Mais de 55 milhões
de pessoas em todo o mundo vivem com demência. Qual o papel do cuidador?
A demência, um
conjunto de sintomas que afetam funções cognitivas como memória, linguagem,
raciocínio e comportamento, afeta mais de 55 milhões de pessoas no mundo. Não é
uma doença única, mas sim um termo abrangente que inclui condições como a
Doença de Alzheimer, demência vascular, entre outras. Neste contexto, qual é o
papel do cuidador? Responde, Camila Nóbrega, Médica Neurologista CNS - Campus
Neurológico.
Estas doenças têm
impacto na forma como as pessoas se relacionam com o mundo, na sua capacidade
de autodeterminação e autonomia, pelo que o papel dos cuidadores é
absolutamente essencial para a manutenção da qualidade de vida das pessoas
afetadas. São também doenças progressivas, em que as necessidades dos doentes
mudam com o tempo, determinando dependência a diferentes níveis e exigindo
adaptação constante por parte dos cuidadores.
Os cuidadores, que
podem ser familiares, amigos ou profissionais, enfrentam uma série de questões
práticas e emocionais ao desempenharem essa função, que podem ser minoradas se
estiverem bem informados sobre o que é expectável na doença, as suas diferentes
fases, quais os sinais de alarme para situações de risco, e sobre as diversas
estratégias e recursos existentes para lidar com os sintomas e necessidades de
apoio crescentes.
Ao longo do
processo de doença, além das tarefas práticas, os cuidadores desempenham um
papel crucial na promoção do bem-estar emocional das pessoas com demência. Um
cuidador informado e atento deve promover a participação em atividades físicas
e ocupacionais, prevenir o isolamento, proporcionar conforto e segurança,
ajudando o doente a sentir-se valorizado e respeitado, mesmo diante das
limitações causadas pela doença.
Contudo, tudo isto
lhes é exigido, em simultâneo com todo o sofrimento emocional que, assistir à
degradação do estado de saúde de um ente querido, desencadeia. Para além disso,
o cuidador pode ter de lidar com períodos de agitação, insónia e até mesmo
agressividade; pode estar fisicamente exausto por ter de ajudar a mover,
vestir, trocar a fralda, alimentar; pode não ter qualquer sinal de
reconhecimento do seu esforço.
Naturalmente,
sentimentos de culpa, frustração e tristeza são comuns entre os cuidadores, que
muitas vezes têm dificuldade em lidar com suas próprias emoções enquanto
priorizam o bem-estar do outro. Acresce o isolamento social determinado pela
dificuldade em manter interações sociais, e a solidão causada pela falta de
compreensão de outras pessoas sobre a complexidade de cuidar de alguém com
demência.
Dado o impacto
multifacetado do ato de cuidar de pessoas com demência, é essencial que os
cuidadores recebam apoio adequado, seja na forma de atividades educativas,
apoio psicológico ou partilha de cuidados com outros familiares ou
profissionais.
Os cuidadores devem
garantir a sua própria saúde física e mental. Isso inclui garantir que tenham
tempo para descanso e lazer, sem se sentirem culpados por também terem tempo
para cuidar deles próprios. O cuidar de si não é egoísmo, é uma necessidade,
para que o cuidador seja capaz de providenciar o melhor cuidado possível ao seu
familiar.
Ser cuidador de uma
pessoa com demência é uma experiência desafiadora, mas também profundamente
gratificante. Apesar das dificuldades, muitos cuidadores sentem-se realizados
por saber que estão a proporcionar conforto e dignidade ao seu familiar. É
neste grupo que queremos incluir os cuidadores que nos procuram. Para tal,
oferecemos diferentes modalidades para responder às necessidades que são
distintas entre cuidadores: a consulta do cuidador (individual), o curso para
cuidadores formais e informais com carácter mais educativo e, mais
recentemente, um grupo de cuidadores com componente de educação, mas também de
partilha e apoio.
¨ Consumo excessivo de carne vermelha está associado a um
risco acrescido de demência e declínio cognitivo
O consumo de
grandes quantidades de carne vermelha pode estar associado a um risco acrescido
de demência e declínio cognitivo, segundo um novo estudo.
