Quem é Mauricio
Claver-Carone, o escolhido por Trump para 'restaurar ordem' na América Latina
Há mais de um
século, a América Latina não era o
primeiro destino de visita de um secretário de Estado norte-americano.
Na visita oficial
que começou sábado passado (01/02) pelo Panamá, o secretário de Estado Marco Rubio — o primeiro
de origem latina a ocupar o cargo — levou outro escolhido pelo presidente Donald Trump para
acompanhá-lo.
Trata-se do
advogado Mauricio Claver-Carone, de 49 anos. Como Rubio, ele também é de origem
cubana e nasceu em Miami, no Estado americano da Flórida.
Claver-Carone
construiu aos poucos sua relação de confiança com o presidente durante o
primeiro mandato de Trump (2017-2021), quando foi diretor de Assuntos para o
Hemisfério Ocidental do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos.
Veterano em
assuntos de política externa e conhecido principalmente pelas suas posições
rígidas frente ao governo de Cuba, Claver-Carone foi
agora escolhido por Trump como enviado especial do Departamento de Estado para
a América Latina. Sua missão é "restaurar a ordem" na região, segundo
o presidente.
"Nos últimos
quatro anos, o caos e anarquia invadiram nossas fronteiras", escreveu Trump
em sua rede Truth Social em dezembro, ao antecipar a nomeação. "Chegou a
hora de restabelecer a ordem no nosso próprio hemisfério."
"Mauricio
conhece a região e sabe como priorizar os interesses dos Estados Unidos",
acrescentou ele. "Ele também conhece as graves ameaças que enfrentamos com
a imigração ilegal em massa e o fentanil."
Trump destacou
ainda que Claver-Carone trabalhará "incansavelmente para proteger o povo
norte-americano".
Empossado na nova
função, Claver-Carone faz parte de uma equipe "muito enfocada na América
Latina", chefiada pelo também cubano-americano e ex-senador pela Flórida,
Marco Rubio.
Sua missão será
concretizar a deportação em massa prometida por Trump, lidar com a Venezuela
de Nicolás Maduro e tentar
desacelerar a influência chinesa
na região.
"Não existe
região do mundo, seja por migração, segurança ou comércio, que afete mais a
vida individual dos norte-americanos do que a América Latina", declarou
ele em entrevista coletiva, na sexta-feira (31/01), antes do início da sua
viagem oficial pela América Central e Caribe, que inclui visitas ao Panamá, El
Salvador, Costa Rica, Guatemala e República Dominicana.
Mas, antes mesmo da
viagem, já estava clara a relevância da sua figura na política externa do novo
governo.
Apenas uma semana
depois de assumir o cargo, Claver-Carone se posicionou como a voz dos Estados
Unidos frente à Colômbia para solucionar a crise diplomática desencadeada no
domingo anterior (26/01), quando o presidente do país, Gustavo Petro, rejeitou
dois aviões militares americanos que levavam colombianos deportados. Assim, foi
evitada uma guerra comercial entre os dois países.
"Enviamos uma
mensagem clara à região e ao mundo", destacou o enviado especial.
"Quando há um acordo de boa fé com os Estados Unidos, ele é
cumprido."
·
Da
Casa Branca ao BID
Formado pelo
Rollins College, na Flórida, com doutorado em Direito pela Universidade
Católica da América e mestrado em Direito Internacional e Comparado pelo Centro
de Direito da Universidade Georgetown, todas nos Estados Unidos, Claver-Carone
começou a estabelecer vínculos com a ala mais rígida do Partido Republicano com
um blog chamado Capitol Hill Cubans, criticando a política de abertura
americana em relação a Cuba.
Defensor do embargo
comercial dos Estados Unidos e de outras severas políticas econômicas,
destinadas a suspender o financiamento ao governo cubano, ele também dirigiu a
organização Cuba Democracy Advocates, cujo propósito é influenciar a política
externa americana.
Foi naquela
organização que ele consolidou sua posição de assessor em assuntos
latino-americanos, dentro do universo republicano.
Claver-Carone
começou sua carreira como assessor legal para a Controladoria do Departamento
do Tesouro dos Estados Unidos, durante o governo do presidente George W. Bush
(2001-2009).
Ele também foi
diretor dos Estados Unidos no Fundo Monetário Internacional (FMI), quando
ajudou o ex-presidente argentino Mauricio Macri (2015-2019) a conseguir um
empréstimo de US$ 57 bilhões (cerca de R$ 329 bilhões, pelo câmbio atual) — o
maior da história da organização.
"Levamos o
maior programa da história do Fundo Monetário para a Argentina. Se o programa
foi mal administrado, se a Argentina não o executou corretamente ou se custou
uma eleição, esta já é outra história", declarou Claver-Carone, em uma
conferência virtual com o Conselho Chileno para Relações Internacionais, em
2020.
Mas foi no primeiro
mandato de Trump que seu nome adquiriu mais relevância.
Em 2018,
Claver-Carone foi nomeado responsável pelos assuntos do Hemisfério Ocidental no
Conselho de Segurança Nacional e assessor especial do presidente.
