quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Excesso de frutose favorece a inflamação, aponta pesquisa brasileira

Um estudo realizado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e recém-publicado no periódico Nutrition chega para comprovar os prejuízos atrelados ao consumo excessivo de frutose. Esse tipo de açúcar é encontrado naturalmente nas frutas, mas tem sido adicionado em produtos como refrigerantes, sucos, cereais matinais, bolos, achocolatados, sorvetes, entre outros itens industrializados.

Após conduzir pesquisas com animais de laboratório, que apontaram uma associação entre o exagero na substância e processos inflamatórios, a equipe mineira realizou um ensaio clínico com 22 mulheres saudáveis, com idades entre 20 e 47 anos. Em ambiente ambulatorial, no complexo do Hospital das Clínicas da UFMG, as participantes receberam café da manhã padronizado e foi incluída uma bebida, desenvolvida para o estudo, rica em frutose.

Amostras de sangue foram coletadas em jejum e após 30, 60, 120 e 240 minutos da refeição. Para comparação, foram oferecidos preparados de glicose e depois de sacarose, com intervalos de alguns dias entre cada um. Os exames de sangue também se repetiram nas duas ocasiões. “Observamos que a frutose leva a um aumento mais significativo nas concentrações de triglicérides e de leucócitos quando comparada com a glicose e a sacarose”, relata a nutricionista Ana Maria S. Rodrigues, autora principal do trabalho.

Sobre os triglicérides, sabe-se que taxas elevadas dessas moléculas de gordura estão relacionadas com aumento do risco cardiovascular. Já os leucócitos, nossas células de defesa, ajudam a sinalizar inflamações.

Outros trabalhos também demonstraram um elo entre o exagero na frutose e danos à saúde. “Há uma relação com a síndrome metabólica”, comenta Rodrigues. A nutricionista refere-se ao distúrbio marcado por taxas elevadas de glicose e de colesterol, além de hipertensão arterial e gordura abdominal.

Gabriela Mieko, nutricionista do Espaço Einstein de Reabilitação e Esporte, do Hospital Israelita Albert Einstein, acrescenta mais itens à lista. “Existem evidências sobre o aumento no risco do diabetes tipo 2, além da esteatose hepática não alcoólica, que é o acúmulo de gordura no fígado, e ainda, com a elevação dos níveis de ácido úrico no sangue”, comenta. Esse último pode levar ao desenvolvimento de gota, mal por trás da inflamação nas articulações.

·        Açúcar das frutas x açúcar dos refrigerantes

A frutose também aparece em diversos trabalhos pela relação com a obesidade. E é justamente por esse motivo que já tem até gente excluindo as frutas do cardápio, sem a menor necessidade. Por isso, é fundamental alertar sobre as diferenças entre a frutose que vem da natureza e aquela que tem aparecido nas gôndolas dos supermercados.

Pela classificação química, a frutose é um monossacarídeo. Significa que se trata de uma combinação de moléculas que forma um carboidrato simples, que apresenta absorção rápida pelo organismo.

Esse açúcar aparece nas frutas, no mel e até em algumas hortaliças. Mas, devido ao seu alto poder de adoçar e à capacidade de reter água, despertou a atenção de cientistas que o isolaram em laboratório, no século 19.

Sua popularidade aumentou mesmo com o surgimento do xarope de milho, na década de 1960. E foi a partir daí que passou a competir com a sacarose, oriunda da cana-de-açúcar, na formulação de produtos industrializados. Nesses itens, especialmente refrigerantes, sucos e afins, o que se vê é uma alta concentração da substância.

Já nas frutas, os teores são muito menores e há uma porção de vitaminas, sais minerais, antioxidantes, compostos bioativos e fibras, num mix benéfico. “A interação entre todas essas substâncias atenua a velocidade de absorção da frutose”, explica Mieko.

Não bastasse favorecer o equilíbrio glicêmico, essa mistura ajuda a combater processos inflamatórios. Inclusive, uma sugestão ao consumir frutas é não dispensar bagaço ou cascas, sempre que possível. Assim ocorre maior ingestão de fibras e se garante ainda mais os tais benefícios.

A nutricionista do Einstein chama a atenção para uma triste realidade do nosso país. “As últimas Pesquisas de Orçamento Familiar (POF) mostram que os brasileiros têm consumido cada vez menos frutas, verduras e legumes”, lamenta. Por outro lado, observa-se o crescimento na ingestão de produtos classificados como ultraprocessados, que são ricos em todos os tipos de açúcar, incluindo a frutose.

Não custa reforçar a recomendação de diversos órgãos de saúde: abra mais espaço no cardápio para alimentos in natura e de origem vegetal. Outra dica, sempre bem-vinda, é esmiuçar todos os detalhes dos rótulos de itens industrializados.

Embora a frutose apareça com seu próprio nome na lista de ingredientes, também pode vir com outras designações. “Xarope de milho, açúcar de fruta ou a sigla HFCS (do inglês High Fructose Corn Syrup) sinalizam a presença da substância”, ensina a nutricionista. Um olhar atento ajuda a evitar o excesso de frutose e os prejuízos atrelados e comprovados pela ciência.

