Moisés Mendes: O Rio Grande do Sul inundado
e sem comando
O governador Eduardo
Leite e o prefeito Sebastião Melo não têm condições de liderar os esforços para
salvar o Rio Grande do Sul e Porto Alegre. Os gaúchos vivem o desafio da
sobrevivência e da reconstrução em meio a mais uma cheia, com Porto Alegre
inundada de novo e sob o comando de dois gestores enredados em suas fraquezas e
incompetências.
Não é retórica a
pergunta sobre o que irá sobrar do Estado e da capital, se os dois continuarem
errando tanto na tentativa de corrigir as próprias omissões e ações
destrutivas.
Mas fazer o quê? Fazer
o que direita e extrema direita sempre tentam quando o poder os incomoda? É
possível imaginar que ambos possam ser desautorizados a seguir governando por
decisão de legislativos com maioria de direita? É viável convocar uma junta de
notáveis de todas as áreas, que salve o Estado?
É razoável pensar em
fortalecer o ministro extraordinário Paulo Pimenta, para que assuma, por
capacidade de liderança e de trabalho, o que Leite e Melo não conseguem fazer?
Vamos federalizar a solução de todos os problemas dos gaúchos?
Não tem como. Não há
nem como pensar em viabilizar politicamente um comando federal mais forte, se
esse é um Estado que já era conservador
e foi sequestrado pelo bolsonarismo.
São os dilemas da
democracia em momentos trágicos. O Brasil se submeteu ao desgoverno de
Bolsonaro na hora da pandemia. As instituições se acovardaram e não
interromperam as ações genocidas de Bolsonaro. O povo nas ruas não teve forças
para derrubá-lo
O Rio Grande do Sul é
subjugado agora pelos desgovernos de Eduardo Leite e Sebastião Melo, e a
sensação é a mesma, de que não há como contê-los.
Ambos são incapazes de
tomar as mais singelas decisões pontuais. Ambos foram alertados da primeira
cheia. Foram advertidos depois de que, sem prioridade à recuperação urgente do
sistema de drenagem de Porto Alegre, a cidade seria alagada de novo.
As águas voltaram a
invadir Porto Alegre, brotando de bueiros de um sistema degradado por
inoperância e sabotagem da prefeitura antes e depois da primeira inundação.
Leite pode dizer, como
insinuou no Roda Viva, que os problemas de Porto Alegre são do prefeito. Não
são. Áreas de toda a Região Metropolitana estão alagadas, com raras exceções.
Os problemas não só
apenas de Melo, como não são os danos e os esforços de reconstrução enfrentados
pelos prefeitos de dois terços do Estado.
Falta a Leite e a Melo
a capacidade de transmitir confiança, de que estão tentando fazer a coisa
certa. Não fizeram quando dos alertas do fim de abril e não fazem agora de
novo.
Em circunstâncias
semelhantes, em empresas e entidades privadas ou mesmo em órgãos públicos com
chefias designadas, os dois governantes já teriam sido destituídos.
Mas como mandar Leite
e Melo embora? As turmas ligadas a eles golpearam Dilma Rousseff por crime de
responsabilidade fiscal, que ninguém, nem o mais bem informado dos
bolsonaristas, sabe dizer hoje do que se tratava. E não era uma emergência.
Leite e Melo lidam com
urgências que podem continuar matando gente e destruindo cidades. Podem ser
destituídos por crime de responsabilidade socioambiental?
É previsível que, mais
adiante, o Ministério Público e o Judiciário os enquadrem em delitos por ações
destrutivas deliberadas contra o meio ambiente. Mas só mais adiante?
E antes se faz o quê?
Antes, vamos deixar claro que já sabemos de todas as responsabilidades e que
vereadores e deputados estaduais e federais poderão ser apontados formalmente
como cúmplices de decisões que levam à destruição.
Leite e Melo são duas
figuras que se esforçam para esconder o cansaço que carregam junto com a
incapacidade de lidar com os desafios acumulados há um mês.
