasada em Gaza, cometendo massacres
horrendos contra mulheres e crianças, além de deslocar repetidamente a
população. Transformou a fome e a inanição em uma nova ferramenta desse
genocídio, centros de distribuição de alimentos em armadilhas mortais para
mulheres e crianças famintas, sublinhando o fato de que este é um dos episódios
mais sombrios da tragédia humanitária da era moderna.
Esta
guerra contra a Faixa de Gaza não é apenas um conflito militar passageiro ou
uma crise humanitária comum: trata-se de um genocídio sistemático, pleno e
explícito, destinado a alcançar a limpeza étnica em meio ao silêncio cúmplice
dos Estados Unidos e do Ocidente em geral.
Os
crimes da entidade sionista de forma alguma se limitam a Gaza. Sua expansão de
assentamentos na Cisjordânia está se acelerando, e o terror de colonos armados
contra os palestinos está se intensificando. Paralelamente a essa investida de
anexação, Israel intensifica a judaização de Jerusalém, viola constantemente
cessar-fogos com o Líbano, ataca a infraestrutura do Iêmen e mina os pilares do
Estado sírio ao fomentar conflitos internos para dividir o povo sírio. O Irã
tornou-se seu mais novo alvo após a guerra que ceifou a vida de mais de mil dos
meus compatriotas. Devemos também mencionar as declarações públicas dos líderes
dessa entidade e seus mapas distorcidos do que chamam de “Grande Oriente
Médio”. Eles se vangloriam abertamente de suas intenções expansionistas e
ameaçam seus vizinhos, não restando dúvida de que esse tumor maligno está se
espalhando pelo corpo da região.
Seus
planos de ocupar integralmente a Faixa de Gaza e deslocar à força sua população
para áreas remotas não passam de mais um elo na cadeia de esforços para
exterminar o povo palestino. Essas ações, juntamente com as declarações feitas
por criminosos de guerra sionistas (muitos dos quais são procurados por
tribunais internacionais), demonstram que essa entidade artificial está
determinada a realizar uma limpeza étnica. Seu objetivo é o apagamento total e
irreversível de Gaza e de sua identidade política, bem como da causa palestina
em sentido mais amplo.
Enquanto
engendra tragédias, promove guerras e aventuras temerárias em Gaza, no Líbano e
em outras partes da região, a ocupação busca dilacerar a Síria com seus ataques
à infraestrutura vital do Estado e com o caos que promove em Sweida.
Isso
levanta uma questão essencial e decisiva: depois da Síria, qual país da região
será o próximo alvo da agressão ou ocupação militar de Israel? É possível
sequer vislumbrar os limites das insaciáveis ambições expansionistas dessa
entidade?
As
recentes declarações do primeiro-ministro dessa entidade, em meio à sua busca
expansionista e beligerante por um “Grande Israel do Nilo ao Eufrates”, não são
meras palavras ocas. Elas expõem, de forma explícita e inequívoca, sua
estratégia política: violar a soberania nacional, a integridade territorial e a
segurança de Estados independentes em toda a região. Suas afirmações
incendiárias configuram uma flagrante violação da Carta das Nações Unidas e do
direito internacional, revelando os planos dessa entidade de dominar o mundo
islâmico como um todo.
Com sua
cooperação e apoio a essa entidade criminosa, certas potências ocidentais
(particularmente os Estados Unidos) não são apenas cúmplices; estão
representando uma ameaça à paz e à estabilidade regionais e globais. Os vetos
norte-americanos no Conselho de Segurança o paralisaram, impedindo-o de cumprir
seu dever de pôr fim à agressão israelense e responsabilizar os perpetradores.
Esta
Reunião Extraordinária da Organização para a Cooperação Islâmica ocorre em um
momento em que a situação na Palestina ocupada ultrapassa o nível de
catástrofe; não há palavras para descrever uma tragédia humanitária e moral
dessa magnitude. As estatísticas são chocantes e vergonhosas: mais de setenta
mil pessoas, a maioria mulheres e crianças, perderam a vida ou permanecem
soterradas sob os escombros acumulados ao longo dos últimos dois anos, e mais
de cento e setenta mil ficaram feridas.
Segundo
as Nações Unidas, Israel mata em média trinta e oito crianças palestinas por
dia. Noventa por cento de Gaza tornou-se inabitável, e Israel iniciou
oficialmente sua campanha para ocupar militarmente a cidade e deslocar sua
população desabrigada para o sul da Faixa.