A investigação já
associou o consumo de carne vermelha a um risco acrescido de doenças como as
doenças cardiovasculares e a diabetes tipo 2.
Para o novo estudo,
cientistas do Mass General Brigham, da Universidade de Harvard e do Instituto
de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA, analisaram dados de milhares de
pacientes entre 1980 e 2018.
Descobriram que o
envelhecimento cognitivo era acelerado em cerca de 1,6 anos por dose média de
carne vermelha transformada, sendo uma dose de cerca de 85 g.
A substituição de
uma porção de carne processada por frutos secos e legumes também foi associada
a um risco 19% menor de demência e a um risco 21% menor de declínio cognitivo
auto-relatado, estimaram os investigadores.
As conclusões foram
publicadas na revista Neurology.
"As
orientações dietéticas tendem a centrar-se na redução dos riscos de doenças
crónicas como as doenças cardíacas e a diabetes, enquanto a saúde cognitiva é
menos frequentemente discutida, apesar de estar associada a estas
doenças", afirmou Daniel Wang, professor assistente de nutrição em Harvard
e autor correspondente do estudo, num comunicado.
"Esperamos que
os nossos resultados encorajem uma maior consideração da ligação entre a dieta
e a saúde do cérebro", acrescentou.
Embora a
metodologia do estudo seja bastante forte, continua a ser observacional.
"Nunca é
possível ter certezas sobre o que está a causar o quê a partir de estudos
observacionais isolados, por muito grandes e bem conduzidos que sejam",
disse à Euronews Health Kevin McConway, professor emérito de estatística
aplicada na The Open University, no Reino Unido, que não participou no estudo.
<><> Reduzir
o consumo de carne vermelha
O novo estudo
comparou as taxas de demência num grupo de pessoas que comiam carne vermelha
processada com outras que eram semelhantes ao primeiro grupo, mas que comiam
menos uma dose por dia de carne vermelha processada e mais uma dose de outras
fontes de proteínas, explicou McConway.
"Estas
estimativas não nos dizem diretamente o que aconteceria a um grupo de pessoas
que alterasse a sua dieta para comer menos carne vermelha transformada e mais
aves ou frutos secos. O efeito dessa mudança poderia ser semelhante ao das
estimativas do estudo, mas poderia ser diferente", acrescentou.
Um resumo da
organização sem fins lucrativos EAT, que reúne provas científicas para fornecer
diretrizes alimentares, e a revista Lancet aconselha as
pessoas a não consumir mais de 98 g de carne vermelha (porco, vaca ou
borrego) por semana, por razões ecológicas e de saúde.
"As
recomendações alimentares existentes sobre a carne vermelha já sugerem,
normalmente, a redução do seu consumo e a sua substituição por outros
alimentos, embora as razões apresentadas para essa recomendação envolvam outras
associações entre o consumo de carne vermelha e resultados adversos para a
saúde", afirmou McConway, referindo-se às ligações entre o consumo de
carne vermelha e o risco de cancro do intestino e/ou de doenças
cardiovasculares.
Tanto os autores do
estudo como McConway sublinharam que é necessária mais investigação.
"Continuamos a
juntar as peças desta história para compreender os mecanismos que causam a
demência e o declínio cognitivo", afirmou Wang.
¨ Cientistas italianos descobrem mutação genética rara
que pode estar na origem da doença de Alzheimer
Uma família
italiana duramente afetada pela doença de Alzheimer oferece pistas sobre uma
potencial causa genética da doença neurodegenerativa, segundo um novo estudo.
Numa família de 15
pessoas do norte de Itália, seis desenvolveram a doença de Alzheimer de início
tardio - e quando os investigadores fizeram testes genéticos, todos os seis tinham
uma mutação rara num gene codificador de proteínas conhecido como GRIN2C, que
está envolvido na aprendizagem e na formação da memória.
Nenhuma das nove
pessoas saudáveis tinha a mutação.
O estudo, publicado
na revistaAlzheimer's
Research & Therapy, é o primeiro a identificar a mutação GRIN2C como um
provável fator de desenvolvimento da doença de Alzheimer.
"É uma prova
genética muito forte, porque se trata de uma família", disse à Euronews
Health Peter Giese, professor de neurobiologia da saúde mental no King's
College de Londres, que não esteve envolvido no estudo.
