quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

7 momentos que podem redefinir o futuro do clima e da natureza em 2025

O ano de 2025 começa com um cenário carregado de desafios e oportunidades que podem redefinir as ações globais contra as mudanças climáticas. Entre as questões que prometem dominar as pautas estão a posse de Donald Trump, um reconhecido negacionista do clima, e a definição das novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), os compromissos de cada país para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, de acordo com o Acordo de Paris.

Confira a seguir 7 momentos que vivenciaremos nos próximos 12 meses e que serão fundamentais para o futuro do planeta.

·        1- Janeiro: Posse de Trump

Está marcada para o dia 20 de janeiro a posse de Donald Trump, e muitos especialistas alertam que seu mandato será um grande retrocesso para a ação climática. O presidente eleito dos Estados Unidos já disse que pretende retirar o país do Acordo de Paris, como fez anteriormente – e, também, da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC, na sigla em inglês).

Ainda assim, há quem afirme que o momento agora está do lado da transição energética. “O resultado desta eleição será visto como um grande golpe para a ação climática global. Mas não pode e não vai interromper as mudanças em andamento para descarbonizar a economia e atingir as metas do Acordo de Paris”, observou anteriormente Christiana Figueres, ex-chefe do clima da ONU, à BBC News.

Stientje van Veldhoven, diretora regional para a Europa no World Resources Institute (WRI) e ex-ministra do Meio Ambiente da Holanda, destacou que a economia global mudou significativamente desde que Trump foi presidente em seu primeiro mandato (2017-2021). “Enquanto há oito anos a economia trabalhava contra [a transição para energia limpa], agora ela começa a trabalhar muito a favor dela. Essa é uma coisa que realmente mudou”, pontuou.

Outro ponto a se levar em conta, segundo van Veldhoven, é que, nos Estados Unidos, a energia limpa está crescendo devido ao investimento impulsionado pelo Inflation Reduction Act (IRA), aprovado por Joe Biden. E, como a maior parte desse dinheiro foi investida em áreas que elegeram republicanos, isso significa que Trump pode enfrentar oposição de dentro de seu próprio partido se tentar conter o crescimento das energias renováveis.

“O IRA está trazendo empregos para os EUA e muitos deles estão em estados republicanos. O apoio a [esse investimento] é muito mais amplamente difundido do que apenas os democratas”, avaliou. E é importante salientar que, mesmo Trump negando as mudanças climáticas, muitos prefeitos e governadores americanos já estão ou irão se mobilizar para fortalecer a resiliência climática em suas áreas e, também, reduzir as contas de energia de seus moradores.

·        2 - Fevereiro: Novas metas climáticas nacionais

O mês de fevereiro também será fundamental para o clima, pois é quando os países precisam apresentar seus novos planos de ação climática, chamados de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). Esses planos, revisados apenas a cada cinco anos, detalham as estratégias dos países para descarbonizar suas economias e proteger suas populações dos impactos das mudanças climáticas na próxima década. Eles integram o chamado “mecanismo de catraca” do Acordo de Paris, que visava aumentar a ambição climática de cada nação ao longo do tempo em direção às metas coletivas.

“Esta rodada de NDCs terá que mostrar compromissos muito maiores do que os [planos] anteriores”, analisou van Veldhoven. Países como o Reino Unido, o Brasil e os Estados já apresentaram suas novas NDCs. Mas grandes emissores como China e Índia ainda não o fizeram, e a expectativa agora é alta.

·        3 - Fevereiro: Negociações sobre biodiversidade em Roma

Ainda em fevereiro deverão ser retomadas as negociações sobre biodiversidade na segunda edição da cúpula da biodiversidade COP16, que acontecerá em Roma, na Itália, encontro que tentará concluir o acordo de financiamento que ficou em aberto na cúpula realizada na Colômbia em 2024.

“Os governos devem concordar com um mecanismo de financiamento global para a biodiversidade que funcione para todos”, observou Clement Metivier, consultor sênior de advocacia internacional do WWF UK. “Isso é essencial para construir confiança de que [a estrutura] pode ser efetivamente implementada.”

Van Veldhoven acrescentou: “Por muito tempo, a natureza e o clima foram tratados como duas áreas de atenção muito separadas, mas acho que este ano veremos a integração dessas duas agendas e o reconhecimento do quanto elas estão interligadas”.

·        4 - Início de 2025: Parecer consultivo do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ)

Atualmente, existem milhares de processos judiciais relacionados ao clima em andamento ao redor do mundo. E os réus são bem variados: de governos a empresas de combustíveis fósseis e companhias aéreas, enfrentando acusações relacionadas a danos climáticos ou à falta de ação suficiente para reduzir emissões de carbono.

