quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

3 em cada 10 brasileiros sofrem com Burnout: negligência com saúde mental pode impactar até gerações futuras

Três em cada dez trabalhadores brasileiros enfrentam transtornos mentais severos, como depressão e ansiedade, de acordo com dados da plataforma de terapia online Vittude. A cultura de produtividade excessiva e a negligência com a saúde mental no Brasil agravam a Síndrome de Burnout, resultando em esgotamento, queda de rendimento, alta rotatividade e custos crescentes para empresas e sociedade. 

 “Se não tratarmos essa questão com urgência, o impacto não se limitará à geração atual, mas comprometerá também a vida familiar e o autocuidado das futuras gerações”, alerta Henrique Bueno, especialista em felicidade e professor-adjunto do primeiro mestrado do mundo sobre o assunto.

Bueno explica que o Brasil vive um paradoxo: enquanto a produtividade é exaltada como virtude, seus efeitos colaterais são amplamente negligenciados. “A pressão constante e metas irreais transformam o ambiente de trabalho em um gatilho para doenças mentais, prejudicando indivíduos e organizações”, pontua.

Ele defende que a redução da jornada de trabalho pode ser uma das soluções mais efetivas para mitigar esses problemas, mas não é a única. “Também cabe a cada pessoa buscar um propósito que dê sentido às suas atividades diárias. Quando alinhamos nossas escolhas ao que realmente importa, conseguimos equilibrar trabalho e vida pessoal de maneira mais saudável e satisfatória”, conclui Bueno.

<><> Equilíbrio entre trabalho e vida pessoal na prática: como começar?

Para alcançar um equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional, recomenda-se a adoção de medidas simples e eficazes no dia a dia. Confira algumas:

· Um estudo conduzido pelo King’s College London em 2024 revelou que pausas de 15 minutos durante o expediente podem reduzir o estresse em até 24,7% e aumentar a produtividade em 33,2%.

· Estabelecer limites claros entre as obrigações profissionais e os momentos pessoais é fundamental para preservar a saúde mental. Segundo a American Psychological Association em estudo publicado em 2023, profissionais que mantêm horários de trabalho bem definidos tendem a ser mais produtivos e a sofrer menos com o estresse.

· Práticas de autocuidado, como meditação e atividade física, são indispensáveis para promover o equilíbrio e o bem-estar integral. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a prática regular de atividade física para melhorar a saúde mental e reduzir sintomas de depressão e ansiedade. A meditação também tem sido amplamente estudada por seus benefícios na redução do estresse e promoção do bem-estar.

“Empresas que valorizam o bem-estar de seus colaboradores não apenas reduzem custos, mas também criam ambientes mais saudáveis e produtivos. Esse é um caminho sem volta para um futuro mais sustentável”, conclui Bueno.

¨      Como identificar os sinais e saber a hora de buscar ajuda profissional

O início de um novo ano costuma ser um convite à reflexão sobre objetivos, desafios e escolhas para os próximos meses, incluindo a trajetória profissional. Em um mercado de trabalho que frequentemente exige alta performance, o esgotamento físico e emocional pode ser um sinal de alerta de que algo não está indo bem.

A Síndrome de Burnout, caracterizada por exaustão extrema, estresse crônico e esgotamento físico relacionados ao trabalho, é um fenômeno em ascensão. O Brasil ocupa o segundo lugar em índices globais de burnout, atrás apenas do Japão, segundo a International Stress Management Association (ISMA-BR). Dados da organização revelam, ainda, que 72% dos brasileiros enfrentam estresse no ambiente profissional.

No Brasil, a partir desse ano, o transtorno passa a ser oficialmente reconhecido como uma doença ocupacional pela Classificação Internacional de Doenças, com o CID-11. Antes da nova classificação, a síndrome era tratada de forma genérica, o que dificultava diagnósticos e tratamentos precisos.

