sábado, 30 de agosto de 2025

O projeto de poder e sobrevivência da família Bolsonaro

Enquanto Jair Bolsonaro se afunda em processos e vigilância permanente, Eduardo articula em Washington um plano ousado: posar de exilado político, manter direitos eleitorais e disputar a Presidência em 2026 com o apoio direto de Donald Trump e da máquina de guerra híbrida norte-americana.

<><> O novo tabuleiro

O bolsonarismo entrou em sua fase terminal. Jair Bolsonaro, outrora centro da engrenagem de desestabilização política no Brasil, hoje vive sob vigilância policial 24 horas por dia, considerado risco de fuga pela Justiça e cada vez mais isolado. O homem que se projetou como mito para as massas conservadoras tornou-se um cadáver político em vida: cercado por processos, desacreditado por aliados e visto até por seus filhos como um fardo disfuncional. Nesse cenário de decadência, emerge um novo eixo de poder: Eduardo Bolsonaro, que opera de Washington a engenharia política para transformar a derrocada do pai em capital estratégico.

Não se trata de mera sucessão familiar. O projeto é claro e calculado: com o pai preso e convertido em mártir, Eduardo se posiciona como o herdeiro legítimo e o operador externo de um plano que combina narrativa de perseguição, articulação internacional e guerra híbrida. Ele veste o figurino de exilado político para manter viva a chama do bolsonarismo e, ao mesmo tempo, abrir caminho para disputar a Presidência de 2026. O novo tabuleiro não tem Bolsonaro no comando, mas sim o filho que aposta tudo em se tornar o “Guaidó brasileiro” sob tutela direta dos Estados Unidos.

<><> O projeto do mártir-exilado

A engrenagem de Eduardo Bolsonaro gira em torno de um cálculo frio: o pai condenado e preso é mais útil politicamente do que solto. Jair Bolsonaro no cárcere, humilhado e transformado em símbolo de “perseguição”, alimenta a narrativa de vitimização que sustenta a extrema-direita. Para que essa dramaturgia funcione, Eduardo precisa preservar os próprios direitos políticos — não pode ser cassado. Afastado da Câmara por faltas, mas sem processo de cassação, ele mantém a prerrogativa de concorrer à Presidência em 2026, mesmo vivendo nos Estados Unidos.

É esse o desenho: Jair, o mártir encarcerado no Brasil; Eduardo, o “exilado perseguido” nos EUA, erguendo-se como líder legítimo da resistência conservadora. O roteiro se apoia no modelo exportado por Washington em experiências anteriores, como a tentativa de transformar Juan Guaidó em presidente paralelo da Venezuela. A diferença é que, no caso brasileiro, Eduardo não se coloca como uma sombra: ele busca assumir diretamente o papel de sucessor, projetando-se como estadista internacional enquanto mobiliza, à distância, sua base interna.

Ao manter viva a chama do bolsonarismo sob a roupagem do sacrifício, Eduardo aposta em duas frentes: consolidar-se como figura central da extrema-direita latino-americana e, ao mesmo tempo, oferecer aos Estados Unidos um ativo estratégico para frear o Brasil soberano, regulador e próximo dos BRICS. O mártir, portanto, não é Jair — é o projeto de poder que Eduardo ergue sobre a decadência do pai.

<><> Washington como quartel-general

Desde março de 2025, Eduardo Bolsonaro fez dos Estados Unidos o centro de sua operação política. De licença do Congresso brasileiro, transferiu-se para Washington não como um parlamentar ausente, mas como um lobista ativo contra o próprio país. Ali construiu um bunker de articulações com Donald Trump, Steve Bannon e a rede ultraconservadora global que conecta think tanks, igrejas e plataformas digitais. Seu discurso é sempre o mesmo: o Brasil estaria vivendo uma “ditadura judicial”, e somente a pressão internacional poderia restaurar a “liberdade” no país.

A tática é clara: pressionar o sistema político e econômico americano a agir contra o Brasil. Eduardo já defendeu abertamente sanções via Lei Magnitsky contra ministros do Supremo, tarifas comerciais de até 50% e medidas punitivas contra setores estratégicos brasileiros. Esse lobby não é apenas retórico — encontra ressonância direta no trumpismo e em parte do Congresso republicano, que abraçam a narrativa de que a derrota de Jair Bolsonaro em 2022 teria sido resultado de fraude.

É nesse espaço que Eduardo ensaia seu papel de “presidente no exílio”. Assim como Guaidó na Venezuela, ele aposta em ser reconhecido como o líder legítimo de uma “nação sequestrada pelo globalismo”. A diferença é que, no caso brasileiro, Eduardo carrega a máquina de comunicação da família, os laços com redes internacionais da extrema-direita e a promessa de alinhar o Brasil a Washington em troca de apoio irrestrito. Washington não é apenas o refúgio de Eduardo — é o quartel-general de uma guerra híbrida em andamento.

<><> A engrenagem da guerra híbrida

O método é simples e brutal: pressão externa para enquadrar instituições brasileiras, combinada à narrativa de vitimização e a uma economia do caos. Em Washington, Eduardo Bolsonaro opera para acoplar o contencioso doméstico a instrumentos de poder dos Estados Unidos — sanções pessoais via Magnitsky contra ministros, tarifas punitivas contra o país e campanhas coordenadas de deslegitimação do processo judicial. Em julho e agosto, a Casa Branca impôs tarifa de 50% a importações do Brasil e aplicou restrições de visto a Alexandre de Moraes, medidas que o próprio Eduardo vinha defendendo como forma de “forçar concessões” do Supremo. Essas ações, amarradas a um discurso político sobre “perseguição” a seu pai, são peças de lawfare transnacional com impacto econômico real.

No plano penal, há fatos objetivos: a Polícia Federal indiciou Jair e Eduardo Bolsonaro por obstrução de justiça e coação no caso do golpe, descrevendo tentativa de interferência no curso do julgamento, inclusive por meio de articulações para sanções estrangeiras contra autoridades brasileiras. O inquérito vincula a atuação de Eduardo nos EUA a uma estratégia para constranger STF, PGR e PF, enquanto o processo-mãe contra Jair reúne acusações que vão de organização criminosa a tentativa de abolir o Estado democrático de direito.

Essa engrenagem se apoia em linguagem beligerante e corrosiva que não começou agora. Em 2018, Eduardo afirmou que “basta um soldado e um cabo para fechar o STF”; em 2019, defendeu a hipótese de um “novo AI-5” diante de uma suposta radicalização da esquerda. Mesmo com recuos táticos, as declarações são marcos de normalização do autoritarismo e funcionam como gatilhos de mobilização cognitiva nas bases.

Completa o quadro o racha estratégico na direita: mensagens internas e movimentos públicos expõem o conflito de Eduardo com Tarcísio de Freitas e outras lideranças do PL. Essa fragmentação não é um acidente; ela reordena a coalizão para posicionar Eduardo como “único” intérprete do ressentimento bolsonarista, ao mesmo tempo, em que maximiza a utilidade do pai como mártir doméstico sob vigilância e à beira de condenação.

<><> Racha na extrema-direita

O que parecia um bloco monolítico começa a se desfazer. O bolsonarismo, que sempre se sustentou na lógica do “um líder, uma voz”, hoje se divide entre facções em disputa. No centro da fragmentação está Eduardo Bolsonaro, em confronto direto com Tarcísio de Freitas e setores do PL. O embate não é apenas de vaidades, mas de estratégia: Tarcísio tenta se afirmar como alternativa “palatável” à elite econômica e ao centrão, enquanto Eduardo radicaliza a narrativa conspiratória e se apresenta como único herdeiro legítimo da base ideológica.

