As razões
pelas quais você (não) deve ter um cachorro
Um companheiro que nos
recebe com o rabo abanando e amor incondicional. Não é de se admirar que tantas
pessoas queiram adotar um cachorro, convencidas de que o animal irá melhorar
suas vidas. No Brasil, há mais de 62 milhões, segundo levantamento do Instituto
Pet Brasil. Na Europa, mais de 104 milhões de casas têm ao menos um exemplar
canino, e nos Estados Unidos, 65 milhões, de acordo com dados da Universidade Eötvös
Loránd (Elte), da Hungria.
Estudo conduzido por
pesquisadores da Elte, publicado na Scientific
Reports, verificou que a maioria dos tutores de cachorro
se identificam com a seguinte frase: "os cães trazem alegria à vida".
Mais de 60% dos 246
entrevistados destacaram espontaneamente o profundo relacionamento que
desenvolvem com seus animais de estimação, descrevendo-os como companheiros
honestos e dedicados.
<><> O outro
lado da moeda
No entanto, a vida com um
cão não é só brincadeira e carinho. A realidade, conforme revelado pela equipe
de pesquisa liderada por Laura Gillet, doutoranda do Departamento de Etologia
(ciência que investiga o comportamento animal) da Elte, é mais complexa e cheia
de nuances. Suas descobertas confirmam o que muitos donos já sentem: a relação
entre humanos e cães é uma dança delicada entre alegrias profundas e desafios
consideráveis.
Por exemplo, as finanças
provaram ser uma preocupação esmagadora: 95% dos proprietários citaram as
despesas como seu maior desafio. Contas veterinárias, alimentação e outros
custos contínuos podem afetar significativamente o orçamento familiar. Além
disso, embora mencionados com menos frequência, o custo emocional e os desafios
práticos também pesam. Cuidar de um cão com problemas de saúde ou de comportamento
pode gerar preocupação e culpa, além de atrapalhar significativamente as
rotinas diárias.
<><> As três
dimensões do relacionamento entre humanos e cães
O estudo revelou três
dimensões principais do relacionamento entre humanos e cães: os benefícios
(emocionais, físicos e sociais), os desafios (problemas práticos e emoções
negativas) e o fator de envolvimento. O último é particularmente interessante
porque divide opiniões: enquanto alguns proprietários encaram com alegria
os passeios matinais e o
treinamento diário, outros veem essa rotina como um fardo.
Nesse sentido, a realidade é
que ter um cão pode ser tão gratificante quanto desafiador. Por um lado, 31%
dos proprietários mencionaram melhorias em seu estilo de vida por meio de mais
exercícios e atividades ao ar livre, e 15% valorizaram particularmente a
conexão com outra espécie, observando que compartilhar a vida com um ser com
qualidades tão diferentes das humanas é enriquecedor. Por outro lado, há também
os aspectos menos glamourosos a serem considerados: eles podem bagunçar a casa,
limitam a liberdade de viajar e, talvez o mais doloroso, têm vidas
relativamente curtas (esse último aspecto recebeu a pior classificação do
estudo).
Os aspectos positivos foram,
em média, classificados como muito mais relevantes do que os negativos. No
entanto, os pesquisadores alertam que alguns donos podem estar minimizando os
problemas por medo de serem rotulados como "maus donos", destacando a
necessidade de uma conversa mais honesta e equilibrada sobre o que realmente
significa ter um cão.
<><> Adoção
responsável
"Preencher a lacuna
entre as expectativas e a realidade pode melhorar a vida tanto dos humanos
quanto dos cães", enfatiza Eniko Kubinyi, chefe do Departamento de
Etologia da Elte. Por isso, os especialistas enfatizam a importância da adoção
consciente: pensar no tempo disponível, no orçamento e no estilo de vida antes
de trazer um cão para a família pode evitar atritos e decepções.
Em última análise, para a
maioria, as alegrias de compartilhar a vida diária com um cão ainda superam os
contratempos. Ainda assim, não se deve ignorar o fato de que essa decisão tem
um custo financeiro, implicações emocionais e ajustes na rotina. A chave para
um relacionamento satisfatório e duradouro com um companheiro de quatro patas é
estar bem-informado, pesar honestamente os prós e os contras e, acima de tudo,
entender que esse é um compromisso de longo prazo que exige dedicação
constante.
Como argumentam os
pesquisadores, quanto mais bem preparados os futuros donos estiverem para essa
realidade, mais satisfatória será a experiência tanto para eles quanto para
seus companheiros caninos.
