Os
BRICS e sua importância na política internacional
Os
BRICS surgiram, a princípio, após a divulgação de um relatório por um dos
economistas da Goldman Sachs, Jim O’Neil, apresentando Brasil, Rússia, Índia e
China como mercados emergentes importantes a serem acompanhados pela sua boa
performance econômica. A partir do relatório, os países do BRIC passaram a se
reunir às margens das reuniões da ONU e do G20 para promover a cooperação entre
essas economias emergente. A crise financeira de 2009 mostrou a importância
dessas economias no cenário global visto que foram apenas marginalmente
afetadas pela crise do subprime e suas políticas contracíclicas estimulando
suas economias domésticas foi fundamental para que a economia global não
entrasse em uma recessão nos moldes dos anos 1930. Ainda em 2009, o G20 passou
a ser institucionalizado com uma reunião de cúpula anual apontando para a
importância dos países emergentes na coordenação das políticas econômicas para
a manutenção da estabilidade na economia global.
No
mesmo ano, os BRIC passaram a ter uma reunião de cúpula anual formalizando o
grupo como um clube de países emergentes com interesses comuns e que buscam
cooperar e coordenar suas políticas externas no âmbito internacional. Em 2011,
a África do Sul foi convidada para fazer parte do grupo representando os países
africanos. O clube passou então a ser conhecido como BRICS. Dentre as
principais pautas demandadas pelos países do clube, está uma maior
representatividade na gestão das finanças internacionais, demandando reformas
das cotas de votação tanto do FMI quanto do Banco Mundial que não refletem a
relevância econômica desses países no cenário global atual, enquanto os EUA
contam com poder de veto e os países europeus são super-representados. OS BRICS
também demandam desde o início do grupo por uma menor dependência do dólar e um
maior papel para os direitos especiais de saque (unidade de conta baseada em
uma cesta de moedas do FMI) na economia internacional, uma vez que a
dependência do dólar torna esses países vulneráveis a distúrbios e perturbações
econômicas nos Estados Unidos e os torna reféns em alguma medida da política
monetária americana.
Nesse
ensejo, os países BRICS criaram, na cúpula da Fortaleza em 2014, o Novo Banco
de Desenvolvimento e o Arranjo Contingente de Reservas que tem funções
similares ao Banco Mundial e ao FMI, respectivamente. O objetivo dessas
instituições é complementar o papel exercidos pelas tradicionais organizações
de Bretton Woods, mas ao mesmo tempo oferecer uma alternativa, visto que no
âmbito dessas novas instituições não existem as mesmas imposições de
condicionalidades para acesso ao crédito como no Banco Mundial e o FMI. Além
disso, o objetivo do Banco dos BRICS é oferecer mais fontes de crédito voltadas
ao desenvolvimento de projetos de infraestrutura, que é a principal demanda de
países emergentes como os BRICS.
Os
BRICS também demandam uma reforma mais ampla das organizações multilaterais,
inclusive do sistema ONU onde Brasil, Índia e África do Sul tem interesse em
ter um assento permanente no Conselho de Segurança. Essa demanda está em
consonância a demanda geral dos BRICS de maior representatividade para os
países emergentes no cenário internacional. Apesar de interesses amplos em
comum, os BRICS são países muito diferentes e que possuem, muitas vezes,
interesses e agendas divergentes. Em termos gerais, os BRICS se unem pelo
desejo de maior influência e poder de voz na política internacional.
Recentemente,
novos países foram convidados a entrar no clube. O Irã, a Arábia Saudita, o
Egito, a Etiópia e o Emirados Árabes Unidos já são membros permanentes do clube
que agora é denominado BRICS+ e outros países também têm pleiteado a membresia
no clube. A expansão dos BRICS consolida o clube como o principal representante
dos países emergentes na política internacional. Porém, torna cada vez mais
difícil o alcance de um consenso e de uma atuação uníssona entre os países do
bloco uma vez que os novos membros têm cenários econômicos, sociais e culturais
diversos, aumentando ainda mais a diversidade de interesses dentro do clube.
Contudo, em termos gerais, a expansão dos BRICS fortalece a ideia de
insatisfação com a ordem global existente e reforça a necessidade de mudanças
profundas que contemplem de forma mais abrangente os interesses dos países em
desenvolvimento e não apenas as agendas e interesses dos países desenvolvidos.
