sábado, 8 de fevereiro de 2025

Ion de Andrade: Surpresa keynesiana, orçamento de 2024 equilibrado depõe contra a necessidade dos cortes para 2025

Para a surpresa de todos, principalmente do mercado, mas também do governo, o ano de 2024 fechou as contas orçamentárias de forma equilibrada.

Não tivessem sido as despesas mais do que necessárias com o Rio Grande do Sul (que ninguém apontou como causa de inflação, é bom que se diga) as despesas teriam estado dentro do que preconiza o Ataúde Fiscal.

Ora, o fato de que as despesas com o Rio Grande do Sul não tenham provocado inflação, embora tenham sido a causa do leve desequilíbrio orçamentário constatado, decorre do fato de que, e qualquer estudante de economia sabe disso, a liquidez é uma das políticas macroeconômicas que podem ser utilizadas para enfrentar carências em áreas estratégicas ou em momentos de estresse social.

Esse verdadeiro equilíbrio de contas do ano de 2024 se deveu essencialmente a algo que o pacote de cortes visou coibir: o volume da massa salarial.

Como analisaram diversos economistas, foi essa massa salarial convertida em impostos, depois de gerar consumo, empregos e renda, num processo multiplicativo, como descreveu Keynes, que reabasteceu o caixa do governo.

Então vamos sedimentando três coisas:

A oferta de liquidez não é um pecado econômico, mas uma das políticas macroeconômicas do arsenal de qualquer economia soberana;

A massa salarial, ao tempo que pode ser uma despesa do governo, como no caso do Salário Mínimo, é também uma receita futura que gera, como 2024 bem demonstrou, impostos a receber que, de fato, minimizam o seu custo total e equilibram as contas; e que

As economias pretendidas ao reduzir a massa salarial, por exemplo com a correção a menor do Salário Mínimo prevista no pacote de cortes, podem se restringir, em grande medida ao que é mais importante para a sociedade e que decorrem do bem conhecido multiplicador Keynesiano: consumo, emprego, renda e bem estar, pois, como 2024 demonstrou, depois de produzir tudo isso, o dinheiro abastece, através dos impostos novamente os cofres públicos, como o sangue que volta ao coração depois de cumprir o processo circulatório. Em 2025, com a correção a menor do Salário Mínimo e das transferências sociais que ele indexa, esse mecanismo foi significativamente limitado produzindo talvez tanta economia quanto frustração fiscal.

A dinâmica explicitada no item “c” demonstra colateralmente também que o Salário Mínimo e as transferências sociais indexadas por ele, são uma espécie de encomenda pública mínima de sobrevivência e bem estar social feita pelo governo às pessoas de baixa renda que ao mover a economia para devolver essa encomenda ao governo geram empregos renda, bem estar social e… impostos que vão reabastecer os cofres públicos.

Conhecer, portanto, em que medida esses recursos investidos na massa salarial retornam para o governo através de impostos é crucial, pois isso representa a margem útil que pode ser utilizada para, com todo o rigor fiscal por parte do governo, corrigir o Salário Mínimo incrementando progressivamente o seu poder de compra de forma ostensivamente sustentável.

Noutras palavras é possível ser keynesiano na economia e responsável no plano fiscal.

Se, por exemplo, o que foi investido em Salário Mínimo e transferências sociais volta para o governo em 30% no primeiro ano e 30% no segundo, isso significa que, efetivamente, terá custado 60% a menos para o governo na soma dos dois anos!

Isso não significa, obviamente que o Salário Mínimo pode ser aumentado em 60%, pois há um tecido econômico real que sofreria com variações abruptas, provocando desemprego e falências.

A surpresa geral com os bons resultados fiscais de 2024 é um forte indício de que:

a equipe econômica do governo está desatenta para o fato de que o Salário Mínimo e o que ele indexa, além de ser uma despesa, é também uma receita para os cofres públicos e que

o pacote de cortes aprovado ao fim de 2024 foi ideológico e mostrou-se totalmente desnecessário, pois exceto pelos gastos com o Rio Grande do Sul, o ano em que houve uma correção do Salário Mínimo pela inflação + PIB quando a economia cresceu 3,5% fechou com equilíbrio fiscal e com uma inflação controlada (levemente fora da meta).

