O xadrez da reforma
ministerial: Silveira e Múcio ficam, mas quem sai?
Na
discussão sobre reforma ministerial, o titular de Minas e Energia, Alexandre
Silveira, começa a semana fortalecido — mesmo sob fogo do novo presidente do
Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). Em entrevista a rádios mineiras, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse com todas as letras que Silveira
"será mantido ministro" e que não tem pressa para fazer alterações em
seu time.
Em
outra frente, Lula convenceu o titular da Defesa, José Múcio, a permanecer no
cargo, apesar dos pedidos para sair e passar mais tempo com a família. Outras
pastas, porém, seguem com destino indefinido e servem como moeda de troca para
legendas de centro que cobram mais caro pelo apoio ao governo após as eleições
municipais do ano passado.
Lula
demonstra que não tem pressa para fazer as mudanças, como reafirmou na semana
passada. "Eu ainda vou discutir muito com os partidos. Eu não tenho pressa
para fazer nenhuma reforma. Quero ajustar as peças, que vamos trocar com muita
tranquilidade. Não tenho pressa, não tenho data, e vou fazer os ajustes quando
achar necessário fazer ajustes", respondeu o presidente ao ser questionado
durante a mesma entrevista a rádios mineiras. Seu modus operandi em outras
reformas foi o mesmo: adiar o máximo possível a decisão, sinalizar tanto para
sua base quanto para o Centrão que a decisão final é sua, e que não cederá a
pressões.
As
primeiras mudanças devem ocorrer na chamada "cozinha" do Planalto, ou
seja, os ministérios diretamente ligados à Presidência da República. Aliados de
Lula dão como certa a entrada da presidente nacional do PT, deputada Gleisi
Hoffmann (PT-PR), para a Secretaria-Geral da Presidência, pasta responsável
pelo diálogo com movimentos sociais. Se confirmada a troca, Gleisi assumirá o
cargo ocupado por Márcio Macêdo, que pode ir para uma estatal. Ao iniciar o
terceiro mandato, Lula optou por manter apenas petistas no Planalto, mas sofre
pressão agora para incluir um nome do Centrão na coordenação política. Ou seja,
há dúvidas sobre a permanência do ministro da Secretaria de Relações
Institucionais (SRI), Alexandre Padilha.
Integrantes
do Centrão defendem o nome do líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões (MDB-AL),
que tem também o apoio do presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB). Se
não um ministério, cobram ao menos que Bulhões assuma a liderança do governo na
Câmara, atualmente exercida por José Guimarães (PT-CE). É importante lembrar
que PSD, MDB, PP e União Brasil foram os grandes vencedores das eleições
municipais, assumindo mais da metade das prefeituras, e agora cobram maior
participação no Executivo em troca de uma possível aliança em 2026. Lula,
porém, quer manter Padilha na Esplanada, já que o titular tem sua confiança.
<><> Saúde
Padilha
é cotado para assumir o Ministério da Saúde, caso Lula decida tirar a atual
ministra, Nísia Trindade. A pasta tem o maior orçamento da Esplanada, e é a
mais cobiçada pelo Centrão. O presidente, porém, não pretende ceder esse
ministério e prefere colocar alguém de sua confiança no lugar. Lula tem Nísia
em alta conta, e se recusou a tirá-la do cargo em outras ocasiões, mas na
discussão atual ainda não demonstrou apoio público à permanência.
Duas
figuras que podem entrar no governo são os ex-presidentes da Câmara, Arthur
Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O deputado já foi cotado
para assumir as pastas da Agricultura e das Relações Institucionais. Porém,
esbarra no elogiado Carlos Fávaro, titular da Agricultura e na resistência de
aliados do presidente Lula em ter Lira como articulador político — ele
coleciona embates e tensões com integrantes do governo federal. Pacheco, por
sua vez, de tom mais conciliador e aliado de Lula, foi incensado pelo
presidente ao deixar o comando do Senado. O presidente deixou claro que o quer
como cabo eleitoral em Minas Gerais, em 2026, precificando sua entrada na
Esplanada. Ele é cotado para assumir o Ministério da Justiça, de Ricardo
Lewandowski, ou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços
(Mdic), ocupado atualmente pelo vice-presidente Geraldo Alckmin.
