Estradiol
pode ser o antídoto que ativa a memória na menopausa
Muitas
mulheres, que passam pela menopausa, queixam-se de falhas e até perda de
memória. Pesquisas científicas mostram que a queda na produção de estradiol,
durante este período, influencia na cognição, mas é preciso aprofundar algumas
análises para verificar exatamente como são esses impactos. Porém, cientistas
se dizem convencidos de que o uso adequado do hormônio em doses específicas
independentemente da forma — se via oral ou com aplicação na pele — melhoram a
qualidade de vida feminina nesse período.
Com
longa experiência clínica, a médica ginecologista Márcia Maria Holanda
Rodrigues Vasconcelos, do Hospital Maternidade Brasília, da Rede Américas,
ressaltou que vários estudos advertem sobre o desconforto cognitivo que várias
mulheres vivem no período da menopausa. "Essa diminuição da produção
estrogênica é que leva a uma diminuição, a queda da função cerebral, tendo em
vista que é justamente o estrogênio que atua nessa formação neural, na formação
de sinapse. E aí com essa diminuição da função cerebral é que vem o quadro que
a gente chama de névoa mental, caracterizado pela diminuição da memória,
concentração ruim, humor desequilibrado, alteração de distúrbios alimentares
também secundárias a essa hipofunção cerebral."
Publicado
na revista médica Neurology, esse estudo especificamente constatou que, em
comparação com pessoas que não tomam hormônios, aquelas que usam adesivos ou
géis hormonais apresentam melhor memória episódica, a capacidade de recordar
experiências passadas, e aquelas que tomam pílulas hormonais apresentam melhor
memória prospectiva, a capacidade de se lembrar de tarefas futuras.
Mulheres
que usaram estradiol transdérmico tiveram melhores resultados em testes de
memória episódica — como lembrar de eventos passados — em comparação com
aqueles que nunca usaram terapia hormonal. Jás que tomaram pílulas de estradiol
tiveram melhores resultados em testes de memória prospectiva — como lembrar de
marcar um compromisso ou tomar um medicamento — em comparação com aqueles que
nunca usaram terapia hormonal.
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Mais testes
O
estudo encontrou associações, mas não provou que a terapia hormonal causa
alterações na memória. "A terapia hormonal é frequentemente considerada
como auxiliar no controle dos sintomas da menopausa, mas decidir se deve ou não
usá-la — e qual tipo usar — pode ser uma decisão complexa e pessoal",
disse a autora do estudo, Liisa AM Galea, do Centro de Dependência e Saúde
Mental em Toronto, Canadá.
Galea
explicou que esse estudo mostra que o tipo de terapia com estradiol utilizada
pode influenciar o desempenho cognitivo de forma diferente em distintos
aspectos da memória. A pesquisa analisou 7.251 — mulheres saudáveis, cuja idade
média era de 61 anos, e sem queixas embora na pós-menopausa. Foram utilizados
dados do Estudo Longitudinal Canadense do Envelhecimento.
Para os
testes, foram feitos diferentes tipos de exames para verificação de habilidades
de memória e raciocínio, detalhando lembranças de palavras e eventos. Outra
análise foi realizada para observar a memória prospectiva , como agendamentos
de compromissos, além de resolução de problemas.
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Distinção
No
grupo de 7.251 observadas, 4% usava estradiol transdérmico na forma de adesivos
ou géis aplicados na pele ou anéis vaginais, cremes ou comprimidos, e 2%
tomando pílulas. Já 94% das participantes não usavam terapia hormonal.
"Nossas descobertas sugerem que o tipo de terapia com estradiol importa,
com diferentes formas associadas a diferentes tipos de memória", disse
Galea. "Embora não possamos afirmar que a terapia hormonal causa esses
efeitos, ela contribui para a discussão sobre a melhor forma de promover a
saúde cerebral após a menopausa."
Uma
limitação do estudo foi que a maioria dos participantes era branca e tinha
renda mais alta, o que significa que os resultados podem não ser os mesmos para
pessoas de outras origens raciais, étnicas ou socioeconômicas. Os dados também
não examinaram como a dosagem, a duração ou o momento da terapia hormonal
influenciam a cognição.
