quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

França pode se tornar a espinha dorsal militar da UE se os EUA deixarem a OTAN, diz especialista

A UE pode recorrer ao Tratado de Lisboa se o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, retirar os EUA da OTAN, disse o professor Stavros Kalenteridis, do Aegean College em Atenas, à Sputnik.

O ex-assessor de segurança nacional dos EUA, John Bolton, afirmou no ano passado que, durante uma cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em 2018, o então presidente dos EUA, Donald Trump, "chegou muito perto de se retirar da aliança ali mesmo" na reunião.

Tal cenário pode vir a ocorrer se Trump cumprir suas ameaças anteriores contra a aliança, de acordo com o professor Stavros Kalenteridis.

O professor lembrou que Trump havia alertado anteriormente que os EUA não protegeriam os membros da OTAN que não estivessem em conformidade com um requisito mínimo de gastos com defesa relacionado ao orçamento da aliança.

"Isso poderia enfraquecer a OTAN e levar a União Europeia [UE] a recorrer ao Artigo 42.7 do Tratado de Lisboa, que contém uma cláusula referente à assistência mútua da UE", acrescentou Kalenteridis.

O cenário pode abrir caminho para a liderança da França na UE, dado que o país "historicamente buscou um curso militar independente e às vezes se desviou da rota da OTAN", destacou o especialista.

Ele não descartou que "o futuro presidente francês poderia cortar os laços de Paris com a OTAN", o que o professor argumentou que "a longo prazo beneficiaria a Rússia", que repetidamente alertou a aliança contra sua expansão para o leste.

<><> Morre fundador e líder da Frente Nacional na França, Jean-Marie Le Pen

Jean-Marie Le Pen, o líder histórico da extrema direita francesa, morreu nesta terça-feira (07/01) aos 96 anos, informaram vários sites de notícias franceses.

A morte foi confirmada pela família dele num comunicado à agência de notícias AFP.

Le Pen, que é o pai da líder do partido Reunião Nacional, Marine Le Pen, estava havia várias semanas num centro de cuidados em Garches, nas proximidades de Paris.

Le Pen foi, em 1972, um dos fundadores do antigo partido Frente Nacional (Front National, no original), que em 2018 foi renomeado para Reunião Nacional (Rassemblement National).

Ele foi o primeiro líder do partido e figura central até a sua renúncia, em 2011. Durante esse período, ele transformou a Frente Nacional de um grupo dissidente numa força política a ser levada a sério, usando provocações incisivas para despertar um clima contra os imigrantes.

Figura polarizadora na política francesa, Le Pen era conhecido por sua retórica inflamada contra a imigração e o multiculturalismo. Suas declarações polêmicas, incluindo a negação do Holocausto, levaram a várias condenações e prejudicaram suas alianças políticas.

Em 2015 foi expulso do partido devido às suas reiteradas declarações polêmicas sobre o Holocausto, por exemplo de que as câmaras de gás foram um “detalhe” na história da Segunda Guerra Mundial.

Ele reagiu ferozmente à expulsão, acusou sua filha de traição e a atacou repetidamente em público. Acabou obtendo uma vitória na Justiça e inicialmente foi autorizado a manter seu título de presidente honorário. No entanto, mais tarde foi destituído desse título.

Le Pen, que chegou ao segundo turno da eleição presidencial de 2002, acabou se afastando cada vez mais de sua filha, Marine Le Pen, e, desde que foi expulso do partido, passou a ocupar manchetes sobretudo devido a sua briga contínua com ela.

Sem o pai, que era contra uma postura mais moderada, Marine Le Pen continuou reformulando a imagem do partido para expandir seu apelo eleitoral.

Apesar de sua exclusão do partido em 2015, o legado divisivo de Jean-Marie Le Pen perdura, marcando décadas da história política francesa e moldando a trajetória da extrema direita.

