Eduardo Vasco:
“Mercado” queima Lula na fogueira santa
o presidente Lula concedeu uma entrevista de 45 minutos a rádios
baianas, onde fez muitas declarações de impacto. Em particular, sobre o preço
alto dos alimentos, ele afirmou que o povo está sendo extorquido pelos
fornecedores. Mas o PIG não perdeu a oportunidade de destacar e distorcer sua
fala sobre o consumo nos supermercados.
“A nossa tarefa é tentar fazer com que os preços das coisas que o povo
compra cheguem a ser compatíveis com aquilo que ele ganha. (...) Você tem
muitas vezes produtos cuja produção é muita e o pessoal, ao invés de baratear,
aumenta o preço porque as pessoas estão comprando. Eu tenho dito sempre o
seguinte nas reuniões que eu tenho feito: uma das coisas mais importantes para
que a gente possa controlar o preço é o próprio povo; se você vai num
supermercado em Salvador e desconfia que tal produto está caro, você não
compra. Se todo mundo tivesse a consciência de não comprar aquilo que acha que
está caro, quem está vendendo vai ter de baixar para vender, porque se não vai
estragar. Esse é um processo que a gente não precisa falar, porque é da
sabedoria do ser humano: eu não posso comprar aquilo que eu acho que o preço
está sendo exagerado, então eu vou deixar na prateleira, não vou comprar, eu
compro amanhã, compro outra coisa, compro um similar – esse é um processo
educacional que nós vamos ter que fazer com o povo brasileiro. Porque é
necessário que a gente faça isso. O povo não pode ser extorquido. Não pode ser
extorquido. As pessoas não podem tirar proveito do fato de o povo estar
comprando. A pessoa sabe que a massa salarial cresceu, então aumenta o preço
(...) Não, ninguém pode explorar ninguém! (...) A minha briga é tentar fazer
com que os preços cheguem a caber no bolso do povo trabalhador.”
Esse trecho pode ser assistido mais ou menos a partir desta minutagem, e
qualquer um perceberá que sua fala foi distorcida. Nela, fica nítido que Lula,
pressionado pelo “mercado”, tenta agradá-lo mostrando que não quer intervir
diretamente para baixar os preços, porque será brutalmente atacado. Então ele
indica que uma das maneiras naturais de se baixar os preços é, portanto, pela
lei do mercado: reduzir a procura. Mas, em nenhum momento, ele pediu para que
as pessoas deixassem de comprar. Muito menos jogou a culpa no próprio povo.
Instrumento dos bancos internacionais, o PIG se apressou para iniciar
mais uma campanha contra Lula. CNN Brasil, Folha de S.Paulo (depois mudou-se o
título) e Gazeta do Povo noticiaram que Lula “pediu” para a população não
comprar alimentos caros. Claro que o bolsonarismo surfou na onda. Mas ele não
inventou nenhuma fake news: quem inventou foi a imprensa tradicional. Os
bolsonaristas apenas disseminaram e aumentaram a mentira inventada pela
imprensa. Depois, o mesmo PIG continuou repercutindo o caso, dizendo que a
“fala de Lula para povo não comprar alimentos caros dá munição para a
oposição”.
Na Folha de S.Paulo, a colunista Dora Kramer intitulou sua coluna de “O
povo não é bobo” e o jornal deixou como chamada para a matéria na capa a frase
“Lula erra ao transferir para o consumidor culpa pela inflação”. No Estadão,
Carlos Andreazza disse que “Lula trabalha pelo nosso direito de não comprar” e
Eliane Cantanhêde afirmou que Lula usa entrevistas “para falar bobagens”. São
distorções criminosas. Isso é pura desinformação, fabricada e disseminada pelos
mesmos jornais que promovem a farsa do “combate às fake news”.
Mas este está longe de ser um caso isolado de manipulação para queimar o
presidente. Quando Rui Costa sugeriu timidamente algum tipo de intervenção do
governo para reduzir o preço dos alimentos, uma avalanche destruidora de
críticas caiu sobre o governo e o presidente. Afinal de contas, não seria papel
do governo baixar o preço da comida. Precisa deixar nas mãos do “mercado”!
Claro que Rui Costa recuou, amedrontado.
Mas então por que o “mercado” e seu aparelho de manipulação da opinião
pública culpam o governo pela alta no preço da comida? Como ele mesmo indicou,
Lula está apenas tentando deixar que as leis do mercado resolvam o problema, já
que é isso que querem.
Na verdade, o que querem mesmo é derrubar o presidente da República. Se
fosse possível, antes das eleições. Se não, vão fazer de tudo para dar um golpe
eleitoral e impedir que se reeleja.
O “mercado” aponta um revólver para a cabeça de Lula e o faz de refém.
Se não seguir sua cartilha, cai. Assim, o presidente é obrigado a adotar
medidas impopulares, achando que é possível ceder às imposições dos bancos em
troca de uma permissão para alguma medida paliativa a favor do povo. Mas, mesmo
sendo beneficiado, o “mercado” se aproveita para queimar Lula na fogueira,
usando seus instrumentos de fabricação do consenso para que o povo pense que a
culpa das medidas impopulares é de Lula. Como é bom governar nas sombras!
