segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

"O governo tem que ser mais consequente no seu programa original", afirma Tarso Genro

Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o ex-governador do Rio Grande do Sul e ex-ministro da Justiça, Tarso Genro, fez uma ampla análise sobre o atual cenário político brasileiro, as dificuldades enfrentadas pelo governo Lula e o futuro da esquerda no país. Durante a conversa, Genro apontou os desafios impostos pelo Congresso Nacional, a necessidade de reformas estruturais e a importância de uma nova estratégia de comunicação política.

Genro destacou que a recente eleição de Hugo Motta e Davi Alcolumbre para a presidência das casas legislativas representa um gesto de distensão política, mas alertou para a permanência de velhas práticas: "Eu não acredito naquilo que esses dois presidentes dizem. Sua história, sua postura e até os seus discursos mostram que representam a mesma coisa que o presidente da Câmara anterior representava". Segundo ele, apesar das mudanças políticas e econômicas, o governo federal enfrenta obstáculos que vão além da composição do Congresso.

O ex-ministro identificou três fatores centrais para os desgastes enfrentados pelo governo: o cenário internacional em mutação, a dificuldade em consolidar uma política de comunicação eficaz e a diversidade do ministério: "Tem pessoas de alta competência e relevância política, e tem pessoas novatas nas grandes questões do Estado brasileiro. Alguns ministros seguem tradições pouco compatíveis com as mudanças que precisamos fazer no Brasil".

·        A ameaça da extrema direita e o papel das Forças Armadas

Em um dos pontos mais incisivos da entrevista, Tarso Genro alertou para o impacto da ascensão da extrema direita global, mencionando diretamente Donald Trump e seus discursos nacionalistas e expansionistas. "Com sua postura em relação à Groenlândia, sua vontade de anexar o Canadá e outras ameaças, Trump impõe à América Latina a necessidade de discutir segurança continental". Segundo ele, a segurança nacional do Brasil está diretamente ligada ao fortalecimento da democracia e ao combate ao crime organizado, que hoje opera em redes transnacionais ligadas ao tráfico de pessoas, órgãos e biodiversidade.

Para Genro, é essencial que o governo Lula tenha uma postura firme na condução das Forças Armadas e proponha uma integração continental militar democrática: "É necessário que o governo aborde o papel das Forças Armadas, resgatando-as para um projeto democrático, com funções adequadas ao seu mandamento funcional. Precisamos de uma direção política firme para integrar as forças militares da América Latina em uma missão única".

·        O dilema do governo: compor com o Centrão ou fortalecer uma agenda progressista?

A respeito da governabilidade e da articulação política, Tarso Genro foi categórico ao afirmar que o problema do governo não é ser mais à esquerda ou mais ao centro-direita, mas sim manter coerência com seu programa original: "O governo precisa ser consequente no seu programa original. Isso pode ser feito dentro de uma posição centrista, progressista e democrática, com a liderança que Lula tem sobre o quadro político".

Segundo ele, o desafio central do momento não é apenas a governabilidade, mas a forma como o Congresso tem utilizado o orçamento para consolidar um sistema de chantagem política: "O grupo da extorsão orçamentária se tornou o elemento central da coalizão de extrema direita no Brasil, que cooptou a direita tradicional e formou um bloco majoritário. O que importa agora é como demolir esse bloco fisiológico que se apropriou da maioria dos recursos públicos".

Genro alertou que a tentativa de Lula de atrair setores mais conservadores pode acabar prejudicando a própria governabilidade: "Trazer indiscriminadamente para dentro do governo elementos vinculados a esse grupo é um tiro no pé. O presidente pode perder o controle do orçamento em definitivo e comprometer os anos mais importantes do governo".

·        A crise da esquerda e a necessidade de novas estratégias

Tarso Genro também discutiu a crise da esquerda e a desconexão com suas bases tradicionais. Para ele, as estruturas sociais que deram origem aos grandes partidos socialistas e progressistas se dissolveram com as transformações do mundo do trabalho: "Não adianta o PT achar que vai se escorar nos movimentos corporativos sindicais, porque a sociedade mudou. As demandas são outras, os trabalhadores são outros e as aspirações são outras".