 

¨      Políticos britânicos reclamam com aliados de Trump sobre duras críticas de Musk ao governo

Altos membros dos três maiores partidos britânicos, em caráter privado, apelaram aos aliados do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, para reconsiderar sua relação com o empresário Elon Musk, devido a críticas severas à política britânica e ao primeiro-ministro do país, Keir Starmer. A informação é da Bloomberg, que citou fontes.

"Políticos de alto escalão dos três maiores partidos do Reino Unido pediram em particular aos aliados de Donald Trump que reconsiderassem suas relações com Elon Musk, depois que o bilionário e chefe da Tesla fez uma série de declarações […] provocativas sobre a política britânica", informou a agência.

De acordo com as fontes, alguns políticos britânicos do Partido Trabalhista, além dos opositores Partido Conservador e Reform UK disseram aos aliados do republicano que as declarações de Musk prejudicam a reputação de Trump, mesmo entre seus apoiadores em Londres.

Uma das fontes afirmou à agência que aliados do presidente eleito dos EUA expressaram preocupações semelhantes sobre as críticas de Musk à política britânica. Na opinião de um político do país próximo à equipe de transição de Trump, Musk "ultrapassou os limites" e agora representa um risco para o futuro líder norte-americano.

O bilionário chegou a defender novas eleições parlamentares no Reino Unido, após os resultados desfavoráveis das últimas pesquisas para os trabalhistas no poder.

Musk também pediu votos para o Reform UK, partido populista de direita, afirmando que era "a única esperança" para o Reino Unido. Antes disso, o líder da sigla, Nigel Farage, disse que havia se encontrado com Musk, recebendo apoio do bilionário.

Na sequência, o empresário criticou o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, após declarações de que o governo britânico era contra ataques a comunidades muçulmanas em meio a distúrbios.

O empresário também escreveu na rede social X (antigo Twitter), de sua propriedade, sobre um dos vídeos de protestos em cidades britânicas, que "uma guerra civil é inevitável".

¨      Europa tem mais gás russo do que antes do corte do fornecimento pela Ucrânia, diz mídia

Os países europeus estão importando volumes recordes de GNL da Rússia, apesar dos apelos para proibir o fornecimento do combustível russo, informou a agência Bloomberg.

A Bloomberg nota que os volumes excederam o que a Rússia forneceu através da Ucrânia até 1º de janeiro de 2025, o que demonstra como é complicado para a UE cortar os laços com seu principal fornecedor de recursos, Moscou.

"Moscou demonstrou que, mesmo quando uma avenida para os mercados se fecha, muitas vezes há outras ainda abertas para a Rússia", afirma a agência.

Além disso, a Bloomberg sublinha que a Rússia pode vender mais por meio do TurkStream (Corrente Turca), um gasoduto direto entre a Rússia e a Turquia sob o mar Negro, que também ajuda a abastecer alguns clientes europeus.

"Em 2025, a Gazprom poderia vender 25 bilhões de metros cúbicos para a Turquia e 15 bilhões de metros cúbicos para a Europa por meio do TurkStream", ressalta o artigo.

A Bloomberg finaliza com o reconhecimento de fato que as sanções podem, na verdade, fazer com que mais desse suprimento seja enviado para a Europa, mas não cortar o volume do fornecimento de gás russo à Europa.

Anteriormente, o fornecimento de gás russo via Ucrânia terminou às 08h00 da manhã, horário de Moscou (02h00 no horário de Brasília), de 1º de janeiro de 2025, após o encerramento do contrato entre a Gazprom e a Naftogaz. O gasoduto transportou cerca de 15,5 bilhões de metros cúbicos de gás no ano passado, respondendo por aproximadamente 4,5% do consumo total de gás na União Europeia (UE).

¨      Ultradireita recebe tarefa de formar novo governo na Áustria

O líder da legenda austríaca ultradireitista Partido da Liberdade (FPÖ), Herbert Kickl, recebeu do presidente Alexander Van der Bellen nesta segunda-feira (06/01) a incumbência de formar um governo de coalizão, após forças de centro fracassarem em fazer isso.