Os números parecem apontar para o fato de que Haddad só teria razão em ter cortado gastos para 2025 se a economia tivesse, tendo funcionado ao longo de todo o ano de 2024 noutra lógica, fechado claramente no vermelho e que a inflação tivesse disparado, o que, para a surpresa de gregos e troianos, não ocorreu.

Para o Lula 4 os economistas progressistas deveriam apresentar ao governo uma alternativa claramente sustentável de outro manejo dos orçamentos e dos investimentos públicos capaz de assegurar, com o respirar normal da economia, mais renda, mais empregos, mais bem estar social e impostos suficientes para, sem arroubos, assegurar que o equilíbrio fiscal esteja realmente a serviço das maiorias.

 

¨      Haddad encaminha agenda econômica 2025/2026 ao Congresso

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reuniu-se com o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, para apresentação da agenda econômica do governo federal com os pontos prioritários para os anos de 2025 e 2026.

Segundo Haddad, a pauta conta com 25 iniciativas listadas, sendo que 15 ainda dependem do Legislativo, oito projetos estão em andamento e sete propostas serão encaminhadas nas próximas semanas.

“São projetos estratégicos, estamos falando de projetos que vão ter impacto em algum mercado, em algum setor da economia importante”, destacou o ministro.

O ministro da Fazenda também abordou o aprimoramento da Lei de Falências e algumas medidas para o mercado de crédito. “São iniciativas que parecem não afetar diretamente a vida das pessoas, mas ao melhorar o ambiente de negócios, as relações contratuais, aumentamos muito as possibilidades de crescimento da economia”.

<><> Prioridades

A lista de prioridades apresentada se divide em três temas: estabilidade macroeconômica, melhoria do ambiente de negócios e plano de transformação ecológica. Entre os tópicos estão:

# Fortalecimento do arcabouço fiscal, para assegurar expansão sustentável do PIB, desemprego e inflação baixos e estabilidade da dívida.

# Reforma tributária sobre a renda, com isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil e criação de alíquota sobre rendimentos altos.

# Limitação dos supersalários.

# Aprimoramento da governança na Lei de Falências.

# Reforma da previdência dos militares; entre outros.

Segundo Haddad, 32 projetos com impacto direto na vida econômica foram aprovados nos últimos dois anos – dentre eles a isenção do Imposto de Renda, o projeto que trata do devedor contumaz que ainda está sendo finalizado para ser encaminhado pelo Executivo e o texto que trata sobre a lei de falências, já aprovado pela Câmara, e aguarda os ajustes do Senado Federal.

“O Brasil tem um grande desafio econômico para o ano de 2025 e nada melhor do que essa cooperação entre o poder Executivo e o poder Legislativo para que a agenda aqui seja priorizada e possamos entregar o melhor para a sociedade brasileira”, afirmou o presidente da Câmara.

¨      Haddad critica "memória curta" do jornalismo e diz que "não dá para corrigir sete anos de má administração em dois"

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez duras críticas à postura do jornalismo nesta sexta-feira (7), chamando atenção para a "memória curta" de parte da imprensa. Ele argumentou que, apesar das dificuldades econômicas herdadas dos governos Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL), o governo Lula (PT) tem tomado medidas significativas para melhorar as condições de vida da população, especialmente no que diz respeito ao salário mínimo e à tributação de itens essenciais.

"Durante o governo Temer e o governo Bolsonaro o salário mínimo ficou congelado por sete anos. E desde que o presidente Lula assumiu, há apenas dois anos, o salário mínimo estava em R$ 1.100 e já foi reajustado para R$ 1.500. Obviamente que você não consegue corrigir sete anos de má administração em dois, mas o presidente Lula, com o compromisso que tem com as pessoas que mais precisam do Estado, já começou uma política de valorização do salário mínimo, sob protesto do pessoal da direita", disse Haddad em entrevista à Rádio Cidade, de Caruaru (PE).

