A proposta ‘indecente’
que poderia trazer Bolsonaro de volta às urnas em 2026
Um projeto de lei
de um deputado federal bolsonarista busca abrir caminho para
o ex-presidente Jair Bolsonaro concorrer à Presidência da República em 2026.
Em junho de 2023,
Bolsonaro foi declarado
inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em votação por 5 a 2.
O motivo foi uma
reunião realizada com embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada quando
Bolsonaro ainda era presidente três meses antes da eleição em que Bolsonaro foi
derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva. Na ocasião, Bolsonaro fez acusações
infundadas contra o processo eleitoral brasileiro e o TSE.
Sua inelegibilidade vai
até 2030 —
ano em que ele poderia concorrer novamente à Presidência, quando estará com 75
anos.
Mas um projeto de
lei do deputado federal Bibo Nunes (PL-RS), apoiador e colega de partido de
Bolsonaro, quer mudar o período de
inelegibilidade de
8 anos para 2 anos.
O projeto de lei
complementar (PLP) 141/2023 altera o inciso 14 do artigo 22, da Lei
Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, para "determinar que a sanção
de inelegibilidade para as eleições a se realizarem seja nos dois anos
subsequentes à eleição".
A proposta de Bibo
Nunes deixaria a lei contra políticos ainda mais branda do que a original — já
que no texto inicial, de 1990, o período de inelegibilidade era de três anos. O
prazo foi aumentado para oito anos na década passada, com a chegada da lei da
Ficha Limpa. Com inelegibilidade de dois anos, alguns políticos sequer ficariam
afastados da eleição seguinte para seu mesmo cargo, dependendo da data da
condenação.
O projeto está na
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), sob relatoria do deputado Filipe
Barros (PL-PR). A CCJ decide se projetos de lei são constitucionais. Caso não
sejam, eles não podem sequer tramitar no Congresso e são abandonados
imediatamente.
Segundo o portal
G1, o assunto só deverá ser debatido na CCJ depois do Carnaval (que termina no
dia 8 de março).
·
Qual
é a justificativa da mudança da inelegibilidade?
Na justificativa
oficial de Bibo Nunes — um documento com cinco páginas presente no texto da lei
complementar — não há menção a Bolsonaro.
A justificativa de
Nunes é que "existem mecanismos para responsabilizar agentes políticos por
condutas indevidas". "Dentre esses mecanismos, destacam-se a
possibilidade de instauração de processo disciplinar, ação penal, ação de
improbidade administrativa, ação de responsabilização dos agentes políticos,
entre outros."
Para ele, "a
inelegibilidade por dois anos seguintes ao pleito eleitoral é uma sanção mais
do que suficiente para os fins que se almeja a inelegibilidade".
Ele destaca algumas
decisões da Justiça Eleitoral em que políticos foram declarados inelegíveis ora
por três anos, ora por oito anos — o que segundo ele gera "instabilidade e
insegurança jurídica para os políticos".
Em sua conta no X,
Bibo Nunes escreveu: "A redução do período de inelegibilidade de 9 anos
para 2 anos não tem a ver com reduzir condenações por abuso de poder político
ou econômico durante as eleições. Existe a justiça comum, o código penal, a lei
de improbidade administrativa, entre outras para punir políticos criminosos.
Não é por tempo de ficar inelegível que se pune um político criminoso. Oito
anos é muito tempo e serve para punições políticas e não criminosas. Iniciou
com 3 anos e aumentaram para 9, agora vamos reduzir para 2, adaptando a uma
realidade justa."
Nas suas mídias
sociais, Bibo Nunes publica fotos ao lado de Bolsonaro e reportagens que falam
que o objetivo da medida é permitir a candidatura do ex-presidente em 2026.
"PLP 141/2023
permitirá Bolsonaro em 2026", diz uma postagem, com foto de Nunes e
Bolsonaro juntos.
Na quarta-feira
(6/2), Bolsonaro visitou Bibo Nunes para discutir o assunto. A bancada que
apoia o presidente está se mobilizando para discutir com o chamado
"Centrão" formas de aprovar a proposta que colocaria Bolsonaro na
disputa pela presidência em 2026.
Nunes também faz
postagens dizendo ter feito pedidos de impeachment de seis ministros do Supremo
Tribunal Federal (STF).
·
Reações
e precedentes
Nunes argumenta que
sua lei não altera a Ficha Limpa — lei de 2010 que proíbe políticos condenados
em segunda instância em decisão colegiada (que envolve mais de um juiz) de
concorrer em eleições, mesmo quando ainda cabe recurso. Ela passou a valer nas
eleições de 2012.
No entanto, o
artigo que seu projeto de lei complementar busca alterar (o artigo 22 da Lei
Complementar nº 64 de 1990) teve sua redação formatada justamente pela lei da
Ficha Limpa em 2010.
