quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Varoufakis: assim o Ocidente constroi sua ruína

Após a vitória eleitoral de Donald Trump, um grupo heterogêneo de pensadores acredita, na Europa e no Sul Global, que o Ocidente está em declínio. Na verdade, nunca tanto poder esteve concentrado nas mãos de tão poucas pessoas no Ocidente, mas isso por si só significa que o poder ocidental está condenado?

Na Europa, há boas razões para abraçar esta narrativa. Assim como o Império Romano transferiu sua capital para Constantinopla para estender sua hegemonia por mais um milênio, abandonando Roma aos bárbaros, o centro de gravidade do Ocidente mudou-se para os Estados Unidos, deixando a Grã-Bretanha e a Europa à estagnação que as torna inertes, atrasadas e cada vez mais irrelevantes.

Mas há uma razão mais profunda para o sentimento sombrio dos especialistas: a tendência de confundir o declínio do compromisso do Ocidente com seu próprio sistema de valores (direitos humanos universais, diversidade e abertura) com o declínio do Ocidente. Como uma cobra que troca de pele, o Ocidente está acumulando poder, ao abandonar um sistema de valores que sustentou sua ascensão durante o século XX, mas que não serve mais a esse objetivo.

A democracia nunca foi um pré-requisito para o surgimento do capitalismo, e o que agora consideramos o sistema de valores do Ocidente também não é. O poder ocidental foi construído não sobre princípios humanistas, mas sobre a exploração brutal em cada país, aliada ao comércio de escravos, ao comércio de ópio e a vários genocídios nas Américas, na África e na Austrália.

Durante sua ascensão, o poder ocidental não foi contestado no exterior. A Europa enviou milhões de colonos para subjugar povos e extrair recursos. Os europeus fingiam que os nativos que encontravam não eram humanos. O primeiro ato de todos os genocídios – das Américas, África e Austrália à Palestina de hoje – consiste em declarar terra nullius, uma terra sem povo, disponível portanto para os colonos que a desejavam.

Mas quando era inquestionável no exterior, o poder ocidental foi desafiado em casa por suas classes baixas empobrecidas. Elas se levantaram em resposta às crises econômicas causadas pelo fato de as maiorias serem incapazes de consumir os bens que produziam, em fábricas pertencentes a muito poucos. Esses embates evoluíram para conflitos em escala industrial, entre as próprias potências ocidentais que disputavam mercados entre si. Vieram as duas guerras mundiais.

Como consequência, as elites do Ocidente tiveram que fazer concessões. Internamente, aceitaram a educação pública, sistemas de saúde e previdência. Internacionalmente, a indignação com as guerras brutais e genocídios do Ocidente levou à descolonização, às declarações universais de direitos humanos e aos tribunais criminais internacionais.

Por algumas décadas após a Segunda Guerra Mundial, o Ocidente desfrutou do conforto da justiça distributiva, de economias mistas, da diversidade, do Estado de direito em seus países e de uma ordem internacional baseada em regras. Do ponto de vista econômico, esses valores foram muito bem atendidos por um sistema monetário global planejado centralmente e comandado pelos EUA, conhecido como Bretton Woods. Ele permitiu que os Estados Unidos reciclassem seus excedentes para a Europa e o Japão, essencialmente dolarizando seus aliados para sustentar suas próprias exportações líquidas.

Mas, em 1971, os Estados Unidos haviam se tornado um país deficitário. Em vez de apertar o cinto no estilo alemão, explodiram Bretton Woods e aumentaram seu déficit comercial. Alemanha, Japão e, mais tarde, a China tornaram-se exportadores líquidos, cujos lucros em dólares foram enviados a Wall Street para comprar dívida do governo dos EUA, imóveis e ações de empresas em que os EUA permitiam que estrangeiros investissem.

Então, a classe dominante norte-americana teve uma epifania: por que fabricar as coisas em casa quando se podia confiar que capitalistas estrangeiros enviariam tanto seus produtos quanto seus dólares para os EUA? Assim, esta classe exportou linhas de produção inteiras para o exterior, desencadeando a desindustrialização dos centros industriais estadunidenses.