Aproveitando a sutil sugestão de Rui Costa, espalharam-se boatos, nas
redes e na imprensa, de que o governo queria aumentar artificialmente o prazo
de validade dos alimentos. Rui Costa teve de ir à imprensa desmentir. Mas
praticamente nenhum veículo repercutiu a investigação da agência Aos Fatos de
que essa nunca foi uma proposta do governo, e sim da associação dos
supermercados! O PIG deixou o governo se queimar e não desmentiu. Pouco depois,
quando o estrago já havia sido feito e a poeira baixou, o Estadão publicou o
editorial “Uma boa discussão desperdiçada”, dizendo que “rever o regulamento
dos prazos para consumo de alimentos poderia ser útil para reduzir o
desperdício”. Ou seja, mexer no prazo de validade é uma política do “mercado”
que, por ser impopular, foi atribuída ao governo, não foi desmentida pelos
jornais, que ficaram caladinhos, e, depois que já fizeram sua tarefa de deixar
o governo se queimar, disseram que era uma boa ideia!
O caso mais evidente, contudo, foi o do Pix. A medida (equivocada,
diga-se de passagem) sofreu com as distorções na opinião pública e Lula perdeu
popularidade. Teve de voltar atrás. Ela favoreceria os bancos. Mas os órgãos de
propaganda do “mercado” decidiram se calar, porque quem quer que a defendesse
seria repudiado pelo povo. Deixaram o governo se queimar sozinho. De novo,
depois que a popularidade de Lula despencou por causa disso, o “mercado”
evidenciou que aquela medida havia sido encomendada por ele. O Estadão,
novamente, publicou o editorial “O sonegador agradece”, salientando: “revogação
de monitoramento do Pix só beneficia um grupo: o crime organizado”. Ora, por
que não disse isso antes? Porque o “mercado” quer derrubar o governo, mais cedo
ou mais tarde. Não cabe sair em defesa de Lula, mesmo quando Lula busca
agradá-lo.
Esses exemplos esclarecem nitidamente que não adianta o presidente
governar para o “mercado”. Lula poderia até tentar encarnar um FHC, que o
“mercado” o rejeitaria. O que os bancos estão fazendo é obrigar Lula a favorecê-los
e, ao invés de dar algo em troca, o empurram ainda mais para o precipício. Nem
precisa dizer o que acontece quando ele tenta emplacar alguma medida que
desagrada ao deus “mercado”, né?
Preso por ter cão, preso por não ter cão.
·
Golpe parlamentarista-jurista à vista
De um lado, o Conselho de Política Monetária (Copom) preanuncia que, na
sua próxima reunião, haverá aumento de um ponto percentual na Selic.
Jurismo na veia.
A explicação já é clássica na formulação da revista Focus, bíblia do
mercado à qual o BC se rende: a inflação está desancorada em face da
expectativa de que escalará os 5,5%, fora da meta(por que não se muda a meta?),
e salário sobe acima da inflação puxa preços, exigindo, por isso, aumento de
juro básico.
O BC e o mercado insistem em considerar a inflação de demanda e não
inflação de custo decorrente dos choques de oferta – aumento de combustíveis,
de energia etc, controlados pelo governo.
De outro lado, no Congresso, o novo presidente da Câmara, deputado Hugo
Motta (Republicanos-PB), considera necessário discutir o parlamentarismo
inconstitucional, ou seja, o poder do legislativo sobrepujando o poder de
presidencialismo constitucional.
O que a combinação desses dois fatores – mais juros na próxima reunião
do Copom e estímulo de Motta ao semipresidencialismo-parlamentarismo – sugere
senão a desestabilização do sistema presidencialista constitucional em
substituição ao outro inconstitucional?
Ambos os fatores e suas consequências especulativas, somadas à pretensão
de Motta de colocar em votação a Anistia para Bolsonaro e golpistas que ele
apoiou em 8 de janeiro de 2023, tentam puxar o tapete do presidente da
República, que não tem maioria no Congresso.
É ou não a pressão do legislativo para que a procuradoria geral da
República não encaminhe ao STF o inquérito para iniciar a cassação do
ex-presidente fascista golpista?
Amplia-se, no cenário da nova legislatura, clara tentativa de golpe na
versão parlamentarista-jurista, que denuncia a aliança de um Legislativo
dominado pela direita e ultradireita com o mercado financeiro, cujas manobras
conduzem o BC a uma política de austeridade monetária ancorada nas expectativas
formuladas pela especulação.
O parlamento, não há dúvida, pelo que se vê do novo líder da Câmara,
nesse início de nova legislatura, joga contra a democracia e o povo.
Contra a democracia, pela declaração de Motta favorável ao regime
parlamentarista inconstitucional, já, historicamente, rejeitado pela sociedade
em plebiscito em 1963 e 1993.
E contra o povo, visto que ela desestabiliza, politicamente, o governo,
favorecendo os especuladores.
CONTRA A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA
Ademais, Motta coloca em suas declarações as adversativas argumentações
de que não está na hora de debater as duas principais propostas do presidente
Lula em favor da melhor distribuição de renda, quais sejam, isenção do IR para
quem ganha até R$ 5 mil e taxação dos mais ricos para favorecer os mais pobres.
