terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Sete desejos científicos para 2025

Exames de sangue para Alzheimer, rins de porco transplantados para humanos ou medicamentos altamente eficazes contra o HIV. Descobertas extraordinárias em um amplo escopo de aéreas científicas foram anunciadas em 2024. Algumas dessas descobertas têm até mesmo o potencial de resolver os desafios mais urgentes de nosso tempo: doenças, fome, transição energética, desinformação e mudanças climáticas.

O ano de 2025 também promete novas descobertas inovadoras. A DW fez uma seleção de sete desejos científicos que poderiam se tornar realidade em breve.

<><> 1º desejo: Inteligência artificial para o benefício da humanidade

Em 2025, a inteligência artificial (IA) vai de fato permear a vida cotidiana e o mundo do trabalho. Isso vai muito além dos chatbots com suporte de IA no atendimento ao cliente, passando por assistentes pessoais e carros autônomos. Estamos apenas começando a perceber as oportunidades e os riscos latentes dessa revolução tecnológica.

Em diversas áreas, a IA realizará cada vez mais tarefas com mais rapidez e eficiência do que os humanos. Isso fará com que muitos empregos se tornem dispensáveis. Por outro lado, a IA na medicina pode trazer benefícios no tratamento de doenças, como o câncer ou o mal de Alzheimer, que poderão ser identificadas e tratadas mais cedo. Algoritmos de IA têm o potencial de reconhecer facilmente padrões evidentes em procedimentos de imagem — tais como raios X, ultrassom ou ressonância magnética — que podem passar despercebidos pelos médicos.

Portanto, seria desejável um equilíbrio entre a inovação útil e a regulamentação necessária. A IA precisa ser usada como uma ferramenta em benefício da humanidade.

<><> 2º desejo: Descarbonização e inovações de armazenamento

A expansão das energias renováveis é necessária para desacelerar as mudanças climáticas. Os painéis solares e as turbinas eólicas poderiam se tornar cada vez mais eficientes e econômicos em 2025. Também estão sendo feitos progressos promissores no armazenamento de energia excedente para garantir um fornecimento estável independente do sol e do vento.

A perspectiva é que os sistemas de armazenamento químico (baterias convencionais, baterias de fluxo, supercapacitores e hidrogênio) ou físico (volantes de inércia, dispositivos de bombeamento e ar comprimido) vão prevalecer como grandes sistemas de armazenamento de energia.

No setor automotivo, as primeiras baterias de estado sólido, ou seja, baterias de íons de lítio com eletrólitos sólidos, poderiam chegar ao mercado. Elas são potentes, mais leves, duram mais tempo e podem ser carregadas muito mais rápido.

Também seriam desejáveis modelos alternativos de baterias que não dependam de elementos escassos e caros, como o lítio e o cobalto. As baterias de íons de zinco, magnésio ou alumínio e as baterias de zinco-ar ainda não são tão potentes quanto as de lítio, mas utilizam recursos amplamente disponíveis. E algumas baterias de sódio-enxofre ou de fluxo de oxirredução (redox) já estão sendo usadas com sucesso.

<><> 3º desejo: Decodificação da comunicação animal por meio de IA

Por mais belas e diversificadas que sejam as línguas humanas, elas consistem principalmente em padrões regulares. Como a IA é particularmente eficaz em reconhecer e reproduzir padrões, um sonho humano poderia se tornar realidade em breve: entender o canto das baleias, o piar dos pássaros ou os sons dos macacos.

Na próxima etapa, os humanos poderiam aprender a se comunicar com os bichos. Entretanto, devemos estar preparados para não necessariamente gostar do que os animais têm a dizer.

<><> 4 º desejo: Combate a manipulações e desinformação

As deepfakes, arquivos de áudio e vídeo criados com o uso de IA, e a desinformação representam uma grande ameaça à sociedade porque influenciam negativamente a opinião pública e os processos políticos.

O uso indevido da IA não apenas aumentou drasticamente a quantidade de desinformação como também está se tornando cada vez mais difícil distinguir entre conteúdo verdadeiro, autêntico, e conteúdo manipulado ou criado artificialmente.

Seria desejável a criação de sistemas de IA que reconheçam e eliminem em tempo real a desinformação, a falsificação e deepfakes. Esse será um jogo de gato e rato interminável, mas a segurança vai fazer valer a pena.

<><> 5º desejo: Vacinas contra o câncer

Embora não haja uma vacina contra o câncer, há imunizantes contra infecções que desencadeiam determinados tipos de câncer. Já existem duas vacinas eficazes:  contra o vírus HPV, que pode causar câncer no colo do útero, e contra o vírus da hepatite B, que pode causar tumores no fígado.