Fortalecido
pelo apoio maciço do Ocidente, o primeiro-ministro dessa entidade criminosa
fala abertamente de um mandato para estabelecer o “Grande Israel” — um projeto
sinistro que implica a ocupação e anexação de terras árabes e islâmicas.
Diante
desse cenário, ilusões e complacência não são admissíveis. A Reunião
Extraordinária do Conselho de Ministros das Relações Exteriores da OCI deve
tornar-se um ponto de inflexão. Deve refletir e reforçar a determinação comum
das nações islâmicas de enfrentar as ambições insaciáveis de Netanyahu e de seu
círculo, e de pôr fim ao massacre de inocentes, aos ataques contra países
islâmicos e à busca pela anexação. Não podemos apenas declarar nossa
solidariedade ao povo palestino ou expressar preocupações. Esta reunião
constitui um verdadeiro teste histórico para a Ummah islâmica; pode ser uma
rara oportunidade de construir uma frente regional e global capaz de resistir à
agressão israelense.
Para
além de declarações e condenações, a reunião deve gerar um impulso político e
diplomático sério, forjando uma forte coalizão global que obrigue a entidade
sionista a encerrar imediatamente sua campanha genocida e abandonar seus
projetos expansionistas, separatistas e coloniais.
A busca
por responsabilização jurídica é igualmente essencial. Os processos devem ser
acompanhados em instituições internacionais, incluindo a Corte Internacional de
Justiça e o Tribunal Penal Internacional, para julgar os líderes dessa entidade
criminosa e impor sanções militares e econômicas abrangentes contra ela.
Paralelamente
a essas medidas, deve-se estabelecer um corredor humanitário seguro,
supervisionado pelas Nações Unidas e pela Organização para a Cooperação
Islâmica, a fim de garantir a provisão imediata e incondicional de alimentos,
remédios e combustível à população sitiada — trata-se de uma obrigação moral e
legal urgente.
A
República Islâmica do Irã considera esta reunião um passo necessário para um
esforço coletivo destinado a desenvolver e implementar medidas eficazes,
urgentes e dissuasivas. Como representantes das nações islâmicas, temos uma
responsabilidade religiosa e humanitária (bem como nossas obrigações legais,
nos termos da Carta das Nações Unidas, da Convenção para a Prevenção do
Genocídio e das quatro Convenções de Genebra de 1949) de apoiar medidas
decisivas e sérias em favor de nossos irmãos e irmãs em Gaza e na Cisjordânia,
interromper o genocídio em curso, responsabilizar os criminosos e erguer uma
barreira contra as ambições expansionistas dessa entidade fora-da-lei que
ameaça o mundo islâmico.
Hesitação
ou negligência terão um custo devastador para a Ummah islâmica, assim como cair
nas promessas vazias de iniciativas como os chamados “Acordos de Abraão”.
Silêncio e inação diante das atrocidades e crimes cometidos pela entidade
sionista — postergar o enfrentamento das políticas e ações de cunho nazista do
Hitler de hoje — não constituem apenas uma traição ao povo palestino oprimido,
mas também aos próprios alicerces da moralidade, da civilização humana e da
segurança regional.
A era
dos slogans, declarações, condenações e preocupações acabou. Agora é tempo de
unidade e solidariedade, em palavra e ação. O mundo islâmico deve agir com
decisão e fortalecer a cooperação e a coordenação integrais. Devemos salvar
vidas inocentes em Gaza e proteger o mundo islâmico, pois a história nos
julgará.
Provemos
que a Ummah islâmica, em um dos momentos mais dolorosos e decisivos de sua
história, conseguiu defender os oprimidos e conter seu opressor.
A
preservação do mundo islâmico, da segurança nacional e da soberania dos Estados
da região, bem como nossa sagrada busca por um Estado palestino independente
com Jerusalém como sua capital, depende das decisões firmes e resolutas que a
Organização para a Cooperação Islâmica deve tomar diante da ameaça existencial
representada por esse poder ocupante genocida.
¨
Israel matou mais jornalistas em Gaza que qualquer guerra
da história mundial
As
Forças de Defesa de Israel (FDI) assassinaram, em menos de dois anos, mais jornalistas e profissionais de
mídia do que qualquer guerra da história mundial. O Sindicato de
Jornalistas Palestinos estima que 246 profissionais foram assassinados desde o
dia 7 de outubro de 2023.