Wall Street estava no centro desse novo e audacioso mecanismo de reciclagem. Para desempenhar seu papel, ela não podia ter limites. Mas a desregulamentação em larga escala precisava de uma economia e uma filosofia política para apoiá-la. Esta demanda criou sua própria oferta: nasceu o neoliberalismo. Em pouco tempo, o mundo estava inundado de derivativos, surfando no tsunami de capital estrangeiro que inundava os bancos de Nova York. Quando a onda quebrou, em 2008, o Ocidente quase quebrou com ela.

Líderes ocidentais em pânico autorizaram a criação de US$ 35 trilhões para socorrer os financistas, enquanto impunham austeridade às suas populações. A única parte desses trilhões que foi realmente investida na produção foi usada para construir o capital da nuvem que deu às Big Techs seu poder de penetrar os corações e mentes das populações ocidentais.

A combinação de socialismo para financistas, colapso das perspectivas para os 50% mais pobres e rendição de nossas mentes ao capital da nuvem das Big Techs deu origem a um Novo Ocidente. A suas elites arrogantes já não serve o sistema de valores do século passado. Livre comércio, regras antitruste, emissão zero de carbono, democracia, abertura à migração, diversidade, direitos humanos e o Tribunal Penal Internacional foram tratados com o mesmo desprezo com que os EUA trataram ditadores amigos – seus “próprios canalhas” – quando se tornaram desnecessários.

A Europa tornou-se impotente, por sua incapacidade de criar poder político comum após ter criado moeda comum. O mundo em desenvolvimento está mais endividado do que nunca. Apenas a China atravessa o caminho do Ocidente. A ironia, no entanto, é que a China não quer ser uma hegemônica. Ela só quer vender seus produtos sem impedimentos.

Mas o Ocidente agora está convencido de que a China representa uma ameaça letal. Como o pai de Édipo, que morreu nas mãos do filho porque acreditou na profecia de que este o mataria, o Ocidente está trabalhando de forma incansável para empurrar a China a dar um salto, e desafiar seriamente o poder ocidental. Isso pode ser feito, por exemplo, transformando os BRICS em um sistema semelhante a Bretton Woods, baseado agora não no dólar, mas no renminbi.

Em 2024, o Ocidente continuou a tornar-se mais forte. Mas, depois de atirar seu sistema de valores no lixo, também cresceu sua propensão a arquitetar seu próprio declínio.

 

¨      Musk em campanha na Alemanha. Por Gibran Jordão

O governo Trump começou! Pelas informações oficiais que chegam até esse momento, em relação a sua política externa, há 5 eixos de atuação principais sendo aplicados de imediato, sem prejuízo para outras movimentações secundárias. Em primeiro lugar, Trump está centralmente ocupado na aplicação radical de deportações e na condução do primeiro ataque tarifário da guerra comercial que já está declarada, que atingiu inicialmente Canadá, México e China. Na outra ponta, Musk está com a tarefa de intervir na UE, e para isso, o objetivo central do momento é a eleição na Alemanha, no qual há um apoio explicito a AFD partido da extrema direita. Em Gaza o acordo entre Israel e Hamas de cessar fogo está em curso, como uma espécie de “parar a bola” para reordenar a rota no Oriente Médio. Trump tem dado declarações sobre deslocar os palestinos para Jordânia e Egito, no qual tal ideia foi totalmente rechaçada até agora pelos governos desses países, o acordo vigente é frágil, mas as negociações e especulações seguem. Ao final dessa semana, foi dado inicio a uma forte movimentação diplomática na América Central e Venezeula, com as visitas de Marco Rubio pelo Caribe, destaque para o canal do Panamá, e de Richard Grenell ao presidente da Venezuela Nicolas Maduro. Dois homens de peso e confiança no governo Trump, que parecem estar operando um projeto de disputa política na região contra a influencia da China. Por ultimo, em relação a guerra da Ucrânia, o governo dos EUA tem feito até agora pressões sobre o governo ucraniano e o governo russo para aceitar os termos de um acordo. Mas tem uma novidade, pela primeira vez Marco Rúbio, secretário de estado dos EUA, disse que o governo de Biden foi desonesto em fazer a Ucrânia acreditar que poderia derrotar a Rússia. Um reconhecimento explicito sobre o óbvio! Os russos vencenram a guerra, a Ucrânia não tem chances, e não vale a pena gastar mais recursos, é preciso negociar uma saída já, indicando como será o tom das negociações de um possível acordo. 