Durante a pandemia de covid-19, a tecnologia de RNA mensageiro (mRNA) possibilitou em poucos meses o desenvolvimento de vacinas altamente eficazes contra o patógeno SARS-CoV-2. A tecnologia de mRNA também deu um impulso totalmente novo à pesquisa sobre o câncer.

Seria ótimo se vacinas contra câncer de pele (melanoma), de pulmão, de mama e de pâncreas estivessem disponíveis em um futuro próximo.

<><> 6º desejo: Engenharia genética com o método CRISPR

A engenharia genética não tem necessariamente nada a ver com plantas não naturais ou bebês projetados. Seria desejável repensar essa questão. Como as mudanças climáticas terão efeitos drásticos e a população mundial continuará crescendo, precisamos de espécies de plantas que sejam mais resistentes às influências ambientais e às pragas.

O CRISPR é um método para a edição do genoma, também conhecido como "tesoura genética". Ele foi revolucionário devido à sua maneira precisa e programável de alterar o DNA.

O CRISPR-Cas9 é um sistema molecular de duas partes. O CRISPR é um aglomerado de sequências que pode ser programado para encontrar um trecho específico do DNA num gene, e o Cas9 é um elemento de edição que corta a fita de DNA e adiciona uma nova peça nela. Soa simples, mas a parte difícil é sua implementação – o processo precisa ocorrer em trilhões de células no corpo se for usado para o tratamento de doenças.

A agricultura poderia se beneficiar da "tesoura genética". O método poderia garantir a produção de alimentos em áreas particularmente afetadas pelas mudanças climáticas.

Na medicina, doenças genéticas como a anemia falciforme ou a fibrose cística poderiam ser curadas com a ferramenta de edição de genes. O método já está sendo usado para o desenvolvimento de terapias genéticas personalizadas para pacientes com doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, câncer, infecções por HIV ou malária.

<><> 7º desejo: Medicamentos acessíveis para todos

É vergonhoso que ainda existam pessoas passando fome ou até mesmo morrendo de fome. É igualmente ultrajante que medicamentos altamente eficazes estejam disponíveis, mas muitos não podem comprá-los. A falta de acesso a esses medicamentos que salvam vidas é um problema antigo em países mais pobres.

A aids, a tuberculose e a hepatite C também poderiam ser combatidas com eficácia no Sul Global, mas as patentes e os altos preços resultantes continuam a impedir o amplo uso de medicamentos e vacinas.

É claro que pesquisas na medicina também devem valer a pena para institutos e empresas farmacêuticas. No entanto, para um fornecimento justo de medicamentos em todo o mundo, seria fundamental separar os custos do desenvolvimento do preço de venda, além de criar abordagens de pesquisa.

 

¨      Brasileiros criam bioplástico feito de alimentos

A preocupação com o impacto ecológico do descarte de plásticos tem impulsionado pesquisas que aliam sustentabilidade à inovação. Uma delas é conduzida por pesquisadores do Instituto de Macromoléculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IMA-UFRJ), que querem transformar o mercado de embalagens a partir de alimentos como linhaça, alho, pimenta e chia.

A promessa são bioplásticos produzidos com compostos bioativos extraídos de alimentos funcionais e que se degradam em questão de meses.

Compostos bioativos são moléculas de origem natural que desempenham diferentes papéis, como atividade antioxidante, estimulação do sistema imunológico, equilíbrio do nível hormonal e atividade antibacteriana e antiviral.

"Essa ideia surgiu por causa dos benefícios que os bioativos têm para a nossa saúde", explica a professora Maria Inês Tavares, coordenadora do projeto.  "Por que não utilizá-los para embalagens alimentícias, mantendo sua biodegradabilidade?"

A invenção já está em processo de patenteamento e, além de mais sustentável –  segundo os pesquisadores, a extração não envolve o uso de solventes prejudiciais ao meio ambiente –, promete ainda prolongar a vida útil de alimentos.

O grupo aposta que a descoberta possa ser uma alternativa importante para a substituição de embalagens comuns. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), esse setor é o principal responsável pela geração de resíduos plásticos descartáveis globalmente.

Cerca de 36% de todo o plástico produzido destina-se a embalagens, incluindo recipientes descartáveis para alimentos e bebidas. Destes, 85% acabam em aterros sanitários ou como lixo mal gerenciado.

<><> Menos desperdício e decomposição em 180 dias

Os pesquisadores da UFRJ afirmam que suas embalagens têm propriedades antioxidantes e protetoras que prolongam o tempo de prateleira dos alimentos e reduzem o desperdício.