¨ Os BRICS, o
fenômeno mais importante do século XXI. Por Emir Sader
O acontecimento político
mais importante de todo o novo século foi o surgimento e a consolidação dos
Brics.
Com o fim da União Soviética
e o chamado campo socialista, os Estados Unidos apareciam como a única potência
global no mundo. Mas a expectativa norte-americana de que se reproduziria o
período de grande parte do século XIX, com apenas uma grande potência mundial,
durou pouco.
A aliança entre a Rússia, a
China, o Brasil, a África do Sul e a Índia — pelas iniciais dos nomes dos
países - gerou o Brics, como principal força do Sul global. Retorna assim um
mundo bipolar, como havia ocorrido ao longo de toda a chamada Guerra Fria.
O Brics tem características
diferentes. Em primeiro lugar, porque reúne, pela primeira vez, o poder militar
da Rússia com o poder econômico da China. Foi possível ver, pela primeira vez,
as tropas da China desfilando na Praça Vermelha.
Em segundo, porque reúne
esse eixo com a América Latina, através da presença do Brasil e de outras
potências emergentes — como a África do Sul e a Índia. E, mais recentemente,
incorporando outros países, entre eles, vários países petroleiros do mundo
árabe, como a Arábia Saudita, o Egito, os Emirados Árabes Unidos e o Irã. Cuba
também aderiu aos Brics.
Os Brics criaram o Novo
Banco de Desenvolvimento — com sede em Xangai, presidido por Dilma Rousseff — e
o Acordo de Reserva Contingente dos Brics. O Banco apoia projetos por meio de
empréstimos e outras formas de apoio.
Entre 2003 e 2007, o
crescimento dos países dos Brics representou 65% da expansão do Produto Interno
Bruto (PIB) mundial. Em 2010, o PIB somado dos 5 países dos Brics chegou a 18%.
Pela paridade do poder de compra, chega a 25%. Em 2013, o PIB dos Brics já
superava o dos Estados Unidos ou da União Europeia. Em 2017, seu PIB
correspondia a 50% do crescimento econômico mundial. Com a entrada dos novos
países, os Brics passaram a corresponder a 27% da economia mundial e a 43% da
população do mundo.
Esse é o panorama político
mundial na primeira metade do século XXI. Com a tendência ao enfraquecimento da
hegemonia norte-americana — assim como de seus aliados estratégicos, a Europa e
o Japão —, ao lado do fortalecimento e ampliação dos Brics.
Um elo frágil dos Brics são
os retrocessos na América Latina, justamente o continente em que os governos
antineoliberais haviam predominado nas duas primeiras décadas do século. Hoje,
essa corrente pode contar com o Brasil e o México, que, mesmo sendo os países
mais importantes do continente, se encontram isolados diante dos governos de
direita e de extrema-direita.
É certo que as eleições no
Equador preveem o favoritismo da candidata de Rafael Correa, mas não é seguro
que o governo direitista atual aceite essa vitória. O Uruguai elegeu um
presidente alinhado com o Brasil, mas a Argentina terá pelo menos mais três
anos da pior presidência que o país já teve.
Mas, de toda maneira, os
Brics vieram para ficar e protagonizar a oposição à declinante força imperial
norte-americana. Será o protagonista da nova bipolarização mundial.
¨ Não são apenas países do BRICS que estão defendendo a
desdolarização: entenda tendência
Até o final de
2024, o número de países que lutaram contra o dólar americano finalmente
ultrapassou o número de seus apoiadores: mais da metade dos países ao redor do
mundo declararam um boicote à moeda americana, tendo mais 14 países embarcado
no caminho da desdolarização, de acordo com análise da Sputnik.
>>>> Os
países podem ser classificados em três grupos em relação ao uso do
dólar:
1.nO primeiro
grupo, com 94 países, inclui aqueles que não se opõem abertamente ao dólar
e não implementaram restrições, como Panamá, Ilhas Marshall e El Salvador.
2. O segundo grupo,
composto por 46 países, está mudando para suas moedas nacionais ou
limitando o uso do dólar devido a preocupações financeiras.
3. Por fim, o
terceiro grupo, com 53 países, é formado por aqueles que se opõem ao dólar
e buscam desafiá-lo globalmente.
<><> Várias
faces da desdolarização
A crescente pressão
internacional para reduzir a dependência do dólar americano tem levado diversos
países a explorar alternativas em pagamentos e prestações de conta.
