Como os
indígenas conseguiram reverter decisão do governo do Pará na educação
“Enquanto a revogação não for publicada no
Diário Oficial do Estado, nós não vamos desocupar”, declara o cacique Dadá
Borari, após receber a confirmação da assinatura de um termo de compromisso
para revogar a lei 10.820/2024, na última quarta-feira (5).
O documento foi assinado
pelo governador do Pará, Helder Barbalho, em conjunto com lideranças indígenas,
quilombolas, ribeirinhos e representantes do Sindicato das Trabalhadoras e
Trabalhadores em Educação Pública do Estado do Pará (SINTEPP), além de
parlamentares e integrantes do governo, na sede da Secretaria de Estado de
Planejamento e Administração (SEPLAD).
A revogação da lei era uma
das principais reivindicações de povos indígenas, quilombolas e professores,
que ocupam a sede da Secretaria de Educação do Estado do Pará desde 14 de
janeiro. De acordo com eles, os termos da legislação representavam uma ameaça,
entre outros pontos, ao magistério e ao Sistema de Organização Modular de
Ensino (SOME) e à mesma modalidade para indígenas
(SOMEI), tratando de ensino em áreas de difícil acesso.
A liderança indígena
Alessandra Munduruku, que esteve presente no ato da assinatura com o governo,
celebrou o momento como um resultado da luta coletiva. “Isso é a união, é a
força dos povos indígenas do Estado Pará, e os paraenses que estão juntos”,
disse.
Além das manifestações na
capital paraense, indígenas e apoiadores também protestam pela educação na
rodovia BR-163, no oeste paraense, região de Santarém. Segundo o comunicador
indígena, Waltinho Kumaruara a vigilância continua. “Esse é o momento de
comemorarmos, mas também ficar atentos, pois ainda estamos no primeiro processo
da revogação”.
“Só vamos acreditar que foi
revogada, quando sair no diário oficial, pois apesar do comprometimento do
governador, a lei ainda terá uma outra apreciação pelos deputados estaduais na
Assembleia Legislativa, por isso nós vamos continuar as ocupações aqui na BR e
também na SEDUC”, afirma Kumaruara.
A partir desse acordo, o
executivo encaminhará o termo de compromisso para a Assembleia Legislativa do
Estado do Pará, no qual poderá ser apreciada por comissões e depois em
plenário. Até então, não há previsão divulgada oficialmente sobre as datas
dessa tramitação e da revogação.
Em nota o Conselho Indígena
Tapajós Arapiuns, uma das organizações que estão à frente das manifestações,
destacou: “Informamos que é positiva a assinatura do Termo de Compromisso que
indica a revogação da Lei 10.820 na tarde de hoje (5). Tudo poderia ter sido
mais simples se o governador Helder Barbalho tivesse se disponibilizado ao
diálogo desde o início, evitando esticar a corda e o desgaste que vivenciamos.
Para nós, povos indígenas, o melhor é estarmos em nossos territórios, junto aos
nossos parentes, cuidando da Mãe Terra e defendendo o bem viver”, diz o texto.
A nota ainda afirma que
“infelizmente, fomos obrigados a continuar na cidade, defendendo uma educação
pública que cuide de nossas florestas e rios e adie o final do mundo. Por fim,
afirmamos que a ocupação do prédio da Seduc continua, até que a revogação da
Lei 10.820 seja publicada no Diário Oficial do Estado, materializando a vitória
dos povos da Amazônia. Surara! Sawê!”, pontua.
·
Repercussão
A lei 10.820/2024 foi
sancionada em dezembro de 2024 pela ALEPA. Em 14 de janeiro, indígenas de
diversas regiões do Estado ocuparam a sede da SEDUC, em Belém, pedindo a
revogação da lei, no qual extinguiu artigos sobre o SOMEI; e também do atual
secretário estadual de educação, Rossieli Soares.
Durante os dias de protesto,
o Amazônia Vox publicou levantamento com base no Orçamento Geral do Estado
(OGE) que comprova uma redução de previsão
orçamentária de 85% na função “Implementação da Educação Indígena”, que saiu de
R$ 3,5 milhões em 2024 para R$ 500 mil em 2025.