Esse
número representa mais mortes que a soma de outros sete importantes conflitos:
as 1ª e 2ª guerras mundiais, a Guerra Civil Americana, a da Síria, do Vietnã
(incluindo os conflitos no Camboja e no Laos), além das guerras na Iugoslávia e
na Ucrânia.
Os
dados dos jornalistas mortos nos
demais conflitos são do Memorial Freedom Forum que reúne os nomes dos
profissionais assassinados em guerras ao longo da história, com exceção do
conflito da Ucrânia, que foi calculado pelo Comitê de Proteção dos Jornalistas
(CPJ).
Uma
pesquisa da Universidade de Brown, nos Estados Unidos (EUA), concluiu que o
genocídio em Gaza “é, simplesmente, o pior conflito de todos os tempos para
repórteres”.
Para
entidades de classe que representam os jornalistas ao redor do mundo, Israel
promove ataques deliberados para impedir a cobertura do massacre na Faixa de
Gaza, o que o governo de Benjamin Netanyahu nega.
“Israel
está se engajando no esforço mais mortal e deliberado para matar e silenciar
jornalistas, já documentado pelo CPJ. Jornalistas palestinos estão sendo
ameaçados, diretamente alvejados e assassinados pelas forças israelenses, além
de serem arbitrariamente detidos e torturados em retaliação ao seu trabalho”,
diz o CPJ.
Israel
ainda proíbe a entrada de jornalistas estrangeiros em Gaza sem escolta e
controle dos militares do país, o que dificulta ainda mais o acesso à
informação, pela população global, sobre o que acontece no território palestino
ocupado.
Imprensa
palestina
Apenas
no segundo mês do genocídio, ainda em 2023, 37 jornalistas foram assassinados
na Faixa de Gaza. “O Exército israelense matou mais jornalistas em dez semanas
do que qualquer outro Exército em um único ano”, disse Sherif Mansour,
coordenador do CPJ.
O
Sindicato dos Jornalistas Palestinos informou ainda que 520 jornalistas foram
feridos por balas ou mísseis israelenses e 800 familiares de profissionais de
mídia foram mortos. Outros 206 jornalistas palestinos foram presos por Israel
desde outubro de 2023, sendo que 55 continuam nas prisões – 23 em prisão
administrativa, modalidade de detenção que pode ser realizada sem acusação
formal.
“Ataques
aéreos e ataques com tanques destruíram 115 veículos de comunicação na Faixa de
Gaza, abrangendo todos os tipos de veículos. Na Cisjordânia e em Jerusalém,
fecharam cinco veículos de comunicação e destruíram ou fecharam 12 gráficas”,
acrescentou o sindicato local de jornalistas.
Israel
nega que ataque deliberadamente civis no
conflito,
o que inclui os jornalistas, além de justificar alguns assassinatos ao vincular
os profissionais ao Hamas, acusações questionadas por entidades profissionais e
de direitos humanos.
Em
entrevista exclusiva à Agência Brasil em fevereiro de 2024, o
então chefe local da Al Jazeera em Gaza, Wael Al-Dahdouh, que
perdeu a esposa, três filhos e um neto em bombardeios israelenses, descreveu o
trabalho jornalístico na região como o mais mortal para a profissão de que se
tem registro na história humana.
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Ataque ao Hospital Nasser
Em
episódio recorrente do genocídio em Gaza, o vídeo do segundo bombardeio, no
mesmo dia, ao Hospital Nasser chocou o mundo na última segunda-feira (25/08).
Dessa vez, Israel bombardeou o hospital na cidade de Khan Yunes enquanto
jornalistas registravam o resultado de um ataque feito minutos antes.
O
ataque matou também a equipe de socorristas, chegando a 20 pessoas mortas,
incluindo cinco jornalistas, sendo eles: um contratado da Reuters,
Hussam Al-Masri; o operador de câmera da Al Jazeera, Mohammed
Salama; a fotojornalista freelancer do Independent Arabia e da Associated
Press, Mariam Abu Dagga; e os jornalistas freelancers Ahmed Abu Aziz e Moaz
Abu Taha, segundo informou a CPJ.
Em
nota, a FDI destacou que não alveja civis intencionalmente. O porta-voz do
Exército acusou o Hamas de usar o Hospital Nasser para suas operações, o que é
negado pela organização palestina, e disse que uma investigação foi aberta para
apurar o ocorrido.
