terça-feira, 28 de maio de 2024

Moisés Mendes: O Rio Grande do Sul inundado e sem comando

O governador Eduardo Leite e o prefeito Sebastião Melo não têm condições de liderar os esforços para salvar o Rio Grande do Sul e Porto Alegre. Os gaúchos vivem o desafio da sobrevivência e da reconstrução em meio a mais uma cheia, com Porto Alegre inundada de novo e sob o comando de dois gestores enredados em suas fraquezas e incompetências.

Não é retórica a pergunta sobre o que irá sobrar do Estado e da capital, se os dois continuarem errando tanto na tentativa de corrigir as próprias omissões e ações destrutivas.

Mas fazer o quê? Fazer o que direita e extrema direita sempre tentam quando o poder os incomoda? É possível imaginar que ambos possam ser desautorizados a seguir governando por decisão de legislativos com maioria de direita? É viável convocar uma junta de notáveis de todas as áreas, que salve o Estado?

É razoável pensar em fortalecer o ministro extraordinário Paulo Pimenta, para que assuma, por capacidade de liderança e de trabalho, o que Leite e Melo não conseguem fazer? Vamos federalizar a solução de todos os problemas dos gaúchos?

Não tem como. Não há nem como pensar em viabilizar politicamente um comando federal mais forte, se esse é um Estado que já era  conservador e foi sequestrado pelo bolsonarismo.

São os dilemas da democracia em momentos trágicos. O Brasil se submeteu ao desgoverno de Bolsonaro na hora da pandemia. As instituições se acovardaram e não interromperam as ações genocidas de Bolsonaro. O povo nas ruas não teve forças para derrubá-lo

O Rio Grande do Sul é subjugado agora pelos desgovernos de Eduardo Leite e Sebastião Melo, e a sensação é a mesma, de que não há como contê-los.

Ambos são incapazes de tomar as mais singelas decisões pontuais. Ambos foram alertados da primeira cheia. Foram advertidos depois de que, sem prioridade à recuperação urgente do sistema de drenagem de Porto Alegre, a cidade seria alagada de novo.

As águas voltaram a invadir Porto Alegre, brotando de bueiros de um sistema degradado por inoperância e sabotagem da prefeitura antes e depois da primeira inundação.

Leite pode dizer, como insinuou no Roda Viva, que os problemas de Porto Alegre são do prefeito. Não são. Áreas de toda a Região Metropolitana estão alagadas, com raras exceções.

Os problemas não só apenas de Melo, como não são os danos e os esforços de reconstrução enfrentados pelos prefeitos de dois terços do Estado.

Falta a Leite e a Melo a capacidade de transmitir confiança, de que estão tentando fazer a coisa certa. Não fizeram quando dos alertas do fim de abril e não fazem agora de novo.

Em circunstâncias semelhantes, em empresas e entidades privadas ou mesmo em órgãos públicos com chefias designadas, os dois governantes já teriam sido destituídos.

Mas como mandar Leite e Melo embora? As turmas ligadas a eles golpearam Dilma Rousseff por crime de responsabilidade fiscal, que ninguém, nem o mais bem informado dos bolsonaristas, sabe dizer hoje do que se tratava. E não era uma emergência.

Leite e Melo lidam com urgências que podem continuar matando gente e destruindo cidades. Podem ser destituídos por crime de responsabilidade socioambiental?

É previsível que, mais adiante, o Ministério Público e o Judiciário os enquadrem em delitos por ações destrutivas deliberadas contra o meio ambiente. Mas só mais adiante?

E antes se faz o quê? Antes, vamos deixar claro que já sabemos de todas as responsabilidades e que vereadores e deputados estaduais e federais poderão ser apontados formalmente como cúmplices de decisões que levam à destruição.

Leite e Melo são duas figuras que se esforçam para esconder o cansaço que carregam junto com a incapacidade de lidar com os desafios acumulados há um mês.