Outra
troca considerada provável nos bastidores é a demissão da ministra das
Mulheres, Cida Gonçalves, para dar espaço para a titular de Ciência e
Tecnologia, Luciana Santos. O movimento cria mais um espaço que pode ser dado
ao Centrão. O que se sabe sobre a reforma até o momento é comentado entre
auxiliares do presidente Lula e parlamentares. Na prática, porém, a decisão é
exclusiva do presidente, que prometeu discutir as mudanças durante o mês de fevereiro.
A
expectativa é que os anúncios ocorram, no mais tardar, até março. Há muitos nós
a serem desatados. Por exemplo, ministros que queiram concorrer nas eleições de
2026 precisam deixar os cargos até março do próximo ano. Ou seja, ficarão menos
de um ano à frente dos ministérios. Isso é um problema no caso de Padilha ir
para a Saúde, por exemplo, que deve tentar se reeleger como deputado. Um ano é
pouco tempo para fazer boas entregas em uma pasta grande como aquela. O mesmo
dilema ocorre com Pacheco, se for colocado na Justiça e decidir concorrer ao
governo de Minas Gerais.
Com
o novo comando do Congresso Nacional definido, após a eleição de Hugo Motta
(Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP), corre o relógio para que Lula
defina a nova cara de seu governo. Afinal, pautas estratégicas começarão a ser
votadas em breve no parlamento, e Lula precisa justamente do apoio do Centrão
para garantir votos.
¨ Caso das quentinhas acirra disputa na Esplanada e
pressiona o ministro Wellington Dias
A divulgação do escândalo da “ONG das Quentinhas” caiu
como uma luva no desejo dos partidos de centro, de pressionar o governo para
que substitua o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias (PT), e
abra mais espaço para os centristas na seara dos projetos sociais
governamentais. Não é de hoje que os partidos mais conservadores que apoiam o
governo pedem, sem sucesso, espaço nas áreas sociais — saúde, educação,
assistência social — e também na articulação política palaciana. Na
quarta-feira, o Jornal O Globo trouxe à luz a história de uma ONG ligada a
petistas que tem um contrato de R$ 5,6 milhões para entrega de quentinhas e não
presta devidamente o serviço à população. O ministério já suspendeu o contrato,
mas a confusão está armada.
Na oposição, a ideia é buscar
uma CPI que possa investigar os contratos do governo com ONGs, numa nova
apuração sobre as organizações não governamentais. Desta vez, com o foco
naquelas que prestam serviços sob o guarda-chuva do Ministério do
Desenvolvimento Social, pasta ocupada pelo PT. É mais um ponto de desgaste,
neste momento em que o Poder Executivo se vê pressionado pela troca na
articulação no Planalto, pelo aumento dos preços nos supermercados e com uma
popularidade que, para os padrões de governos Lula, deixa a desejar.
<><> Dino em voo solo
O escândalo envolvendo
recursos repassados à ONG ligada a petistas já fez circular entre os deputados
do centro a certeza de que o ministro do Supremo Tribunal Federal Flávio Dino
trabalha de forma independente do governo. Embora não haja qualquer resquício
de que o caso da “ONG das Quentinhas” tenha saído das investigações da PF
solicitadas por Dino, os políticos já fizeram essa leitura nos bastidores.
¨ Planalto e Fazenda desautorizam Wellington Dias sobre
Bolsa Família
Às
vésperas de uma reforma ministerial e em meio às investigações sobre fraudes
relacionadas à sua pasta, o ministro do Desenvolvimento Social Wellington Dias
falou demais e deixou escapar que o governo estuda medidas que iriam aumentar
ainda mais o gasto público. A fala irritou o Planalto e fez a Casa Civil entrar
em cena para negar.