O FPÖ – um partido eurocético e favorável à Rússia fundado na década de 50 por um ex-oficial da força de elite paramilitar Schutzstaffel (SS), de Adolf Hitler – ficou em primeiro lugar nas eleições parlamentares de setembro pela primeira vez na história, com 29% dos votos.

Os ultradireitistas terão de negociar uma coalizão de governo com o conservador Partido Popular da Áustria (ÖVP), que até a pouco vinha se recusando a sentar-se à mesa com o FPÖ.

<><> Segunda tentativa de formar governo

Van der Bellen havia enfurecido o FPÖ logo após a eleição, ao não incumbir a legenda mais votada de formar um governo, uma vez que nenhum outro partido expressou intenção de aliar-se à ultradireita.

Ele inicialmente atribuiu a tarefa ao ÖVP e ao seu líder, o chanceler Karl Nehammer. A legenda de centro-direita havia ficado em segundo lugar nas eleições. Mas a tentativa de formar uma coalizão com outros partidos centristas fracassou neste fim de semana, o que levou o chanceler a anunciar sua renúncia.

Nehammer insistia que seu partido não aceitaria governar ao lado do FPÖ, afirmando que Kickl é um teórico da conspiração e uma ameaça à segurança do país.

Essa postura, porém, pode ter chegado ao fim com a renúncia do chefe de governo. O sucessor de Nehammer, Christian Stocker, disse no domingo que seu partido participaria de uma negociação de coalizão liderada por Kickl.

"Estamos bem no início. Se formos convidados para essas conversas, o resultado delas estará em aberto", afirmou o governador de Salzburgo, Wilfried Haslauer, um dos principais líderes do ÖVP.

Se as negociações fracassarem, é provável que sejam convocadas eleições antecipadas no país. As pesquisas de opinião mostram que o apoio ao ultradireitista FPÖ aumentou desde setembro.

<><> Discordâncias entre centro-direita e ultradireita

"Primeiro o povo e depois o chanceler", disse Kickl em um post no Facebook na noite de domingo, repetindo o slogan populista utilizado durante sua campanha. O FPÖ já esteve no poder anteriormente como um parceiro minoritário de uma coalizão, mas jamais liderou um governo.

A questão mais espinhosa nas negociações gira em torno de sobre como reduzir o déficit orçamentário, que deve exceder o limite imposto pela União Europeia (UE) de 3% do PIB em 2024 e 2025.

Enquanto ambas as partes pedem cortes de impostos, o FPÖ prometeu atacar alguns dos interesses mais caros ao ÖVP. Os dois partidos entram em conflito sobre a oposição do FPÖ à ajuda à Ucrânia em sua guerra contra a Rússia e em relação aos planos para um sistema de defesa antimísseis.

Van der Bellen, ex-líder do Partido Verde, de esquerda, disse várias vezes que estará atento para garantir que "pedras angulares da democracia", incluindo direitos humanos, imprensa independente e a filiação da Áustria à União Europeia, sejam respeitadas.

"Vozes dentro do ÖVP que descartam a cooperação com um FPÖ sob Herbert Kickl se tornaram mais silenciosas. Isso, por sua vez, significa que um novo caminho pode estar se abrindo", disse Van der Bellen neste domingo.

 

¨      JD Vance está errado sobre AfD e resistência ao nazismo

Primeiro o homem mais rico do mundo, Elon Musk, agora JD Vance: às vésperas das eleições legislativas antecipadas da Alemanha, homens poderosos dos Estados Unidos se manifestam a favor do partido ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD).

As declarações recentes do futuro vice do presidente americano eleito, Donald Trump, são polarizadoras. Além de criticar a mídia de seu país, que estaria difamando a AfD como sendo alinhada com o nazismo, numa postagem no X com mais de 5 milhões de cliques, Vance afirma que a AfD é mais popular nas regiões alemãs onde houve mais resistência aos nazistas.

Essa afirmativa é falsa: resultados de urnas e pesquisas sobre correlações geográficas do comportamento eleitoral sugerem antes o contrário.