Nesse artigo vamos nos concentrar no processo eleitoral alemão, que vai acontecer dia 23 de fevereiro próximo e que está sofrendo nas ultimas semanas uma forte influencia de Ellon Musk, membro oficial do governo Trump, que está participando diretamente da campanha da AFD. Mas antes de iniciar nossa análise propriamente dita, e para que o leitor fique um pouco mais familiarizado com o funcionamento da eleição alemã, convém algumas breves informações. O sistema político no país permite até 735 mandatos no parlamento federal, são 299 distritos eleitorais que são divididos de modo que cada um tenha aproximadamente o mesmo número de eleitores, somente ingressam no parlamento federal os partidos que receberem no mínimo 5% do total de votos de legenda e quase 60 milhões de cidadãos tem direito ao voto. Após a eleição, o novo parlamento tem até 30 dias para eleger um novo primeiro ministro, que tradicionalmente acontece assim que um partido ou uma coalizão de partidos formam maioria no parlamento. 

O QUE AS PESQUISAS ELEITORAIS ESTÃO REVELANDO? 

Antes de mostrar e analisar o resultado das pesquisas de opinião sobre a preferência do eleitor na Alemanha, é preciso fazer um alerta sobre a capacidade das pesquisas de apreender o que realmente está se passando na opinião do eleitor. Em muitas eleições pelo mundo, o resultado acaba sendo diferente do que as pesquisas tinham revelado. Feito o alerta, vamos analisar a media ponderada de várias pesquisas, segundo publicação da euronews, para observar as inclinações da disputa política que está sendo travada no país que representa a maior economia da Europa.  

A  trajetória das sondagens vai do período de outubro de 2023 até 28/01/2025. 

São 7 partidos na disputa por espaço no Bundestag, o parlamento federal da Alemanha. A CDU/CSU (União Democrática Cristã) que lidera as sondagens com 30%, foi fundado após a segunda guerra mundial por setores de centro direita contrários ao nazismo, são católicos, conservadores e de visão liberal da economia. Popularmente é conhecido como “a União” e tradicionalmente é o partido mais forte e que por mais tempo governou a Alemanha por diversas coalizões. Seu ultimo governo, foi com Angela Merkel, de 2005 até 2021. Hoje possui 196 deputados no parlamento federal. 

A AFD (Alternativa para Alemanha), que está em segundo lugar na media das sondagens com 20%, foi fundado em 2013, com um posicionamento à direita do CDU/CSU, são contra a União Europeia, são radicais contra os imigrantes e não acreditam que as crises climáticas são consequências da atividade humana. Possuem 76 deputados no parlamento e entre os seus mais de 40 mil filiados, existem tendencias com forte relação com o passado neonazista da Alemanha, ao ponto da justiça alemã estar monitorando personalidades e grupos da AFD que tem expressado posições cada vez mais anticonstitucionais e extremistas de direita. 

O SPD ( Partido da Social Democracia) está na terceira colocação nas pesquisas com 16%, é o partido mais antigo da Alemanha, foi fundado no final do século XIX, possui 207 deputados no parlamento e tem uma posição próxima a centro esquerda. É o partido do atual primeiro ministro, que governava até a implosão da sua coalizão que se dava até dezembro de 2024, entre SPD, os Verdes e o FDP. Esse ultimo, ao romper a aliança por defender uma política de austeridade mais forte, gerou uma crise no mandato de Olaf Scholz, antecipando o processo eleitoral para fevereiro desse ano. 