Após o início das
manifestações, a causa gerou repercussão a nível estadual e nacional quando a
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), ingressou com uma ação direta
de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF). Em resposta nos
últimos dias, a ministra do STF, Cármen Lúcia, deu o prazo de cinco dias para
explicações do governador Helder Barbalho (MDB) e do presidente da Alepa, deputado
Chicão (MDB), a respeito da lei.
A Defensoria Pública da
União também ajuizou ação civil pública contra o estado do Pará, a Fundação
Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e a empresa Meta Platforms, responsável
pelo Facebook e Instagram a respeito da propagação de fake news feitas pelo
governador Helder Barbalho sobre a mobilização dos povos indígenas em defesa da
educação.
¨ Lula defende Marina Silva no
licenciamento para petróleo na foz do Amazonas
Os “desenvolvimentistas do século passado”, que defendem
a exploração máxima de recursos minimizando os impactos socioambientais, acusam
a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, de barrar o “progresso” do Brasil.
Um discurso arcaico, colonialista, mas que cai como uma luva para os defensores
da exploração de petróleo no Brasil “até a última gota” no licenciamento do
poço de combustíveis fósseis que a Petrobras quer perfurar no bloco FZA-M-59,
na foz do Amazonas.
Na 4ª feira (5/2), porém, o presidente Lula saiu em
defesa da ministra. Dois dias após se comprometer com o novo presidente do
Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), em “destravar” o quanto antes a licença
para a petroleira perfurar no bloco, localizado no litoral amapaense, Lula
disse, em entrevista a rádios de Minas Gerais, que Marina não é responsável
pelo “atraso” na liberação do documento apontado. “Atraso”, claro, que só
existe na visão dos “desenvolvimentistas”, já que o IBAMA, responsável pela
análise, está apenas cumprindo o que determina a legislação ambiental
brasileira.
“Há uma confusão na imprensa, sei lá causada por quem,
de tentar jogar em cima da companheira Marina a responsabilidade pela não
aprovação da exploração de petróleo na Margem Equatorial do Rio Amazonas [foz
do Amazonas]. A Marina não é a responsável”, disse o presidente da República,
em fala destacada por O Globo, Estadão e Eixos.
Desde que o IBAMA negou pela primeira vez a licença
para a Petrobras perfurar um poço no FZA-M-59, em maio de 2023, Marina Silva
vem sendo questionada, muitas vezes em tom acusatório. Em todas as vezes a
ministra respondeu o óbvio, como mostrou mais uma vez O Globo: o IBAMA é um
órgão de Estado – não de governo – que segue as leis. Como tal, suas decisões
são tomadas após o cumprimento de uma série de ritos legais. Não é o IBAMA, ou
o Ministério do Meio Ambiente (MMA), quem decide a política energética
brasileira, já frisou várias vezes Marina. Logo, não é o IBAMA, ou o MMA, quem
decide se o Brasil vai ou não explorar combustíveis fósseis na foz do Amazonas
ou em qualquer outra bacia geológica brasileira.
Ao defender publicamente Marina, Lula mostra ter
entendido suas competências. No entanto, o presidente voltou a falar em
“solução” para a liberação da licença, o que continua alimentando que uma
decisão técnica terá desfecho político.
Além disso, Lula voltou a repetir que o Brasil precisa
do petróleo da foz do Amazonas, mesmo sem saber se de fato existem combustíveis
fósseis lá. E que esse suposto petróleo é necessário porque será o dinheiro
desse óleo que vai financiar a transição energética brasileira. O que é uma
falácia, já que as fontes renováveis já dominam a matriz elétrica nacional sem
qualquer centavo dos combustíveis fósseis.
Se de fato quiser usar dinheiro de petróleo e gás
fóssil para investir em fontes renováveis de energia, bastaria ao governo
redirecionar subsídios. Como mostra um estudo do Instituto
de Estudos Socioeconômicos (INESC), para cada R$ 1 aplicado em subsídios pelo
governo federal em fontes renováveis, outros R$ 4,52 são aplicados pelos cofres
públicos na indústria de combustíveis fósseis – 82% do total.
