Alex
Solnik: A impunidade gerou o 8/1
A impunidade dos ditadores e
torturadores da ditadura militar gerou a eleição de um ex-capitão do Exército
que exaltava a ditadura militar.
A impunidade gerou a cena em
que um deputado, ex-capitão do Exército, fez um elogio à tortura em cadeia
nacional e exaltou um dos mais conhecidos torturadores da ditadura militar.
A impunidade gerou a eleição
de um presidente da República, ex-capitão do Exército e ex-deputado, que
exaltava a ditadura militar e fez um elogio à tortura e exaltou um dos mais
conhecidos torturadores da ditadura militar.
A impunidade gerou um presidente
da República que exaltava a ditadura militar, elogiou um torturador em cadeia
nacional e comandou uma tentativa de golpe de estado.
A impunidade gerou o 8/1.
O filme “Ainda estou aqui”
voltou a colocar a ditadura na ordem do dia.
O triunfo de Fernanda Torres
no Globo de Ouro não deve ser apenas motivo de orgulho, mas de reflexão.
É inaceitável que aqueles
que impingiram tanto sofrimento a tantas famílias como a do deputado Rubens
Paiva e que praticaram crimes de estado entre 1964 e 1985 - ditadores ou
torturadores - ainda continuem impunes. Com suas patentes e suas medalhas.
Mesmo os que já não estão
aqui.
Se a sociedade civil não
consegue punir os militares que traíram a Constituição, nada vai impedir o
surgimento de outros ex-capitães do Exército dispostos a permanecer no poder
por meio de um golpe de estado.
¨ 8 de
janeiro: uma lição para nunca mais. Por Ronaldo Lima Lins
Como uma nação lida com seus
traumas? Pode esquecê-los, jogá-los para baixo dos tapetes, fingir que não
aconteceram. E corre o risco de se repetir, evitando implementar dispositivos
que lhes cerceiem os efeitos e reprimam consequências. Um desses traumas
(arrasadores, violentos), a Europa os viveu por ocasião da II Grande Guerra,
quando a humanidade tomou conhecimento dos horrores e misérias do III Reich.
Inclinou-se então no sentido de ativar a memória e não deixar que se apagasse.
Sabia-se que os comportamentos humanos apresentam desejos de reincidência, com
perigos para inocentes e descendentes. Dois registros se efetivaram na ocasião.
Os filmes de Alain Resnais incluem Toda a memória do mundo (Toute la mémoire du
monde) e Noite e bruma (Nuit et brouillard). Fazia-se o balanço do que ocorrera
nos campos de concentração e do morticínio “científico” lá implementado.
Para não se reduzir a isso,
sucessivas administrações na Prefeitura de Paris consignaram lugares para
assinalá-los na paisagem urbana, com a citação dos que tombaram na luta contra
o nazismo e seus algozes.
No país historicamente novo
em que habitamos, traumas igualmente nos cercam, sem que saibamos exatamente
como proceder. No entanto, dispomos de universidades e instituições de pesquisa
com densidade bastante para impedir que escorram pelos ralos. Além disso, não
nos falta maturidade para discernir entre as vontades de prevenir e de perdoar,
dependendo da gravidade do que se passou. O 8 de janeiro, com suas cenas de
vandalismo e apelos por golpes de Estado, persiste em nosso imaginário com a
certeza de que não podemos nos colocar com leviandade diante deles. Imagens de destruição,
conjugadas a pequenas multidões (com Lula e autoridades à frente) rumando para
as sedes dos três poderes, num balanço e numa comemoração pelos que se
determinavam a resistir, abriram espaço em nosso psiquismo para não sair.
Investigações processadas
pelo judiciário dão conta do recado. Mostram que um povo determinado a ser
digno não deve transigir. Culpados pelo vandalismo e lideranças irresponsáveis
que escorreguem nas brumas de seus segredos pessoais. À luz do dia e na
contramão da História, não. É, portanto, prudente que os responsáveis percebam
a importância do papel a desempenhar, quando o que permanece em jogo gira em
torno da ideia de felicidade e bem-estar.
Claro que os efeitos mais
devastadores do dia fatídico, reverberando crimes contra a
democracia, ficaram para trás. Não devem ser revividos. Contudo, a defesa
dos nossos parâmetros de cidadania se revela presente. Nem o choro dos
culpados, nem a tolerância dos moderados de plantão podem superar os grandes
mestres quando o que salta aos olhos é a necessidade de não se repetir. Por
isso, existem os braços da justiça. Que o 8 de janeiro grave a sua data na
História não é pedir apenas o suficiente. Chega de barbárie! Fraternidade, sim.