Os Verdes, estão na quarta colocação nas pesquisas com 13,8%, foi fundado na década 80 e se fundiu com outros partidos na década de 90. Estão localizados no espectro político da centro esquerda ambientalista, possuem 117 deputados no parlamento e fizeram parte da coalizão do atual primeiro ministro Olaf Scholz. 

Embolados na luta para atingir o mínimo de 5% para poder ocupar um espaço minoritário no parlamento alemão, está o BSW que tem 10 deputados, e é uma organização de esquerda fundada em 2024 fruto de uma divisão do Die Link ( A Esquerda). Outro partido que também luta para atingir a barreira mínima  é o “A Esquerda”  que tem hoje 28 deputados. E por ultimo, em forte declínio e lutando para não ficar de fora do parlamento está o FDP que tem 90 deputados, esse ultimo é um partido de centro direita liberal, pivô da crise do atual governo do primeiro ministro Olaf Scholz. 

A média das sondagens eleitorais representada no gráfico acima, revela um fato novo na situação política da Alemanha, a forte ascensão da direita, em especial da extrema direita no país. Juntos, CDU/CSU e AFD, que são as duas organizações que compõe o espectro mais a direita no país, somam 50% da opinião dos eleitores. Recentemente em votação no parlamento, essas duas forças somaram esforços para votar uma nova lei anti-imigração com o objetivo de fechar fronteiras e deportar o máximo possível de imigrantes. 

QUEM É A AFD E QUAIS AS SUAS CHANCES ELEITORAIS?

Na tradução para o português, AFD é um sigla que abrevia a frase “Alternativa para Alemanha”. A fundação desse partido se deu num momento de crise do euro em 2013, e um descontentamento em setores mais à direita da CDU com a condução da Alemanha liderada por Ângela Merkel. A primeira ministra alemã tinha posições mais moderadas em relação ao tema dos imigrantes, além de conceder apoio financeiro, através de empréstimos e outras medidas a países mais pobres da União Europeia. Desde então, a AFD, mesmo com disputas internas inflamadas, conseguiu crescer e fortalecer o discurso ultra nacionalista, de ódio aos imigrantes, de combate a União Europeia e negando qualquer política de transição energética para diminuir as consequências da emissão de gases do efeito estufa. Destaque para a sua organização “juventude alternativa”, a ala mais jovem da AFD, que também tem avançado no eleitorado estudantil com um discurso ainda mais extremista. 

A crise migratória de 2015, levou mais de 1 milhão de refugiados vindos da Síria, Iraque e Afeganistão serem registrados pelas autoridades alemãs. Tal crise dividiu o país, e catapultou figuras políticas extremistas da AFD que criticavam o governo alemão, defendendo o fechamento das fronteiras e uma forte política de deportação. Assim, o tema dos refugiados somado a crise econômica provocada pela Covid-19 em 2020 e a inflação do preço da energia no país devido a guerra entre Ucrânia e Rússia, levou os alemães a amargarem uma recessão econômica que já dura 2 anos. Essa tempestade perfeita levou a crise do atual governo, a explosão da aliança que sustentava Scholz como atual chanceler, a antecipação da eleição e colocou a AFD em segundo lugar nas pesquisas eleitorais, sigla que a dez anos atrás era irrelevante. Em 2024, a AFD venceu as eleições no estado da Turingia, e ficou em segundo lugar na Saxônia, ambas cidades ficam no leste. Um resultado sem precedentes desde o pós-guerra em 1945, confirmando a consolidação da extrema direita na disputa política do país. O principal líder da AFD na Turingia, é Bjorn Hocke, um dirigente com influencia de massas, mantém relações próximas a grupos neonazistas, participando presencialmente de atos políticos antissemitas e negacionistas do holocausto. Em 2022, teve sua imunidade parlamentar suspensa após encerrar seu discurso com a frase “Alles fur Deutschland” ( “ Tudo pela Alemanha”), expressão usada pela SA nazista, cuja utilização é proibida por lei. Outras figuras dirigentes da AFD tem relações intimas e até familiares com o nazismo, como Beatriz Von Storch, neta do ministro das finanças de Hitler, o senhor Lutz Schwerin von Krosigk, que também foi chanceler alemão, no governo provisório após a morte de Hitler em 1945. 