Em 2024,
Guiné-Bissau manifestou interesse em realizar transações com a Rússia em
moedas nacionais, e a Mongólia adotou predominantemente o rublo e o yuan. Na
África, nações como Burkina Faso e Nigéria também estão intensificando o
uso de suas moedas nacionais no comércio, impulsionadas por preocupações
sobre as sanções ocidentais à Rússia e os riscos associados à dependência do
dólar.
Além das transações
comerciais, as iniciativas para diversificar os meios de pagamento incluem
decisões como a do Banco Nacional da Moldávia, que optou por não usar mais
o dólar como referência para a taxa de câmbio oficial. Em vez disso,
o país pretende utilizar o euro, visando aumentar a liquidez do
mercado e fortalecer os laços econômicos com a
União Europeia.
Este movimento reflete uma tendência mais ampla entre países que
buscam mitigar os riscos associados à volatilidade do dólar e às
políticas monetárias dos Estados Unidos.
Embora muitos
esperem que apenas países
do BRICS e
ex-membros do bloco socialista estejam nessa luta contra o
dólar, iniciativas como a da Câmara de Comércio
Ítalo-Russa demonstram que até na Europa há um interesse
crescente em sistemas de prestação de contas alternativos. O diretor da
câmara indicou que essa experiência pode ser estendida a empresários de outros
países, sinalizando uma mudança nas dinâmicas comerciais globais.
<><> O
final da era do dólar?
Espera-se que a
tendência de desdolarização se intensifique em 2025, prevê o especialista
industrial independente Leonid Khazanov em um comentário para a Sputnik.
"Os próprios
EUA contribuirão para a rejeição do dólar devido às peculiaridades de
sua política: declarando apoio à democracia sempre que possível, na
verdade tentam impor sua vontade ao mundo, tentando tornar todos os países
dependentes de si mesmos. Esse estado de coisas, como mostra a
história, não pode durar para sempre", diz o especialista.
No entanto, Ksenia
Bondarenko, professora associada da Escola
Superior de Economia russa, afirma que o dólar continua a ser a moeda
central da economia global, em parte devido ao "efeito qwerty", que
ilustra como mudanças em sistemas estabelecidos, como o dólar,
são difíceis e custosas.
"Muitos países
percebem que, ao reduzirem a participação do dólar, eles aumentam sua
independência em termos de acordos internacionais, protegem-se dos riscos
de sanções secundárias, limitam os riscos cambiais e outros riscos diretamente
relacionados, de uma forma ou de outra, à economia dos EUA, mas esse tipo
de 'redistribuição global' está associado a enormes custos de transação",
explica ela.
Os países do mundo
todo continuarão a procurar "formas de contornar" o dólar,
concorda Bondarenko, mas ainda falta muito para que isso aconteça.
¨ Entrada de 9 países no BRICS como parceiros mostra que
o grupo 'oferece um paradigma mais inclusivo'
A entrada oficial
de Belarus, Bolívia, Indonésia, Cazaquistão, Tailândia, Cuba, Uganda, Malásia e
Uzbequistão no grupo BRICS como parceiros a partir de 1º de janeiro de 2025
"representa outro marco" de seu desenvolvimento, afirma o Global
Times.
Com esta nova expansão
do BRICS,
o grupo não só ganha maior força econômica, mas também reconfirma o seu papel
cada vez mais fundamental no avanço da criação de um mundo
multipolar, afirma a publicação.
No artigo, Wang
Youming, diretor do Instituto dos Países em Desenvolvimento do Instituto Chinês
de Estudos Internacionais em Pequim, observa que a inclusão destes nove países
como parceiros do BRICS destaca o impulso crescente do movimento global
para remodelar uma ordem internacional injusta e desigual, dando prioridade a
uma área historicamente relegada como
o Sul Global.
"Em resposta à
crescente expansão da família BRICS, alguns meios de comunicação ocidentais
ficaram ansiosos, especialmente depois da Cúpula do BRICS em Kazan. Por
exemplo, o Voice of America [Voz da América] disse que a reunião 'destacou
as aspirações geopolíticas e as rivalidades com o Ocidente'", disse a
artigo sobre o nervosismo de Washington e seus aliados.
No entanto, o
Global Times (GT) explica que, apesar do que afirmam alguns meios de
comunicação e políticos
ocidentais,
o BRICS não tem intenção de confronto.