A tragédia e suas sequelas
se aprofundam junto com a sensação de que os principais governantes do Estado
são flagelos da política. Leite e Melo terão de enfrentar também as
consequências do desamparo e do desespero que ajudaram a criar.
• Porto Alegre é vítima de 20 anos de
gestões neoliberais catastróficas, Por Jeferson Miola
A população de Porto
Alegre está pagando com muita destruição, perdas e dor o preço de duas décadas
de governos conservadores e neoliberais que destruíram as estruturas públicas,
sucatearam serviços essenciais e deixaram a cidade totalmente desprotegida diante
deste evento climático severo.
Desde 2005, com José
Fogaça/MDB, até a atual gestão de Sebastião Melo/MDB, passando por José
Fortunati/PDT e Nelson Marchezan/PSDB, o bloco de poder que domina a cidade
desenvolveu um processo incremental e contínuo de desajustes neoliberais com
privatizações, concessões, extinção de órgãos técnicos fundamentais,
terceirização de serviços e destruição da inteligência técnica da Prefeitura em
planejamento urbano, saneamento, zeladoria e outras áreas críticas.
O DEP, Departamento de
Esgotos Pluviais, foi extinto em 2018 sem que suas funções tenham sido
restabelecidas pelo atual governo, que deu continuidade ao processo de
desmonte.
E o DMAE, Departamento
Municipal de Águas e Esgotos, ano a ano foi sendo modulado para ser entregue a
grupos privados, mesmo sendo eficiente e superavitário.
Atualmente, o DMAE
funciona com apenas 1/3 do quadro de funcionários que, aliás, estão sendo
fundamentais para garantir o abastecimento de água e regularização das estações
de bombeamento, a despeito das imensas dificuldades de trabalho criadas pela
gestão Melo-bolsonarista do órgão.
O resultado de duas
décadas de gestões neoliberais catastróficas deixou Porto Alegre à deriva neste
evento climático, quando se sabe que a cidade poderia ter sido protegida e não
seria inundada se a Prefeitura não tivesse sido irresponsável e negligente.
O governo municipal
foi negacionista e não valorizou as previsões de enchentes, que tal qual uma
profecia, acabaram confirmadas.
A Administração Melo
também não tomou providências mínimas, de baixo custo, comezinhas até, de
manutenção do sistema de proteção contra enchentes – como, por exemplo, usar
parafusos de pressão e borrachas de vedação nas comportas.
Esta negligência é
agravada pelo fato de que durante as enchentes de setembro e novembro de 2023 o
governo constatou que as falhas de manutenção causaram o alagamento da cidade
mesmo com o Guaíba nas cotas de 3,16m e 3,48m naqueles meses.
E agora, no repique de
chuvas e enchentes ocorrida no 24º dia do evento climático –que, importante
dizer, não terminou, continua em desenvolvimento– a Prefeitura falhou
novamente, deixando a população em pânico com alagamentos inclusive nos bairros
elevados, que não tinham sido atingidos até então, mas que também foram
atingidos devido ao colapso do sistema de drenagem e esgotamento pluvial e
sanitário.
Desde a semana passada
as previsões meteorológicas indicavam alta possibilidade dessas chuvas intensas
que ocorreram na 5ª feira, 23/5.
Apesar disso, o
governo não implementou as medidas preconizadas por especialistas, que
consistiam em empregar mergulhadores para vedar as comportas, fazer o
fechamento hermético dos Condutos Forçados do sistema de esgotamento de água, e
consertar as bombas das estações de bombeamento, a maioria delas funcionando
precariamente ou desligadas.
Mas, além de não
realizar os procedimentos técnicos necessários, em 17/5 a Prefeitura decidiu
derrubar a comporta 3 do Muro da Mauá, deixando a cidade ainda mais exposta à
inundação. Uma medida absurda, contestada por renomados especialistas e
executada por um governo que é causa do problema, não da solução.
A Administração
Sebastião Melo representa o ápice catastrófico de 20 anos de gestões
neoliberais de Porto Alegre, que deixaram a capital gaúcha submersa na lama de
incompetência, negligência e omissão.