A principal líder e figura publica da AFD atualmente é Alice Weidel, que disputou a eleição federal em 2017, quando o seu partido recebeu 13% dos votos, se transformando na terceira maior força da Alemanha. Em 2021, Alice disputou mais uma vez, mas a AFD não repetiu seu desempenho anterior ficando em quatro lugar, eleição que acabou dando o quarto mandato para Merkel numa aliança entre CDU e SPD. Em 2025, ela está encabeçando a lista de candidatos na atual disputa e está até agora em segundo lugar na maioria das pesquisas eleitorais. Alice é uma figura contraditória, é lésbica e casada com uma imigrante do SriLanka, criando dois filhos em família. Seu partido votou contra o casamento gay e tem uma política radical contra imigração, mas nada disso é motivo para que Alice Weidel se sinta abalada, pelo contrário, ela tem utilizado a sua homossexualidade para ganhar apoio na juventude e combater imigrantes de religião islâmica. Trata-se de uma metamorfose do espectro de extrema direita para criar canais de disputa mais sofisticados na sociedade, sem abrir mão do seu projeto estratégico. 

A AFD está em segundo lugar nas pesquisas eleitorais, expressando uma naturalização crescente de posições extremistas de direita na Alemanha. O apoio de Elon Musk, que está em campanha ativa e participativa em comícios da AFD, não garante a vitória, mas fortalece muito as chances da extrema direita ampliar sua votação em relação as ultimas duas eleições federais. Assim como, não é certeza que o isolamento da AFD será confirmado por todos os outros partidos e que Weidel não estará oficialmente no próximo governo, seja em maioria ou na condição de minoria. Dizemos isso porque após o resultado eleitoral será necessário que os partidos formem maioria no parlamento para eleger o próximo primeiro ministro. Caso a eleição confirme que os partidos de Merz e Weidel sejam as duas siglas mais votadas, existe uma possibilidade real de acordo entre os dois partidos para a formação de uma maioria e eleger o próximo chanceler, com a AFD assumindo vários ministérios. Na semana que passou, o líder da CDU e candidato a chanceler Friederich Merz pactuou votações com a AFD na tentativa de aprovar um projetos de lei anti-imigração, enterrando o acordo democrático histórico em isolar os herdeiros de Hitler. Na sexta feira, dia 31/01, o projeto de lei anti – imigração foi a votação no parlamento federal da Alemanha e foi rejeitado, 350 votos contrários e 338 a favor. Uma votação apertada, que agitou o país, com fortes polêmicas públicas e que acabou gerando um relativo desgaste da figura de Merz em setores de direita que tem algum compromisso democrático em isolar o neonazismo. Por outro lado, acabou fortalecendo sua figura em setores de direita anti-imigração. Além de alguns parlamentares da CDU se recusarem a votar em unidade com a AFD e não participarem da votação. A ex-chanceler alemã, Angela Merkel, rival de Friedrick Merz nas disputas internas da CDU, fez duras críticas publicas contra a aliança com a extrema direita, abrindo uma crise importante no partido que lidera a disputa eleitoral na Alemanha. 