Mesmo que fosse
aprovado o projeto de lei complementar, ainda haveria uma discussão política
sobre se Bolsonaro poderia ser beneficiado ou não pela alteração, já que não
está explícito que a mudança do artigo tem efeito retroativo.
Há precedentes em
que a lei da Ficha Limpa foi aplicada retroativamente. Em 2017, o STF decidiu
por 6 votos a 5 aplicar a Ficha Limpa contra políticos condenados por crimes
anteriores à lei. A pena de inelegibilidade desses políticos foi mudada de três
anos (o período previsto por lei na época em que haviam sido condenados) para
oito (o novo período previsto pela lei da Ficha Limpa).
O novo presidente
da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), deu entrevistas em que disse que o
período de inelegibilidade de oito anos é "muito longo" e mostrou
disposição para discutir o assunto.
A conta do PT na
Câmara dos Deputados no X publicou um vídeo do deputado federal Merlong Solano
(PT-PI) criticando a proposta de Bibo Nunes.
"Há uma
tentativa de golpe tentando tramitar no Congresso Nacional", diz o
deputado do PT no vídeo. "O objetivo é claro: proteger o ex-presidente
Jair Bolsonaro, que foi condenado duas vezes pelo Tribunal Superior Eleitoral
porque agrediu as leis do Brasil e com isso está inelegível por oito anos.
Querem reduzir o prazo para dois anos de modo que ele fuja da sua
responsabilidade de pagar pelos crimes que cometeu", diz Solano.
"Temos todos
que nos mobilizar. Isso tem a ver com a defesa da nossa estabilidade
democrática. Não faz sentido as leis ficarem sendo alteradas a cada momento ao
gosto do sabor da necessidade de alguém em particular. Isso é casuísmo
puro."
¨ A reação de Bolsonaro após ser humilhado por Lula
O
ex-presidente Jair
Bolsonaro reagiu
nesta quinta-feira (6) a uma fala do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva sobre
seus reiterados pedidos por anistia.
Na última
quarta-feira (6), em entrevista a emissoras de rádio de Minas Gerais, Lula
impôs humilhação a Bolsonaro ao afirmar que o próprio ex-presidente
está se condenando ao pedir anistia pela tentativa de golpe de Estado no
país.
Indiciado pela
Polícia Federal (PF) no inquérito que apura a trama golpista e prestes
a ser denunciado pela
Procuradoria-Geral da República (PGR) pelo caso, o ex-mandatário reiteradamente
pede anistia aos envolvidos com os ataques de 8 de janeiro de 2023 e, caso o
perdão seja concedido, poderia, em última instância, ser beneficiado, já
que a investigação da PF afirma categoricamente que
Bolsonaro "planejou, atuou e teve domínio de forma direta e efetiva" da
tentativa de golpe que culminou na invasão os prédios dos Três Poderes em
Brasília.
"As pessoas
são muito interessantes. Nem terminou o processo, já querem anistia. Não
acreditam que são inocentes? Eles deveriam acreditar, e não ficar pedindo
anistia antes de o juiz determinar a punição", disse Lula na entrevista
.
"O que estamos
garantindo é um processo de julgamento altamente democrático, em que eles têm
todo o direito de defesa (...) As pessoas estão se condenando, acham que
fizeram exatamente aquilo que a Justiça diz. Esperem o
julgamento, se defendam (...) Quem vai decidir é a
Justiça, se vai absolver ou condenar", prosseguiu.
Na mesma
entrevista, Lula
ainda disparou: "Se
a Justiça disser que ele [Jair Bolsonaro] pode concorrer às eleições, ele pode
concorrer. E, se for comigo, vai perder outra vez".
Bolsonaro,
então, reagiu com um vídeo divulgado em seu Instagram no qual, sem
citar diretamente as declarações de Lula, menciona o projeto de anistia
aos golpistas que está parado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e
afirma que o novo presidente da Casa, Hugo Motta, deve pautar a discussão da
proposta e que ela não prevê anistia para si mesmo, mas apenas para os
condenados pelo 8 de janeiro.
"Não é a minha
anistia. Eu não estou condenado em absolutamente nada. É a anistia dessas
pessoas, dezenas e dezenas de pessoas, condenadas a penas absurdas",
afirma o ex-mandatário.
Quem também reagiu
à crítica de Lula aos pedidos de anistia foi Fabio Wajngarten,
ex-secretário de Comunicação de Bolsonaro que, atualmente, assessora e advoga
para o ex-presidente. Segundo ele, o ex-mandatário "nunca" pediu
anistia para si próprio.
"O presidente
Bolsonaro nunca pleiteou nada para ele mesmo. Isso nunca existiu. Ele defende
anistia para os atos do 8 de janeiro, para os que estão presos
injustamente", afirmou.
Não é bem
assim
Apesar de Bolsonaro
e Wajngarten sustentarem que o ex-presidente não pede anistia para si próprio,
declarações do ex-mandário mostram que seu apoio a projetos que perdoem os
golpistas visam, sim, beneficiá-lo.