Fascismo, não! São lições para não esquecer.
¨ 10 perguntas
sobre o antes, o durante e o depois do 8 de janeiro
"Dois anos depois, essa
é uma das dúvidas incômodas ainda sem resposta: por que não houve reação nas
ruas à invasão de Brasília?", questiona Moisés Mendes
1. Por que só 5 mil pessoas
invadiram Brasília? Alguns dizem até hoje que tinha muita gente no 8 de
janeiro. Não tinha. O cálculo mais superestimado cita essas 5 mil pessoas. O
resto é chute. É público de ginásio de esportes de qualquer cidade média do
interior. Por que não apareceu mais gente do entorno de Brasília e os invasores
se resumiram aos acampados e aos que foram levados no dia em veículos
fretados?
2. Por que não houve reação
à tentativa de golpe? Um pouco mais de 5 mil pessoas invadem Brasília e 212
milhões de brasileiros ficam olhando a invasão pela TV. Nem no dia 8, nem no
dia seguinte e nem dias depois houve qualquer articulação de resistência nas
ruas pela democracia e em defesa da posse de Lula. Se houver outra tentativa de
golpe, essa inércia irá se repetir?
3. Por que nenhum líder do
golpe mostrou a cara? Eram manés, patriotas ou ‘todos eram 171’, como disse
Lula, mas não havia ninguém com alguma relevância ou algum passado de ativismo
político entre os invasores. Por que só as manadas foram empurradas para o
golpe, enquanto os grandes líderes fugiam e os chefes intermediários se
escondiam?
4. Por que os acampados de
fora de Brasília foram poupados? As primeiras prisões foram feitas no dia 8. As
outras, no acampamento do QG do Exército, no dia seguinte. Os demais
acampamentos perto de quartéis reuniram muita gente por todo o país, como os 5
mil de Itajaí. Todos conspirando contra a posse de Lula. Esses outros manés,
nunca presos e indiciados, não cometeram nenhum crime?
5. O golpe foi uma
articulação com várias frentes, muito antes do 8 de janeiro, incluindo os tios
do zap que disseminavam fake news junto com a alerta de que algo iria
acontecer. Além dos casos de ativistas com dinheiro que foram para restaurantes
dizer que o bloqueio de estradas deveria ser mantido. Esses, que espalharam o
terror, como o conselheiro do TCU João Augusto Nardes, estão impunes até hoje.
Alysson Paulinelli, outro disseminador do levante militar, poderia ser
processado se ainda estivesse vivo, ou estaria na mesma turma de Nardes, que se
acomodou na moita?
6. O que vai acontecer com
os que se negam a admitir que cometeram crimes? Os que não aceitam o acordo da
persecução penal (com admissão dos delitos, mas sem cumprir penas) continuam
fugindo da Justiça, assim como os condenados foragidos que estão na Argentina e
em outros países da região. O que vai acontecer com os blogueiros golpistas
foragidos Allan dos Santos e Oswaldo Eustáquio, se não forem extraditados e
continuarem livres e debochando de Alexandre de Moraes e do Judiciário?
7. Por que até hoje os
grandes financiadores das estruturas do fascismo não foram alcançados? Por que
os milionários da extrema direita, investigados como criminosos desde 2019, até
hoje estão impunes? Seria pela força do poder econômico, que se sobrepõe ao
poder político e até ao poder militar?
8. Quem estará ao lado de
Lula no evento que relembrará em Brasília o segundo ano da tentativa de golpe
do 8 de janeiro? No ano passado, muitos valentes com altas funções
institucionais se acovardaram. Continuarão acovardados, mesmo que o chefe
militar do golpe esteja preso?
9. O que eles estão
preparando para 2025, em currais fascistas ainda intactos, em preparação ao que
pretendem fazer em 2026?
10. E se Bolsonaro não for
preso?
¨ Cresce a
percepção entre bolsonaristas de que o ex-presidente atuou na intentona
golpista
De
acordo com a mais recente pesquisa realizada pelo instituto de pesquisa Quaest,
a percepção de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) influenciou os atos
golpistas de 8 de janeiro de 2023 aumentou significativamente entre seus
eleitores, enquanto diminuiu entre os apoiadores do atual presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT).
O
levantamento, realizado entre os dias 4 e 9 de dezembro com 2.012 entrevistas
presenciais em todo o país, mostrou que 37% dos bolsonaristas reconhecem
atualmente a influência de Bolsonaro nos eventos de janeiro, um salto
considerável em comparação aos 13% registrados no ano anterior pela mesma
pesquisa.