O ex-ministro defendeu a implementação de novas políticas que dialoguem com esse novo cenário: "Não basta mais garantir três refeições por dia. O governo precisa formular programas que contemplem trabalhadores intermitentes e autônomos, instituindo fundos de proteção social para essa nova realidade".

·        Inflação e desafios econômicos

Sobre a questão econômica, Genro evitou fazer prognósticos definitivos, mas destacou que o governo tem instrumentos para enfrentar a alta de preços, especialmente dos alimentos: "O governo pode intervir na economia através do balizamento da taxa de juros, do aporte de infraestrutura e da integração regional. Além disso, pode controlar preços por meio de estoques reguladores de bens essenciais".

Ele ainda afirmou que as saídas para a crise exigem coragem e visão estratégica: "São saídas ousadas que precisam de um estadista para serem implementadas. E como acredito que Lula teve a coragem de realizar a transposição do São Francisco, acho que ele pode fazer isso novamente".

·        O manifesto Vamos em Frente e a mudança no Congresso

Por fim, Tarso Genro falou sobre o movimento Vamos em Frente, que busca fortalecer uma articulação cívica para mudar a correlação de forças no Congresso Nacional: "Se não mudar, não tem país para ninguém. Pelo menos precisamos reduzir a extorsão orçamentária e o poder do Centrão sobre o Executivo".

Ele defendeu a necessidade de um movimento suprapartidário, capaz de reunir forças democráticas para barrar o avanço da extrema direita e recompor uma base progressista no Parlamento: "Nosso objetivo é formar uma frente política consistente, que pode ter dois ou três candidatos à presidência, mas que não reforcem a extrema direita e garantam a mudança da maioria no Congresso".

A entrevista de Tarso Genro evidencia os desafios políticos e econômicos do Brasil e reforça a necessidade de um governo que mantenha coerência com seu programa inicial, enfrentando as chantagens do Congresso e promovendo um novo pacto democrático para o país. 

¨      Lula ou a extrema direita. Por Emir Sader

A extrema direita retoma sua ofensiva contra Lula, contando com a participação ativa dos meios de comunicação. Ela sabe que, se não destruir a imagem de Lula, não tem possibilidades de retornar ao governo.

Por isso, joga todas as suas cartas nas insinuações de todo tipo contra Lula, no que conta com os meios de comunicação, que diariamente se encarregam de levantar críticas sem nenhum fundamento ao presidente. Desde que Lula teria feito declarações indevidas até que não teria se pronunciado sobre temas de preferência da direita.

As que seriam alternativas de centro praticamente desapareceram. Os tucanos, que tradicionalmente haviam polarizado com o PT a cena política durante várias décadas, desapareceram como partido político, restando apenas o governador de um estado. A direita se deixou levar pela extrema direita. À esquerda do PT, o Psol, que havia surgido com a ideia de que o PT estava equivocado e Lula fracassaria, fracassou ele, porque o PT não estava errado e Lula não fracassou.

Essa polarização entre a extrema direita e o PT marca profundamente a situação política brasileira. Diante da hegemonia das políticas neoliberais adotadas pelo capitalismo neste período histórico, o PT propõe a prioridade das políticas sociais, o fortalecimento do Estado, a retomada do desenvolvimento econômico.

Essas políticas permitiram que a economia brasileira voltasse a crescer, que o nível de emprego passasse a ser o mais alto que o país conheceu, a democracia se consolidou. No entanto, esse resgate da economia brasileira e da própria democracia não se traduz – em algumas das pesquisas, pelo menos – em apoio mais amplo ao governo. Segundo estas, o nível de rejeição de Lula teria aumentado e o apoio à direita estaria em um processo de aumento.

A extrema direita concentra seus ataques contra a política e a democracia, identificados com o PT. Nas velhas, mas sempre reiteradas acusações de corrupção a Lula e ao PT, que reforçam a ideia de desqualificação da política e do Estado.

Ao mesmo tempo, a extrema direita ataca as reivindicações das minorias, o feminismo, entre elas, mas também as reivindicações dos negros, dos homossexuais.

O que surpreende é que Lula e o PT têm um legado, de vários governos, que diminuíram as desigualdades no país, enquanto o legado da direita – o de Bolsonaro – é totalmente negativo, de todos os pontos de vista.