Motta força criação de ambiente político indesejável para o Planalto.
Ele deixa claro que é legítimo representante do mercado e das
oligarquias das quais é originário, e, ao mesmo tempo, cuida, com as suas
declarações aparentemente inocentes de bom moço da burguesia parlamentarista,
de produzir instabilidade política.
As consequências de suas posturas poderão refletir na economia, gerando
expectativas negativas que refletiriam no BC, sob influxo da Faria Lima, como
perturbação para desancorar inflação da meta, de modo a justificar juros mais
altos etc.
A economia passa, com Motta, a ser conduzida pela política parlamentarista
inconstitucional, dadas as incertezas que suas declarações sugerem de
intensificar desestabilidades à governabilidade lulista, visando, o que é
essencial para a direita e ultradireita à qual representa: inviabilizar
reeleição do titular do Planalto em 2026.
¨ "A
política monetária tem que ter muita sabedoria. Você não pode jogar o país em
uma recessão”, alerta Haddad
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), defendeu nesta sexta-feira
(7) a necessidade de uma condução cuidadosa da política monetária para evitar
efeitos adversos na economia brasileira. Em entrevista à Rádio Cidade, de
Caruaru (PE), Haddad comparou o controle da taxa de juros ao uso de
medicamentos, destacando a importância de dosar corretamente as medidas para
evitar tanto a inflação quanto uma desaceleração excessiva do crescimento
econômico.
“[Os juros ajudam] depende da hora e depende da dose. Se você está tendo
um repique inflacionário, você precisa corrigir. O remédio para corrigir a
inflação é, muitas vezes, aumentar a taxa de juros para inibir a alta de
preços. Agora, tudo isso tem que ser feito de maneira correta e na dose certa.
Isso é que nem antibótico. Você não pode tomar uma cartela inteira em um dia,
nem pular horário e nem tomar nem menos nem mais do que você precisa”, afirmou.
No último dia 29, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco
Central (BC) decidiu aumentar a taxa básica de juros, a Selic, em 1 ponto
percentual, elevando o custo dos empréstimos a 13,25% ao ano. A decisão foi
unânime. Foi a primeira reunião sob o comando do novo presidente do BC, Gabriel
Galípolo, e a quarta elevação consecutiva da Selic. Na ocasião, Haddad criticou
a decisão: "a economia, em 2025, será naturalmente mais lenta se a
política de juros permanecer neste nível elevado". Já o presidente Lula
(PT), quando questionado, disse entender que a nova administração do Banco
Central não poderia dar um "cavalo-de-pau" na política monetária:
“tivemos um aumento do dólar porque tivemos um Banco Central totalmente
irresponsável, que deixou uma arapuca que a gente não pode desmontar de uma
hora para outra. A gente não pode dar um cavalo-de-pau em um navio do tamanho
do Brasil".
Na entrevista, Haddad reforçou que a política monetária precisa ser
conduzida com responsabilidade, equilibrando a necessidade de controlar a
inflação com a preservação do crescimento econômico. Segundo ele, medidas
drásticas podem comprometer o desenvolvimento do país. “Você não pode deixar o
problema de crescimento da economia, não pode jogar o país em uma recessão, não
pode deixar também ter um problema grave de transações correntes com o
exterior. Às vezes você aumenta [os juros] para desaquecer um pouco a economia
que, se estiver muito aquecida, os preços vão aumentar. Então, em economia, não
existe um remédio para toda hora. Isso tudo é você conduzindo um organismo para
uma estabilidade melhor”, explicou o ministro.
<><> Correção de distorções fiscais
Durante a entrevista, Haddad também mencionou os esforços do governo
para reequilibrar as contas públicas e reduzir o déficit fiscal. Ele criticou
gestões anteriores por concederem isenções fiscais a setores privilegiados, sem
a devida compensação para os cofres públicos.
“No ano passado, nós já corrigimos as distorções do déficit público. O
déficit acumulado nos dois governos anteriores foi de quase R$ 2 trilhões. A
dívida pública subiu muito desde que o presidente Lula deixou a Presidência da
República. Então, estamos hoje corrigindo essa questão do déficit público”,
disse.
O ministro apontou que, enquanto a faixa de isenção do Imposto de Renda
foi ampliada para trabalhadores, o governo também adotou medidas para tributar
grandes patrimônios que antes escapavam da cobrança de impostos.
“Havia muito benefício fiscal para empresário rico. Os ricos foram muito
favorecidos com isenção de impostos e a gente está corrigindo isso. Quem tinha
um fundo em paraíso fiscal não pagava imposto no Brasil. E o governo anterior
não teve a coragem de cobrar imposto de quem tinha fundo em paraíso fiscal. O
presidente Lula corrigiu isso. Ao mesmo tempo em que aumentava a faixa de
isenção do Imposto de Renda, ele cobrava, para compensar, de milionários e
bilionários que não pagavam e que estavam com dinheiro fora do Brasil”,
concluiu Haddad.
Fonte: Brasil 247

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