¨ Estudo mostra como cães acompanharam humanos pelo mundo
Grande parte da diversidade
nas populações caninas modernas já estava presente quando a última Era do Gelo
terminou, há 11 mil anos, como mostra o mais amplo estudo com genoma antigo dos
animais, divulgado nesta quinta-feira (29/10). O artigo, publicado na
revista Science, mostra como os cães se espalharam pelo mundo – quase sempre seguindo
os passos de seus donos.
Cachorros são um dos maiores
enigmas da domesticação. Apesar de décadas de estudo, os cientistas ainda não
descobriram exatamente quando ou onde eles surgiram, muito menos como ou por
que isso aconteceu.
A equipe de pesquisa
liderada pelo Instituto Francis Crick deu algumas pistas para solucionar esse
mistério. Ela sequenciou os genomas de 27 cães, alguns dos quais viveram há
quase 11 mil anos, em toda a Europa, no Oriente Médio e na Sibéria.
Os pesquisadores descobriram
que nessa época, bem antes da domesticação de qualquer outro animal, já
existiam pelo menos cinco tipos diferentes de cães com ancestrais genéticos distintos.
"Algumas das variações
que você vê entre os cães andando pelas ruas hoje em dia tiveram origem na Era
do Gelo", diz Pontus Skoglund, do laboratório de Genômica Antiga de Crick,
autor sênior do artigo. "Ao final deste período, os cães já estavam espalhados
por todo o Hemisfério Norte".
Segundo o pesquisador, isso
mostra que a diversidade entre os cachorros surgiu muito antes – é anterior à
"agricultura, à Idade da Pedra, ao Paleolítico, ao caçador coletor".
<><>
Ancestralidade comum
Quando e onde os cães se
diferenciaram dos lobos pela primeira vez é um assunto controverso – análises
de dados genéticos indicam uma janela aproximadamente entre 25 e 40 mil anos
atrás.
O novo artigo não entra
neste debate, mas apoia a ideia de que, ao contrário de outros animais, como os
porcos, que parecem ter sido domesticados em vários locais ao longo do tempo,
existe uma "origem única" na transição de lobos para cães.
Os cientistas descobriram
que todos os cães provavelmente compartilham uma ancestralidade comum "de
uma única população antiga, agora extinta de lobos".
Ao extrair e analisar DNA
antigo de material esquelético, os pesquisadores foram capazes de ver mudanças
evolutivas da forma como elas ocorreram há milhares de anos.
Por exemplo, os cães
europeus há cerca de 4 ou 5 mil anos eram altamente diversificados e pareciam
ter origem em populações distintas de cães do Oriente Médio e da Sibéria. Mas,
com o tempo, esta diversidade foi perdida.
"Embora os cães
europeus que vemos hoje venham em uma variedade tão extraordinária de formas e
formatos, geneticamente eles derivam apenas de um subconjunto muito estreito
que costumava existir", afirma Anders Bergstrom, principal autor do
estudo.
<><> Caminhos
evolutivos
Os caminhos evolutivos de
cães e humanos, por vezes, seguiram rotas semelhantes.
Os humanos, por exemplo, têm
mais cópias do que os chimpanzés de um gene que cria uma enzima digestiva
chamada amilase salivar, que nos ajuda a quebrar as dietas de amido alto.
Da mesma forma, o estudo
demonstrou que os primeiros cães carregavam cópias extras destes genes em
comparação aos lobos. A tendência aumentou à medida que suas dietas se
adaptavam à vida agrícola.
A conclusão se baseia em
pesquisas anteriores que descobriram, por exemplo, que cães de trenó
desenvolveram caminhos metabólicos similares aos dos inuítes para permitir que
processassem dietas com alto teor de gordura.
O novo trabalho documenta
várias vezes quando o movimento humano contribuiu para a expansão dos cães. Ele
se baseia em pesquisas anteriores, como uma de 2018 que encontrou os primeiros
cães da América do Norte originários de uma raça na Sibéria, mas que quase
desapareceram completamente após a chegada dos europeus.
O campo de estudo do DNA
antigo revolucionou a compreensão sobre ancestrais humanos, e os pesquisadores
tem esperança de que ele possa fazer o mesmo com os cães.
"Compreender a história
dos cães nos ensina não apenas sobre a história deles, mas também sobre nossa
própria história", afirma Bergstrom.
Fonte: DW Brasil
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