Alguns veículos americanos, como o jornal The New York Times, ou mesmo a emissora Fox News, de orientação conservadora e alinhada ao Partido Republicano, de fato associam em parte a AfD com o nazismo – também pelo fato de ela própria em parte empregar palavras de ordem nazistas.

<><> Eleitorado da AfD se concentra na antiga Alemanha Oriental

Assim, em 2021 o político da AfD e ex-professor de história Björn Höcke foi condenado por proferir publicamente o slogan "Tudo pela Alemanha" (Alles für Deutschland) – originalmente adotado pela organização paramilitar SA, do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP) e, portanto, proibido.

Além disso, alguns diretórios estaduais da AfD, assim como o núcleo jovem Junge Alternative, foram declarados extremistas de direita e a sigla como um todo está sob suspeita de extremismo pelo serviço secreto interno da Alemanha.

A copresidente Alice Weidel chegou a definir o 8 de Maio, data da libertação da Alemanha do regime nazista, como uma derrota do país.

Quanto à afirmativa de JD Vance, de que os seguidores da AfD se concentrariam em regiões que combateram os nazistas, ela não é sustentada por fatos.

A maioria das atuais pesquisas eleitorais para as eleições antecipadas de 2025 apresenta apenas previsões para o resultado de todo o país, sem nuances regionais. Porém, nas legislativas de 2021, a AfD teve desempenho forte em estados do leste, antes pertencentes à extinta República Democrática Alemã (RDA), sob regime comunista.

O quadro foi semelhante no pleito para o Parlamento Europeu de junho de 2024, quando a AfD saiu vitoriosa sobretudo no Leste Alemão: em Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, Brandemburgo, Saxônia-Anhalt, Saxônia e Turíngia, ela alcançou no mínimo 27% dos votos, enquanto sua média nacional foi de 15,9%.

<><> Leste Alemão, bastião anti-Hitler?

Mas a questão central, no caso, é se nessas regiões a resistência ao regime de Adolf Hitler foi de fato tão forte quanto pretende o futuro vice-presidente americano. O NSDAP tomou o poder em 1933, e na eleição anterior para o Reichstag, em 6 novembro de 1932, ficara à frente com 33,1%.

Se forem considerados os resultados regionais, o NSDAP recebeu a maioria dos votos em grande parte da Alemanha, incluindo o Leste e também as regiões onde muitas pessoas hoje votam na AfD, mas também muitas outras regiões da Alemanha. 

No pleito parlamentar seguinte, em março de 1933, o NSDAP se mostrou ainda mais forte, alcançando a maior parte dos votos na maior parte das zonas eleitorais, em especial no Norte e no Leste do país. Entretanto essa eleição é historicamente considerada não democrática, já que o partido e seus adeptos intimidaram maciçamente os votantes, em parte com violência.

Nada disso confirma a postagem de JD Vance no X. "Os resultados de nossas pesquisas contradizem claramente essa afirmativa", reforça o pesquisador Felix Hagemeister, coautor de uma pesquisa da Universidade Ludwig-Maximilian, em que se analisam as circunstâncias geográficas da eleição que oficializou a tomada de poder pelos nazistas.

Ao contrário, do ponto de vista geográfico, houve em 1933 grande apoio eleitoral ao NSDAP em locais onde hoje a AfD é mais votada, diz Hagemeister. Ele ressalva, porém, que "seria falso apontar aí uma causalidade". Trata-se, antes, de uma continuidade, de tendências direitistas transmitidas de geração a geração. "Pesquisas demonstram que os filhos tendem a adotar os posicionamentos dos pais", menciona o pesquisador.

Num artigo para a Central Federal Alemã de Educação Política (BPB), o autor Christian Booss desaconselha comparações entre os eleitores da AfD e os do NSDAP, assim como entre as duas legendas. Uma análise mostrou em 2024, por exemplo, que o apoio à AfD é, em parte, também determinado por fatores socioeconômicos – ou seja, as condições de vida em cada região –, e fatores culturais e ideológicos são também relevantes.

 

Fonte: Sputnik Brasil/DW Brasil

 

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