“O
Chefe do Estado-Maior Geral instruiu que um inquérito seja conduzido
imediatamente — para entender as circunstâncias do que aconteceu e como
ocorreu. Reportar de uma zona de guerra ativa traz imenso risco. Como sempre,
apresentaremos nossas descobertas com a maior transparência possível”, disse o
porta-voz da FDI Effie Defrin.
A
organização Monitor Euro-Mediterrâneo de Direitos Humanos, com sede em Genebra,
na Suíça, sugere que os ataques de “tiro duplo”, como esse ao hospital de Khan
Yunes, são praticados para atingir paramédicos, defesa civil e jornalistas.
“Essa
prática transforma locais de resgate e a cobertura da mídia em armadilhas
mortais, refletindo claramente a intenção premeditada de paralisar os esforços
de socorro, silenciar testemunhas, destruir provas e privar civis de proteção”,
destacou a organização.
Anas
al-Sharif
Em
outros casos, Israel acusa jornalistas de trabalharem para o Hamas,
justificando os assassinatos de profissionais ligados a grandes veículos de
comunicação. Em outubro de 2024, seis profissionais da rede Al Jazeera,
do Catar, foram acusados de serem do Hamas e da Jihad Islâmica.
No dia
10 de agosto, o correspondente dessa TV árabe Anas al-Sharif foi assassinado
em uma tenda com outros colegas em frente ao Hospital al-Shifa, na
Cidade de Gaza.
Em
mensagem escrita em abril para quando fosse morto, al-Sharif disse que “viveu a
dor em seus detalhes”.
“Apesar
disso, nunca hesitei em transmitir a verdade como ela é, sem distorção ou
deturpação, esperando que Deus testemunhasse aqueles que permaneceram em
silêncio, aqueles que aceitaram nossa matança e aqueles que sufocaram nossas
próprias respirações”, disse ele na mensagem divulgada após a morte.
Em
comunicado, o Exército israelense disse que o profissional “era chefe de uma
célula terrorista na organização Hamas e responsável por lançar ataques com
foguetes”.
A Al
Jazeera repudiou a acusação e destacou que Israel tenta impedir a
divulgação dos acontecimentos do conflito. “Anas e seus colegas estavam entre
as últimas vozes remanescentes de Gaza, oferecendo ao mundo cobertura in loco e
sem filtros das realidades devastadoras sofridas por seu povo”, disse a
emissora em comunicado institucional.
A
organização Monitor Euro-Mediterrâneo de Direitos Humanos questionou a
justificativa de que o profissional integrava o Hamas, uma vez que todos
conheciam seu trabalho na imprensa.
“Atacar
jornalistas nessas circunstâncias, com pleno conhecimento de seu papel e
identificação clara, reflete um esforço sistemático para remover todos os meios
de expor crimes, abrindo caminho para massacres mais amplos, isolados do
escrutínio global”, disse a organização.
Fome
Outro
desafio vivido pelos jornalistas que tentam cobrir a guerra em Gaza é a
dificuldade para acessar alimentos, devido ao bloqueio israelense do território
e a distribuição de comida limitada por organizações controladas pelos Estados
Unidos e por Israel.
Em
julho deste ano, algumas das maiores agências de notícias do mundo, como a France-Presse (AFP),
a Associated Press, a BBC News e a Reuters,
disseram estar “desesperadamente preocupadas” com os jornalistas em Gaza após
alertas de fome generalizada.
“[Nossos
jornalistas] estão cada vez mais incapazes de alimentar a si mesmos e suas
famílias”, disseram os meios de comunicação em rara declaração conjunta.
A
Sociedade de Jornalistas da AFP destacou que, desde que a
agência foi fundada, em 1994, perdeu jornalistas em conflitos. “Alguns ficaram
feridos, outros foram feitos prisioneiros. Mas nenhum de nós se lembra de ter
visto colegas morrerem de fome”.
O
governo de Israel tem, repetidamente, negado que haja fome na Faixa de Gaza e
alega que a Fundação Humanitária tem distribuído alimentos à população. A
informação de Tel Aviv contraria diversas evidências que mostram o contrário,
como as imagens de homens, mulheres e crianças famélicas e os relatos e
relatórios de organizações que ainda atuam no enclave palestino, incluindo
representantes das Nações Unidas.
Fonte:
Opera Mundi

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