Em
entrevista à agência de notícias Deutsche Welle, publicada na tarde de ontem,
Dias afirmou que o governo estuda aumentar o valor do Bolsa Família — o que foi
mal recebido pelo mercado. "Como nós trabalhamos com a perspectiva de um
ano inteiro, vamos ter que reunir todo mundo da Caisan (Câmara Interministerial
de Segurança Alimentar e Nutricional) para tomar uma decisão dialogando com o
presidente, porque isso repercute. Será um ajuste? Será um complemento na
alimentação?", comentou Dias. Questionado se o reajuste é uma opção, ele
respondeu: "Está na mesa. A decisão vai ser tomada até o final de
março". A fala pegou o governo de surpresa.
Em
resposta, o Planalto divulgou uma nota, horas depois, negando a possibilidade
de aumento. "A Casa Civil da Presidência da República informa que não
existe estudo no governo sobre o aumento do valor do benefício do Bolsa
Família. Esse tema não está na pauta do governo e não será discutido",
informou o texto, enviado à imprensa pela Casa Civil e pela Fazenda.
A
declaração do ministro contribuiu para o fechamento do dólar em R$ 5,793, com
alta de 0,52%, e queda de 1,27% do Ibovespa, índice da Bolsa de São Paulo.
Houve pressão também pelo cenário externo, com temores sobre a guerra de
tarifas promovida pelo governo Trump, dos Estados Unidos.
Um
aumento no Bolsa Família necessitaria de mudanças no Orçamento de 2025 para ser
implementado, e representaria mais gastos para o governo, na contramão do
ajuste fiscal cobrado por operadores do mercado. O Projeto de Lei Orçamentária
(PLOA) deste ano, em tramitação no Congresso, prevê o total de R$ 167,2 bilhões
para o Bolsa Família. A elevação do valor do benefício significa mais pressão
inflacionária.
<><>
Ruído
As
declarações do ministro Dias irritaram o Planalto porque ocorreu num momento em
que o governo busca alinhar o discurso e reverter o baque causado pela inflação
em sua popularidade. Ao longo da semana, alguns de seus ministros, além do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vêm minimizando os impactos da alta de
preços e dizendo que a inflação está sob controle. Também faz parte da
estratégia, o anuncio de boas notícias para a população.
Ontem,
por exemplo, Lula sinalizou que, semana que vem, vai anunciar medidas que
ampliam o acesso a crédito para a população. Seus auxiliares, por outro lado,
comentaram sobre o cenário econômico e atribuíram a alta dos preços ao dólar e
aos impactos do clima na safra anterior. Fizeram ainda comparações com a gestão
de Jair Bolsonaro.
"A
minha tese é a seguinte: muito dinheiro na mão de poucos, significa miséria de
muitos. Agora, pouco dinheiro na mão de todos significa melhorar a vida de todo
o povo brasileiro", declarou Lula ao prometer mais medidas de crédito.
"Vamos
fazer muitas políticas de crédito neste país porque, na hora em que o dinheiro
começa a circular na mão das pessoas, ninguém aqui vai comprar dólar, ninguém
vai depositar no exterior. Vocês vão comprar comida, roupa, material escolar. E
vocês vão melhorar a vida de vocês", acrescentou.
O
governo tenta correr atrás do prejuízo causado pela alta inflação. Na semana
passada, pesquisa Genial/Quaest mostrou que a avaliação negativa do petista
superou pela primeira vez a positiva: 37% contra 31%. O entendimento no governo
é que, apesar de haver resultados econômicos positivos, as melhorias não estão
sendo percebidas na vida dos cidadãos, ofuscadas pelo aumento do custo de vida.
O
ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também atua para minimizar a percepção
negativa. Em entrevista ontem à Rádio Cidade, de Caruaru (PE) o titular
argumentou que não dá para "corrigir sete anos de má administração em
dois", citando que os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro mantiveram
o salário mínimo sem aumento real, e que Lula reverteu essa política em seu
novo mandato. Sobre o preço dos alimentos, Haddad atribuiu parcialmente ao alto
patamar que o dólar atingiu no final do ano passado e disse esperar uma redução
nas próximas semanas.
