"O
governo tem que ser mais consequente no seu programa original", afirma
Tarso Genro
Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o ex-governador do
Rio Grande do Sul e ex-ministro da Justiça, Tarso Genro, fez uma ampla análise
sobre o atual cenário político brasileiro, as dificuldades enfrentadas pelo
governo Lula e o futuro da esquerda no país. Durante a conversa, Genro apontou
os desafios impostos pelo Congresso Nacional, a necessidade de reformas
estruturais e a importância de uma nova estratégia de comunicação política.
Genro destacou que a recente eleição de Hugo Motta e Davi Alcolumbre
para a presidência das casas legislativas representa um gesto de distensão
política, mas alertou para a permanência de velhas práticas: "Eu não
acredito naquilo que esses dois presidentes dizem. Sua história, sua postura e
até os seus discursos mostram que representam a mesma coisa que o presidente da
Câmara anterior representava". Segundo ele, apesar das mudanças políticas
e econômicas, o governo federal enfrenta obstáculos que vão além da composição
do Congresso.
O ex-ministro identificou três fatores centrais para os desgastes
enfrentados pelo governo: o cenário internacional em mutação, a dificuldade em
consolidar uma política de comunicação eficaz e a diversidade do ministério:
"Tem pessoas de alta competência e relevância política, e tem pessoas
novatas nas grandes questões do Estado brasileiro. Alguns ministros seguem
tradições pouco compatíveis com as mudanças que precisamos fazer no
Brasil".
·
A ameaça da extrema direita e o
papel das Forças Armadas
Em um dos pontos mais incisivos da entrevista, Tarso Genro alertou para
o impacto da ascensão da extrema direita global, mencionando diretamente Donald
Trump e seus discursos nacionalistas e expansionistas. "Com sua postura em
relação à Groenlândia, sua vontade de anexar o Canadá e outras ameaças, Trump
impõe à América Latina a necessidade de discutir segurança continental".
Segundo ele, a segurança nacional do Brasil está diretamente ligada ao
fortalecimento da democracia e ao combate ao crime organizado, que hoje opera
em redes transnacionais ligadas ao tráfico de pessoas, órgãos e biodiversidade.
Para Genro, é essencial que o governo Lula tenha uma postura firme na
condução das Forças Armadas e proponha uma integração continental militar
democrática: "É necessário que o governo aborde o papel das Forças
Armadas, resgatando-as para um projeto democrático, com funções adequadas ao
seu mandamento funcional. Precisamos de uma direção política firme para
integrar as forças militares da América Latina em uma missão única".
·
O dilema do governo: compor com
o Centrão ou fortalecer uma agenda progressista?
A respeito da governabilidade e da articulação política, Tarso Genro foi
categórico ao afirmar que o problema do governo não é ser mais à esquerda ou
mais ao centro-direita, mas sim manter coerência com seu programa original:
"O governo precisa ser consequente no seu programa original. Isso pode ser
feito dentro de uma posição centrista, progressista e democrática, com a
liderança que Lula tem sobre o quadro político".
Segundo ele, o desafio central do momento não é apenas a
governabilidade, mas a forma como o Congresso tem utilizado o orçamento para consolidar
um sistema de chantagem política: "O grupo da extorsão orçamentária se
tornou o elemento central da coalizão de extrema direita no Brasil, que cooptou
a direita tradicional e formou um bloco majoritário. O que importa agora é como
demolir esse bloco fisiológico que se apropriou da maioria dos recursos
públicos".
Genro alertou que a tentativa de Lula de atrair setores mais
conservadores pode acabar prejudicando a própria governabilidade: "Trazer
indiscriminadamente para dentro do governo elementos vinculados a esse grupo é
um tiro no pé. O presidente pode perder o controle do orçamento em definitivo e
comprometer os anos mais importantes do governo".
·
A crise da esquerda e a
necessidade de novas estratégias
Tarso Genro também discutiu a crise da esquerda e a desconexão com suas
bases tradicionais. Para ele, as estruturas sociais que deram origem aos
grandes partidos socialistas e progressistas se dissolveram com as
transformações do mundo do trabalho: "Não adianta o PT achar que vai se
escorar nos movimentos corporativos sindicais, porque a sociedade mudou. As
demandas são outras, os trabalhadores são outros e as aspirações são
outras".