A tragédia e suas sequelas se aprofundam junto com a sensação de que os principais governantes do Estado são flagelos da política. Leite e Melo terão de enfrentar também as consequências do desamparo e do desespero que ajudaram a criar.

 

•        Porto Alegre é vítima de 20 anos de gestões neoliberais catastróficas, Por Jeferson Miola

A população de Porto Alegre está pagando com muita destruição, perdas e dor o preço de duas décadas de governos conservadores e neoliberais que destruíram as estruturas públicas, sucatearam serviços essenciais e deixaram a cidade totalmente desprotegida diante deste evento climático severo.

Desde 2005, com José Fogaça/MDB, até a atual gestão de Sebastião Melo/MDB, passando por José Fortunati/PDT e Nelson Marchezan/PSDB, o bloco de poder que domina a cidade desenvolveu um processo incremental e contínuo de desajustes neoliberais com privatizações, concessões, extinção de órgãos técnicos fundamentais, terceirização de serviços e destruição da inteligência técnica da Prefeitura em planejamento urbano, saneamento, zeladoria e outras áreas críticas.

O DEP, Departamento de Esgotos Pluviais, foi extinto em 2018 sem que suas funções tenham sido restabelecidas pelo atual governo, que deu continuidade ao processo de desmonte.

E o DMAE, Departamento Municipal de Águas e Esgotos, ano a ano foi sendo modulado para ser entregue a grupos privados, mesmo sendo eficiente e superavitário.

Atualmente, o DMAE funciona com apenas 1/3 do quadro de funcionários que, aliás, estão sendo fundamentais para garantir o abastecimento de água e regularização das estações de bombeamento, a despeito das imensas dificuldades de trabalho criadas pela gestão Melo-bolsonarista do órgão.

O resultado de duas décadas de gestões neoliberais catastróficas deixou Porto Alegre à deriva neste evento climático, quando se sabe que a cidade poderia ter sido protegida e não seria inundada se a Prefeitura não tivesse sido irresponsável e negligente.

O governo municipal foi negacionista e não valorizou as previsões de enchentes, que tal qual uma profecia, acabaram confirmadas.

A Administração Melo também não tomou providências mínimas, de baixo custo, comezinhas até, de manutenção do sistema de proteção contra enchentes – como, por exemplo, usar parafusos de pressão e borrachas de vedação nas comportas.

Esta negligência é agravada pelo fato de que durante as enchentes de setembro e novembro de 2023 o governo constatou que as falhas de manutenção causaram o alagamento da cidade mesmo com o Guaíba nas cotas de 3,16m e 3,48m naqueles meses.

E agora, no repique de chuvas e enchentes ocorrida no 24º dia do evento climático –que, importante dizer, não terminou, continua em desenvolvimento– a Prefeitura falhou novamente, deixando a população em pânico com alagamentos inclusive nos bairros elevados, que não tinham sido atingidos até então, mas que também foram atingidos devido ao colapso do sistema de drenagem e esgotamento pluvial e sanitário.

Desde a semana passada as previsões meteorológicas indicavam alta possibilidade dessas chuvas intensas que ocorreram na 5ª feira, 23/5.

Apesar disso, o governo não implementou as medidas preconizadas por especialistas, que consistiam em empregar mergulhadores para vedar as comportas, fazer o fechamento hermético dos Condutos Forçados do sistema de esgotamento de água, e consertar as bombas das estações de bombeamento, a maioria delas funcionando precariamente ou desligadas.

Mas, além de não realizar os procedimentos técnicos necessários, em 17/5 a Prefeitura decidiu derrubar a comporta 3 do Muro da Mauá, deixando a cidade ainda mais exposta à inundação. Uma medida absurda, contestada por renomados especialistas e executada por um governo que é causa do problema, não da solução.

A Administração Sebastião Melo representa o ápice catastrófico de 20 anos de gestões neoliberais de Porto Alegre, que deixaram a capital gaúcha submersa na lama de incompetência, negligência e omissão.