Em outubro de 2024,
pro exemplo, Bolsonaro foi ao Congresso Nacional para negociar o apoio do PL
aos então candidatos à presidência da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi
Alcolumbre e, em entrevista, confirmou que discutiu um projeto de anistia que
priorizasse os condenados pelo 8 de janeiro, mas confirmando que quer anistia
para si mesmo com o intuito de se livrar da condenação à inelegibilidade até
2030.
"Foi um
julgamento político (a inelegibilidade). e estamos buscando maneiras de
desfazer isso aí. A prioridade nossa é o pessoal que está preso, eu sou o
segundo plano", declarou à época.
<><> O
novo plano de Bolsonaro para ser candidato em 2026
A extrema-direita e
o centrão na Câmara articulam
um plano para reabilitar Jair Bolsonaro até 2026, extinguindo a
inelegibilidade do ex-presidente.
Condenado pelo
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em duas ações por abuso de poder político,
Bolsonaro está inelegível até 2030. Um projeto do deputado federal Bibo
Nunes (PL-RS), no entanto, pode mudar esta situação e permitir que o
ex-presidente seja candidato na próxima eleição presidencial.
No último sábado
(1), integrantes do PL, incluindo o próprio ex-presidente, realizaram uma reunião
em Brasília, pouco antes das eleições à presidência da Câmara e do Senado. No
encontro, ficou definido que uma das prioridades do partido em 2025 será
aprovar Projeto de Lei Complementar (PLP) 141/2023, do deputado Bibo
Nunes, que esvazia a Lei da Ficha Limpa e reduz de 8 para 2 anos o período
de inelegibilidade para condenados por abuso de poder político, como é o
caso de Jair Bolsonaro.
Segundo Bibo Nunes,
o projeto, que será relatado pelo bolsonarista Felipe Barros (PL-PR), já
conta com o apoio de integrantes do centrão. Neste momento, a proposta tramita
na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara e aguarda um parecer do
relator para ir à votação.
"Com o
Presidente Bolsonaro no encontro do PL, hoje, onde confirmamos apoio total para
ele como candidato em 2026. O PLP 141/23, de minha autoria é que reduz a
inelegibilidade de 8 para 2 anos, viabilizando a candidatura. O colega Felipe
Barros será o relator e será prioridade do PL a aprovação. Bolsonaro Presidente
em 2026!", escreveu Bibo Nunes ao divulgar uma foto com Bolsonaro.
<><>
Bolsonaro já fala como se estivesse elegível
Em discurso na
reunião do PL em Brasília no último sábado (1), Jair Bolsonaro falou como
se não estivesse inelegível e já fosse candidato à presidência em
2026.
“Por ocasião das
eleições do ano que vem, me deem metade da Câmara dos Deputados e metade do
Senado, que eu movo o Brasil”, disparou o ex-presidente.
¨ “Patriota”,
Bolsonaro diz que colocará base militar dos EUA no Brasil se voltar ao Planalto
Inelegível e às portas
de ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal por sua tentativa frustrada de
golpe de Estado, Jair Bolsonaro (PL) concedeu uma entrevista breve à colunista Mônica
Bergamo, da Folha de S.Paulo, e na conversa mostrou-se mais submisso do
que nunca ao presidente dos EUA, Donald Trump.
Entre os absurdos
que afirmou que colocará em prática se voltar ao Palácio do Planalto, um chamou
a atenção e retratou fielmente o nível de entreguismo e viralatismo do
ex-presidente: ele permitirá a instalação de uma base militar dos EUA no
território brasileiro. Obviamente seria preciso de alguma desculpa para tal
insanidade e ele usou uma imaginária e risível infiltração de terroristas
islâmicos na região da tríplice fronteira, nos limites com o Paraguai e a
Argentina.
“Eu vou permitir
que seja instalada uma base militar dos EUA ali”, afirmou Bolsonaro à Folha.
Em outra
manifestação de subserviência total aos desígnios norte-americanos, o antigo
presidente brasileiro disse ainda que se voltar ao comando político do país
retirará o Brasil do Brics, o poderoso grupo econômico formado originalmente
por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e que recentemente aceitou a
integração de outras grandes e importantes nações do ponto de vista econômico.
A iniciativa é mais fundamental do que nunca para o Brasil, por conectar nossa
economia com outras economias emergentes e pujantes e por, sobretudo, fazer
frente ao domínio dos EUA nesse campo, que agora com Trump age de maneira ainda
mais truculenta. De lambuja, Bolsonaro, como o maior dos negacionistas e
anticiência, prometeu ainda deixar a Organização Mundial da Saúde.
“Eu, se for
presidente de novo, saio do Brics e da OMS”, acrescentou o
extremista fracassado nas urnas que tentou dar um golpe de Estado mambembe que
não conseguiu sequer adesão de seus comandantes militares.
Fonte: BBC News
Brasil/Fórum
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