O ex-ministro defendeu a implementação de novas políticas que dialoguem
com esse novo cenário: "Não basta mais garantir três refeições por dia. O
governo precisa formular programas que contemplem trabalhadores intermitentes e
autônomos, instituindo fundos de proteção social para essa nova
realidade".
·
Inflação e desafios econômicos
Sobre a questão econômica, Genro evitou fazer prognósticos definitivos,
mas destacou que o governo tem instrumentos para enfrentar a alta de preços,
especialmente dos alimentos: "O governo pode intervir na economia através
do balizamento da taxa de juros, do aporte de infraestrutura e da integração
regional. Além disso, pode controlar preços por meio de estoques reguladores de
bens essenciais".
Ele ainda afirmou que as saídas para a crise exigem coragem e visão
estratégica: "São saídas ousadas que precisam de um estadista para serem
implementadas. E como acredito que Lula teve a coragem de realizar a
transposição do São Francisco, acho que ele pode fazer isso novamente".
·
O manifesto Vamos em
Frente e a mudança no Congresso
Por fim, Tarso Genro falou sobre o movimento Vamos em Frente,
que busca fortalecer uma articulação cívica para mudar a correlação de forças
no Congresso Nacional: "Se não mudar, não tem país para ninguém. Pelo
menos precisamos reduzir a extorsão orçamentária e o poder do Centrão sobre o
Executivo".
Ele defendeu a necessidade de um movimento suprapartidário, capaz de
reunir forças democráticas para barrar o avanço da extrema direita e recompor
uma base progressista no Parlamento: "Nosso objetivo é formar uma frente
política consistente, que pode ter dois ou três candidatos à presidência, mas
que não reforcem a extrema direita e garantam a mudança da maioria no
Congresso".
A entrevista de Tarso Genro evidencia os desafios políticos e econômicos
do Brasil e reforça a necessidade de um governo que mantenha coerência com seu
programa inicial, enfrentando as chantagens do Congresso e promovendo um novo
pacto democrático para o país.
¨ Lula ou a
extrema direita. Por Emir Sader
A extrema direita retoma sua ofensiva contra Lula, contando com a
participação ativa dos meios de comunicação. Ela sabe que, se não destruir a
imagem de Lula, não tem possibilidades de retornar ao governo.
Por isso, joga todas as suas cartas nas insinuações de todo tipo contra
Lula, no que conta com os meios de comunicação, que diariamente se encarregam
de levantar críticas sem nenhum fundamento ao presidente. Desde que Lula teria
feito declarações indevidas até que não teria se pronunciado sobre temas de
preferência da direita.
As que seriam alternativas de centro praticamente desapareceram. Os
tucanos, que tradicionalmente haviam polarizado com o PT a cena política
durante várias décadas, desapareceram como partido político, restando apenas o
governador de um estado. A direita se deixou levar pela extrema direita. À
esquerda do PT, o Psol, que havia surgido com a ideia de que o PT estava
equivocado e Lula fracassaria, fracassou ele, porque o PT não estava errado e
Lula não fracassou.
Essa polarização entre a extrema direita e o PT marca profundamente a
situação política brasileira. Diante da hegemonia das políticas neoliberais
adotadas pelo capitalismo neste período histórico, o PT propõe a prioridade das
políticas sociais, o fortalecimento do Estado, a retomada do desenvolvimento
econômico.
Essas políticas permitiram que a economia brasileira voltasse a crescer,
que o nível de emprego passasse a ser o mais alto que o país conheceu, a
democracia se consolidou. No entanto, esse resgate da economia brasileira e da
própria democracia não se traduz – em algumas das pesquisas, pelo menos – em
apoio mais amplo ao governo. Segundo estas, o nível de rejeição de Lula teria
aumentado e o apoio à direita estaria em um processo de aumento.
A extrema direita concentra seus ataques contra a política e a
democracia, identificados com o PT. Nas velhas, mas sempre reiteradas acusações
de corrupção a Lula e ao PT, que reforçam a ideia de desqualificação da
política e do Estado.
Ao mesmo tempo, a extrema direita ataca as reivindicações das minorias,
o feminismo, entre elas, mas também as reivindicações dos negros, dos
homossexuais.
O que surpreende é que Lula e o PT têm um legado, de vários governos,
que diminuíram as desigualdades no país, enquanto o legado da direita – o de
Bolsonaro – é totalmente negativo, de todos os pontos de vista.