A revelação de mensagens internas entre Jair Bolsonaro e aliados escancarou o clima de animosidade. No entorno do ex-presidente, cresce a percepção de que Eduardo não vê mais o pai como liderança, mas como um trunfo sacrificial. Esse distanciamento aprofunda a divisão e amplia o ressentimento dentro da própria família política. Ao mesmo tempo, governadores alinhados ao bolsonarismo, pressionados pelas responsabilidades administrativas, evitam aderir integralmente às teses incendiárias de Eduardo, o que gera fissuras na narrativa unificada da extrema-direita.

O resultado é um campo em ebulição: de um lado, a direita “institucional”, que aposta em figuras como Tarcísio para preservar espaço no tabuleiro político; de outro, Eduardo e sua rede internacional, que preferem incendiar as pontes para manter viva a chama do ressentimento. A fragmentação não enfraquece o projeto — pelo contrário, o fortalece na medida em que Eduardo se reposiciona como a voz mais radical, mais “autêntica” e, sobretudo, mais alinhada aos interesses estratégicos dos Estados Unidos.

<><> Os interesses em jogo

Por trás da narrativa de perseguição e do teatro do martírio, o que se move são interesses geopolíticos e econômicos de larga escala. Para os Estados Unidos e para as elites conservadoras globais, Eduardo Bolsonaro é a peça ideal: jovem, articulado internacionalmente, capaz de falar a língua do trumpismo e de oferecer garantias de alinhamento irrestrito à agenda neoliberal e de segurança ocidental. Seu projeto político não se limita ao Brasil — é parte de uma engrenagem que busca desmontar qualquer ensaio de soberania no Sul Global.

O alvo imediato é claro: o BRICS e a aproximação brasileira com a China. Um Brasil fortalecido no bloco multipolar significa menos dependência do dólar, mais margem de manobra diplomática e uma ameaça direta ao domínio geoeconômico norte-americano. Para Washington, portanto, é vital ter no poder alguém disposto a sabotar esse processo. Eduardo cumpre esse papel ao se colocar como opositor aberto ao BRICS, defensor da submissão às cadeias produtivas controladas pelo Ocidente e crítico de qualquer tentativa de integração latino-americana fora da órbita dos EUA.

Além da geopolítica, há o núcleo econômico: nenhuma regulação sobre Big Techs, abertura total para fundos de investimento estrangeiros, privatizações irrestritas e a entrega do aparato digital brasileiro às plataformas controladas por conglomerados americanos. O que está em jogo não é apenas a sucessão de Bolsonaro, mas a possibilidade de reverter políticas de soberania informacional, energética e tecnológica construídas nos últimos anos.

Nesse tabuleiro, Eduardo não é apenas filho de Jair: é o emissário de uma aliança entre extrema-direita global e capital financeiro internacional, pronto para transformar o Brasil em uma praça aberta de experimentação neoliberal e de guerra híbrida permanente.

<><> O fantoche e o risco estratégico

Jair Bolsonaro, outrora símbolo da extrema-direita no Brasil, já não passa de um cadáver político em movimento. Vigiado, à beira da condenação e visto até pelos filhos como um fardo, ele se converteu em peça descartável. Sua função agora é encarnar o papel de mártir: o velho líder preso e decadente, utilizado como combustível simbólico para manter viva a narrativa de perseguição.

O verdadeiro operador do projeto é Eduardo Bolsonaro. De Washington, ele se apresenta como “presidente no exílio”, articula com o trumpismo, pressiona por sanções contra o Brasil e organiza uma estratégia de guerra híbrida que combina lobby externo, sabotagem econômica e manipulação simbólica. Sua ambição é ocupar o espaço deixado pelo pai e se tornar o eixo da extrema-direita latino-americana, com o aval das elites conservadoras globais.

A ameaça é dupla: de um lado, a desestabilização interna, alimentada por divisões calculadas na direita e pela retórica de ódio; de outro, a captura externa, que busca alinhar o Brasil aos interesses de Washington, desmontar o BRICS e paralisar qualquer agenda de soberania. Eduardo não é uma figura caricata ou isolada: é um fantoche útil, moldado para transformar o país em plataforma de guerra híbrida permanente.

O risco estratégico é claro. Subestimar Eduardo Bolsonaro, como muitos fizeram no passado, é ignorar que sua atuação está inserida em uma engrenagem global de poder que já produziu mártires, exílios fabricados e presidentes paralelos. A luta central não é apenas contra uma família em decadência, mas contra um projeto imperial que utiliza o martírio como arma para corroer a democracia brasileira.

Carro diplomático serviria de fuga a Bolsonaro? O que se sabe até agora

O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que a Polícia Penal do Distrito Federal mantenha vigilância contínua na casa do ex-presidente Jair Bolsonaro. A medida, tomada pelo ministro Alexandre de Moraes, busca impedir qualquer tentativa de fuga em veículos diplomáticos que poderiam ser usados para solicitar asilo em embaixadas ou consulados.

A Polícia Federal alertou a Corte sobre um “risco concreto” de evasão, mencionando a possibilidade de Bolsonaro entrar na Embaixada dos Estados Unidos para pedir asilo político. 

Outras hipóteses consideradas são Hungria e Argentina, países com os quais o ex-mandatário já teria mantido contatos em situações anteriores.

Em 2024, Bolsonaro chegou a permanecer por duas noites na embaixada húngara e, em fevereiro deste ano, rascunhou uma carta pedindo proteção ao presidente argentino, Javier Milei. 

O apoio público de Donald Trump reforça a ideia de que os EUA também poderiam ser um destino viável.

<><> Risco diplomático

A eventual fuga em carros oficiais de embaixadas abriria debates internacionais, já que a imunidade diplomática não pode ser utilizada para resguardar investigados por crimes comuns. 

Segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Brasil poderia contestar um pedido nessas circunstâncias.

A Convenção de Viena estabelece que veículos com placas diplomáticas não podem ser revistados. O artigo 22 do documento assegura que os meios de transporte de missões diplomáticas não podem ser alvo de busca, embargo ou qualquer tipo de medida coercitiva.

<><> Reforço policial

Na decisão expedida na última terça-feira (26), Moraes determinou que o monitoramento seja realizado em tempo real, sem ações que invadam a esfera domiciliar ou causem constrangimento à vizinhança. 

O policiamento poderá ser feito com ou sem uniforme e armamento, de acordo com a necessidade.

Além da vigilância, a Polícia Federal solicitou a checagem constante da tornozeleira eletrônica utilizada pelo ex-presidente, como forma adicional de acompanhamento.

<><> Asilo diplomático

O asilo diplomático é concedido a pessoas que buscam proteção contra perseguições em seu país e se refugiam em representações diplomáticas estrangeiras. 

A prática é prevista em tratados internacionais, como a Convenção de Caracas de 1954, e garante transporte seguro ao país de destino.

Caso aprovado, o asilado tem acesso a direitos básicos como educação, saúde, moradia, emprego e regularização de documentos, respeitando a legislação do país que concedeu a proteção.

 

Fonte: Por Reynaldo José Aragon Gonçalves, em Brasil 247/Diário do Litoral

 


 

População de rua e os corpos de fora das estatísticas

O número de pessoas que vivem em situação de rua no Brasil intensifica-se a cada dia. Segundo levantamento divulgado no início do ano pelo Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua (OBPopRua/Polos), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com base no Cadastro Único, o número de pessoas vivendo em situação de rua em todo o Brasil aumentou cerca de 25% em um ano. Em dezembro de 2023 havia 261.653 pessoas nesta situação, mas no final de 2024 elas já eram 327.925 — um número 14 vezes superior ao registrado em 2013.