Felipe
Nunes, cientista político e diretor da Quaest, explicou ao Estado de S. Paulo: “Ao longo do tempo, os
eleitores moderados de Lula, que enxergam algum exagero nas acusações que
Bolsonaro vem sofrendo, tendem a relativizar suas posições. Simultaneamente, os
eleitores moderados de Bolsonaro, que consideram graves as acusações contra o
ex-presidente, tornam-se mais rigorosos na avaliação de seus atos para não se
sentirem cúmplices de algo que acreditam ser errado.”
A
pesquisa também indica que, a nível nacional, 50% dos brasileiros acreditam que
Bolsonaro contribuiu de alguma forma para os acontecimentos de 8 de janeiro,
enquanto 39% consideram que ele não teve influência direta. Apesar desse
aumento na percepção entre os apoiadores de Bolsonaro, a grande maioria da
população brasileira ainda desaprova os atos golpistas. A pesquisa da Quaest
revelou que 86% dos entrevistados se posicionam contra o ocorrido na capital
federal, embora esse número tenha sofrido uma leve queda em relação a dezembro
de 2023, quando era de 89%.
¨ Bolsonaro
será julgado na Primeira Turma e a tendência clara é pela condenação
O ex-presidente Jair
Bolsonaro, que liderou a intentona golpista de 8 de janeiro de 2023, será
julgado pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal e deve ser condenado,
segundo informa a colunista Mônica Bergamo, na Folha
de S. Paulo. A Primeira Turma do STF, responsável pelo julgamento, é
composta pelos ministros Cristiano Zanin, Cármen Lúcia, Luiz Fux, Alexandre de
Moraes e Flávio Dino.
De acordo com a colunista,
"com exceção de Fux, cuja posição ainda é incerta conforme observam
integrantes do próprio STF e pessoas próximas a Bolsonaro, os outros quatro
ministros são considerados votos certos contra o ex-presidente." Essa
composição indica uma forte probabilidade de condenação para Bolsonaro,
refletindo uma tendência desfavorável no âmbito judicial.
A defesa de Bolsonaro,
representada por seus advogados, planeja apelar para que o caso seja reavaliado
pelo plenário do Supremo Tribunal Federal, buscando uma decisão mais ampla e
potencialmente favorável. No entanto, a decisão final sobre a manutenção do
julgamento na Primeira Turma cabe ao ministro Alexandre de Moraes, relator do
caso. Especialistas jurídicos esperam que Moraes opte por manter a análise na
Turma inicial.
Em dezembro de 2023, o STF
implementou uma reestruturação significativa na condução de julgamentos
criminais, redistribuindo-os entre duas turmas ao invés do colegiado completo
de 11 magistrados. Essa mudança, liderada pelo presidente do STF, Luís Roberto Barroso,
visava "racionalizar a distribuição de processos criminais e reduzir a
sobrecarga do plenário", especialmente após os eventos de 8 de janeiro que
resultaram em um aumento substancial no número de processos e na necessidade de
agilizar a tramitação judicial.
¨ Prestes a ser
condenado, Bolsonaro cresceu odiando Rubens Paiva
A vitória de
Fernanda Torres como melhor atriz pelo filme "Ainda Estou Aqui", em
que ela interpreta Eunice Paiva, viúva do ex-deputado Rubens Paiva, ocorre num
momento em que Jair Bolsonaro está prestes a ser condenado e preso por
participação nos atos golpistas de 8 de janeiro. Curiosamente, o ex-presidente
cresceu odiando o parlamentar que foi uma das vítimas mais notórias da ditadura
exaltada por Bolsonaro.
Bolsonaro
enfrentará julgamento na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF),
composta pelos ministros Cristiano Zanin, Cármen Lúcia, Luiz Fux, Alexandre de
Moraes e Flávio Dino. Essa composição sugere uma forte probabilidade de
condenação para Bolsonaro, refletindo uma tendência desfavorável no âmbito
judicial.
Paralelamente,
o filme "Ainda Estou Aqui", que narra a história do desaparecimento
de Rubens Paiva durante a ditadura militar, alcançou grande reconhecimento
artístico. Fernanda Torres conquistou o Globo de Ouro de melhor atriz em filme
de drama, destacando-se entre concorrentes como Nicole Kidman
("Babygirl"), Angelina Jolie ("Maria Callas"), Kate Winslet
("Lee"), Tilda Swinton ("O quarto ao lado") e Pamela
Anderson ("The Last Showgirl"). Em seu discurso de aceitação, Torres
dedicou o prêmio à sua mãe: “Quero dedicar esse prêmio à minha mãe. Vocês não
têm ideia... Ela estava aqui há 25 anos. Isso é uma prova de que a arte pode
permanecer na vida das pessoas, mesmo em momentos difíceis, como os que Eunice
Paiva viveu.”