"Se
o produtor aqui está recebendo mais em reais em virtude do dólar ter se
apreciado, isso acaba tendo impacto nos preços internos. Então, a política que
estamos adotando para trazer esse dólar para um patamar mais adequado também
vai ter reflexos nos preços nas próximas semanas", comentou Haddad.
Haddad
aproveitou ainda para reiterar críticas ao patamar dos juros, que subiram para
13,25% na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco
Central - primeira sob a gestão de Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente
Lula. Apesar de reconhecer que é necessário elevar os juros em momentos de alta
na inflação, ele avalia que o rumo atual, com perspectiva de aumento para
14,25% na próxima reunião, está exagerado. "É como antibiótico, não pode
tomar nem menos e nem mais. Política monetária tem que ter sabedoria, não pode
jogar o país em uma recessão", acrescentou.
Também
saiu em defesa de Lula o ministro da Casa Civil, Rui Costa, em entrevista à
Rádio Metrópole, da Bahia. "O que eles esquecem de dizer são duas coisas:
primeiro, se você comparar a inflação de alimentos dos dois anos do governo
Lula, ela é infinitamente menor do que nos quatro anos do governo Bolsonaro. Ou
seja, se comparar, não fica de pé esse argumento, porque os preços em 2023
caíram", respondeu o titular ao ser questionado sobre a alta nos preços.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a
inflação acumulada de alimentos entre 2019 e 2022 foi de 46,24%. O período foi
marcado por uma inflação generalizada pelos efeitos da pandemia da covid-19 e
da guerra entre Rússia e Ucrânia. Já nos dois primeiros anos do governo Lula, a
inflação acumulada dos alimentos foi de 8,8%.
¨ Anistia a 8/1 volta com força total
Estão cada vez mais
evidentes os movimentos para minimizar os atos de 8 de janeiro, uma das páginas
mais infames da política nacional desde a redemocratização. E o presidente da
Câmara, Hugo Motta, mostrou-se sensibilizado com a ideia de que houve uma ação
de vândalos, desqualificando a trama golpista por trás da destruição dos
Poderes símbolos da República.
Está claro que o apoio da
bancada bolsonarista à presidência de Hugo Motta ficou condicionado a uma
releitura do que aconteceu na sede dos Três Poderes. Nota-se uma tentativa de
classificar os ataques antidemocráticos a um excesso coletivo, um “crime de multidão”,
decorrente da indignação de patriotas com o resultado da eleição de 2022.
Ora, dizer que ninguém
esperava o que aconteceu no início de 2023 é ir contra os fatos. O acampamento
de defensores de uma intervenção militar estava montado havia meses no Quartel-General
do Exército. Semanas antes do 8 de Janeiro, o país já havia assistido a um
homem ser preso porque queria explodir uma bomba no Aeroporto Internacional de
Brasília. Relatórios das forças de segurança indicavam a probabilidade de
manifestações na capital federal.
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Trama no Planalto
Ainda sobre o 8/1, houve a
conspiração urdida na alta cúpula do governo Bolsonaro para impedir a posse da
gestão Lula. Apenas para ficarmos em três nomes, lembremos que os ex-ministros
Braga Netto e Anderson Torres, além do ajudante de ordem Mauro Cid, estiveram
ou estão presos por indícios de envolvimento no plano golpista.
<><> A certeza da oposição
As redes sociais dos
oposicionistas foram inundadas com a fala do presidente da Câmara, Hugo Motta,
à rádio Arapuan FM, da Paraíba, sobre o quebra-quebra de 8 de janeiro de 2023.
A forma como o presidente da Câmara se posicionou, criticando penas exageradas,
foi vista como um indicativo de que, se o tema for a votos na Câmara, a
tendência hoje é de aprovação da anistia.