"Eles são uma
organização não ocidental, mas não antiocidental. Desde a sua criação, o BRICS
articulou claramente o seu papel e missão: não começar do zero, não se
envolver em confrontos entre partidos e não procurar substituir ninguém. Seu
modelo de cooperação multilateral evita jogos de soma zero entre as principais
potências e oferece um paradigma mais inclusivo para as relações
internacionais. Foi esta inclusão que levou muitos países do Sul Global a se
apressarem para se candidatar à adesão", observa o portal.
Nesse sentido, a
mídia argumenta que a força
motriz por
trás desta explosão de interesse no BRICS é "a crescente demanda dos
países em desenvolvimento por uma ordem internacional mais justa", algo
lógico considerando que nas últimas décadas o mundo teve que suportar cada vez
mais o peso das ações hegemônicas das potências ocidentais.
Em flagrante
contraste, salienta o GT, os países do BRICS não só fizeram progressos notáveis
no seu
próprio desenvolvimento, mas também prosperaram graças a terem a colaboração
como eixo e a defenderem a necessidade de uma mudança em direção a um
sistema global multipolar.
"Hoje, à
medida que os riscos geopolíticos continuam a aumentar, os parceiros do BRICS
oferecem aos países do Sul Global uma alternativa mais inclusiva, flexível
e resiliente. O BRICS não só oferece oportunidades de cooperação econômica, mas
também cria uma plataforma para os países
em desenvolvimento terem
voz e participar na reforma da governança global", afirma o artigo.
Nesse sentido,
através da plataforma BRICS, o Sul Global pode se libertar da tradicional
pressão geopolítica de "tomar partido" que os priva de mais
oportunidades e melhores
condições,
obtendo maior autonomia em um mundo multipolar, argumenta a mídia.
"Alguns meios
de comunicação ocidentais atribuem o risco de divisão global à expansão do
BRICS, sugerindo que os países têm de escolher entre se unir e cooperar com o
Ocidente. Eles tentam estigmatizar o BRICS como uma arma antiocidental. No
entanto, um número crescente a maioria dos países reconhece que o mecanismo não
é o que a mídia ocidental descreveu", afirma o jornal.
Neste sentido, o GT
conclui salientando que o BRICS não seguiu o caminho ocidental de formar
blocos exclusivos. Em vez disso, abriu um novo caminho de diálogo e não de
confronto, baseado no princípio de "parceria,
não alinhamento".
¨ Política de Trump poderia ser um 'gatilho' para guerra
comercial global, opina economista
O aumento nas taxas
de importação prometido pelo presidente eleito dos EUA, Donald Trump, pode se
tornar um "gatilho" para uma guerra comercial global, que, por sua
vez, pode ameaçar uma recessão global, embora esse não seja o cenário básico,
disse Anton Tabakh, economista-chefe da agência de classificação Expert RA
russa, à Sputnik.
A economia mundial
tem passado por momentos difíceis nos últimos anos: as taxas de
crescimento permanecem "lentas" e mais baixas do que antes da
pandemia, observou anteriormente o
Fundo Monetário Internacional. Ao mesmo tempo, o crescimento do PIB
global está desacelerando gradualmente: se em 2022 foi de 3,6%, em 2023 -
já 3,3%, e em 2024 o FMI previu 3,2%.
Anton Tabakh
elaborou que não se trata de uma crise, mas de uma normalização após um
choque pandêmico e da recuperação do crescimento.
"Com os altos
gastos governamentais, inclusive militares, em todo o mundo, é improvável que
haja uma crise - a menos que a
política tarifária dos EUA se torne um gatilho para uma guerra comercial
global", comentou Tabach.
Ao mesmo tempo, ele
enfatizou que "uma recessão global devido a guerras comerciais
tarifárias não é um cenário básico, mas possível".
O aumento das
tarifas sobre as importações de produtos da
China e
de outros países é um dos tópicos mais frequentes nos discursos de Trump.
De acordo com suas últimas declarações, ele planeja impor tarifas
adicionais de 10% sobre as importações de produtos chineses, tendo falado
anteriormente sobre a possibilidade de impor tarifas de 60% a 100%. Sobre
as importações de outros países, o presidente eleito dos EUA ameaçou impor
tarifas de 10% sobre todos os produtos. Ao mesmo tempo, Trump prometeu,
posteriormente, tarifas de importação separadas de 25% para o México e o
Canadá.
Fonte: Race
Comunicação/Sputnik Brasil/Brasil 247
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