O crescimento desacelerou, mas se mantém: até maio deste ano, já eram 345.542 as pessoas vivendo nessas condições no Brasil, 62% delas na região Sudeste. De acordo com o estudo, São Paulo é a capital com a maior concentração, com 98.639 pessoas em situação de rua.

Aliada ao fator econômico, a ausência de políticas públicas arrasta essas pessoas pelos grandes centros urbanos e tenta esconder das estatísticas não apenas suas existências, como também suas mortes. Um levantamento exclusivo da Ponte mostra que, das 27 capitais, somente 6 delas têm dados sobre essas mortes — todas incluindo registros violentos.

Os dados obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI) são referentes ao período de 2019 a 2024 e os pedidos foram solicitados em fevereiro. Ainda assim, cinco prefeituras não responderam aos questionamentos, duas negaram fornecer as informações e uma estava com a página de consulta indisponível até a publicação desta reportagem.

<><> Pouca transparência e dados incompletos

A Ponte identificou descomprometimento da maioria das prefeituras com o atendimento a essa população e, mais ainda, com a coleta de informações para mapear o perfil e os motivos que levaram essas pessoas às ruas. Até o momento, não há trabalhos efetivos das gestões para reduzir o índice de pessoas nas ruas ou para conter o preconceito e os ataques violentos contra elas, reforçando a desumanização e vulnerabilidade de quem vive à margem das políticas públicas.

É importante destacar também o claro descumprimento de medidas de transparência por parte das prefeituras, seja negando o envio de dados à população para evitar mostrar suas ausências de atuação, ou ignorando às solicitações pelos canais disponíveis. O levantamento da Ponte evidencia que, além da saúde física, esse grupo também sofre por questões profundas de saúde mental e o resultado deixa claro que o enfrentamento à situação de rua ainda não é uma prioridade para as principais cidades brasileiras.

De acordo com Caio Moraes Reis, doutorando em sociologia pela Universidade de São Paulo (USP) que estuda a morte de pessoas em situação de rua na capital paulista, a ausência de dados referentes a esse grupo populacional e as respostas negativas são resultado da falta de comprometimento dos agentes públicos com a produção dessas estatísticas.

“O que não é visto, não existe para o poder público. A falta desses dados implica exatamente no vazio de políticas públicas e na inexistência de ações mais efetivas. É um cenário global, é muito difícil encontrar países, cidades, que se esforçam para contabilizar não só a população em situação de rua de um modo geral mas, especificamente, as mortes delas”.

Caio, que também é pesquisador do Centro Global de Métodos Espaciais para Sustentabilidade Urbana da Universidade Técnica de Berlim, argumenta ainda que essas mortes refletem uma falha do Estado na proteção dessa parcela da população, o que também viola os direitos fundamentais garantidos pela Constituição Federal de 1988. “Qual governo vai produzir um dado que atesta a sua incompetência, mesmo que apenas em uma parcela da sua atuação? Em contrapartida, o esforço dos governos, das gestões, é sempre mostrar aquilo de bom que eles fazem, até pelos incentivos institucionais que existem para isso e por uma questão de transparência.”

<><> Falta de moradia, sono e higiene

Sem o apoio do poder público, a população em situação de rua conta com a ajuda de projetos importantes, dedicados à promoção da saúde e do bem-estar. A professora doutora Jaqueline Lemos de Oliveira faz parte de uma dessas iniciativas, junto com outros profissionais ela desenvolve pesquisas na área da saúde mental a partir dos marcadores sociais da desigualdade, consumo de álcool e outras drogas, no departamento de Enfermagem Materno-infantil e Psiquiátrica da USP.

Segundo a docente, o projeto idealizado por ela e pelas professoras Maria Fernanda Terra e Sheila Ferreira Lachtim ajuda a identificar os fatores de violência contra a população em situação de rua e os impactos disso na saúde mental desse grupo.

“As necessidades surgem da falta de condições básicas de saúde, providas por uma moradia digna. A falta da qualidade de sono, alimentação e higiene são o básico e afetam de forma significativa a qualidade de vida. São relatos de sofrimento mental intensos, além da problemática do consumo de álcool e outras substâncias psicoativas que aumentam as consequências negativas à saúde”, afirma.

A especialista reforça ainda a necessidade de pensar a saúde mental além das unidades de atendimento específicas para essa abordagem, já que elas não dão conta de dar suporte ao crescimento da população em situação de rua que precisa de acolhimento. Para Jaqueline, o enfrentamento do problema só é possível com o trabalho em rede dos equipamentos da assistência, educação, cultura e seguridade social, para garantir o respeito aos direitos humanos.

“Algumas pessoas enfrentam dificuldades para dormir ou se adaptar ao novo ambiente após saírem da situação de rua. Isso está ligado não apenas à mudança física de local, mas à complexidade do processo de reinserção social. Não é somente a ausência de moradia, envolve uma série de rupturas, como vínculos familiares e afetivos fragilizados, exclusão econômica e sofrimento psíquico”, diz Jaqueline. Das 6 cidades que atenderam às solicitações da Ponte, 3 delas registraram mortes de pessoas em situação de rua por suicídio, com uma morte cada.

Como resultado dos trabalhos com essa população, a professora explica que é comum observar estratégias adotadas pelas pessoas em situação de rua para sobreviver sem moradia, como o estado constante de alerta, o que dificulta a rápida adaptação e o relaxamento, mesmo em um ambiente seguro. Por isso é necessário adotar abordagens de atendimento multiprofissional.

“Ainda existe a solidão, na rua elas costumam estabelecer laços com outros em situação semelhante, criando redes de convivência. A mudança para moradias, especialmente as individuais, pode romper vínculos e gerar sensação de isolamento. Muitos vivenciam traumas, transtornos mentais ou uso abusivo de substâncias, que também interferem na adaptação. Apenas ofertar um lar não é suficiente. É preciso empatia, considerar as subjetividades de cada um, a partir do acolhimento e escuta nos atendimentos.”

<><> Cenário por região e capitais

Sudeste: As 4 prefeituras das capitais da região responderam aos pedidos da reportagem, mas nenhuma apresentou os dados solicitados.

Norte: Na região, das sete prefeituras, somente quatro delas responderam aos pedidos protocolados, entre elas Porto Velho (RO), que afirmou não ter os dados solicitados. Belém (PA), Boa Vista (RR) e Macapá (AP) não atenderam às solicitações tanto nos sites oficiais das prefeituras quanto pelo Fala.BR, do Governo Federal.

        Rio Branco (AC): 14 mortes de pessoas em situação de rua nos últimos 6 anos (5 delas por homicídio). A prefeitura não informou o número de mortes por ano.

        Manaus (AM): a prefeitura de Manaus não informou o número exato de vítimas por ano, mas forneceu os dados de quantas pessoas em situação de rua morreram e foram enterradas sem identificação – ao todo foram 903, de 2020 a 2024.

Sobre a causa das mortes, a prefeitura de Manaus contabilizou óbitos por arma de fogo, arma branca e traumatismo cranioencefálico, mas também não especificou a quantidade de pessoas mortas nessas condições. Já o serviço municipal SOS Funeral, registrou 19 enterros de pessoas em situação de rua no período, 4 delas por mortes violentas: arma de fogo (3) e traumatismo (1).

