sábado, 8 de fevereiro de 2025

As razões pelas quais você (não) deve ter um cachorro

Um companheiro que nos recebe com o rabo abanando e amor incondicional. Não é de se admirar que tantas pessoas queiram adotar um cachorro, convencidas de que o animal irá melhorar suas vidas. No Brasil, há mais de 62 milhões, segundo levantamento do Instituto Pet Brasil. Na Europa, mais de 104 milhões de casas têm ao menos um exemplar canino, e nos Estados Unidos, 65 milhões, de acordo com dados da Universidade Eötvös Loránd (Elte), da Hungria.

Estudo conduzido por pesquisadores da Elte, publicado na Scientific Reports, verificou que a maioria dos tutores de cachorro se identificam com a seguinte frase: "os cães trazem alegria à vida".

Mais de 60% dos 246 entrevistados destacaram espontaneamente o profundo relacionamento que desenvolvem com seus animais de estimação, descrevendo-os como companheiros honestos e dedicados.

<><> O outro lado da moeda

No entanto, a vida com um cão não é só brincadeira e carinho. A realidade, conforme revelado pela equipe de pesquisa liderada por Laura Gillet, doutoranda do Departamento de Etologia (ciência que investiga o comportamento animal) da Elte, é mais complexa e cheia de nuances. Suas descobertas confirmam o que muitos donos já sentem: a relação entre humanos e cães é uma dança delicada entre alegrias profundas e desafios consideráveis.

Por exemplo, as finanças provaram ser uma preocupação esmagadora: 95% dos proprietários citaram as despesas como seu maior desafio. Contas veterinárias, alimentação e outros custos contínuos podem afetar significativamente o orçamento familiar. Além disso, embora mencionados com menos frequência, o custo emocional e os desafios práticos também pesam. Cuidar de um cão com problemas de saúde ou de comportamento pode gerar preocupação e culpa, além de atrapalhar significativamente as rotinas diárias.

<><> As três dimensões do relacionamento entre humanos e cães

O estudo revelou três dimensões principais do relacionamento entre humanos e cães: os benefícios (emocionais, físicos e sociais), os desafios (problemas práticos e emoções negativas) e o fator de envolvimento. O último é particularmente interessante porque divide opiniões: enquanto alguns proprietários encaram com alegria os passeios matinais e o treinamento diário, outros veem essa rotina como um fardo.

Nesse sentido, a realidade é que ter um cão pode ser tão gratificante quanto desafiador. Por um lado, 31% dos proprietários mencionaram melhorias em seu estilo de vida por meio de mais exercícios e atividades ao ar livre, e 15% valorizaram particularmente a conexão com outra espécie, observando que compartilhar a vida com um ser com qualidades tão diferentes das humanas é enriquecedor. Por outro lado, há também os aspectos menos glamourosos a serem considerados: eles podem bagunçar a casa, limitam a liberdade de viajar e, talvez o mais doloroso, têm vidas relativamente curtas (esse último aspecto recebeu a pior classificação do estudo).

Os aspectos positivos foram, em média, classificados como muito mais relevantes do que os negativos. No entanto, os pesquisadores alertam que alguns donos podem estar minimizando os problemas por medo de serem rotulados como "maus donos", destacando a necessidade de uma conversa mais honesta e equilibrada sobre o que realmente significa ter um cão.

<><> Adoção responsável

"Preencher a lacuna entre as expectativas e a realidade pode melhorar a vida tanto dos humanos quanto dos cães", enfatiza Eniko Kubinyi, chefe do Departamento de Etologia da Elte. Por isso, os especialistas enfatizam a importância da adoção consciente: pensar no tempo disponível, no orçamento e no estilo de vida antes de trazer um cão para a família pode evitar atritos e decepções.

Em última análise, para a maioria, as alegrias de compartilhar a vida diária com um cão ainda superam os contratempos. Ainda assim, não se deve ignorar o fato de que essa decisão tem um custo financeiro, implicações emocionais e ajustes na rotina. A chave para um relacionamento satisfatório e duradouro com um companheiro de quatro patas é estar bem-informado, pesar honestamente os prós e os contras e, acima de tudo, entender que esse é um compromisso de longo prazo que exige dedicação constante.

Como argumentam os pesquisadores, quanto mais bem preparados os futuros donos estiverem para essa realidade, mais satisfatória será a experiência tanto para eles quanto para seus companheiros caninos.