Bolsonaro,
cuja trajetória política é marcada por uma postura favorável à ditadura
militar, desenvolveu animosidade em relação à família Paiva durante sua
adolescência em Eldorado Paulista (SP), no Vale do Ribeira. A família Paiva,
liderada por Jaime Paiva, um "coronel" local e deputado eleito duas
vezes, possuía a Fazenda Caraitá, símbolo de poder econômico e social no
município. Em contraste, Bolsonaro originou-se de uma família humilde, o que
aprofundou a distância social entre ele e os Paivas.
Na biografia
"Mito ou Verdade: Jair Messias Bolsonaro", escrita por seu filho
Flávio Bolsonaro, o ex-presidente revela que as diferenças de classe o
incomodavam profundamente: “Parte considerável do território da cidade de
Eldorado Paulista era de domínio particular, uma fazenda enorme chamada Caraitá
– que hoje seria um latifúndio”. Bolsonaro também mencionou uma suposta ligação
entre Jaime Paiva e Carlos Lamarca, guerrilheiro de esquerda que atuou na
região, alegação que os Paivas contestaram veementemente.
Além das
tensões sociais e políticas, Bolsonaro retratou os filhos de Rubens como jovens
privilegiados, desfrutando de luxos inalcançáveis para pessoas de sua origem.
Na década de 1990, enquanto deputado, ele negou no plenário da Câmara o
envolvimento de militares no assassinato de ex-deputado e se opôs às
investigações da Comissão Nacional da Verdade, alegando que Rubens foi morto
por guerrilheiros de esquerda.
Durante a
inauguração de um busto em homenagem a Rubens Paiva, Bolsonaro cuspiu na
estátua e o insultou publicamente, chamando-o de “comunista” e “vagabundo”. O
incidente foi amplamente divulgado nas redes sociais por Chico Paiva Avelino,
neto de Rubens, que expressou indignação com o ato do ex-presidente.
Enquanto
Bolsonaro enfrenta um julgamento que pode culminar em sua condenação e prisão,
a vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro simboliza uma resistência
cultural ao militarismo e ao golpismo. O sucesso de "Ainda Estou
Aqui" não apenas celebra a excelência artística, mas também reforça a
importância de preservar a memória histórica de figuras como Rubens Paiva,
destacando as cicatrizes deixadas por conflitos ideológicos no Brasil
contemporâneo.
¨ “Os
genocidas se entendem”, diz Gleisi após Bolsonaro afirmar que receberia soldado
israelense investigado por crimes de guerra
A presidente nacional do PT,
Gleisi Hoffmann, criticou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) após ele afirmar
que receberia “com honras” um soldado israelense investigado pela Polícia
Federal por cometer crimes de guerra em Gaza. Yuval Vagdani passava férias no
Brasil e já deixou o país. Em publicação nas redes sociais, Bolsonaro disse
que, caso ainda fosse presidente, receberia o soldado no Palácio do Planalto.
“Jair Bolsonaro, que sempre
defendeu a ditadura, a tortura e torturadores, agora se junta ao governo de
Benjamin Netanyahu, que deu fuga a um soldado do exército de Israel investigado
por seus crimes pela justiça brasileira. Os genocidas se entendem, não é
mesmo?”, criticou Gleisi.
A Embaixada de Israel no
Brasil desempenhou papel crucial na fuga de Vagdani do território brasileiro
para a Argentina. O governo de Benjamin Netanyahu afirmou que “após uma
tentativa de elementos anti-israelenses de investigar um soldado israelense
dispensado que visitou o Brasil, o ministro das Relações Exteriores Gideon Saar
ativou imediatamente o Ministério para garantir que o cidadão israelense não
estava em perigo”.
A investigação do soldado
foi solicitada à Justiça Federal por meio de uma notícia-crime apresentada
pelos advogados Maira Machado Frota Pinheiro e Caio Patrício de Almeida. O
documento alega que o soldado, identificado como possível “criminoso de
guerra”, estava em território brasileiro, especificamente no balneário de Morro
de São Paulo, na Bahia.
Fonte: Brasil 247
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