A CDU/CSU continuará unificada após essa eleição? Veremos… 

PROTESTOS ANTI-FASCISTAS TÊM ADESÃO DE MILHARES NAS RUAS

O crescimento da AFD nas pesquisas e a possibilidade de aliança da CDU com a AFD gerou uma onda de protestos na Alemanha, multidões estão indo as ruas com adesão de forças de esquerda e setores democráticos denunciar o avanço da extrema direita e suas políticas racistas e reacionárias. As imagens de milhares de pessoas cantando músicas antifascistas expressam que a resistência se levanta em luta para impedir o triunfo dos herdeiros de Hitler nessa eleição. No sábado milhares foram as ruas de Hamburgo, Stuttgart, Leipzig e Colônia, e nesse domingo, mais de 100 mil pessoas protestaram nas ruas de Berlim contra Friedrich Merz e sua aproximação com a AFD. Nas faixas tinham frases como: “Nós somos a barreira de proteção, não há cooperação com a AFD” e “Merz, vá para casa, que vergonha!”

A mobilização de massas contra a extrema direita é um ótimo sinal, revela que a disputa está aberta e que essas reservas anti-fascistas tem potencial para mudar o que as pesquisas vem indicando, impedindo uma vitória eleitoral das forças mais reacionárias da Alemanha. Falta apenas três semanas para eleição, a agitação política é máxima, em muitos momentos existe clima de violência e tudo pode acontecer. O movimento neofascista global sabe que após a posse de Trump, uma vitória na maior economia da zona do euro seria um salto qualitativo do seu projeto estratégico com força para mover placas tectônicas na geopolítica mundial. Não por acaso, Steve Bannon, um dos principais dirigentes da rede internacional neofascista, em reunião recente nos EUA na ocasião da posse de Trump, com a presença de várias representações de partidos de extrema direita, incluindo uma delegação brasileira liderada por Eduardo Bolsonaro, disse: “ Nós tivemos uma grande vitória aqui [nos EUA] e estamos ganhando no mundo todo, certo? A próxima parada é a Alemanha. Posso pedir que a Alternativa Para a Alemanha (AfD) se levante? Queremos saudá-los”  

A participação de Elon Musk, utilizando o X (antigo Twitter) como uma rede social a serviço da AFD, fazendo uma live de apoio a Alice Weidel, demonstra a potencia do alcance global de uma plataforma virtual para influenciar um processo eleitoral sem dar condições iguais a todos os candidatos. Trata-se de um membro oficial do governo dos EUA intervindo politicamente na eleição de um país membro do G7 e da OTAN, desequilibrando a disputa, mostrando preferência a um projeto e fazendo campanha explicita para uma candidata de extrema direita. Uma grande novidade nas disputas eleitorais no mundo, todos nós sabemos que as redes sociais são corporações empresariais que tem interesses políticos em todo globo, e que recentemente a maioria das BigTechs norte americanas decidiram alinhamento com Trump. Mas até então, a interferência política ficava nos bastidores, na denuncia de manipulação de algorítimos a favor de um força política ou outra, procedimentos difíceis de investigar e comprovar. Agora o dono da rede social diante da tela de milhões de pessoas de outros países, aparece apoiando partidos e desqualificando outros, incólume a qualquer controle para estabelecer princípios de equidade e equilíbrio na disputa eleitoral.

O movimento antifascista alemão está diante de uma tarefa histórica, vão precisar provar que estão a altura do desafio, cantando a “ Bella Ciao” em todas as ruas das principais cidade do país para acender a chama em milhões de corações sobre a importância de derrotar a AFD. Já circulam nas redes imagens de Bannon e Musk fazendo a saudação romana, apropriada pelo nazifascismo historicamente. Oitenta anos após a queda do nazismo, com o triunfo das tropas do exercito vermelho em Berlim, o fantasma de Adolf Hitler assombra a Alemanha, lembrando ao mundo que o sistema capitalista em sua fase imperialista em crise de hegemonia. Pode gerar toda a sorte de demônios, sem qualquer garantia de poder controlá-los, colocando em risco, não só, a própria ordem mundial acordada no pós guerra. Mas também impondo uma ordem que ameaça a existência humana e toda biodiversidade no planeta terra. 

 Fonte: Por Yanis Varoufakis | Tradução: Antonio Martins, em Outras Palavras/Brasil 247

 

 

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