Para Joana Setzer, professora associada do Grantham Research Institute on Climate Change and the Environment em Londres, 2025 deverá “outro ano crucial para ações judiciais climáticas”.

Ela apontou que o número de casos provavelmente continuará a crescer em países com contagens de casos historicamente altas, mas também pode aumentar em lugares onde o litígio tem sido menos comum, como a China. “À medida que as negociações diplomáticas enfrentam desafios, a ação judicial internacional serve como um contrapeso crucial, enraizado em evidências, responsabilização e na necessidade urgente de progresso”, falou.

O parecer consultivo foi solicitado ao CIJ após uma moção da ONU liderada pelo governo de Vanuatu e apoiada por mais de 130 países. E, embora não seja vinculativo, poderia estabelecer um novo padrão global para litígios climáticos e influenciar julgamentos futuros.

Uma decisão importante esperada para o começo do ano virá do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ). O órgão emitirá um parecer consultivo, solicitado após uma moção da ONU liderada pelo governo de Vanuatu e apoiada por mais de 130 países. “Embora não vinculativas, as opiniões consultivas do TIJ carregam peso moral e legal significativo. Esta opinião consultiva tem o potencial de estabelecer uma referência global para a responsabilidade climática e reforçar a conexão entre direitos humanos, sustentabilidade e proteção ambiental”, complementou Setzer.

·        5 - Maio: Avanços tecnológicos no monitoramento climático

Além do aumento dos litígios climáticos, nos últimos anos houve uma onda de novos lançamentos de satélites para coletar dados sobre o clima e emissões de metano e CO2. Essas tecnologias também ajudam a combater a destruição de florestas e permitem que cientistas acompanhem mudanças nas rotas migratórias da vida selvagem marinha.

Em 2025, espera-se um fluxo crescente de dados ainda mais precisos, impulsionado por novos lançamentos. Entre eles está o MicroCarb, o primeiro satélite europeu dedicado exclusivamente à medição de CO2 atmosférico e suas fontes de emissão, com lançamento previsto para maio.

·        6 - Meados de 2025: Debates sobre poluição plástica

No ano passado, as negociações globais para enfrentar a poluição plástica fracassaram após mais de dois anos de tentativas de consenso. Diante do impasse, os países concordaram em retomar as discussões em 2025, com uma nova rodada de negociações prevista para meados do ano e uma conferência final no final do ano, onde se espera que um tratado seja assinado.

As divergências centrais giram em torno de dois pontos: redução da produção de plástico versus o foco na reciclagem e gestão de resíduos e apoio financeiro necessário para ajudar países em desenvolvimento a adotar práticas mais sustentáveis. Além disso, permanece a disputa sobre se as medidas devem ser voluntárias ou juridicamente vinculativas.

“Com a próxima rodada de negociações esperada para este ano, os países devem vir preparados para entregar compromissos significativos”, disse Paula Chin, consultora sênior de políticas do WWF-UK. “O mundo não pode se dar ao luxo de mais atrasos – a inação só aprofundará a crise da poluição plástica e seus impactos devastadores. Os governos devem aproveitar esta oportunidade para definir regras claras e executáveis para acabar com a poluição plástica e proteger as pessoas e o planeta para as gerações futuras.”

·        7 - Novembro: COP30 no Brasil

Em novembro de 2025, todos os olhos estarão voltados para a COP30, em Belém, no Pará. Um dos principais pontos de discussão na 30ª conferência do clima da ONU será o financiamento climático. Na COP29, que aconteceu em Baku, no Azerbaijão, em novembro passado, os países concordaram com uma nova meta de US$ 300 bilhões (aproximadamente R$ 1,8 trilhão) por ano até 2035 para ajudar os países em desenvolvimento a fazer a transição para uma economia mais verde e lidar com os impactos das mudanças climáticas.

Eles também se comprometeram a arrecadar US$ 1,3 trilhão (R$ 7,9 trilhões) por ano de fontes públicas e privadas até essa data. Apesar disso, muitos países vulneráveis argumentam que esses valores são insuficientes para enfrentar os desafios climáticos em larga escala. “Isso não é caridade, mas um investimento essencial para salvaguardar a prosperidade futura e evitar os custos muito maiores da mudança climática descontrolada”, avaliou Joe Thwaites, especialista em financiamento climático do Natural Resources Defense Council (NRDC).

Brasil e o Azerbaijão foram encarregados de produzir um roteiro até a COP30 que estabeleça como atingir a meta de US$ 1,3 trilhão. “[Esse roteiro] deve incluir uma reforma ousada do sistema financeiro internacional e fontes inovadoras de financiamento, como impostos sobre transporte, aviação, combustíveis fósseis e riqueza”, completou Nick Mabey, fundador do think tank ambiental E3G.

 

Fonte: Um só Planeta

 

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