Atualmente, também Lula faz um bom governo, mas se perde a batalha da
comunicação. O próprio Lula já se deu conta e passa a buscar uma nova política
de comunicações. Mas não se trata estritamente das funções do encarregado de
comunicações. É toda a relação do governo com a sociedade que tem que mudar. É
uma disputa política e não apenas de comunicação.
Objetivamente, as alternativas para o Brasil são essas: Lula ou a
extrema direita. Subjetivamente, esta opção não está colocada dessa forma para
a maioria da população. O maior desafio político contemporâneo é fazer chegar
essa alternativa à consciência das pessoas. Conseguiremos?
Esse é um enigma que precisa ser decifrado.
¨ “Como é
possível que a direita esteja ganhando força e a esquerda perdendo
espaço?", questiona Altman
A análise sobre os desafios
enfrentados pela esquerda no governo Lula e a crescente influência da direita
no debate político brasileiro foi tema de uma recente discussão no canal Cortes
247. Durante o debate, o analista político Breno Altman destacou a ausência
de nomes fortes da esquerda no cenário eleitoral e criticou a falta de uma
agenda de transformação concreta por parte do governo federal. Segundo ele,
enquanto a direita ocupa cada vez mais espaço, a esquerda parece estar presa a
uma postura passiva de apoio ao governo, sem disputar efetivamente sua linha
programática e sem mobilizar a sociedade em torno de pautas populares.
A principal questão
levantada pelo analista é o paradoxo da queda de apoio ao presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, mesmo diante de uma recuperação econômica e da implementação
de políticas públicas de impacto positivo. "Depois de um governo tão
desastroso como foi o de Jair Bolsonaro, depois de tentativas golpistas que
hoje estão nas barras dos tribunais e mesmo com números positivos na economia,
como é possível que a direita esteja ganhando força e a esquerda perdendo
espaço?", questionou Altman.
Segundo ele, há um erro de
diagnóstico dentro do governo, que atribui a queda de popularidade
exclusivamente a problemas de comunicação. "Há problemas na comunicação,
mas não acho que esse seja o problema principal. A situação material da
sociedade e o sentimento das pessoas precisam ser melhor compreendidos",
afirmou.
<><> Inflação e expectativa frustrada
Altman aponta que a
insatisfação popular tem raízes em fatores concretos, como a inflação de
alimentos e o aumento dos custos com moradia. "Temos uma inflação
imobiliária galopante no país, os aluguéis estão subindo fortemente. Esses
fenômenos mostram que, apesar dos números positivos do PIB e da renda, a vida
real das pessoas segue difícil", analisou.
Além disso, ele ressalta que
o simbolismo da eleição de Lula em 2022 criou na população uma expectativa de
mudanças rápidas e profundas, que ainda não se materializaram. "O governo
precisa entender que a frustração vem do ritmo lento das melhorias. As mudanças
não estão chegando ao povo de forma rápida o suficiente", disse.
Outro fator citado na
análise é a predominância da agenda do ajuste fiscal no debate econômico do
governo. "Nos últimos nove meses, a principal pauta do governo tem sido o
ajuste fiscal, um tema que interessa apenas a uma pequena parcela da população,
aqueles que têm aplicações em bancos e compram títulos da dívida pública",
criticou Altman. Para ele, essa narrativa precisa ser substituída por uma
agenda que dialogue diretamente com os interesses da classe trabalhadora.
<><> Enfrentamento e mobilização
popular
O analista destaca que o
governo Lula de 2007 a 2010, quando alcançou 87% de popularidade, tinha como
foco central o desenvolvimento e a justiça social, deixando a agenda de
austeridade econômica em segundo plano. "Naquele momento, a agenda
antipovo, a agenda do ajuste fiscal e a agenda privatista praticamente sumiram
do debate nacional. Agora, são elas que estão predominando", afirmou.
Para Altman, a comunicação
não resolverá os problemas se o governo não tomar medidas concretas para
enfrentar questões como a inflação de alimentos e a alta dos aluguéis. "O
governo precisa mostrar que está tomando medidas firmes. Por que não reduzir
impostos de importação para baratear o preço dos alimentos? Por que não
estabelecer um imposto de exportação sobre o agronegócio para redirecionar
investimentos para a produção de comida para o mercado interno?",
questionou.
Ele também critica a postura
da esquerda dentro da frente ampla que compõe o governo. "É um governo de
frente ampla, mas a direita disputa seus valores e seus interesses com força,
enquanto a esquerda parece apenas aplaudir. Se a esquerda não disputar
ativamente esse governo, a direita vai pressionar e ocupar cada vez mais
espaço", alertou.