Enquanto não é feito esse ajuste, necessário tanto pelo
aspecto fiscal como pela necessidade climática, a pressão política pela licença
para a Petrobras perfurar um poço na foz do Amazonas continua. Não à toa a
presidente da petroleira, Magda Chambriard, disse no dia seguinte à promessa de
Lula para Davi Alcolumbre que respondeu todas as demandas do IBAMA em novembro
do ano passado, informam Valor e Agência Brasil. E que a Unidade
de Estabilização e Despetrolização (UED) de Oiapoque (AP) requisitada pelo
órgão ambiental deverá ficar pronta em março.
Questionado sobre prazos, já que há gente do governo
dizendo que a licença para o FZA-M-59 sairá em 30 dias, o IBAMA informou na 3ª
feira (4/2) que o pedido da Petrobras para explorar petróleo na foz do Amazonas
ainda está em análise pela equipe técnica do órgão e que não há prazo para uma
resposta, relata o g1. Algo que o presidente do órgão,
Rodrigo Agostinho, já havia dito antes. Mas que Davi Alcolumbre e a turma do
governo que está com medo da repercussão de uma licença para explorar
combustíveis fósseis no ano da COP30 parecem não [querer] escutar.
¨ BNDES bloqueia R$ 728 mi em crédito
rural para desmatadores
O BNDES anunciou na última 3ª
feira (4/2) que vetou o financiamento de cerca de R$ 728 milhões a produtores
rurais com suspeitas de desmatamento ilegal em suas propriedades. A medida foi
possível a partir de uma parceria com a plataforma MapBiomas, que faz o
monitoramento ambiental por meio de imagens de satélite nos biomas brasileiros.
De acordo com o BNDES, o MapBiomas emitiu 3.461 alertas
ativos de desmatamento em propriedades com solicitação de crédito rural. O
valor de financiamento negado a partir dessas informações é quase 1% dos R$
79,5 bilhões de crédito rural solicitados desde fevereiro de 2023, quando a
parceria foi iniciada, até dezembro do ano passado.
Entre as regiões, o Norte teve o maior percentual de
financiamentos negados (2,1% dos R$ 3,9 bilhões solicitados), com alertas
ativos de desmatamento em 2,5% das 6,6 mil solicitações. Já o Nordeste foi a
região com a maior taxa de alertas ativos de desmatamento (2,76% das mais de
8,4 mil solicitações), com o bloqueio de 1,7% dos R$ 5,5 bilhões solicitados.
Na ranking dos estados, o Amazonas é o
líder de financiamentos negados, com 13% barrados do total de R$ 12 milhões
solicitados; o estado também liderou os alertas de desmatamento, com 6,38% de
alertas em 47 solicitações de crédito. Entre todos os entes federativos, o
Distrito Federal e o Amapá foram os únicos que não tiveram alertas.
Somente em 2024, os financiamentos negados somaram
cerca de R$ 393 milhões, o que representa 0,9% dos R$ 43,6 bilhões de crédito
rural solicitados ao BNDES. Os 2,09 mil alertas ativos de desmatamento do
MapBiomas corresponderam a 1,21% das mais de 173 mil solicitações encaminhadas
ao BNDES no ano passado.
“A integração dos alertas de desmatamento do MapBiomas
com a plataforma operacional do BNDES nos permite atuar de forma ágil e precisa
na análise dos financiamentos. Dessa forma, evitamos que recursos públicos
incentivem práticas que comprometam a preservação ambiental, ao mesmo tempo que
garantimos segurança jurídica e previsibilidade para os produtores que operam
dentro da normalidade”, afirmou Maria
Fernanda Coelho, diretora de crédito digital para micro, pequenas e médias
empresas do BNDES.