        Palmas (TO): 8 mortes de pessoas em situação de rua nos últimos 6 anos, sem especificar o número de óbitos por ano, a prefeitura informou apenas que entre as causas das mortes estão atropelamento, espancamento e falência múltipla dos órgãos.

Nordeste: Na região, das 9 capitais, somente 6 responderam às solicitações, no entanto, 4 delas afirmaram não ter os dados solicitados: Maceió (AL), Salvador (BA), São Luís (MA) e Recife (PE). Natal (RN) e Teresina (PI) não responderam e Aracaju (SE) negou o pedido de envio das informações [leia a justificativa no fim desta reportagem].

        Fortaleza (CE): 16 mortes de pessoas em situação de rua nos últimos 6 anos, 5 delas de forma violenta, sendo: suicídio (1), homicídios (2), por causa externa violenta ou acidental (2).

        João Pessoa (PB): 17 mortes de pessoas em situação de rua nos últimos 6 anos, 4 delas de forma violenta, sendo: homicídios por arma de fogo (3) e suicídio (1).

Centro-Oeste: Das 4 capitais da região, todas responderam às solicitações de acesso à informação, mas nenhuma delas apresentou os dados solicitados. No caso de Brasília (DF), que não possui uma prefeitura, a Diretoria de Vigilância Epidemiológica (DIVEP) do Distrito Federal informou que a cidade não tem os dados solicitados. A página do site da prefeitura de Cuiabá (MT) para consulta das respostas não estava disponível, a reportagem tentou contato via suporte e por e-mail, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

Sul: Na região Sul, das 3 capitais, todas responderam aos pedidos de informação, no entanto somente uma delas forneceu dados. Curitiba (PR) afirmou que não tem nenhuma das informações solicitadas e Porto Alegre (RS) negou fornecer qualquer informação sobre o assunto (leia a justificativa no fim da reportagem).

        Florianópolis (SC): 57 mortes de pessoas em situação de rua nos últimos 6 anos, 4 delas de forma violenta, sendo: envenenamento (1), suicídio (1), atropelamentos (2).

<><> Mortos não-reclamados

A Política Nacional para a População em Situação de Rua (PNPSR) estabelece a adoção espontânea, ou seja, a participação fica a critério de estados, municípios e Distrito Federal. Atualmente, a contagem do número de pessoas que vivem em situação de rua no Brasil é feita levando em consideração os registros do Cadastro Único, dessa forma não contabiliza as pessoas sem cadastros oficiais nos equipamentos de assistência social.

Segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), até 2022, o Brasil tinha 236.400 pessoas em situação de rua inscritas no Cadastro Único — uma média de uma em cada 1.000 pessoas. Ainda conforme os números do MDHC, em 2023, 5 estados concentraram o maior número de notificações de violência contra a população em situação de rua: São Paulo (23%), Minas Gerais (22%), Bahia (11%), Paraná (7% ) e Rio de Janeiro (4%).

Nenhuma das capitais das respectivas unidades federativas informou os registros de mortes dessa população à reportagem.

A falta de padronização, como uma metodologia de contagem e até a inclusão de um campo para a identificação da situação de rua na declaração de óbito, influenciam na ausência de um banco de dados sobre as mortes. À Ponte, o MDHC informou que a adoção do campo específico nas declarações de óbito foi tema de debate no Grupo de Trabalho Interinstitucional (GTI), instituído pelo Decreto nº 11.818/2023, mas “até o momento, não há definição de cronograma, diretrizes técnicas ou regulamentação que viabilizem a implementação da medida”.

O sociólogo Caio Moraes Reis explica que, muitas vezes, os profissionais da assistência social ou da saúde que acompanham esses indivíduos se responsabilizam pelo reconhecimento dos cadáveres. Os corpos enterrados sem o devido reconhecimento são popularmente chamados de ‘indigentes’. Segundo Reis, os mortos não-reclamados, mesmo os identificados, são destinados às covas públicas e o procedimento não é exclusivo a essa parcela da população.

“Nem toda pessoa em situação de rua é enterrada como ‘indigente’ e nem toda pessoa enterrada como ‘indigente’ está em situação de rua. Não sabemos a magnitude do cruzamento entre esses dois conjuntos por falta de dados sobre essas mortes. Por isso ocorre uma confusão que vem do preconceito histórico, que entende a morte como ‘indigente’ como uma consequência de quem estava em situação de rua”.

Caio destaca ainda que, por medo de serem enterradas sem identificação, muitas pessoas pedem aos assistentes sociais que façam o reconhecimento dos corpos. “É espantoso ver a quantidade de indivíduos com esse trauma. Os enterrados sem identificação passam por um ‘ralo institucional’ e ninguém mais sabe o que aconteceu com eles. É o apagamento da identidade e história dessas pessoas. Elas passam a ocupar um lugar físico sem qualquer referência simbólica a quem elas foram em vida”.

No levantamento feito pela Ponte, Manaus foi a única capital que informou o número de pessoas em situação de rua enterradas sem identificação.

        2020: 183 pessoas

        2021: 178 pessoas

        2022: 165 pessoas

        2023: 195 pessoas

        2024: 182 pessoas

“A possibilidade de enterrar alguém como ‘indigente’ está muito atrelada à própria condição de vida que essa pessoa teve. A situação de rua é esse grande cenário de fragilização de relações com as grandes instituições da sociedade”, completa Caio.

<><> Falhas na classificação de cor

O Censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) utiliza 5 termos específicos para coletar informações étnico-raciais da população: preto, amarelo, indígena, branco e pardo. No entanto, o levantamento da reportagem com os dados da prefeitura de Rio Branco (AC), identificou uma pessoa classificada como “moreno” no campo de identificação de cor.

A mestre em relações étnico-raciais do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET-RJ), Beatriz Pimentel, diz que ainda falta fundamentação e capacitação de servidores públicos sobre questões ligadas ao tema, especialmente relacionadas às categorias de cor e raça. “A palavra ‘moreno’ dificulta não só a criação de políticas públicas, mas também na articulação e debate sócio-racializado em ambientes educacionais, empresariais e até mesmo nas áreas de saúde”, afirma.

“Ao classificar uma pessoa como ‘morena’ retornamos ao mito da democracia racial, assunto muito mal-resolvido. É uma tentativa de apagamento das dinâmicas comunicacionais da racialidade no Brasil”, sustenta Beatriz.

O IBGE contabiliza a população negra como a soma de pretos e pardos, apesar de serem classificações distintas. Beatriz relembra que o termo ‘negro’ passou a ser utilizado da década de 1970 pelos movimentos de ativismo como forma de enfrentamento político e reinvindicação coletiva. Para ela, trabalhos de estudiosos como Nilma Lino Gomes, Kabengele Munanga e Lélia Gonzalez são essenciais para definir a palavra como uma maneira de afirmação política e identitária.

“A diferenciação das nomenclaturas surgiu da necessidade de estruturação e organização política que pudesse pautar a autodeclaração e heteroidentificação através do quesito raça/cor. Com essas informações, o governo consegue formular políticas públicas com base nos dados, e também na escuta da sociedade civil e suas lideranças”, diz a pesquisadora.

>>>> Prefeituras que negaram os pedidos de informação

Aracaju (SE) – a prefeitura negou as informações solicitadas alegando que “outros dados e informações devem ser solicitados por meio de ofício, direcionado à Secretaria Municipal da pasta, que emitirá a resposta formal adequada e disponibilizará os dados e informações cuja legislação permite a divulgação”. Ainda segundo o órgão, “alguns dos itens constantes na solicitação inicial se classificam no que a LGPD chama de ‘dados sensíveis’, possuindo sua divulgação proibida, a menos que haja fundamentada ordem judicial”. No entanto, conforme o art. 5º, inciso V, da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), somente a pessoa natural (viva) é protegida pela LGPD, não especificando nenhum nível de tratamento de dados para pessoas falecidas. A reportagem não solicitou qualquer dado que pudesse identificar as vítimas, apenas informações como idade, sexo, naturalidade e causa das mortes. A resposta do órgão pode ser considerada violação da liberdade de informação, prevista no art 1º, inciso III, da mesma Lei.