Naquela função, ele
foi um dos principais agentes da elaboração da política dos Estados Unidos para
a Venezuela, que decidiu pelo apoio ao então líder da Assembleia Nacional
venezuelana, Juan Guaidó, em suas pretensões de chegar à presidência. O plano
acabou quando Guaidó abandonou o país e Maduro consolidou o poder.
Ainda assim,
Claver-Carone pressionou como assessor para que fossem impostas fortes sanções
à Venezuela e a Cuba. Ele justificou as medidas mencionando as
"graves" violações de direitos humanos dos governos dos dois países.
Em 2020,
impulsionado pelo próprio Trump, Claver-Carone foi nomeado presidente do Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID), que concede financiamento a longo
prazo para o desenvolvimento econômico, social e institucional da América
Latina e do Caribe.
Sua nomeação não
foi livre de críticas, por se tratar de um cargo historicamente reservado para
a América Latina. Ele permaneceu no BID por dois anos e ficou marcado por um
escândalo.
Claver-Carone foi
acusado de manter relacionamento com sua chefe de gabinete, Jessica Bedoya. Eles
já haviam trabalhado juntos no Conselho de Segurança da Casa Branca e Bedoya
foi favorecida por promoções. Claver-Carone foi forçado a renunciar por ter
violado o código de ética da instituição.
Ele foi o primeiro
presidente da história do BID a ser demitido. Claver-Carone sempre negou o
relacionamento e declarou mais de uma vez que foi vítima de uma campanha de
difamação.
"No afã das
elites arraigadas para prejudicar minha liderança e reputação, bem como a do
meu pessoal, o Banco não agiu como uma instituição baseada em normas",
defendeu-se ele, pouco mais de dois anos atrás.
Após sua saída do
BID, Claver-Carone trabalhou em um fundo de capital privado de investimentos do
Oriente Médio para a América Latina, segundo a plataforma de notícias
especializada em economia Bloomberg.
Agora, ele volta à
Casa Branca para ajudar a definir a estratégia dos Estados Unidos na América
Latina.
"A nomeação de
Claver-Carone representa a ala mais rígida da equipe que acompanha o presidente
Trump", declarou à BBC News Mundo — o serviço em espanhol da BBC — um
ex-embaixador que conhece de perto o advogado.
·
Olhar
sobre a região
Antes da viagem
pela América Central, sua agenda começou na última sexta-feira (31/01), com a
reunião do enviado para missões especiais do governo Trump, Richard Grenell,
com o presidente venezuelano Nicolás Maduro, em Caracas.
"Não será uma
negociação", adiantou Claver-Carone, horas antes do encontro.
"É uma visita
para transmitir uma mensagem inequívoca sobre dois pontos: os criminosos
venezuelanos, incluindo os membros da (gangue) Tren de Aragua, serão devolvidos
e é responsabilidade da Venezuela recebê-los; e os reféns norte-americanos
devem ser liberados e regressar para os Estados Unidos", destacou ele.
"Se estas duas
exigências não forem cumpridas, haverá consequências. Não haverá negociação
sobre o petróleo da Venezuela. O petróleo venezuelano não faz falta para os
Estados Unidos. Não haverá quid pro quo."
"Tenho um
conselho para Maduro: que atenda às exigências porque, se não as cumprir,
haverá consequências. Por isso, sugerimos que ele as considere uma
oportunidade", declarou ele, deixando clara a forma de abordagem do seu
governo em relação à Venezuela.
A visita ocorreu
conforme o programado e Grenell regressou para os Estados Unidos com seis cidadãos
norte-americanos que estavam detidos em Caracas. Eles haviam sido acusados de
"terrorismo" e de serem "mercenários" de alto perfil.
"A agenda de
política externa do presidente Trump começa perto de casa", escreveu o
secretário de Estado, Marco Rubio, em editorial publicado naquele mesmo dia
pelo jornal The Wall Street Journal.
"Mesmo quando
as circunstâncias exigem firmeza, a visão do presidente para o hemisfério
continua sendo positiva", prosseguiu Rubio. "Vemos uma região
próspera, repleta de oportunidades."
Claver-Carone
também destacou as possibilidades de colaboração com os aliados na região, em
temas como migração, segurança e comércio.
"[Os
presidentes de El Salvador, Costa Rica e República Dominicana] Bukele, Chaves e
Abinader são os líderes com maior aprovação da região, devido ao sucesso da sua
gestão", declarou ele, sobre a visita oficial. "São grandes aliados
dos Estados Unidos e queremos consolidar e fortalecer estas relações."
Mas alguns
especialistas destacam que, na verdade, o governo Trump identifica na América
Latina mais problemas do que benefícios.
"Trump
infantiliza a região", declarou o analista Juan Tokatlian à BBC News
Mundo. "Ele a considera irrelevante para os Estados Unidos e, por sua vez,
diz que ela deve se comportar de determinada maneira para merecer algo
positivo."
Para Tokatlian, o
governo republicano observa a região com um olhar de que "não entende que
suas ações podem prejudicar os Estados Unidos".
Em última análise,
o novo enviado especial do Departamento de Estado americano é um velho
conhecido de Donald Trump. Ele procura impor uma grande dose de velocidade às
relações com a América Latina, para colaborar com a construção do que o
presidente anunciou como "a nova era de ouro" dos Estados Unidos.
Fonte: BBC News
Mundo
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