 

¨      Bebidas com açúcar podem aumentar o risco de morte, aponta estudo

Bebidas açucaradas podem deixar um gosto amargo devido ao seu possível impacto na mortalidade, conforme aponta um novo estudo.

 “Esta é uma crise de saúde pública que requer ação urgente”, afirmou o autor principal da pesquisa, Dariush Mozaffarian, cardiologista e diretor do Instituto Food is Medicine da Universidade Tufts.

O estudo, publicado na segunda-feira (6) na revista Nature Medicine, analisou dados globais sobre bebidas açucaradas consumidas em todo o mundo, estudos observacionais e randomizados, e a prevalência de diabetes e doenças cardiovasculares.

Com as evidências, os pesquisadores criaram um modelo de risco comparativo e estimaram que as bebidas açucaradas “causam mais de 330.000 mortes anuais por diabetes e doenças cardiovasculares”, disse Mozaffarian.

O problema é particularmente grave na América Latina e no Caribe, que apresentaram o maior número de casos de doenças cardiovasculares relacionadas a bebidas, e na África Subsaariana, que também teve o maior número de casos de diabetes tipo 2 por bebidas açucaradas, acrescentou, com base no modelo dos pesquisadores.

O estudo também examinou a demografia dos mais afetados por bebidas adoçadas — principalmente homens jovens adultos com maior escolaridade em áreas urbanas, disse Toby Smithson, nutricionista registrada, membro da Academia de Nutrição e Dietética e gerente sênior de nutrição e bem-estar da Associação Americana de Diabetes, que não participou do estudo.

“É hora de prestar atenção e tomar ações prioritárias para lidar com esse sofrimento trágico e evitável”, disse Mozaffarian por e-mail.

<><> Por que o açúcar líquido age tão rápido?

Como o estudo não testou um comportamento ou intervenção contra um grupo de controle, os pesquisadores não podem afirmar que as bebidas açucaradas estão causando diabetes e doenças cardiovasculares — eles só podem estimar o impacto.

Os pesquisadores coletaram dados valiosos em 184 países, mas o estudo não considerou todos os níveis de renda e o aumento do risco de diabetes e doenças cardiovasculares entre grupos étnicos de alto risco, disse Smithson.

Mas a constatação de que bebidas açucaradas são prejudiciais faz sentido, já que muitos estudos demonstraram uma ligação entre essas bebidas e impactos negativos à saúde, disse Mozaffarian.

Bebidas açucaradas têm “calorias vazias” — ou calorias sem benefícios nutricionais, disse Smithson. Elas também são fonte de carboidratos de ação rápida, que entram na corrente sanguínea e elevam rapidamente o açúcar no sangue, acrescentou.

Esses açúcares vazios em forma líquida são ainda mais prejudiciais do que aqueles em sobremesas ou alimentos doces, disse Suzanne Janzi, doutoranda em epidemiologia nutricional na Universidade de Lund, na Suécia, em um artigo anterior da CNN. Ela não participou da pesquisa mais recente.

“Os açúcares líquidos são absorvidos mais rapidamente no sistema digestivo, pois não requerem os mesmos processos de decomposição que os alimentos sólidos”, disse Janzi por e-mail. “Os açúcares sólidos geralmente fazem parte de alimentos que contêm outros nutrientes como fibras, proteínas e gorduras.”

Esses nutrientes retardam a digestão, significando que há uma liberação mais gradual de açúcar na corrente sanguínea, ela disse.

<><> Adoçantes são a resposta?

E quanto às bebidas adoçadas com algo diferente do açúcar? Elas podem ser melhores, mas não são a resposta, disse Mozaffarian.

“Pesquisas crescentes mostram que tanto os adoçantes naturais quanto os artificiais de baixa caloria não são inócuos e podem causar danos à saúde, então estes devem ser considerados uma alternativa menos prejudicial a curto prazo, não uma solução a longo prazo”, disse ele.

Por exemplo, adoçantes artificiais podem ser um bom substituto com moderação para pessoas com diabetes, que podem estar acostumadas a bebidas açucaradas, disse Smithson.

“Ao fornecer uma maneira adequada para diabéticos de preparar alimentos que as pessoas estão acostumadas a comer, podemos encontrar as pessoas onde elas estão, oferecendo suporte para gerenciar efetivamente seu diabetes”, disse ela.

Mas em vez de depender de adoçantes artificiais, Mozaffarian aconselha mudar para bebidas não adoçadas, como água com gás, chá ou café sem açúcar, ou simplesmente água pura.

A hidratação é importante para controlar a pressão arterial, o açúcar no sangue, a temperatura interna e a digestão, disse Smithson.

“A melhor bebida hidratante é a água”, disse ela por e-mail. “Se uma pessoa não gosta de água pura, pode incrementar sua bebida tomando água aromatizada com fatias de limão, lima ou ervas frescas, ou usando águas com gás que não contenham açúcar adicionado.”

 

Fonte: CNN Brasil

 

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