Porto Alegre (RS): inicialmente, a Diretoria de Vigilância Sanitária municipal informou que não possui “dados publicizados e estratificados que respondam à solicitação” e que “a estratificação das informações conforme solicitado, através do banco de dados do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) é prejudicada, por limitações do próprio Sistema”. Segundo a prefeitura, só é possível acessar os dados após a formalização de um projeto de pesquisa “com tramitação no Comitê de Ética em Pesquisa da Prefeitura de Porto Alegre, uma vez que tratam-se de dados sensíveis dos cidadãos”. A reportagem pediu o reexame da solicitação, considerando o interesse público dos dados. Em resposta, a diretoria afirmou que os itens questionados “são de acesso restrito e sigilosos, por conter dados pessoais e sensíveis, como endereço dos cidadãos, bem como demais dados pessoais, e outras informações de saúde, além da causa da morte”. Além disso, a diretoria citou que “a informação solicitada exigirá trabalhos adicionais de análise, interpretação e consolidação de dados e de informações, ainda não sistematizadas pelo órgão ou entidade da administração municipal”. A reportagem enviou um recurso citando a definição do termo ‘pessoa natural’, conforme consta na LGPD, no entanto, a Comissão Mista de Avaliação de Reavaliação de Informações, negou provimento ao recurso justificando que o levantamento dos dados “acarretaria em trabalhos adicionais”.

 

Fonte: Por Laura Machado, especial para a Ponte


Casos de bactérias carnívoras estão crescendo nos EUA; entenda

Logo ao sudoeste de Nova Orleans, em uma tranquila vila de pescadores no pântano da Louisiana, Linard Lyons passou a manhã em seu barco de 19 pés, preparando armadilhas para caranguejos para seus netos, como já havia feito milhares de vezes antes. Desta vez, ele notou um pequeno arranhão em sua perna – um arranhão que quase lhe custou a vida.

Lyons seguiu seu dia normalmente, mas acordou na manhã seguinte se sentindo "delirante". Com febre e vômitos, inicialmente pensou que tinha apenas contraído uma virose estomacal, mas então descobriu uma série de feridas enegrecidas se espalhando por sua perna esquerda.

Em uma decisão que acabou salvando sua vida, ele foi direto ao seu médico de família. Lyons conta à CNN que seu médico imediatamente soube "exatamente do que se tratava" e o encaminhou diretamente para a emergência. Em "questão de talvez uma hora", Lyons se encontrava na sala de cirurgia do hospital.

Aquele pequeno arranhão na perna de Lyons tornou-se a porta de entrada para a Vibrio vulnificus, também conhecida como bactéria carnívora. As feridas negras em sua perna indicavam fasciíte necrosante, que "afeta o tecido sob a pele", segundo a Cleveland Clinic.

Essas bactérias potencialmente letais são encontradas naturalmente e prosperam em águas costeiras durante os meses mais quentes, especialmente em águas salobras, onde a água doce encontra o mar, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC). Antes largamente confinadas à Costa do Golfo, os casos aumentaram ao longo da Costa Leste, com um aumento de 800% entre 1988 e 2018, segundo o CDC.

<><> 50/50 de chance de sobrevivência

"Tenho sua permissão para fazer o que for necessário para salvar sua vida?" perguntou o médico de Lyons.

Estas foram as últimas palavras que Lyons se lembra de ter ouvido antes da cirurgia. Ele imediatamente entendeu a gravidade da situação e percebeu que sua perna poderia ter que ser amputada. "Me deram 50% de chance de sair vivo do hospital naquele momento", afirma.

Seus cirurgiões conseguiram tanto remover a infecção quanto salvar a perna de Lyons. Após três dias na unidade de terapia intensiva, três semanas no hospital e diversos antibióticos, ele foi "liberado da bactéria".

Já se passaram mais de três meses desde que ele contraiu a bactéria carnívora, mas sua recuperação está longe de terminar.

A recuperação não tem sido confortável para Lyons, que tem diabetes; ele a descreve como um "sofrimento". No entanto, ele mantém a esperança de que um enxerto de pele será a etapa final para que sua perna volte ao "normal".

A Vibrio vulnificus geralmente não deve representar um risco fatal para uma pessoa comum, diz à CNN Daniel Edney, Oficial de Saúde do Estado do Mississippi. Pessoas com sistema imunológico enfraquecido têm um risco maior de contrair uma infecção, afirma Edney.

Se você planeja estar em água costeira, assuma que ela está contaminada com Vibrio e evite a água se tiver "cortes ou feridas que possam ser potencialmente infectados", segundo Edney.

No entanto, a infecção por Vibrio não ocorre apenas através do contato de feridas com a água. Também pode surgir do consumo de certos alimentos.

<><> A pequena impressão no menu

"O consumo de carnes, aves, frutos do mar, mariscos ou ovos crus ou mal cozidos pode aumentar seu risco de doenças transmitidas por alimentos, especialmente se você tiver certas condições médicas."

Este aviso, frequentemente encontrado em letras pequenas no rodapé dos cardápios de restaurantes, pode parecer familiar. Na Louisiana, este aviso específico deve estar "claramente visível" em todos os estabelecimentos que vendem ou servem ostras cruas – com poucas exceções – de acordo com o Departamento de Saúde da Louisiana.

A vibriose também pode ser contraída ao comer mariscos crus ou mal cozidos. Na maioria das vezes, é uma infecção menos grave causada por um tipo diferente da bactéria, causando apenas desconforto estomacal, mas ocasionalmente pode encontrar seu caminho na corrente sanguínea, segundo o CDC.

As ostras obtêm seu alimento filtrando a água do mar. Quando essa água está repleta de bactérias, uma única ostra pode conter até um milhão de células de Vibrio vulnificus, de acordo com Jim Oliver, professor da Universidade da Carolina do Norte em Charlotte.

<><> O risco mais amplo

Embora seja raro, "muitas pessoas com infecção por Vibrio vulnificus podem ficar gravemente doentes e precisar de terapia intensiva ou amputação de membros. Cerca de 1 em cada 5 pessoas com esta infecção morre, às vezes em um ou dois dias após adoecer", segundo o CDC.

A Louisiana foi um dos primeiros estados a chamar a atenção para esta infecção nesta temporada após ver um aumento nos casos.

Até o final de julho, as autoridades relataram 17 hospitalizações e quatro mortes entre residentes da Louisiana, mais do que o dobro do que normalmente veem. Pelo menos três novos casos foram relatados em agosto.

Este vírus potencialmente letal não é exclusivo dos estados do Golfo e está sendo encontrado cada vez mais ao norte conforme as temperaturas da água aumentam.

O Departamento de Saúde Pública de Massachusetts identificou um caso "extremamente raro" de Vibrio vulnificus em um residente exposto à água costeira próxima a Martha"s Vineyard. Até agora este ano, Massachusetts confirmou 71 casos, com taxa de hospitalização de 30% e nenhuma morte.

Massachusetts, no entanto, não é o único estado da Costa Leste relatando aumento de casos. Autoridades do Departamento de Saúde da Virgínia afirmam que os casos de vibriose entre seus residentes vêm "aumentando nos últimos dez anos".