“É preciso se atentar aos sinais. Os principais são cansaço excessivo, baixo desempenho, alteração do apetite, insônia e isolamento social, assim como sinais físicos como dores musculares e pressão alta”, afirma Renata Correia da Fonseca, psicóloga da UBS Jardim Aracati, gerenciada pelo CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo.

A profissional explica que sobrecarga de tarefas, um ambiente extremamente competitivo, a falta de suporte emocional, assim como desequilíbrio entre a vida pessoal e profissional, são apenas alguns dos fatores que podem desencadear a doença.

O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), do Ministério da Previdência Social, divulgou que, em 2023, 421 pessoas foram afastadas do trabalho por burnout, o maior número dos últimos dez anos no país.

“É importante saber diferenciar o transtorno de outros com sintomas parecidos, como ansiedade e depressão. O burnout está relacionado à sobrecarga no trabalho e desequilíbrio entre a vida profissional e pessoal, já a ansiedade e a depressão podem ter diferentes motivações e são tratadas com terapia, exercício físico e cuidados medicamentosos. O burnout, no entanto, além dessas estratégias de cuidado exige a mudança do ambiente de trabalho e equilíbrio”, aponta Renata.

Se a incerteza desse início de ano é sobre a necessidade de uma mudança de emprego, a especialista sugere que existem indícios que podem esclarecer essa questão. “A gente sabe que chegou a hora de buscar novas oportunidades quando estamos desmotivados com as tarefas atuais, estagnados na carreira, estressados e com um sentimento persistente de frustração”.

<><> Terapia como melhor amiga

O papel do psicólogo para enfrentar o burnout é de suma importância, pois o profissional pode ajudar na identificação da síndrome, orientar a desenvolver formas de enfrentamento e auxiliar em como lidar com os sentimentos.

No país, é possível ter acesso à terapia a partir do Sistema Único de Saúde (SUS) de forma gratuita. O CEJAM, que administra algumas unidades em parceria com o poder público, possui uma linha de cuidado dedicada exclusivamente à saúde mental. Essa iniciativa tem um impacto significativo no atendimento oferecido nos três níveis de assistência à saúde.

A partir desse olhar, a equipe de atenção primária possui a expertise necessária para avaliar cada caso individualmente e determinar o ponto mais adequado da rede de saúde para acompanhar o paciente, levando em consideração suas necessidades específicas.

“Em casos de burnout, se alguém precisa de ajuda, deve procurar a equipe da unidade básica de saúde mais próxima. Entre os profissionais disponíveis estão psicólogos que podem avaliar o caso e determinar se o paciente pode ser acompanhado pela equipe da UBS ou se necessita de apoio especializado em saúde mental”, complementa Laina Ramos, uma das gerentes responsáveis pela linha.

Caso seja necessário tratamento mais especializado, o paciente pode ser encaminhado para o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS Adulto, para indivíduos maiores de 18 anos). Em situações de crises extremas, o atendimento segue pela Rede de Urgência e Emergência, com as Unidades de Pronto Atendimento (UPAS) ou Pronto Socorros de Psiquiatria.

Crises agudas são caracterizadas por sintomas intensos, alto grau de sofrimento e potencial risco à vida do indivíduo. Pensamentos persistentes de morte com planejamento, crises de ansiedade com alterações cardíacas e respiratórias significativas, ou prostração severa com alterações importantes na alimentação, sono e higiene são alguns exemplos dessas situações.

<><> Outros aliados tão importantes quanto o auxílio psicológico 

Além da terapia, outras estratégias podem auxiliar no bem-estar de pessoas com burnout. A prática de atividades físicas para a liberação de endorfinas, a escrita sobre sentimentos para ressignificar e compreender melhor os eventos vividos, a higiene do sono para reduzir o estresse e melhorar a cognição, assim como uma rede de apoio e a realização de atividades prazerosas, são medidas eficazes.

¨      Os impactos da saúde mental na produtividade

tendem a ser mais engajados, criativos e produtivos. Por outro lado, a negligência desse aspecto pode resultar em custos elevados devido a afastamentos, erros e baixa eficiência.