A doença de
Alzheimer é a forma mais comum de demência, afetando cerca de 7 milhões de
pessoas na Europa. Ocorre quando as células nervosas do cérebro morrem,
causando problemas de memória, pensamento e comportamento, e tende a agravar-se
com o tempo.
<><>
São necessários mais testes
Os investigadores
acreditam que a doença de Alzheimer é causada por uma combinação de
vários fatores genéticos,de estilo de vida e ambientais.
As mutações de outros genes podem aumentar o risco de contrair a doença de
Alzheimer, mas não a causam necessariamente.
Apenas algumas
mutações genéticas raras são conhecidas como causadoras da doença de Alzheimer
- e a mutação GRIN2C pode ser uma delas, disse Giese.
No estudo italiano,
os investigadores excluíram 77 outras mutações genéticas associadas a doenças
neurodegenerativas.
"O problema
geral da doença de Alzheimer é que temos uma compreensão muito limitada do que
está a acontecer exatamente", disse Giese. "Estes casos genéticos são
muito úteis para ter uma ideia mais clara do que pode ter corrido mal".
O próximo passo
deverá ser testar a mutação genética em animais ou em estudos de laboratório,
acrescentou, para determinar como afeta exatamente o cérebro e se os
medicamentos existentes podem contrariar o impacto.
O estudo, disse,
"dá-nos uma ideia melhor do tipo de tratamento que podemos ter de conceber
para combater a doença".
¨ Alzheimer: gás anestésico pode ajudar no combate à
doença, descobrem cientistas
Cientistas
descobriram que um gás anestésico já conhecido, Xenon, pode ajudar no combate
ao Alzheimer e isso traz nova esperança para pacientes e familiares.
Segundo os
pesquisadores das universidades Mass General Brigham e Washington University
School of Medicine em St. Louis, Estados Unidos, em testes, o produto reduziu a
atrofia cerebral e melhorou a cognição do cérebro.
“É emocionante que
em ambos os modelos animais [camundongos] com diferentes aspectos da doença de
Alzheimer, patologia amilóide em um modelo e patologia tau em outro modelo, o
Xenon teve efeitos protetores em ambas situações”, disse o autor sênior da
Universidade de Washington, David M. Holtzman.
<><> Resultados
animadores
Na medicina, o
produto já é utilizado como anestésico e neuroprotetor em casos de lesões
cerebrais. Mas o estudo, publicado na Science Translational
Medicina, mostrou que ele pode fazer mais.
Testado em
camundongos, o Xenon reduziu a inflamação no cérebro, minimizou a atrofia e
melhorou o comportamento dos bichinhos. Além disso, o gás também aumentou a
capacidade da microglia de remover as placas amiloides.
“Uma das principais
limitações no campo da pesquisa e tratamento da doença de Alzheimer é que é
extremamente difícil projetar medicamentos que possam passar pela barreira
hematoencefálica — mas o gás xenônio consegue. Estamos ansiosos para ver essa
nova abordagem testada em humanos”, disse Oleg Butovsky, membro fundador do
sistema de saúde Mass General Brigham.
<><> Como
age
Cientistas já sabe
que a doença de Alzheimer é causada pelo acúmulo de proteínas no cérebro, que
afetam a comunicação entre os neurônios.
Segundo o grupo, a
chave para combater a enfermidade pode estar no sistema imunológico do próprio
cérebro.
E o gás Xenon
consegue regular as células microgliais, que atuam como “faxineiras”. Em bom
funcionamento, elas agem para eliminar as placas de proteínas prejudiciais.
Teste em humanos
O próximo passo é
testar o tratamento em humanos.
O ensaio clínico já
está marcado para ocorrer no Brigham and Women ‘s Hospital.
Se os resultados
forem positivos, o Xenon vai ser testado em pacientes com Alzheimer e outras
doenças neurológicas.
“Se o ensaio
clínico for bem, as oportunidades para o uso do gás Xenon são grandes. Isso
pode abrir as portas para novos tratamentos para ajudar pacientes
neurológicos”, finalizou Howard
Weiner, codiretor do Ann Romney Center for Neurologic Diseases.
Fonte:
SapoLifestyle/Euronews/Só Notícia Boa
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