Os casos na Carolina do Norte aumentaram 620% nos últimos 10 anos, e os de Nova York mais que triplicaram.

<><> As alterações climáticas alimentam a propagação

Os oceanos estão ficando mais quentes e o nível do mar está subindo devido às mudanças climáticas causadas pelo homem, e cientistas alertam que esses fatores estão aumentando o risco de infecções por Vibrio.

Oliver, professor da UNC Charlotte, acrescenta que o derretimento das geleiras está reduzindo a salinidade do oceano – outro fator que aumenta a ameaça. "A água salgada do mar aberto tem uma taxa de salinidade muito alta para o Vibrio vulnificus", explicou ele. Mas quando a água doce a dilui, as "condições se tornam mais favoráveis".

À medida que o clima aquece, mais bactérias sobrevivem durante o inverno, o que agrava os surtos no verão porque começamos de um nível já elevado.

Dra. Rachel Noble, professora da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill que estuda o Vibrio desde o início dos anos 2000, diz à CNN que o aumento da prevalência desta bactéria potencialmente letal está se "repetindo globalmente", indicando uma "complexidade de questões relacionadas às mudanças climáticas".

"Este não será o único patógeno que aumentará diante das mudanças climáticas", afirma Noble. "É apenas um exemplo, mas um do qual podemos realmente aprender".

<><> A conscientização salva vidas

Lyons está incentivando outros a aprenderem sobre o Vibrio e espera que líderes locais divulguem informações colocando sinalizações adicionais para alertar tanto residentes quanto visitantes. Quaisquer ferimentos, mesmo um pequeno arranhão, devem ser completamente lavados com sabão e água corrente limpa, segundo o CDC.

"Espero que minha história ajude as pessoas a entenderem o que procurar", diz Lyons. Isso pode até "salvar uma vida".

Se você desenvolver sintomas, "procure ajuda imediatamente e vá para a emergência", insiste Lyons. "Essa é a melhor coisa a fazer. Apenas vá e, esperançosamente, você encontrará alguém que reconhecerá o problema pelo que ele é, porque um diagnóstico errado pode ser uma sentença de morte. Realmente pode ser".

•        Bactérias podem ser usadas para fazer vírus combater tumores; entenda

Pesquisadores da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, desenvolveram uma terapia que faz bactérias e vírus trabalharem em conjunto para combater o câncer. O trabalho foi publicado no último dia 15 na revista científica Nature Biomedical Engineering.

Os vírus já vêm sendo estudados pela comunidade médica e científica pela sua capacidade de infectar tumores e matar células cancerígenas. No entanto, o nosso sistema imunológico pode destruir esses microrganismos como parte de sua função natural de nos proteger contra infecções.

Neste novo estudo, bactérias geneticamente modificadas foram usadas para proteger certos vírus anticâncer de serem destruídos pelo sistema imunológico. Isso foi possível combinando a tendência de algumas bactérias de encontrar e atacar tumores com a preferência natural do vírus por infectar e matar células cancerígenas.

"Nosso objetivo era aprimorar a terapia bacteriana contra o câncer permitindo que as bactérias entregassem e ativassem um vírus terapêutico diretamente dentro das células tumorais, ao mesmo tempo, em que desenvolvíamos salvaguardas para limitar a disseminação viral para fora do tumor", afirma Jonathan Pabón, coautor principal do estudo, em comunicado.

<><> Bactérias "escondem" os vírus do sistema imunológico

Para "enganar" o sistema imunológico e impedir que ele atacasse vírus com potencial de destruir tumores, os pesquisadores inseriram o vírus dentro de bactérias que também atacam células cancerígenas. Em outras palavras, as bactérias agiram como uma "capa de invisibilidade", escondendo o vírus dos anticorpos circulantes e transportando-o para os tumores, conforme explica Zakary S. Singer, coautor principal do estudo.

Pabón diz que essa estratégia é especialmente importante para vírus aos quais as pessoas já estão expostas na vida diária.

“Nosso sistema demonstra que bactérias podem ser potencialmente usadas para lançar um vírus oncolítico para tratar tumores sólidos em pacientes que desenvolveram imunidade a esses vírus”, diz ele.

A bactéria usada pelos pesquisadores foi a Salmonella typhimurium, uma espécie que migra naturalmente para o ambiente rico em nutrientes e com baixo teor de oxigênio dentro dos tumores. Uma vez lá, a bactéria invade as células cancerígenas e libera o vírus diretamente no interior do tumor. O trabalho foi feito em camundongos.

"Nós programamos as bactérias para agirem como um cavalo de Troia, transportando o RNA viral para dentro dos tumores e, então, se lisando diretamente dentro das células cancerígenas para liberar o genoma viral, que poderia então se espalhar entre as células cancerígenas", explica Singer.

<><> Mas e o risco de infecções?

Essa era uma preocupação real dos pesquisadores. Por isso, a equipe usou um truque molecular que garantiu que o vírus não pudesse se espalhar para outras regiões do organismo, causando doenças, sem uma molécula que só poderia ser obtida com a bactéria. Como a bactéria permanece no tumor, esse componente vital (chamado protease) não está disponível em nenhum outro lugar do corpo.

"Partículas virais dissemináveis só poderiam se formar nas proximidades de bactérias, necessárias para fornecer maquinário especial essencial para a maturação viral no vírus modificado, criando uma dependência sintética entre os micróbios", afirma Singer.

Essa salvaguarda adiciona uma segunda camada de controle: mesmo que o vírus escape do tumor, ele não se espalhará no tecido saudável.

“São sistemas como esses — especificamente orientados para aumentar a segurança dessas terapias vivas — que serão essenciais para traduzir esses avanços para a clínica”, diz Singer.

O estudo marca um avanço significativo no combate ao câncer, porém mais estudos são necessários, com aplicações clínicas em humanos.

 

Fonte: CNN Brasil

 

O entreguismo dos donos do Brasil

Muito se comentou, nas últimas semanas, sobre o papel entreguista da extrema direita em sua relação umbilical com o imperialismo. O falso nacionalismo do bolsonarismo, com o uso de bonés ou a continências à bandeira norte-americana, é conhecido há bastante e não causa qualquer surpresa. Contudo, nesse processo, também chamou atenção a postura das classes dominantes, oscilando entre bater continência aos ditames de Trump e fazer críticas pontuais à política do chefe do imperialismo.

Essa postura entreguista não é exatamente uma novidade para as classes dominantes. Para as elites, o Brasil que emergiu do século XIX não deveria ser uma nação de capitalismo autônomo, como França e Estados Unidos, mas um país cuja economia estaria atrelada à lógica e à dinâmica do mercado externo, ditado pelas grandes potências, consolidando um desenvolvimento econômico subordinado “aos centros estrangeiros de economia mundial e praticamente extorsivo quanto à massa da população pobre e trabalhadora”. O que se tem no Brasil é uma classe dominante que não defende uma perspectiva de autonomia em relação ao imperialismo.

Os militares, pretensamente nacionalistas, também nunca tiveram uma perspectiva autônoma em relação ao imperialismo. Uma parcela de oficiais, que parece não se incomodar com os ataques de Trump contra Brasil, se aliou ao bolsonarismo na frustrada tentativa de golpe que desembocou na depredação de prédios públicos em Brasília. Essa subordinação não é novidade. Golbery do Couto e Silva, ideólogo da Escola Superior de Guerra (ESG), referindo-se à relação entre o Brasil e os Estados Unidos, afirmava, em 1959: “O Brasil é também uma nação que, pela sua origem cristã e os valores democráticos e liberais que substanciam a cultura ainda em germe nesta fronteira em expansão, integra o Mundo do Ocidente” .