 

•        A implosão de Porto Alegre. Por Moisés Mendes

Água, fezes, ratos e lixo brotam do chão de Porto Alegre. Bueiros estouram como furúnculos da cidade doente. Bairros das periferias, que já não contavam com recolhimento de lixo, como o entorno da Hípica, na zona sul, são grandes aterros de imundícies.

O centro da cidade e bairros pobres e ricos são aterros sanitários. Porto Alegre fede. As ações destrutivas acabaram com Porto Alegre. Não foi o negacionismo.

Não atribuam ao negacionismo o que é ação deliberada de sabotagem em nome do poder do dinheiro. Não ofereçam atenuantes aos criminosos definidos genericamente como neoliberais.

Há sabotagem contra o meio ambiente do entorno das cidades, de áreas rurais, rios, encostas. Sabotagem pela ocupação do solo urbano, da especulação imobiliária, do vale tudo em nome do poder econômico.

Não tem nada de negacionismo. O mundo é destruído, em Porto Alegre, Gramado, Petrópolis, Sorocaba, Salvador e Taquari por ações deliberadas de quem acha que conseguirá gerir os danos que provoca.

Tudo é ação destrutiva autorizada pelo poder político a serviço do poder empresarial urbano e do agro pop. Até os ratos sabem disso. Não é negacionismo. Parem com essa conversa de negacionismo. É um plano, um planejamento, uma articulação.

Mas como esse plano acaba conspirando contra seus idealizadores e executores? Porque muitos deles continuam achando que terão sempre o controle da situação. Que vão controlar os rios e suas margens degradadas. Que controlarão a destruição e as inundações das cidades.

Até o dia em que um dilúvio anuncia que nada mais tem controle. E temos então as mortes e os danos causados por ação deliberada, planejada, projetada, calculada de destruição. Uma destruição que eles consideravam gerenciável.

Porto Alegre implodiu porque Sebastião Melo e Eduardo Leite e seus cúmplices achavam que as ações destrutivas não tinham um limite. Que gambiarras iriam resolver as sequelas que eles autorizam ou provocam.

Os ratos sabem que até os bueiros de Porto Alegre eram lacrados com cimentos, para nivelar as tampas com o asfalto. Tudo era enjambrado. Tudo é gambiarra. O muro alquebrado, os diques que estouram, a drenagem sem bombas. Porque a enjambração permitiria o avanço das ações destrutivas. Era possível gerir o caos.

Tudo o que foi destruído na parte de cima do Estado, na Serra, nos vales do Rio Pardo e do Taquari, tudo deságua em Porto Alegre. A morte desagua no Guaíba. E o Guaíba avisou que iria implodir a cidade.

O Guaíba não consegue absorver a destruição que vem de toda parte. A devastação exercida pelos macrodestruidores mundiais. Pelos médios destruidores nacionais e estaduais e pelos microdestruidores municipais de rios e solos.

A destruição é liderada pelos falsos negacionistas do aquecimento global. Não são negacionistas. São destruidores deliberados, planejados e organizados de todas as formas de vida.

Porto Alegre passa a ser um case mundial, por absorver as grandes e pequenas destruições de todas as esferas e de todo o entorno. É a cidade modelo de destruição a toda Terra, que nem a mais cruel distopia poderia ter imaginado. Não é negacionismo, é empreendedorismo criminoso e impune exacerbado pelo bolsonarismo.

A implosão da cidade pelas águas que brotam com ratos e merda é a vitória da realidade sobre a ficção. As águas podres infectam as ruas, mas até os ricos não têm água nas torneiras. O Guaíba se vingou de quem nem sabe direito se ele é rio ou lago.

Ele, com pronome pessoal, é o verdadeiro dono de Porto Alegre. Ele é quem pede para ser salvo, ou nada irá salvar a cidade. 

 

Fonte: Brasil 247

 

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