Atualmente, também Lula faz um bom governo, mas se perde a batalha da comunicação. O próprio Lula já se deu conta e passa a buscar uma nova política de comunicações. Mas não se trata estritamente das funções do encarregado de comunicações. É toda a relação do governo com a sociedade que tem que mudar. É uma disputa política e não apenas de comunicação.

Objetivamente, as alternativas para o Brasil são essas: Lula ou a extrema direita. Subjetivamente, esta opção não está colocada dessa forma para a maioria da população. O maior desafio político contemporâneo é fazer chegar essa alternativa à consciência das pessoas. Conseguiremos?

Esse é um enigma que precisa ser decifrado.

 

¨      “Como é possível que a direita esteja ganhando força e a esquerda perdendo espaço?", questiona Altman

A análise sobre os desafios enfrentados pela esquerda no governo Lula e a crescente influência da direita no debate político brasileiro foi tema de uma recente discussão no canal Cortes 247. Durante o debate, o analista político Breno Altman destacou a ausência de nomes fortes da esquerda no cenário eleitoral e criticou a falta de uma agenda de transformação concreta por parte do governo federal. Segundo ele, enquanto a direita ocupa cada vez mais espaço, a esquerda parece estar presa a uma postura passiva de apoio ao governo, sem disputar efetivamente sua linha programática e sem mobilizar a sociedade em torno de pautas populares.

A principal questão levantada pelo analista é o paradoxo da queda de apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo diante de uma recuperação econômica e da implementação de políticas públicas de impacto positivo. "Depois de um governo tão desastroso como foi o de Jair Bolsonaro, depois de tentativas golpistas que hoje estão nas barras dos tribunais e mesmo com números positivos na economia, como é possível que a direita esteja ganhando força e a esquerda perdendo espaço?", questionou Altman.

Segundo ele, há um erro de diagnóstico dentro do governo, que atribui a queda de popularidade exclusivamente a problemas de comunicação. "Há problemas na comunicação, mas não acho que esse seja o problema principal. A situação material da sociedade e o sentimento das pessoas precisam ser melhor compreendidos", afirmou.

<><> Inflação e expectativa frustrada

Altman aponta que a insatisfação popular tem raízes em fatores concretos, como a inflação de alimentos e o aumento dos custos com moradia. "Temos uma inflação imobiliária galopante no país, os aluguéis estão subindo fortemente. Esses fenômenos mostram que, apesar dos números positivos do PIB e da renda, a vida real das pessoas segue difícil", analisou.

Além disso, ele ressalta que o simbolismo da eleição de Lula em 2022 criou na população uma expectativa de mudanças rápidas e profundas, que ainda não se materializaram. "O governo precisa entender que a frustração vem do ritmo lento das melhorias. As mudanças não estão chegando ao povo de forma rápida o suficiente", disse.

Outro fator citado na análise é a predominância da agenda do ajuste fiscal no debate econômico do governo. "Nos últimos nove meses, a principal pauta do governo tem sido o ajuste fiscal, um tema que interessa apenas a uma pequena parcela da população, aqueles que têm aplicações em bancos e compram títulos da dívida pública", criticou Altman. Para ele, essa narrativa precisa ser substituída por uma agenda que dialogue diretamente com os interesses da classe trabalhadora.

<><> Enfrentamento e mobilização popular

O analista destaca que o governo Lula de 2007 a 2010, quando alcançou 87% de popularidade, tinha como foco central o desenvolvimento e a justiça social, deixando a agenda de austeridade econômica em segundo plano. "Naquele momento, a agenda antipovo, a agenda do ajuste fiscal e a agenda privatista praticamente sumiram do debate nacional. Agora, são elas que estão predominando", afirmou.

Para Altman, a comunicação não resolverá os problemas se o governo não tomar medidas concretas para enfrentar questões como a inflação de alimentos e a alta dos aluguéis. "O governo precisa mostrar que está tomando medidas firmes. Por que não reduzir impostos de importação para baratear o preço dos alimentos? Por que não estabelecer um imposto de exportação sobre o agronegócio para redirecionar investimentos para a produção de comida para o mercado interno?", questionou.

Ele também critica a postura da esquerda dentro da frente ampla que compõe o governo. "É um governo de frente ampla, mas a direita disputa seus valores e seus interesses com força, enquanto a esquerda parece apenas aplaudir. Se a esquerda não disputar ativamente esse governo, a direita vai pressionar e ocupar cada vez mais espaço", alertou.