Segundo Golbery, atuante politicamente durante os governos da ditadura, o Brasil deveria desenvolver “uma geopolítica consciente e decididamente partícipe da geoestratégia defensiva da Civilização Ocidental, a cujos destinos temos os nossos indissoluvelmente ligados, quer o queiramos ou não” . O anticomunismo, assim, se evidenciava e concretizava como dominação política e ideológica do imperialismo.

Esses temas relacionados ao desenvolvimento econômico e à subordinação das classes dominantes aos interesses imperialistas foram discutidos por Florestan Fernandes. Partindo da compreensão de que a “revolução burguesa” no Brasil se deu como processo lento e realizado desde cima, no qual as elites buscavam uma autonomia relativa, mas não uma independência em relação ao imperialismo, aponta que se difundiu desde o século XIX a ideia de que o desenvolvimento capitalista poderia produzir, em qualquer país de origem colonial, resultados similares aos dos países europeus e dos Estados Unidos. Bastaria estar aliado a esses países. Para Fernandes, a difusão dessa ideia “foi parte do processo de colonização, de transferência da ideologia dominante nas nações capitalista hegemônicas”.

Fernandes apontava a particularidade do desenvolvimento das classes dominantes no Brasil, destacando que a burguesia atingiu “sua maturidade e, ao mesmo tempo, sua plenitude de poder sob a irrupção do capitalismo monopolista”, mantendo e agravando as condições “que tornaram a sociedade brasileira potencialmente explosiva, com o recrudescimento inevitável da dominação externa da desigualdade social e do subdesenvolvimento”.

Embora o Brasil tenha o PIB entre os maiores do mundo, sua produção não está voltada para o seu próprio desenvolvimento, por meio de infraestrutura, emprego e melhoria das condições sociais da população. Sua produção está voltada prioritariamente para interesses de grupos ou empresas estrangeiras, que se ocupam de transferir a maior parte possível dos ganhos para a matriz. Esse é um traço de países dominados pelo imperialismo, nos quais o mercado interno está ligado ao externo.

Essa questão está intrinsecamente ligada ao processo de transformação histórica e econômica. A transição estrutural e histórica para o padrão de desenvolvimento dentro das relações imperialistas requer profundas alterações “dos mecanismos de mercado, na organização do mercado financeiro e de capitais, nas dimensões da produção industrial”. Esse processo ocorre com a conivência e o apoio das classes dominantes, implicando tanto em alianças comerciais internas e externas como na necessidade de políticas desenvolvidas pelo Estado.

Percebe-se que essa lógica está mais aguda contemporaneamente, em especial por conta do avanço da dominação imperialista depois do colapso da União Soviética. Nos governos mais recentes, em diferentes países, inclusive no Brasil, a dominação econômica do imperialismo elevou-se consideravelmente. Nem mesmo os governos Lula, com sua tímida e eventual retórica desenvolvimentista e suas políticas sociais, implementou ações que visassem acabar com a lógica de dominação imposta pelo imperialismo. Os governos petistas deram continuidade à política econômica dos governos anteriores.

A economia do Brasil é dominada pelo capital externo, cujos interesses são os que emanam de suas matrizes. O capital privado nacional está ligado de forma íntima com o estrangeiro, sendo seu sócio menor, defendendo não um projeto de nação, mas os interesses de seus aliados externos. Portanto, ao vermos na atualidade as classes dominantes oscilando entre o apoio aos ataques de Trump e a defesa de uma negociação em que o Brasil assuma uma postura subordinada, devemos procurar a explicação nas particularidades do desenvolvimento econômico e nas relações estabelecidas com o imperialismo.

A conquista de uma independência de fato, a partir do controle sobre seus recursos naturais e sobre a economia, somente é possível a partir de uma ruptura com essas relações de dominação. Contudo, medidas como essas são apenas possíveis por um governo dos trabalhadores que, apostando na mobilização popular, aponte suas ações no sentido da superação do capitalista e da construção do socialismo. Para a burguesia nativa, somente existe a perspectiva de negociar melhores formas de permanecer submisso aos ditames imperialistas, não sendo aliada, em nenhuma hipótese, na luta por uma nova sociedade.

•        Via crucis do rentista traíra. Por Fernando Nogueira da Costa

Despertou revolta dentre os colegas da Faria Lima e todos se manifestaram contra a declaração de “a política monetária está funcionando”, dada pelo economista-chefe do BTG Pactual e ex-secretário do Tesouro, durante o governo golpista. Foi estampada na primeira página do jornal oficioso de O Mercado!

“Estamos, em um cenário surpreendente, com o menor nível de desemprego da história e expectativas de inflação para 2025, 2026 e 2027 não esperadas por ninguém há três meses. Está se consolidando o cenário para o Banco Central do Brasil começar a cortar juros no primeiro trimestre do próximo ano”, disse. Segundo ele, “se tivermos mais duas leituras positivas de inflação, vai entrar na mesa a possibilidade de antecipar esse corte para o fim do ano corrente”.

Os parças agora querem o queimar na avenida! A cena é digna de uma ópera bufa do rentismo. O coitado, sempre tão fiel à cartilha fiscalista, de repente, cometeu o pecado mortal: sugeriu a política monetária do governo petista está funcionando de maneira coordenada com a política fiscal e, pior, insinuou os juros poderem cair antes do combinado.

Resultado? Uma rebelião furiosa entre os sacerdotes da Faria Lima, como se alguém tivesse mexido no cálice sagrado do CDI.

Na avenida simbólica dos Fundos de Investimento, o coro é uníssono: “Blasfêmia! Sacrilégio!”. Para eles, a simples ideia de cortar juros é como anunciar a expropriação da propriedade privada.

O “pleno emprego histórico”, elogiado pelo ex-secretário do Tesouro no governo temeroso é, na visão desses colegas, um problema moral. Afinal, trabalhadores com salário em alta e confiança demais no pleno emprego se tornam atrevidos, exigem direitos, e isso ameaça o dogma central: o rentista feliz.

Não importa se as expectativas de inflação para 2025, 2026 e 2027 estão melhorando. Para o coração da Faria Lima, notícia econômica só é boa se não servir de argumento para baixar juros. Se o pão ficar mais barato e o desemprego cair, isso é visto como “ruído estatístico”. Mas se o dólar espirrar, aí sim a inflação importada é motivo para convocar uma cruzada monetária com juros disparatados diante do Fed, e fazer os farialimers felizes.

O pecado do ex-secretário do Tesouro foi lembrar em público sobre a possibilidade de os juros de 15% aa caírem. A taxa de juro mensal equivalente é de aproximadamente 1,17%, um juro composto capaz de propiciar acumulação financeira.

Isso traz tranquilidade inclusive para os pobres coitados detentores apenas do patamar mínimo para estar entre os 161.726 detentores de contas exclusivas de 69 mil grupos econômicos familiares. Com R$ 2,421trilhões no agregado, dá a bagatela média de praticamente R$ 15 milhões per capita, ou seja, se todo esse valor fosse aplicado em 100% CDI, daria o suporte de rendimentos de juros mensais de R$ 175.152,68, certamente, muito inferior à “renda do trabalho” dessa laboriosa gente.

Para se ter uma ideia, segundo Sérgio Gobetti e outros (2025), “no topo da pirâmide – entre os 0,01% mais ricos – a renda captada pela PNAD é quase doze vezes inferior à apurada a partir dos dados do IRPF. Enquanto a PNAD estima renda média mensal de pouco mais de R$ 200 mil em 2023 para esse grupo, as declarações dessas mesmas pessoas revelam rendimentos médios mensais de R$ 2,5 milhões”.