Porém,
a ginecologista Márcia Vasconcelos ressalta o que a experiência tem mostrado:
mulheres que fazem uso de tratamento hormonal da menopausa, observam melhora
dos fogajos e na qualidade de sono, "consequentemente existe uma melhora
cognitiva, uma melhora de memória, uma melhora do humor, uma estabilização do
humor".
A
médica reitera que há medidas paralelas que contribuem para a qualidade de vida
feminina. "A prática de atividade física, manter uma constância semanal de
prática de atividade treino de força e exercícios aeróbicos. Esse tipo de
atividade leva um aumento da circulação cerebral e consequentemente a uma
melhora da função cognitiva e de memória", disse.
Segundo
a ginecologista, é importante "malhar" o cérebro: desenvolver
atividades de memória, como montagem de quebra-cabeça, jogo da memória ou
aquisição de novas habilidades. "Esse tipo de atividade leva a
neuroplasticidade cerebral, que é a formação de novas conexões neurais. E novas
sinapses. E, por último, não menos importante, manter uma boa qualidade de
sono, pois é por meio de uma boa qualidade de sono que a gente consegue fazer a
higiene mental, que é a eliminação das toxinas cerebrais."
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Duas perguntas para Bruna Heinen, médica ginecologista e endocrinologista do
Hospital Santa Lúcia, em Brasília
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Como acontece esse processo no organismo feminino, durante a menopausa, que
acaba afetando a atividade cerebral?
A
menopausa é marcada por uma redução natural na produção de estrogênio pelos
ovários, é sabido que esse hormônio tem papel no tecido cerebral, mas o impacto
real da menopausa nas funções cognitivas e na memória ainda é bastante incerto.
Vários estudos foram realizados até o momento para avaliar esse impacto, entre
eles o SWAN (SWAN Study: Menopause and Midlife Healt), um estudo longitudinal
realizado no EUA com um número grande de mulheres, observando ao longo dos anos
os impactos do climatério e da menopausa em vários aspectos da vida das
mulheres. Esse estudo mostrou uma redução transitória na memória e na cognição
(medidos por testes cognitivos) durante o período do climatério e menopausa
inicial. Portanto, apesar de ser uma queixa comum da menopausa, não se sabe ao
certo se essas alterações são relacionadas apenas a redução do estrogênio, se
tem relação com outros sintomas da menopausa (fogachos, mudanças de humor,
distúrbios do sono) ou o avançar da idade cronológica.
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A senhora defende a terapia hormonal como solução para essas queixas?
A
terapia hormonal não deve ser indicada apenas para melhora da memória e
cognição em mulheres no climatério. Mas mulheres que têm outras indicações de
uso da terapia hormonal (fogachos, alterações de humor, distúrbios de sono,
alterações ósseas) e estão na janela de oportunidade de uso (os primeiros 10
anos da menopausa), a reposição pode ter algum benefício na memória. Importante
lembrarmos que os estudos até o momento ainda são muito controversos sobre o
real efeito da TH na memória e na cognição e essa informação deve ser repassada
para as pacientes de forma clara. É importante na consulta de uma mulher com
queixa de falhas de memória entender o contexto, avaliando se ela se
beneficiaria de uma consulta com neurologista para avaliar mais a fundo essa falha
de memória e se a terapia de reposição hormonal seria uma boa indicação.
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Avaliação ampla e com respeito
A
menopausa marca uma queda significativa dos níveis de estrogênio, hormônio que
tem papel fundamental na modulação de neurotransmissores e na plasticidade
sináptica em áreas como hipocampo e córtex pré-frontal. Essa redução pode
impactar circuitos cerebrais ligados à memória e à atenção, levando a queixas
frequentes de lapsos de memória, dificuldade de concentração e menor velocidade
de raciocínio. Para o tratamento, faço uma avaliação ampla para excluir causas
comuns e reversíveis, como distúrbios do sono, depressão, ansiedade, alterações
da tireoide ou deficiência de vitamina B12. Em seguida, analiso a possibilidade
de terapia hormonal, sempre considerando critérios de segurança e perfil
clínico da paciente. Recomendo, ainda, medidas não farmacológicas que
comprovadamente ajudam na saúde cerebral, como prática regular de atividade
física, alimentação balanceada, estímulo cognitivo e controle rigoroso de
fatores de risco cardiovascular.
Fonte:
Correio Braziliense

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