O analista defendeu a criação de uma "frente popular dentro da frente ampla" para fortalecer as demandas progressistas. "A esquerda precisa radicalizar sua intervenção na disputa política e ideológica, tanto dentro do governo quanto fora dele. Se não houver pressão à esquerda, a correlação de forças continuará desfavorável e a direita seguirá ganhando terreno", concluiu.

A análise levanta pontos fundamentais para o debate sobre os rumos do governo Lula e o papel da esquerda no atual cenário político brasileiro. A manutenção de uma postura passiva pode custar caro às forças progressistas, permitindo que a direita defina os rumos do país, mesmo sem ocupar o Palácio do Planalto. 

 

¨      Reação global ao nazifascismo de Trump pode ajudar Lula em 2026. Por Bepe Damasco

"Ninguém fará um lugar bonito sobre cadáveres de mulheres e crianças", disse o presidente Lula ao condenar de forma contundente os planos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de expulsar os palestinos de Gaza, roubar suas terras e construir ali uma "Riviera".

Lula fez coro com diversos líderes políticos, imprensa e entidades não governamentais ao redor do planeta, que também repudiaram tamanho ímpeto totalitário.

Analistas políticos brasileiros, no entanto, viram na ascensão de Trump à presidência da nação mais poderosa da Terra como um fator que pode favorecer a extrema-direita nativa contra Lula, em 2026, a ponto até de impedir a reeleição do presidente do Brasil.

Será?

Primeiro, vamos ter claro que o jogo está só começando. É como se fosse uma partida de futebol com apenas dois minutos decorridos. Está na cara que, bravatas à parte, vem muito mais chumbo grosso por aí.

Com pouco mais de duas semanas de mandato, Trump já afrontou o mundo civilizado com o fechamento de agências humanitárias dos EUA; confisco dos bancos de dados sobre pesquisas científicas e da área de saúde; a retirada dos EUA da OMS, do Acordo de Paris e do Conselho dos Direitos Humanos da ONU; ameaça de tomar Gaza e expulsar os palestinos, em flagrante limpeza étnica; sobretaxa dos produtos de países aliados e da China; deportação de imigrantes na marra; promessa de anexar a Groelândia, violando a soberania da Dinamarca; e promessa de recuperar à força o Canal do Panamá.

Em outros tempos, esses decretos e intenções seriam dignos de aplausos entusiasmados de Hitler, Mussolini, Franco ou Salazar. Hoje a adesão mais notória entre os governantes vem do presidente da Argentina, conhecido lambe-botas radical de Trump.

O problema para Trump, no médio e longo prazos, é que pessoas honradas e países soberanos não se deixarão esmagar como moscas. Por mais que a era dos algoritmos tenha produzido uma legião de imbecis nos cinco continentes e por mais que o individualismo neoliberal seja responsável pela redução significativa do nível de consciência social e política, ainda existe sociedade civil e valores humanistas, civilizatórios e patrióticos, dos quais a maioria da população mundial não pretende abrir mão.

É previsível que quanto mais crimes contra a humanidade Trump cometer, maior será a resistência dos povos. E começa dentro de casa. A história está repleta de exemplos de derrotas dos EUA em disputas e guerras nas quais as mobilizações e protestos dos próprios norte-americanos tiveram papel importante. A guerra do Vietnã é só um desses casos.

Até porque o protecionismo econômico exacerbado, na forma de tarifas de produtos de importação, pode elevar a inflação nos EUA, prejudicando a qualidade de vida dos americanos, que também só têm a perder com a marcha batida para um isolamento internacional sem precedentes do país, que pode ser fatal para a economia americana em tempos de globalização e multilateralismo.

Até 2026, quando será chamado às urnas, o eleitorado brasileiro já terá deparado com tudo que a extrema direita é capaz de promover em termos de destruição dos direitos mais básicos e comezinhos, evidenciando que os quatro anos do governo Bolsonaro foram só uma pequena amostra dos horrores praticados pelos adeptos dessa ideologia extremista.

Soa fortemente, portanto, o alarme para quem só quer viver em paz.

 

Fonte: Brasil 247

 

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