Por conta dessa penúria, foi como se um padre da consagrada Santíssima Trindade do Tripé Macroeconômico tivesse dado uma piscadela para o demônio da heterodoxia. Seus ex-colegas já afiam as foices e martelos, acendem tochas e esquentam o óleo ao ponto de fervura: querem queimá-lo vivo, na avenida, não por discordarem dos fundamentos, mas por ele ter ousado sugerir os lucros financeiros não precisarem crescer para sempre à custa da economia real.

No fundo, o ex-temeroso só disse o óbvio: a política econômica do demônio petista está funcionando! Mas, na liturgia da Faria Lima, verdade é só aquilo capaz de manter o juro alto e o povo quieto. E qualquer desvio dessa missa – mesmo vindo de um ex-secretário do Tesouro do louvado governo golpista com a aprovação oportunista das reformas neoliberais de “flexibilização” (sic) – merece fogueira!

Daí, em uma “Via crucis do rentista traíra”, o imprudente falante da verdade, refletida nos números estatísticos, foi obrigado a carregar a cruz do corte de juros. Enquanto desfilava era vaiado pelos colegas ao longo da Faria Lima.

Estação I (BTG Pactual) – O pecado da verdade

O economista-chefe do BTG e ex-secretário do Tesouro, pela ousadia de afirmar em público “a política monetária está funcionando”, cometeu um pecado monumental. Os colegas da Faria Lima reagiram como inquisidores: murmuraram entre si, prepararam tochas e manchetes de jornal e o escorraçaram de lá.

Estação II (Itaú BBA) – O julgamento editorial

Nas salas envidraçadas da Avenida Faria Lima, cada planilha se tornou um martelo e uma foice para punir o “cumunista infiltrado”. Analistas e colunistas da Grande Imprensa Neoliberal discutiram: “Como ele ousou sugerir corte de juros?!” A verdade científica pouco importa, aqui não é um campus universitário! O dogma do superávit e do juro alto deve prevalecer acima de qualquer realidade econômica!

Estação III (Bradesco BBI) – A carga do corte de juros

O imprudente ergue então a cruz simbólica do corte de juros, cada quilo carregado com expectativas de inflação favoráveis e pleno emprego histórico. O peso é brutal, porque tocar nesse tema é tocar no sagrado: o rendimento seguro do rentista.

Estação IV (Goldman Sachs) – O espancamento midiático

Tochas são acesas, ou melhor, tweets, colunas e editoriais criam alvoroço. Os farialimers se inflamam. “Que ele seja queimado em plena avenida!”, gritam os sacerdotes do tripé em uníssono. A cruz dele é atacada com argumentos circulares: “Baixar juros é populismo!”, “Austeridade fiscal em risco!”, “Confiança de O Mercado abalada!”.

Estação V (JPMorgan Chase)– O auxílio da heterodoxia

Não há recurso com apelo à heterodoxia, ela só existe para ser citada como advertência. O trânsfuga caminha sozinho, enquanto o coro da Faria Lima repete: “Que sirva de lição: aqui não se critica o juro alto nem se anuncia pleno emprego!”.

Estação VI (Credit Suisse) – A chegada à cruz do conselho monetário

Finalmente, o sem papas na língua, capaz de expressar o pensado de forma direta, mesmo se isso não for agradável para os outros colegas, chega à mesa de sacrifício do Copom simbólico. Ali, suspira. A cruz do corte de juros ainda pesa, mas ele acha ter escutado um sussurro da economia real: “Há espaço sim para baixar juros e celebrar o pleno emprego”.

Estação VII (UBS) – Ressurreição monetária

Se o Banco Central do Brasil ousar antecipar o corte, a ressurreição do cristo será discreta: sussurrada entre economistas, ignorada pelos editorialistas, e imediatamente convertida em manchete alarmista: “Risco de inflação brevemente!”.

•        Repúdio total aos novos negacionistas do Holocausto

Num período imediatamente prévio à II Guerra Mundial, e durante o transcorrer da mesma, a Europa foi palco de um dos episódios mais abomináveis da história humana.

Sob a batuta de Adolf Hitler, a Alemanha nazista levou a cabo matanças programadas e executadas com crueldade e perversidade de estarrecer até os mais insensíveis seres humanos. A sanha nazi-hitlerista trucidou impiedosamente milhões de pessoas pertencentes a grupos considerados indesejáveis e inservíveis pelos nazistas.

Dentre as principais vítimas da fúria bestial do nazismo, podemos listar milhões de ciganos, os acusados de estarem vinculados a sindicatos de trabalhadores e organizações comunistas, os judeus e um incontável número de seres de nacionalidades eslavas (russos, poloneses, etc.), assim como vários outros.

Entretanto, não obstante a imensa quantidade de provas e indícios que confirmam a ocorrência destas monstruosidades, ainda há gente que persiste em não reconhecer, ou dar o devido peso, a esta funesta obra da maldade humana. Os que assim se comportam são os denominados negacionistas do Holocausto.

Como não podia deixar de ser, quase toda a humanidade de mente sã sempre expressou o devido repúdio e condenação a todos os que têm demonstrado tamanha insensibilidade diante do sofrimento causado a tantos seres humanos pelos agentes da morte hitleristas.

Porém, a negação do Holocausto hitlerista, que vinha sendo mantido tão somente por um reduzido número de pessoas, via de regra, através de meios alheios ao chamado “mainstream” informativo, agora está sendo suplantada pela de outro, que está em pleno desenvolvimento neste exato instante, em outras palavras, o Holocausto do povo palestino.

Só que, desta vez, os negacionistas do novo Holocausto não se limitam a um punhadinho de alienados vinculados a meios de pouca relevância. Nesta oportunidade, a despeito de que as provas e os detalhes dos crimes hediondos que estão sendo cometidos contra o indefeso povo palestino estejam disponíveis em ainda muito mais abundância (fotos, gravações de vídeos, relatos presenciais, etc.), a esmagadora maioria dos meios corporativos dos países hegemônicos do capitalismo ocidental, e naqueles a eles subordinados, se recusa a admitir que esteja havendo um deplorável genocídio por parte de um dos exércitos mais bem armados do planeta, ou seja, as mal chamadas Forças de Defesa de Israel.

Os que dirigem essa mídia corporativa ocidental e seus cúmplices não se comovem ao constatar a imensa covardia lançada contra crianças, mulheres e a população civil indefesa. Os vídeos e fotos dos bombardeios contra hospitais e locais de moradia, com o consequente despedaçamento de milhares de seres humanos, nada disto é suficiente para que o regime sionista do Estado de Israel seja considerado como genocida.

Nem mesmo as cenas com milhares de crianças esqueléticas em desesperada busca de comida consegue romper a insensibilidade dessa mídia. Não parece haver nenhuma condenação ao fato de que essa fome alastrada se deva a que o sionismo israelense bloqueou a entrada de água e alimentos em Gaza como forma de destruir sua população também por meio da fome.

Este é o Holocausto de nossos dias. A maior diferença em relação com aquele ocorrido sob o nazismo é que este conta com um número muitíssimo maior de negacionistas, e incrustados em boa parte dos meios hegemônicos dos países capitalistas. De um ponto de vista humanitário, não há como condenar o negacionismo daquele Holocausto e silenciar-se diante deste.

 

Fonte: Por Michel Goulart da Silva, no Correio da Cidadania/Brasil 247