<><> A relação entre saúde mental e produtividade

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que os transtornos de ansiedade e depressão causam uma perda de produtividade equivalente a 1 trilhão de dólares por ano no mundo. No Brasil, segundo o INSS, cerca de 30% das licenças médicas estão relacionadas a transtornos mentais.

Ainda segundo a OMS, 86% dos brasileiros apresentam algum transtorno mental, com a ansiedade sendo um dos principais fatores de afastamento do trabalho. Os dados são alarmantes: 76% dos trabalhadores conhecem alguém que precisou se afastar por problemas psicológicos, e 61% não se sentem satisfeitos em seus empregos. Essa insatisfação pode ser atribuída à falta de suporte emocional na esfera pessoal, e à ausência de políticas eficazes de saúde mental nas empresas.

<><> Trabalhadores sobrecarregados emocionalmente apresentam:

• Queda de produtividade: Dificuldade em se concentrar nas tarefas e cumprir prazos.

• Aumento de erros: A exaustão mental pode afetar a concentração e o desempenho técnico e operacional.

• Maior rotatividade: Trabalhadores que enfrentam um ambiente estressante tendem a buscar outras oportunidades.

• Ausências frequentes: Doenças relacionadas ao estresse e à saúde mental geram altos índices de absenteísmo.

<><> Dados que reforçam a relevância do tema:

• 73% dos trabalhadores brasileiros afirmam que a saúde mental afeta diretamente seu desempenho no trabalho (Fonte: International Stress Management Association no Brasil – ISMA-BR).

• 91% das indústrias reconhecem que a saúde mental é um tema estratégico, mas apenas 35% possuem programas estruturados para lidar com isso (Fonte: Confederação Nacional da Indústria – CNI).

• A pandemia de COVID-19 aumentou em 25% os casos de transtornos como ansiedade e depressão, segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS).

<><> Soluções para criar um ambiente de trabalho saudável:

1.    Ofereça suporte psicológico

Parcerias podem facilitar o acesso dos colaboradores a atendimentos psicológicos e ações preventivas.

1.    Realize campanhas internas de conscientização

Promova ações de sensibilização para reduzir o estigma em torno da saúde mental. Datas como o Janeiro Branco e o Setembro Amarelo são oportunidades para iniciar essas conversas.

1.    Capacite lideranças para gestão emocional

Gestores devem ser capacitados para identificar sinais de desgaste emocional na equipe e atuar como facilitadores de um ambiente de trabalho mais equilibrado.

1.    Incentive pausas e práticas de bem-estar

A inclusão de atividades como ginástica laboral, meditação ou momentos de descontração na rotina pode ajudar a reduzir o estresse.

1.    Monitore indicadores de saúde mental

Pesquisas de clima organizacional e análises de absenteísmo ajudam a fornecer dados importantes para entender os desafios enfrentados pela equipe e propor ações direcionadas.

1.    Estimule a comunicação aberta

Crie canais seguros para que os trabalhadores possam compartilhar preocupações e buscar ajuda, sem medo de retaliação ou julgamento.

<><> Benefícios de um ambiente mentalmente saudável:

Empresas que investem no bem-estar e na saúde mental de seus colaboradores colhem benefícios como:

• Aumento da produtividade: pessoas emocionalmente saudáveis são mais engajadas e motivadas.

• Redução de custos: menos afastamentos e menor rotatividade resultam em economia significativa.

• Melhora do clima organizacional: ambientes saudáveis promovem maior colaboração e inovação.

• Fortalecimento da imagem corporativa: práticas que valorizam a saúde mental fortalecem a reputação da empresa no mercado.

<><> Saúde mental como pilar estratégico

Cuidar da saúde mental nas indústrias não é apenas uma questão de responsabilidade social, mas também uma estratégia essencial para manter equipes produtivas e motivadas. A implementação de programas que priorizem o bem-estar emocional demonstra o compromisso da indústria com seus colaboradores e com a construção de um futuro sustentável.

 

Fonte: Saúde & Bem Estar 

 

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