O analista defendeu a
criação de uma "frente popular dentro da frente ampla" para
fortalecer as demandas progressistas. "A esquerda precisa radicalizar sua
intervenção na disputa política e ideológica, tanto dentro do governo quanto
fora dele. Se não houver pressão à esquerda, a correlação de forças continuará
desfavorável e a direita seguirá ganhando terreno", concluiu.
A análise levanta pontos
fundamentais para o debate sobre os rumos do governo Lula e o papel da esquerda
no atual cenário político brasileiro. A manutenção de uma postura passiva pode
custar caro às forças progressistas, permitindo que a direita defina os rumos
do país, mesmo sem ocupar o Palácio do Planalto.
¨ Reação
global ao nazifascismo de Trump pode ajudar Lula em 2026. Por Bepe Damasco
"Ninguém
fará um lugar bonito sobre cadáveres de mulheres e crianças", disse o
presidente Lula ao condenar de forma contundente os planos do presidente dos
Estados Unidos, Donald Trump, de expulsar os palestinos de Gaza, roubar suas
terras e construir ali uma "Riviera".
Lula
fez coro com diversos líderes políticos, imprensa e entidades não
governamentais ao redor do planeta, que também repudiaram tamanho ímpeto
totalitário.
Analistas
políticos brasileiros, no entanto, viram na ascensão de Trump à presidência da
nação mais poderosa da Terra como um fator que pode favorecer a extrema-direita
nativa contra Lula, em 2026, a ponto até de impedir a reeleição do presidente
do Brasil.
Será?
Primeiro,
vamos ter claro que o jogo está só começando. É como se fosse uma partida de
futebol com apenas dois minutos decorridos. Está na cara que, bravatas à parte,
vem muito mais chumbo grosso por aí.
Com
pouco mais de duas semanas de mandato, Trump já afrontou o mundo civilizado com
o fechamento de agências humanitárias dos EUA; confisco dos bancos de dados
sobre pesquisas científicas e da área de saúde; a retirada dos EUA da OMS, do
Acordo de Paris e do Conselho dos Direitos Humanos da ONU; ameaça de tomar Gaza
e expulsar os palestinos, em flagrante limpeza étnica; sobretaxa dos produtos
de países aliados e da China; deportação de imigrantes na marra; promessa de
anexar a Groelândia, violando a soberania da Dinamarca; e promessa de recuperar
à força o Canal do Panamá.
Em
outros tempos, esses decretos e intenções seriam dignos de aplausos
entusiasmados de Hitler, Mussolini, Franco ou Salazar. Hoje a adesão mais
notória entre os governantes vem do presidente da Argentina, conhecido
lambe-botas radical de Trump.
O
problema para Trump, no médio e longo prazos, é que pessoas honradas e países
soberanos não se deixarão esmagar como moscas. Por mais que a era dos
algoritmos tenha produzido uma legião de imbecis nos cinco continentes e por
mais que o individualismo neoliberal seja responsável pela redução significativa
do nível de consciência social e política, ainda existe sociedade civil e
valores humanistas, civilizatórios e patrióticos, dos quais a maioria da
população mundial não pretende abrir mão.
É
previsível que quanto mais crimes contra a humanidade Trump cometer, maior será
a resistência dos povos. E começa dentro de casa. A história está repleta de
exemplos de derrotas dos EUA em disputas e guerras nas quais as mobilizações e
protestos dos próprios norte-americanos tiveram papel importante. A guerra do
Vietnã é só um desses casos.
Até
porque o protecionismo econômico exacerbado, na forma de tarifas de produtos de
importação, pode elevar a inflação nos EUA, prejudicando a qualidade de vida
dos americanos, que também só têm a perder com a marcha batida para um
isolamento internacional sem precedentes do país, que pode ser fatal para a
economia americana em tempos de globalização e multilateralismo.
Até
2026, quando será chamado às urnas, o eleitorado brasileiro já terá deparado
com tudo que a extrema direita é capaz de promover em termos de destruição dos
direitos mais básicos e comezinhos, evidenciando que os quatro anos do governo
Bolsonaro foram só uma pequena amostra dos horrores praticados pelos adeptos
dessa ideologia extremista.
Soa
fortemente, portanto, o alarme para quem só quer viver em paz.
Fonte: Brasil 247
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