<><> Equilibra aí
Os petistas já sabiam que
Hugo Motta não seria um aliado 24 horas, mas, ainda assim, não imaginavam que
ele, logo na primeira semana, entraria no debate da anistia, com tendência de
simpatia à proposta. Para muitos, foi um sinal de que, ao contrário do que o
governo espera, não será um ano tranquilo na Câmara. A esperança agora é que
Motta, ainda que seja mais oposicionista nesse tema, ajude nas medidas
econômicas.
<><> Tem que dosar
A tendência de aprovação,
porém, não é para uma anistia ampla, nos moldes do que o ex-presidente Jair
Bolsonaro e seus aliados mais fiéis desejam. A inclinação dos partidos de
centro será no sentido de anistiar quem não participou diretamente dos atos de
vandalismo.
¨ Lavanderia de fichas-sujas. Por Severino Francisco
O projeto da Ficha Limpa,
uma das mais importantes conquistas da sociedade civil, corre sério risco de
ser desfigurado. Excelências fazem uma articulação para reverter e abrandar as
punições e favorecer parlamentares ou candidatos com currículos que se
confundem com folhas corridas. Consideram que 8 anos de inelegibilidade para
quem distribuiu notícias falsas sobre as eleições, tem ligações com as
milícias, tentou um golpe de Estado ou desviou dinheiro público é muito tempo.
Pretendem reduzir o prazo de punição para dois anos.
A lógica é a seguinte: se as
excelências cometem delitos, a culpa não é delas, mas da lei que as flagrou em
deslize ético. Então, é só mudar a lei que o problema se resolve. Esse parece
ser o espírito que anima a nova tentativa de parlamentares no sentido de
autoblindar-se das infrações cometidas e das que porventura cometerão do
futuro.
Não existe nenhuma
justificativa razoável para a estratégia disparatada. Pelo contrário: há fortes
razões para endurecer a lei ante a investida do crime organizado no território
da política partidária. Existem sinais desse perigo para a vida pública. É uma
proposta que vai na contramão da postura do Tribunal Superior Eleitoral que
indicou a tendência de ser mais rigoroso nas eleições de 2026 precisamente pela
ameaça de infiltração das orcrims nos parlamentos .
A Lei da Ficha Limpa
estabelece a inelegibilidade depois da sentença promulgada em segunda
instância. No entanto, ela não exclui a possibilidade de a Justiça Eleitoral
barrar o candidato se constatar indícios de fatos ilícitos que são
incompatíveis com a moralidade pública. E foi o que aconteceu em Belfort Roxo,
informa matéria do site da CNB, onde o TSE indeferiu a candidatura de um
postulante ao cargo de vereador.
Antonio Carlos Ferreira, ministro
relator do caso, afirmou que o candidato “ostenta contra si diversos elementos
denotativos de sua participação em milícia armada, na prática de extorsões e no
porte ilegal de armas”. Se o TSE e outras instituições não zelarem pela
decência dos parlamentos, o receio é de que, em breve, teremos bancadas do
crime agindo descaradamente.
Afrouxar as punições da Lei
da Ficha Limpa só beneficiará os que se apropriam do voto popular democrático
para fins escusos. É algo que fere o decoro parlamentar e estimula o crime. As
excelências já são blindadas pela imunidade parlamentar para o exercício de
suas atividades. Os políticos pretendem ser semideuses inimputáveis. Mas o fato
de ser votado por milhões de eleitores não confere a nenhum parlamentar o
direito de pairar acima das leis e incidir em crimes. A soberania do voto é um
requisito essencial, mas não absoluto.
Essa pretensão de flanar
acima da lei é abuso de poder e precisa ser repelida com veemência, pois é
imoral e antirrepublicana. Não foi para isso que suas excelências receberam um
mandato popular. O Brasil quer respeito à democracia, decência, transparência,
dignidade, justiça, trabalho, educação, ciência, saúde, cultura e compromisso
do parlamento com o país.
Só cuidam dos interesses
pessoais, transgridem a lei e ainda desejam ser condecorados. Almejam um
processo sem investigação e sem punição. Usurpam o mandato popular para criar
leis no sentido de descriminalizar o crime e lavar a ficha-suja.
Fonte: Correio
Braziliense
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