• A implosão de Porto Alegre. Por Moisés
Mendes
Água, fezes, ratos e
lixo brotam do chão de Porto Alegre. Bueiros estouram como furúnculos da cidade
doente. Bairros das periferias, que já não contavam com recolhimento de lixo,
como o entorno da Hípica, na zona sul, são grandes aterros de imundícies.
O centro da cidade e
bairros pobres e ricos são aterros sanitários. Porto Alegre fede. As ações
destrutivas acabaram com Porto Alegre. Não foi o negacionismo.
Não atribuam ao
negacionismo o que é ação deliberada de sabotagem em nome do poder do dinheiro.
Não ofereçam atenuantes aos criminosos definidos genericamente como
neoliberais.
Há sabotagem contra o
meio ambiente do entorno das cidades, de áreas rurais, rios, encostas.
Sabotagem pela ocupação do solo urbano, da especulação imobiliária, do vale
tudo em nome do poder econômico.
Não tem nada de
negacionismo. O mundo é destruído, em Porto Alegre, Gramado, Petrópolis,
Sorocaba, Salvador e Taquari por ações deliberadas de quem acha que conseguirá
gerir os danos que provoca.
Tudo é ação destrutiva
autorizada pelo poder político a serviço do poder empresarial urbano e do agro
pop. Até os ratos sabem disso. Não é negacionismo. Parem com essa conversa de
negacionismo. É um plano, um planejamento, uma articulação.
Mas como esse plano
acaba conspirando contra seus idealizadores e executores? Porque muitos deles
continuam achando que terão sempre o controle da situação. Que vão controlar os
rios e suas margens degradadas. Que controlarão a destruição e as inundações
das cidades.
Até o dia em que um
dilúvio anuncia que nada mais tem controle. E temos então as mortes e os danos
causados por ação deliberada, planejada, projetada, calculada de destruição.
Uma destruição que eles consideravam gerenciável.
Porto Alegre implodiu
porque Sebastião Melo e Eduardo Leite e seus cúmplices achavam que as ações
destrutivas não tinham um limite. Que gambiarras iriam resolver as sequelas que
eles autorizam ou provocam.
Os ratos sabem que até
os bueiros de Porto Alegre eram lacrados com cimentos, para nivelar as tampas
com o asfalto. Tudo era enjambrado. Tudo é gambiarra. O muro alquebrado, os
diques que estouram, a drenagem sem bombas. Porque a enjambração permitiria o
avanço das ações destrutivas. Era possível gerir o caos.
Tudo o que foi
destruído na parte de cima do Estado, na Serra, nos vales do Rio Pardo e do
Taquari, tudo deságua em Porto Alegre. A morte desagua no Guaíba. E o Guaíba
avisou que iria implodir a cidade.
O Guaíba não consegue
absorver a destruição que vem de toda parte. A devastação exercida pelos
macrodestruidores mundiais. Pelos médios destruidores nacionais e estaduais e
pelos microdestruidores municipais de rios e solos.
A destruição é
liderada pelos falsos negacionistas do aquecimento global. Não são
negacionistas. São destruidores deliberados, planejados e organizados de todas
as formas de vida.
Porto Alegre passa a
ser um case mundial, por absorver as grandes e pequenas destruições de todas as
esferas e de todo o entorno. É a cidade modelo de destruição a toda Terra, que
nem a mais cruel distopia poderia ter imaginado. Não é negacionismo, é empreendedorismo
criminoso e impune exacerbado pelo bolsonarismo.
A implosão da cidade
pelas águas que brotam com ratos e merda é a vitória da realidade sobre a
ficção. As águas podres infectam as ruas, mas até os ricos não têm água nas
torneiras. O Guaíba se vingou de quem nem sabe direito se ele é rio ou lago.
Ele, com pronome
pessoal, é o verdadeiro dono de Porto Alegre. Ele é quem pede para ser salvo,
ou nada irá salvar a cidade.
Fonte: Brasil 247
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