Mariana Alves, pesquisadora e integrante da equipe, destaca os resultados do trabalho: "A embalagem aumentou o tempo de prateleira dos alimentos testes em torno de 16 dias fora da refrigeração e 14 dias na geladeira. Ela oferece resistência de barreira semelhante aos plásticos tradicionais, mas se decompõe em aproximadamente 180 dias em condições ambientais favoráveis, preferencialmente em sistema de compostagem."

Durante o processo de decomposição do bioplástico, os cientistas monitoraram a segurança ambiental e as mudanças nos materiais, e concluíram que os bionanocompósitos – materiais criados a partir da combinação de elementos em escala nanométrica – não liberam substâncias tóxicas.

"Os polímeros biodegradáveis são transformados em CO2 e água na natureza por micro-organismos, ao contrário dos plásticos comuns, que apenas diminuem de tamanho, formando microplásticos que continuam poluindo o ambiente”, explica Alves.

A escolha da matéria-prima para a confecção do bioplástico também foi estratégica, evitando a demanda por alimentos básicos da dieta humana e explorando materiais como folhas e frutos que crescem rapidamente.

"No caso da chia, ela tem um potencial antioxidante muito grande, principalmente nos extratos da semente", afirma Alves.

"Vale ressaltar que os bioplásticos têm diferentes materiais que podem fazer parte da composição, mas a degradabilidade dele no meio ambiente não produz nenhum malefício no meio físico, nem na atmosfera, nem no solo, nem na água e não contamina os recursos hídricos", diz Leonardo Duarte, especialista em bioplásticos e professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), que não participou da pesquisa. 

<><> Outras aplicações 

Além do setor alimentício, a pesquisa abre portas para aplicações em áreas como saúde, tecnologia e moda. Nesta última, ainda segundo a ONU, cerca de 60% das roupas são confeccionadas com materiais plásticos, incluindo poliéster, acrílico e nylon.

"Estamos animados com a versatilidade dos nanocompósitos e suas múltiplas aplicações. Isso reforça o potencial transformador dessa tecnologia para substituir materiais não renováveis em larga escala", afirma Tavares, chefe do projeto.

Ela lista, entre possíveis usos futuros, próteses, filtros e acessórios biodegradáveis. 

Um estudo recente do Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBR) da Unicamp publicado na revista Nature mostra que o Brasil pode substituir plásticos derivados do petróleo por bioplásticos até 2050, sem aumentar o desmatamento ou degradar o meio ambiente. 

<><> Potencial de crescimento

Atualmente, os bioplásticos representam cerca de 0,5% das mais de 400 milhões de toneladas de plástico produzidas anualmente, segundo a associação European Bioplastics, que representa a indústria do setor.

No Brasil, onde os resíduos plásticos urbanos somaram 13,7 milhões de toneladas em 2022 — o equivalente a 64 quilos por habitante, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) —, ainda faltam dados oficiais sobre a produção ou comercialização de bioplásticos. 

Apesar disso, especialistas ouvidos pela reportagem apontam um aumento expressivo na demanda pelo material, impulsionado pela pressão de consumidores e mercados globais por alternativas sustentáveis.

Um deles é o professor Duarte, líder do grupo de engenharia e monitoramento de biossistemas da UFRRJ. Ele estuda o segmento há mais de 20 anos e desenvolveu um bioplástico feito a partir de resina de babosa (aloe vera) combinada com amido de batata-doce, ambos cultivados de forma orgânica.

Segundo ele, a biodiversidade brasileira é um diferencial significativo para o desenvolvimento de bioplásticos. "Essa riqueza aumenta nossa chance de obter resultados variados e materiais inovadores. Cada região do Brasil pode desenvolver soluções específicas, explorando sua matéria-prima local. Isso enriquece a pesquisa e reforça nosso papel no cenário internacional."

Por outro lado, Cristiane Siqueira, doutora em engenharia de processos químicos e bioquímicos e coordenadora do mestrado em Ciências Ambientais da Univassouras, no Rio de Janeiro, pondera que desafios estruturais limitam a cadeia produtiva de bioplásticos no país. 

"Temos grande potencial graças à disponibilidade de matérias-primas, como resíduos agroindustriais. Contudo, os principais gargalos incluem o custo elevado, a infraestrutura insuficiente para descarte adequado e a falta de conscientização do consumidor e da indústria", avalia.

Embora o Brasil já tenha iniciativas de uso de bioplásticos, como em embalagens de cosméticos, escovas de dente e cápsulas de café, Siqueira enfatiza que muitos projetos permanecem no universo acadêmico ou no estágio experimental de empresas.

"Uma parcela reduzida alcança o consumidor final. É necessário investir em políticas públicas e incentivos para viabilizar a aplicação em larga escala, especialmente em áreas como a médica, onde o impacto pode ser ainda maior", diz.

 

Fonte: DW Brasil

 

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