¨      Estudo mostra como cães acompanharam humanos pelo mundo

Grande parte da diversidade nas populações caninas modernas já estava presente quando a última Era do Gelo terminou, há 11 mil anos, como mostra o mais amplo estudo com genoma antigo dos animais, divulgado nesta quinta-feira (29/10). O artigo, publicado na revista Science, mostra como os cães se espalharam pelo mundo – quase sempre seguindo os passos de seus donos.

Cachorros são um dos maiores enigmas da domesticação. Apesar de décadas de estudo, os cientistas ainda não descobriram exatamente quando ou onde eles surgiram, muito menos como ou por que isso aconteceu. 

A equipe de pesquisa liderada pelo Instituto Francis Crick deu algumas pistas para solucionar esse mistério. Ela sequenciou os genomas de 27 cães, alguns dos quais viveram há quase 11 mil anos, em toda a Europa, no Oriente Médio e na Sibéria.

Os pesquisadores descobriram que nessa época, bem antes da domesticação de qualquer outro animal, já existiam pelo menos cinco tipos diferentes de cães com ancestrais genéticos distintos.

"Algumas das variações que você vê entre os cães andando pelas ruas hoje em dia tiveram origem na Era do Gelo", diz Pontus Skoglund, do laboratório de Genômica Antiga de Crick, autor sênior do artigo. "Ao final deste período, os cães já estavam espalhados por todo o Hemisfério Norte".

Segundo o pesquisador, isso mostra que a diversidade entre os cachorros surgiu muito antes – é anterior à "agricultura, à Idade da Pedra, ao Paleolítico, ao caçador coletor".

<><> Ancestralidade comum

Quando e onde os cães se diferenciaram dos lobos pela primeira vez é um assunto controverso – análises de dados genéticos indicam uma janela aproximadamente entre 25 e 40 mil anos atrás.

O novo artigo não entra neste debate, mas apoia a ideia de que, ao contrário de outros animais, como os porcos, que parecem ter sido domesticados em vários locais ao longo do tempo, existe uma "origem única" na transição de lobos para cães.

Os cientistas descobriram que todos os cães provavelmente compartilham uma ancestralidade comum "de uma única população antiga, agora extinta de lobos".

Ao extrair e analisar DNA antigo de material esquelético, os pesquisadores foram capazes de ver mudanças evolutivas da forma como elas ocorreram há milhares de anos.

Por exemplo, os cães europeus há cerca de 4 ou 5 mil anos eram altamente diversificados e pareciam ter origem em populações distintas de cães do Oriente Médio e da Sibéria. Mas, com o tempo, esta diversidade foi perdida.

"Embora os cães europeus que vemos hoje venham em uma variedade tão extraordinária de formas e formatos, geneticamente eles derivam apenas de um subconjunto muito estreito que costumava existir", afirma Anders Bergstrom, principal autor do estudo.

<><> Caminhos evolutivos

Os caminhos evolutivos de cães e humanos, por vezes, seguiram rotas semelhantes.

Os humanos, por exemplo, têm mais cópias do que os chimpanzés de um gene que cria uma enzima digestiva chamada amilase salivar, que nos ajuda a quebrar as dietas de amido alto.

Da mesma forma, o estudo demonstrou que os primeiros cães carregavam cópias extras destes genes em comparação aos lobos. A tendência aumentou à medida que suas dietas se adaptavam à vida agrícola.

A conclusão se baseia em pesquisas anteriores que descobriram, por exemplo, que cães de trenó desenvolveram caminhos metabólicos similares aos dos inuítes para permitir que processassem dietas com alto teor de gordura.

O novo trabalho documenta várias vezes quando o movimento humano contribuiu para a expansão dos cães. Ele se baseia em pesquisas anteriores, como uma de 2018 que encontrou os primeiros cães da América do Norte originários de uma raça na Sibéria, mas que quase desapareceram completamente após a chegada dos europeus.

O campo de estudo do DNA antigo revolucionou a compreensão sobre ancestrais humanos, e os pesquisadores tem esperança de que ele possa fazer o mesmo com os cães.

"Compreender a história dos cães nos ensina não apenas sobre a história deles, mas também sobre nossa própria história", afirma Bergstrom.

 

Fonte: DW Brasil

 

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