7 momentos que podem redefinir
o futuro do clima e da natureza em 2025
O ano de 2025 começa com um cenário carregado de desafios e
oportunidades que podem redefinir as ações globais contra as mudanças climáticas. Entre as questões que prometem dominar as pautas estão a posse de
Donald Trump, um reconhecido negacionista do clima, e a definição das novas
Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), os compromissos de cada país
para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, de acordo com o Acordo de Paris.
Confira a seguir 7 momentos que vivenciaremos nos próximos 12 meses
e que serão fundamentais para o futuro do planeta.
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1- Janeiro: Posse de Trump
Está marcada para o dia 20 de janeiro a posse de Donald Trump, e
muitos especialistas alertam que seu mandato será um grande retrocesso para a
ação climática. O presidente eleito dos Estados Unidos já disse que pretende
retirar o país do Acordo de Paris, como fez anteriormente – e, também, da
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC, na sigla
em inglês).
Ainda assim, há quem afirme que o momento agora está do lado
da transição energética.
“O resultado desta eleição será visto como um grande golpe para a ação
climática global. Mas não pode e não vai interromper as mudanças em andamento
para descarbonizar a economia e atingir as metas do Acordo de Paris”, observou
anteriormente Christiana Figueres, ex-chefe do clima da ONU, à BBC News.
Stientje van Veldhoven, diretora regional para a Europa no World
Resources Institute (WRI) e ex-ministra do Meio Ambiente da Holanda, destacou
que a economia global mudou significativamente desde que Trump foi presidente
em seu primeiro mandato (2017-2021). “Enquanto há oito anos a economia
trabalhava contra [a transição para energia limpa], agora ela começa a
trabalhar muito a favor dela. Essa é uma coisa que realmente mudou”, pontuou.
Outro ponto a se levar em conta, segundo van Veldhoven, é que, nos
Estados Unidos, a energia limpa está crescendo devido ao investimento
impulsionado pelo Inflation Reduction Act (IRA), aprovado por Joe Biden. E,
como a maior parte desse dinheiro foi investida em áreas que elegeram
republicanos, isso significa que Trump pode enfrentar oposição de dentro de seu
próprio partido se tentar conter o crescimento das energias renováveis.
“O IRA está trazendo empregos para os EUA e muitos deles estão em
estados republicanos. O apoio a [esse investimento] é muito mais amplamente
difundido do que apenas os democratas”, avaliou. E é importante salientar que,
mesmo Trump negando as mudanças climáticas, muitos prefeitos e governadores
americanos já estão ou irão se mobilizar para fortalecer a resiliência
climática em suas áreas e, também, reduzir as contas de energia de seus
moradores.
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2 - Fevereiro: Novas metas climáticas nacionais
O mês de fevereiro também será fundamental para o clima, pois é
quando os países precisam apresentar seus novos planos de ação climática,
chamados de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). Esses planos,
revisados apenas a cada cinco anos, detalham as estratégias dos países para
descarbonizar suas economias e proteger suas populações dos impactos das
mudanças climáticas na próxima década. Eles integram o chamado “mecanismo de
catraca” do Acordo de Paris, que visava aumentar a ambição climática de cada
nação ao longo do tempo em direção às metas coletivas.
“Esta rodada de NDCs terá que mostrar compromissos muito maiores do
que os [planos] anteriores”, analisou van Veldhoven. Países como o Reino Unido,
o Brasil e os Estados já apresentaram suas novas NDCs. Mas grandes emissores
como China e Índia ainda não o fizeram, e a expectativa agora é alta.
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3 - Fevereiro: Negociações sobre biodiversidade em Roma
Ainda em fevereiro deverão ser retomadas as negociações sobre
biodiversidade na segunda edição da cúpula da biodiversidade COP16, que
acontecerá em Roma, na Itália, encontro que tentará concluir o acordo de
financiamento que ficou em aberto na cúpula realizada na Colômbia em 2024.
“Os governos devem concordar com um mecanismo de financiamento
global para a biodiversidade que funcione para todos”, observou Clement
Metivier, consultor sênior de advocacia internacional do WWF UK. “Isso é
essencial para construir confiança de que [a estrutura] pode ser efetivamente
implementada.”
Van Veldhoven acrescentou: “Por muito tempo, a natureza e o clima
foram tratados como duas áreas de atenção muito separadas, mas acho que este
ano veremos a integração dessas duas agendas e o reconhecimento do quanto elas
estão interligadas”.
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4 - Início de 2025: Parecer consultivo do Tribunal Internacional de
Justiça (TIJ)
Atualmente, existem milhares de processos judiciais relacionados ao
clima em andamento ao redor do mundo. E os réus são bem variados: de governos a
empresas de combustíveis fósseis e companhias aéreas, enfrentando acusações
relacionadas a danos climáticos ou à falta de ação suficiente para reduzir
emissões de carbono.