"O pessoal que ataca o presidente Lula, que manteve o salário mínimo congelado, não queria reajuste acima da inflação, mas o presidente Lula bancou essa proposta e, mais do que isso, corrigiu a tabela do Imposto de Renda, que também estava há sete anos congelada. Então o governo Bolsonaro cobrava impostos de quem ganhava até dois salários mínimos, e o presidente Lula acabou com isso reajustando a tabela do Imposto de Renda, e agora quer ampliar a faixa de isenção para quem ganha até R$ 5 mil por mês, justamente para que as famílias possam enfrentar o custo de vida, sobretudo a questão da cesta básica", completou.

Haddad ressaltou também as mudanças na tributação, como a reforma tributária que isenta a cesta básica de impostos federais e estaduais a partir de 2027. "Hoje alguns estados, sobretudo no Sudeste, cobram impostos sobre a cesta básica, e nós aprovamos uma reforma tributária para acabar com o ICMS, inclusive da carne, que fica mais cara por causa das cobranças de impostos estaduais", explicou.

Para Haddad, todas essas ações têm como objetivo melhorar a qualidade de vida da população, especialmente no Nordeste, e refletem o compromisso do governo Lula com as pessoas mais necessitadas. "O presidente Lula tem um compromisso com essa agenda, mas são dois anos apenas que nós geramos três milhões de postos de trabalho", destacou, enfatizando que o governo já reajustou o salário mínimo acima da inflação por três anos consecutivos.

Além disso, o ministro não deixou de lembrar da postura do governo Bolsonaro. "O governo Bolsonaro não deu um real de aumento do salário mínimo acima da inflação", afirmou Haddad, sublinhando que aumentar o salário mínimo é uma das formas de garantir que o trabalhador mantenha seu poder de compra.

¨      Haddad: alta dos combustíveis está ligada ao dólar e às privatizações de Bolsonaro

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, atribuiu a recente alta dos combustíveis à valorização do dólar e às privatizações realizadas pelo governo de Jair Bolsonaro. Em entrevista à Rádio Cidade, de Caruaru (PE), nesta sexta-feira (7), Haddad afirmou que os aumentos nos preços refletem decisões tomadas pelo governo anterior e defendeu que, apesar da volatilidade, os valores praticados atualmente ainda são inferiores aos registrados há dois anos.

"Depois da eleição do Trump teve uma disparada do dólar. E você sabe que a gente importa gasolina e diesel. Então isso tem reflexo no preço. Agora, de novo, compara com o preço de dois anos atrás. O preço hoje da gasolina e do diesel está mais baixo do que dois anos atrás", argumentou o ministro.

Haddad também criticou a privatização das refinarias e dos postos de combustíveis da BR Distribuidora, apontando que a venda desses ativos favoreceu a lógica do lucro privado em detrimento do interesse da população. "É óbvio que você tem aumento da produção, ativação das refinarias - as refinarias foram privatizadas pelo Bolsonaro. Você já viu empresário não querer lucrar em cima da população? Quando você privatiza uma refinaria, ela vai gerar lucro para quem comprou. Isso não foi feito pelo governo Lula, foi feito pelo governo anterior", ressaltou.

O ministro ainda lembrou que a estatal Petrobras perdeu participação direta no mercado de distribuição de combustíveis com a venda da BR. "Você lembra que os postos de gasolina da BR eram da Petrobras. Hoje não são mais. O Bolsonaro vendeu. Então a gente tem que ter clareza de que você não conserta um país que foi destruído em dois anos", disse.

Mesmo diante dos desafios, Haddad destacou avanços na gestão econômica e reafirmou que os combustíveis estão mais acessíveis do que no período do governo anterior. "Agora, ainda assim, o preço do combustível no posto de gasolina está mais barato do que no Bolsonaro. É só pegar as fotos e as notícias que vocês mesmos deram dois anos atrás. Repito: tem muita coisa para fazer, você não reconstrói um país em dois anos, mas comparando com o que a vida estava há dois anos, acho que o avanço é muito significativo", concluiu.

 

Fonte: Jornal GGN/Brasil 247

 

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