¨ Fronteira agrícola do Matopiba
concentra 82% do desmatamento do Cerrado em 2024
O desmatamento no Cerrado caiu em 2024 e a maior parte
da devastação segue concentrada no Matopiba, área de expansão da fronteira
agrícola, que abrange o Tocantins e parte de Maranhão, Piauí e Bahia. Os dez
municípios mais desmatados no ano passado no bioma estão localizados nessa
faixa.
Os dados, divulgados nesta quinta-feira (6) pelo
Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (Sad Cerrado), indicam que, em
2024, o desmatamento no Cerrado atingiu 712 mil hectares, área maior que o
Distrito Federal. Isso representa uma queda de 33% em relação a 2023. Do total
da área desmatada, 78%, ou cerca de 555 mil hectares, está dentro de
propriedades particulares.
“Apesar da redução, a área total desmatada segue nos
patamares elevados quando comparamos com a série histórica e também com o
desmatamento em outros biomas, como a Amazônia”, avalia Fernanda Ribeiro,
pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e
coordenadora do SAD Cerrado.
De acordo com informações do Ipam, cerca de 62% da
vegetação nativa do Cerrado está dentro de propriedades rurais submetidas às
regras do Código Florestal Brasileiro, que permite o desmatamento de 80% da
área total das propriedades fora da Amazônia Legal.
“Apesar do respaldo legal, o desmatamento de áreas
privadas traz riscos tanto para a biodiversidade do bioma quanto para as
próprias propriedades, que passam a sofrer com secas mais severas e clima mais
extremo”, informa a nota emitida pelo Ipam.
Depois das áreas privadas, os vazios fundiários – zonas
sem proprietários ou mecanismos de governança definidos – são a segunda
categoria fundiária mais desmatada, correspondendo a cerca de 10% dos alertas
de desmatamento ou 70 mil hectares de vegetação nativa.
Nas unidades de conservação, que são áreas protegidas
pelos estados ou pelo governo federal, a área desmatada corresponde a 5,6% do
desmatamento do Cerrado, totalizando 39 mil hectares suprimidos. Nesta
categorias, as principais áreas atingidas também foram aquelas localizadas no
Matopiba, como a Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, que perdeu 12 mil
hectares para o desmatamento, e o Parque Nacional das Nascentes do Rio
Parnaíba, que teve 6,7 mil hectares destruídos.
<><> Municípios mais
desmatados
Os municípios vizinhos de Balsas (MA), Alto Parnaíba
(MA), Mateiros (TO) e Ponte Alta do Tocantins (TO) são os quatro primeiros da
lista com maior desmatamento registrado em 2024, totalizando 61 mil hectares
desmatados, cerca de 10% da área desmatada no Matopiba.
Balsas lidera a lista e tem 35% do território ocupado
por atividades agropecuárias, com destaque para plantio de soja. São mais de
269 mil hectares destinados ao cultivo do grão e quase 65 mil hectares cobertos
por pastagem.
O município vizinho de Alto Parnaíba, que ocupa a
segunda posição na lista, desmatou 16,6 mil hectares, 29% a menos do que no
período anterior. No Tocantins, Ponte Alta aumentou seu desmatamento em 61%,
perdendo 15 mil hectares de vegetação nativa, enquanto Mateiros diminuiu 5,7% e
chegou a 11,5 hectares derrubados.
O quinto município com mais desmatamento do bioma é São
Desidério (BA), que em 2023 foi o mais desmatado. Em 2024, o município perdeu
12,5 mil hectares de vegetação nativa, uma redução de 65% em relação ao ano
anterior.
Em todo o Matopiba, 34% da área é ocupada por
atividades agropecuárias, com destaque para as pastagens, que dominam mais de
15 milhões de hectares, e as plantações de soja, que ultrapassam 4 milhões de
hectares.
A região é também a maior emissora de gás carbônico
(CO2), o principal gás causador do aquecimento global. De janeiro de 2023 a
julho de 2024, o desmatamento no Cerrado brasileiro emitiu 135 milhões de
toneladas CO2, quantidade superior às emissões do setor industrial no Brasil.
80% dessas emissões vieram do Matopiba.
Fonte: Por Ayla Tapajós, da
Agencia Pública/ClimaInfo/Brasil de Fato
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