Para Joana Setzer, professora associada do Grantham Research
Institute on Climate Change and the Environment em Londres, 2025 deverá “outro
ano crucial para ações judiciais climáticas”.
Ela apontou que o número de casos provavelmente continuará a crescer
em países com contagens de casos historicamente altas, mas também pode aumentar
em lugares onde o litígio tem sido menos comum, como a China. “À medida que as
negociações diplomáticas enfrentam desafios, a ação judicial internacional
serve como um contrapeso crucial, enraizado em evidências, responsabilização e
na necessidade urgente de progresso”, falou.
O parecer consultivo foi solicitado ao CIJ após uma moção da ONU
liderada pelo governo de Vanuatu e apoiada por mais de 130 países. E, embora
não seja vinculativo, poderia estabelecer um novo padrão global para litígios
climáticos e influenciar julgamentos futuros.
Uma decisão importante esperada para o começo do ano virá do
Tribunal Internacional de Justiça (TIJ). O órgão emitirá um parecer consultivo,
solicitado após uma moção da ONU liderada pelo governo de Vanuatu e apoiada por
mais de 130 países. “Embora não vinculativas, as opiniões consultivas do TIJ
carregam peso moral e legal significativo. Esta opinião consultiva tem o
potencial de estabelecer uma referência global para a responsabilidade
climática e reforçar a conexão entre direitos humanos, sustentabilidade e
proteção ambiental”, complementou Setzer.
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5 - Maio: Avanços tecnológicos no monitoramento climático
Além do aumento dos litígios climáticos, nos últimos anos houve uma
onda de novos lançamentos de satélites para coletar dados sobre o clima e
emissões de metano e CO2. Essas tecnologias também ajudam a combater a
destruição de florestas e permitem que cientistas acompanhem mudanças nas rotas
migratórias da vida selvagem marinha.
Em 2025, espera-se um fluxo crescente de dados ainda mais precisos,
impulsionado por novos lançamentos. Entre eles está o MicroCarb, o primeiro
satélite europeu dedicado exclusivamente à medição de CO2 atmosférico e suas
fontes de emissão, com lançamento previsto para maio.
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6 - Meados de 2025: Debates sobre poluição plástica
No ano passado, as negociações globais para enfrentar a poluição
plástica fracassaram após mais de dois anos de tentativas de consenso. Diante
do impasse, os países concordaram em retomar as discussões em 2025, com uma
nova rodada de negociações prevista para meados do ano e uma conferência final
no final do ano, onde se espera que um tratado seja assinado.
As divergências centrais giram em torno de dois pontos: redução da
produção de plástico versus o foco na reciclagem e gestão de resíduos e apoio
financeiro necessário para ajudar países em desenvolvimento a adotar práticas
mais sustentáveis. Além disso, permanece a disputa sobre se as medidas devem
ser voluntárias ou juridicamente vinculativas.
“Com a próxima rodada de negociações esperada para este ano, os
países devem vir preparados para entregar compromissos significativos”, disse
Paula Chin, consultora sênior de políticas do WWF-UK. “O mundo não pode se dar
ao luxo de mais atrasos – a inação só aprofundará a crise da poluição plástica
e seus impactos devastadores. Os governos devem aproveitar esta oportunidade
para definir regras claras e executáveis para acabar com a poluição plástica e
proteger as pessoas e o planeta para as gerações futuras.”
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7 - Novembro: COP30 no Brasil
Em novembro de 2025, todos os olhos estarão voltados para a COP30,
em Belém, no Pará. Um dos principais pontos de discussão na 30ª conferência do
clima da ONU será o financiamento climático. Na COP29, que aconteceu em Baku,
no Azerbaijão, em novembro passado, os países concordaram com uma nova meta de
US$ 300 bilhões (aproximadamente R$ 1,8 trilhão) por ano até 2035 para ajudar
os países em desenvolvimento a fazer a transição para uma economia mais verde e
lidar com os impactos das mudanças climáticas.
Eles também se comprometeram a arrecadar US$ 1,3 trilhão (R$ 7,9
trilhões) por ano de fontes públicas e privadas até essa data. Apesar disso,
muitos países vulneráveis argumentam que esses valores são insuficientes para
enfrentar os desafios climáticos em larga escala. “Isso não é caridade, mas um
investimento essencial para salvaguardar a prosperidade futura e evitar os
custos muito maiores da mudança climática descontrolada”, avaliou Joe Thwaites,
especialista em financiamento climático do Natural Resources Defense Council
(NRDC).
Brasil e o Azerbaijão foram encarregados de produzir um roteiro até
a COP30 que estabeleça como atingir a meta de US$ 1,3 trilhão. “[Esse roteiro]
deve incluir uma reforma ousada do sistema financeiro internacional e fontes
inovadoras de financiamento, como impostos sobre transporte, aviação,
combustíveis fósseis e riqueza”, completou Nick Mabey, fundador do think tank
ambiental E3G.
Fonte: Um só
Planeta
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